A. Que fato é comum
no fenômeno da
morte?
A morte é seguida
sempre de um
instante de
perturbação, que
pode ser de duração
curta ou longa. O
Espírito, ao entrar
em sua nova vida,
leva, pois, algum
tempo para
reconhecer-se e tudo
é estranho e
desconhecido para
ele. Dissipada essa
turvação, as ideias
se elucidam pouco a
pouco e com elas vem
a lembrança do
passado, que
gradualmente lhe
volta à memória.
(O Espiritismo
perante a Ciência,
Quarta Parte, Cap.
III – O perispírito
durante a
desencarnação – Sua
composição.)
B. Os Espíritos têm
ocupações como nós
temos na Terra?
Sim. É grave erro
acreditar que a vida
dos Espíritos é
ociosa; pelo
contrário, é
essencialmente ativa
e todos os Espíritos
nos falam de suas
ocupações, que
diferem,
necessariamente,
conforme o ser é
errante ou
encarnado.
(Obra citada, Quarta
Parte, Cap. III – O
perispírito durante
a desencarnação –
Sua composição.)
C. Podemos dizer que
a alma humana é
eterna?
Não. Tendo tido um
começo, jamais a
alma do homem será
eterna. Ela é
simplesmente
imortal. Eterno
somente Deus o é.
(Obra citada, Quarta
Parte, Cap. III – O
perispírito durante
a desencarnação –
Sua composição.)
Texto para leitura
688. Os Espíritos
não são seres vagos,
indefinidos, como
aprouve afigurá-los
até agora, mas
individualidades
reais, determinadas,
circunscritas, que
gozam de nossas
faculdades e de
muitas outras que
nos são
desconhecidas,
porque inerentes à
natureza deles.
689. Eles têm as
qualidades da
matéria que lhes é
própria e formam a
população desse
universo invisível
que nos comprime,
nos rodeia, nos
acotovela, sem
cessar. Suponhamos,
um instante, que o
véu material que os
oculta à nossa vista
se levanta; veríamos
uma multidão de
seres a cercar-nos,
a se agitarem em
torno de nós, a
contemplar-nos, como
o faríamos se, por
acaso, nos
achássemos em uma
reunião de cegos.
Para os Espíritos,
somos tomados de
cegueira e eles são
os videntes.
690. Dissemos que o
Espírito, ao entrar
em sua nova vida,
leva algum tempo
para reconhecer-se,
que tudo é estranho
e desconhecido para
ele. Perguntar-se-á,
sem dúvida, como
pode ser assim, se
ele já teve outras
existências
corporais?
691. A morte, já o
dissemos, é seguida
sempre de um
instante de
perturbação, mas que
pode ser de duração
curta. Dissipada
essa turvação, as
ideias se elucidam
pouco a pouco e com
elas a lembrança do
passado, que só
gradualmente volta à
memória. Só quando o
Espírito está
inteiramente
desmaterializado é
que se desenrolam
diante de si as suas
vidas anteriores,
como uma
perspectiva, ao sair
lentamente do
nevoeiro que a
envolvia.
692. Somente, então,
se lembra ele da
última existência;
depois, o panorama
de suas passagens
sobre a Terra e as
voltas ao Espaço se
lhes desvelam diante
dos olhos. Ele vê os
progressos que fez e
os que lhe faltam
fazer, e assim nasce
o desejo de
reencarnar, a fim de
chegar mais depressa
aos mundos felizes
que entrevê.
693. Concebe-se,
pois, segundo isso,
que o mundo dos
Espíritos deve
parecer-lhe novo,
até o momento em que
a memória
inteiramente lhe
volta. Mas a esta
causa é preciso
outra, que não é
menos preponderante.
O estado do
Espírito, como
Espírito, varia
extraordinariamente,
em razão de sua
elevação e de sua
pureza. À medida que
ele sobe
intelectualmente e
progride moralmente,
suas percepções e
sensações se tornam
menos grosseiras,
adquirem mais
finura, mais
delicadeza; ele vê,
sente e compreende
as coisas que não
podia ver nem
sentir, nem
compreender em uma
condição inferior.
694. Ora, sendo cada
existência corpórea
para ele motivo de
progresso, ela o
traz sempre a um
meio novo, onde
Espíritos de outra
ordem têm
pensamentos e
hábitos diferentes.
Ajuntemos a isso que
essa depuração
permite-lhe penetrar
em mundos
inacessíveis aos
Espíritos
inferiores, como,
entre nós, os salões
da aristocracia são
interditos a pessoas
mal educadas. Quanto
menos esclarecido é
ele, mais limitado
lhe é o horizonte; à
medida que ele se
eleva e se depura,
este horizonte
aumenta e com ele o
círculo de suas
ideias e de suas
percepções.
