Jesus te ama
Caminho pela rua
distraído e vejo
no muro de uma
empresa, em
letras garrafais,
pichado, o
dístico “Jesus
te ama”.
Recordo-me então
de que já vi a
singela
expressão
diversas vezes,
em placas
pregadas em
árvores, em
portas de
banheiro e em um
sem-número de
lugares onde a
tentativa de
passar a
mensagem
desconsidera o
patrimônio, a
natureza e o bom
senso.
A questão de se
passar a
mensagem, por
qualquer meio,
nos faz lembrar
a grande questão
ética de que os
fins não
justificam os
meios e que os
processos têm
consequências
que afetam os
seus resultados.
De que vale
dizermos que
Jesus ama a
todos, quando
desrespeitamos o
patrimônio do
nosso irmão, ou
o caule de um
ser vivo? Ainda
que repletos de
boas intenções,
contrariar a
mensagem do
Cristo na sua
divulgação é
trocar a
profundidade da
renovação pela
superfície das
palavras, nas
urnas caiadas
que já nos
advertia o meigo
nazareno.
Uma reflexão
profunda, pois o
espírito
messiânico no
Espiritismo é
suplantado pelo
espírito do bem,
sem olhar a
quem, na
construção do
Reino de Deus na
Terra. Não temos
interesse de
divulgar “leia
Kardec” em
proporção maior
do que “ame seu
próximo”, pois a
nós interessa o
resultado – o
homem de bem –
considerando as
implicações
éticas de como
se chega a esse
estágio. Aliás,
“leia Kardec”
para nós tem que
significar “ame
seu próximo”...
A questão do
homem de bem é
um desafio
íntimo,
construído no
convívio com
nossos irmãos
encarnados. Às
vezes nos
preocupamos com
a divulgação,
com a pregação,
mirando no outro
para tirá-lo da
pretensa
ignorância,
quando nos
esquecemos de
que o outro é
nossa ferramenta
de evolução. Se
conhecer a
doutrina
espírita fosse o
caminho único de
crescimento
espiritual, o
que dizer dos
outros 99% de
habitantes do
globo que
desconhecem
nossos
postulados, pelo
menos da forma
como fora
sistematizado
por Kardec?
Sairemos então
em cruzadas de
divulgação para
levar a mensagem
de Kardec? O que
sacrificamos com
esse
investimento: a
prática do bem e
o estudo
edificante?
Já vi afirmações
de que o
objetivo da casa
espírita é a
divulgação da
Doutrina
Espírita e que
isso se
estenderia para
federativas, no
seu âmbito.
Seria muito
pouco para a
casa espírita
ser apenas um
propagador de
ideias. A casa
espírita é
oficina de
estudo e
trabalho na
forja do homem
de bem em cada
um de seus
frequentadores e
as tarefas de
divulgação
servem para
enlaçar essa
missão entre
todos. Mas não
pode ser a
divulgação um
fim ensimesmado,
sob pena de nós
trocarmos a ação
pelo discurso.
Empenhados por
levar o nome de
Jesus a outros
rincões, já se
matou e se
roubou muito,
como nos mostra
a história.
Embalados pela
clássica máxima
do Livro "Estude
e Viva", ditado
pelos Espíritos:
Emmanuel e André
Luiz;
psicografado por
Chico Xavier e
Waldo Vieira:
"(...) Para
isso, estudemos
Allan Kardec, ao
clarão da
mensagem de
Jesus Cristo, e,
seja no exemplo
ou na atitude,
na ação ou na
palavra,
recordemos que o
Espiritismo nos
solicita uma
espécie
permanente de
caridade – a
caridade da sua
própria
divulgação", nos
arvoramos a
empreender uma
campanha
desenfreada de
divulgação da
nossa crença,
esquecendo o
“letreiro vivo”
que o nosso
“exemplo e
atitude”
constitui na
divulgação da
nossa doutrina,
como ação
renovadora e
construtora de
homens de bem e
não pela
divulgação fria
dos meios
publicitários,
sob o discurso
da nossa
benevolência com
a causa.
Assim, na
prática da
divulgação
doutrinária,
seja por meios
impressos, pela
fala, ou ainda
por canais
publicitários
típicos – Rádio,
Televisão,
Internet,
Cartazes –,
importa-nos
considerar os
meios
utilizados,
ainda que os
fins-divulgação
para o grande
número de
pessoas pareça
justificável,
pois embora não
sejamos
salvacionistas,
o codificador
nos apontou em
“O Evangelho
segundo o
Espiritismo” que
o caminho para a
evolução se faz
na prática do
bem, que nos faz
bons, e não
pelas palavras
que dizem
“Santo, santo,
santo”.
Em uma época de
revolução
tecnológica pelo
acesso fácil a
meios de
comunicação que
nos inundam de
informações
diversas, não
confundamos a
grandeza das
coisas pelo seu
potencial de
divulgação de
nossos
conceitos, mas
sim pela força
de renovação, de
olhar o irmão
mais
desfavorecido,
pois toda essa
tecnologia que
une países em
segundos não foi
o suficiente
para banir a
miséria material
e moral de nosso
planeta. Mas o
amor possui esse
dom. E Jesus te
ama.