695. À medida que
progridem, as ideias
se desenvolvem, a
memória se torna
mais pronta,
familiarizam-se
prontamente com a
posição nova, e sua
volta ao seio dos
Espíritos nada mais
tem que os admire;
encontram-se em seu
meio normal e,
passado o primeiro
momento de
perturbação,
reconhecem-se quase
imediatamente. Tal é
a situação geral dos
Espíritos no estado
que se chama
errante; mas nesta
situação, que fazem
eles? Em que passam
o tempo?
696. Esta questão é
para nós de
interesse capital.
Importa-nos, com
efeito, fixar-nos
sobre este ponto,
porque é do nosso
futuro espiritual
que se trata, não
sendo descabidos os
mais
circunstanciados
detalhes. Aliás, são
os próprios
Espíritos que
respondem a estas
interrogações,
porque em tudo o que
expusemos até então
nenhuma coisa é
devida à imaginação.
Extraímos do ensino
de Allan Kardec
todas as informações
necessárias e ele
próprio baseou sua
teoria nas
comunicações
recebidas de todas
as partes do globo;
ela oferece, pois,
todos os caracteres
da verdade.
697. É grave erro
acreditar que a vida
dos Espíritos é
ociosa; pelo
contrário, é
essencialmente ativa
e todos os Espíritos
nos falam de suas
ocupações, que
diferem,
necessariamente,
conforme o ser é
errante ou
encarnado.
698. Entre os seres
que atingiram certo
grau de elevação,
uns velam pelo
cumprimento dos
desígnios de Deus,
nos grandes destinos
do Universo; dirigem
a marcha dos
acontecimentos e
concorrem para o
progresso dos
mundos; outros tomam
os indivíduos sob
sua proteção e se
constituem seus
gênios tutelares,
guias espirituais,
que os acompanham do
nascimento à morte,
procurando
dirigi-los na senda
do bem.
699. Alguns se
encarnam em mundos
inferiores, para aí
exercerem missões de
progresso; procuram,
por seus trabalhos,
seus exemplos, seus
conselhos, seus
ensinos, fazê-los
avançar nas
ciências, nas artes,
ou na moral.
Submetem-se, então,
voluntariamente, às
vicissitudes de uma
vida corporal,
muitas vezes penosa,
com o fim de
praticar o bem e
isso lhes é contado.
700. Muitos, enfim,
não têm atribuições
especiais; vão a
toda parte onde sua
presença pode ser
útil, dar conselhos,
inspirar boas
ideias, sustentar as
coragens
titubeantes, dar
força aos fracos e
castigar os
presunçosos.
701. Os diversos
trabalhos nada têm
de penoso, eles o
fazem
voluntariamente e
não por
constrangimento, e a
felicidade consiste
em conseguir o que
empreendem. Ninguém
pensa na ociosidade
eterna, que seria um
suplício. Quando as
circunstâncias o
exigem, eles se
reúnem em conselho,
deliberam sobre o
que devem fazer, dão
ordens aos Espíritos
subordinados e se
dirigem em seguida
para onde o dever os
chama.
702. Essas
assembleias são
gerais ou
particulares,
conforme a
importância do
assunto; nenhum
lugar especial é
destinado a essas
reuniões; o espaço é
o domínio dos
Espíritos;
entretanto elas se
limitam em geral aos
globos que
constituem o seu
objetivo.
703. Os Espíritos
encarnados nesses
mundos e que têm uma
missão a cumprir
assistem muitas
vezes a essas
assembleias.
Enquanto seus corpos
repousam, vão haurir
conselhos entre os
outros Espíritos,
muitas vezes receber
ordens sobre a
conduta que devem
manter como homens.
Ao despertar não
têm, é verdade,
lembrança precisa do
que se passou, mas
possuem a intuição
que os faz agir,
inconscientemente.
704. Descendo na
hierarquia,
encontramos
Espíritos menos
elevados, menos
esclarecidos, mas
que não deixam de
ser bons, e que,
numa esfera de
atividade mais
restrita, preenchem
funções análogas. A
ação deles, em vez
de estender-se aos
diferentes mundos,
exerce-se
especialmente sobre
determinado globo,
em relação com seu
grau de
adiantamento. Sua
influência é mais
individual e tem por
objeto ações menos
importantes.
705. Vem em seguida
a multidão dos
Espíritos vulgares,
mais ou menos bons
ou maus, que pululam
em torno de nós.
Eles se elevam pouco
acima da humanidade,
da qual representam
todos os matizes e
são como que o
reflexo, porque dela
têm todos os vícios
e todas as virtudes;
em grande número
deles,
reencontram-se os
gostos, as ideias,
os pendores que
tinham em vida; as
faculdades lhes são
limitadas, o
julgamento falível
como o dos homens,
muitas vezes errôneo
e imbuído de
preconceitos.
706. Noutros, o
senso moral é mais
desenvolvido; sem
grande superioridade
nem profundeza,
julgam mais
judiciosamente e
condenam o que
fizeram, disseram ou
pensaram durante a
vida. Aliás, há isto
de notável, é que
mesmo entre os
Espíritos mais
ordinários, há na
maior parte,
sentimentos mais
puros na
erraticidade que na
encarnação; a vida
espiritual lhes
esclarece sobre seus
defeitos e, com
poucas exceções,
arrependem-se
amargamente e
lamentam o mal que
fizeram, pelo qual
sofrem mais ou menos
cruelmente. O
endurecimento
absoluto é muito
raro e apenas
temporário, porque,
cedo ou tarde, se
lamentam do seu
estado. Pode-se
dizer que todos
aspiram à perfeição,
porque percebem que
é o único meio de
saírem da posição
inferior que ocupam.
707. Em resumo,
vimos que a alma se
desenvolve por meio
de uma série de
sucessivas
existências; que
tendo partido do
mais rudimentar
estado, do qual
encontramos o
exemplo nos povos
selvagens, ela deve
elevar-se de degrau
em degrau até à soma
de qualidades e
perfeições que se
podem adquirir na
Terra. Quando ela
atingiu o fim que
aqui lhe estava
assinalado, sobe
para os mundos
superiores, onde
melhores destinos a
esperam.
708. Como Deus cria
sem cessar, pode-se
supor que há
Espíritos que já
percorreram todas as
fases e que
chegaram, enfim, à
perfeição absoluta.
É, ainda, uma falsa
interpretação,
porque a perfeição
absoluta é Deus,
isto é, o infinito e
a eternidade. Ora,
tendo tido um
começo, jamais a
alma do homem será
eterna, ela é
simplesmente
imortal. Eterno
somente Deus o é.
709. Pretendeu-se
algumas vezes que a
alma fosse incriada.
Segundo o que
pensamos, esta
maneira de ver é
errônea, porque, se
nós admitirmos a
existência de Deus,
ele deve ser o autor
de tudo o que
existe; sem isto ele
não teria razão
alguma de ser.
710. A imensidade e
a eternidade são os
únicos limites que
encontramos para o
progresso, o que
vale dizer: o
progresso não tem
limites. Não nos
devemos espantar com
esta perspectiva,
porque sabemos, de
experiência, que a
cada descoberta
nova, a cada
aquisição
intelectual está
ligada uma
felicidade, que se
acrescenta à que já
gozávamos. À medida
que nossas
faculdades se
ampliam, elas se
exercem num campo
cada vez mais vasto,
abraçam horizontes
mais extensos, e,
como o Universo é
ilimitado, podemos
imaginar que nos
será necessária a
eternidade para
compreendê-lo e
aprofundar-lhe as
leis.
711. Até aqui nos
limitamos a estudar
o perispírito no
homem e durante a
desencarnação. Como
os Espíritos nos
ensinassem que ele é
formado do fluido
universal, aceitamos
essa asserção sem
indagar do processo
pelo qual o
perispírito poderia
ter adquirido as
qualidades de que é
dotado. Vamos
procurar neste
capítulo levantar
uma ponta do véu que
nos encobre o
passado.
712. Para explicar o
funcionamento do
invólucro do
Espírito, fazemos a
seguinte hipótese: O
perispírito fixa em
si, durante a
evolução da alma,
todas as qualidades
que lhe permitem
dirigir a vida
orgânica; de sorte
que o homem
possuirá: 1 – a vida
vegetativa, devida
ao princípio vital;
2 – a vida orgânica,
devida ao
perispírito; 3 – a
vida intelectual,
que é a da alma.
713. Tentaremos,
portanto, demonstrar
que o duplo fluídico
do homem é o
princípio diretor de
sua vida orgânica;
para chegar a esta
conclusão,
admitiremos como
absolutamente
demonstradas as leis
do transformismo,
que se adaptam
maravilhosamente ao
nosso assunto.
714. O Espiritismo
científico franqueou
os primeiros passos
da experiência,
guiado por sábios
ilustres, mas a
explicação de todos
os seus fenômenos
não pode ainda ser
utilmente tentada,
porque poucos
documentos,
atualmente, existem
que permitam a boa
execução desse
trabalho.
Apresentamos,
portanto, um ensaio,
sem a pretensão de
verdade absoluta.(Continua no próximo
número.)