A. As evoluções do
princípio
inteligente
limitam-se às
experiências
realizadas em nosso
globo?
Não. Tudo leva a
crer que não se
devem limitar à
Terra as evoluções
do princípio
inteligente. Fazemos
parte do Universo e
nada prova que o
princípio anímico
seja obrigado,
chegando à Terra, a
seguir toda a série
das espécies que
existem em sua
superfície.
(O Espiritismo
perante a Ciência,
Quarta Parte, Cap.
IV – Hipótese.)
B. Existe relação
entre o organismo do
médium e a
mediunidade?
É bem provável. Um
médium é um ser
dotado do poder de
entrar em
comunicação com os
Espíritos; deve,
pois, possuir em sua
constituição física
algo que o distinga
das outras pessoas,
pois que nem todos
estão aptos a servir
de intermediários
aos Espíritos
desencarnados.
(Obra citada, Quinta
Parte, Cap. I –
Algumas observações
preliminares.)
C. Na época de
Delanne, havia
médiuns que se
valiam de sua
faculdade para
ganhar a vida?
Sim, embora fossem
pouco numerosos.
Eles consideravam o
mediunismo como um
dom que lhes
permitia ganhar
facilmente a vida,
fato que Allan
Kardec reprovava
energicamente.
(Obra citada, Quinta
Parte, Cap. I –
Algumas observações
preliminares.)
Texto para leitura
744. No ponto de
vista moral, que é o
mais importante, as
sábias pesquisas de
Boucher de Perthes,
Du Mortillet, Lartet,
Gaudry e tantos
outros estabeleceram
que, em certo
momento do período
quaternário, os
caracteres humanos e
símios se
encontraram reunidos
no antropoide dessa
época longínqua. À
medida que esse ser
foi progredindo,
seus órgãos se foram
aperfeiçoando, em
consequência dos
esforços que fazia
para comunicar-se
com seus
semelhantes;
formou-se a apófise
dentária, e esse
animal humano pôde
falar. Não se sabe a
duração do tempo em
que se operou essa
transformação, mas
tudo leva a crer que
foi enorme.
745. O homem não
falante é o que se
encontra no grau
superior terciário,
e apesar das vivas
discussões que
levantou a
qualificação de
homem, que lhe foi
dada, pode ser ele,
em todo caso,
considerado como um
precursor, pois que
talhava pedras para
seu uso.
746. Se o princípio
inteligente dos
animais foi obrigado
a passar por formas
intermediárias para
chegar a humanidade,
se são os macacos os
representantes
diretos dos
antropoides e se a
raça tende a
desaparecer,
pergunta-se: quando
eles não existirem
mais, como poderão
as almas dos animais
chegar ao nosso grau
humano? É sensata a
objeção e nos
demonstra que não se
devem limitar à
Terra as evoluções
do princípio
inteligente. Fazemos
parte do Universo e
nada prova que o
princípio anímico
seja obrigado,
chegando à Terra, a
seguir toda a série
das espécies que
existem em sua
superfície.
747. Na época
quaternária, fora
possível que as
almas animais se
transformassem,
passando por
graduações
insensíveis a almas
humanas; mas, em
nossa época, isto já
não é possível, pois
que não se encontram
traços
intermediários entre
o homem e o macaco.
É preciso, pois,
admitir que a alma
animal, chegada ao
ápice da escala das
formas por que tinha
de passar, é levada
a um mundo onde,
pouco a pouco,
adquire as
qualidades que
diferenciam o homem
do animal, isto é, o
conhecimento de si
mesmo, a
perfectibilidade e o
sentimento do bem e
do mal.
748. A passagem da
alma pela série
animal parece-nos
razoável, mas ainda
há muitos pontos a
esclarecer e não
podemos apresentar
esta hipótese senão
com as mais formais
reservas. Para
entrar no terreno
sólido dos fatos,
podemos afirmar que
o homem existe na
Terra há mais de
300.000 anos; que
saiu, lentamente, da
faixa da
bestialidade, para
elevar-se até aos
mais altos píncaros
da intelectualidade.
Que espetáculo e que
ensino nos
apresentam nossos
miseráveis avós,
morando em cavernas
e correndo nus, em
busca de nutrição! A
custo distinguiam-se
de outros animais
ainda mais fortes e
tão ferozes como
eles. Mas o homem
traz na fronte o
selo da
superioridade,
possui a
inteligência; é ela
que o vai tirar
desse terrível
estado para torná-lo
o senhor de toda a
criação. É a lei do
progresso que se
manifesta e que nos
eleva da
inferioridade do ser
às esferas
radiantes, onde só
existe o amor, a
justiça e a
fraternidade.
749. Os fenômenos
mediúnicos de que
falamos no capítulo
consagrado ao
Espiritismo
necessitam estudo
especial, porque
demonstram que
existem estados
particulares do
organismo que
permaneceram
desconhecidos até
aqui dos
fisiologistas e dos
filósofos. Um
médium, já o
dissemos, é um ser
dotado do poder de
entrar em
comunicação com os
Espíritos; deve,
pois, possuir em sua
constituição física
algo que o distinga
das outras pessoas,
pois que nem todos
estão aptos a servir
de intermediários
aos Espíritos
desencarnados.
Ademais, o Espírito
emprega, ao atuar
sobre o médium,
certos processos que
seria interessante
conhecer, porque se
concebemos muito bem
como pode um homem
fazer sentir
fisicamente sua
influência sobre um
outro, o mesmo não
se dá quando
examinamos de que
maneira se exerce a
ação espiritual
sobre um encarnado.
750. Nestas
pesquisas,
facilmente se
compreenderá que só
podemos raciocinar
por analogia. Não é
possível, ainda,
fazer experiências
diretas sobre o
fluido
perispiritual, que
escapa, por sua
natureza, a todos os
nossos instrumentos,
por mais perfeitos
que sejam.
Repetiremos aqui o
que já foi dito, que
não temos a
pretensão de os
explicar
cientificamente;
nosso fim é mais
modesto;
limitamo-nos a
apresentar
analogias, a emitir
teorias, que
permitirão
compreender como se
podem produzir os
fenômenos. É uma
tentativa que tem
por fim fazer entrar
os fatos
espiritistas nas
leis naturais e
mostrar que foram
considerados, sem
razão, como
derrogações aos
princípios imutáveis
que dirigem a
Natureza.
751. A má
interpretação que se
deu às manifestações
espíritas afastou
delas os pensadores;
eles acreditaram que
se queriam renovar
as mais absurdas
superstições e
levantaram-se com
razão contra o que
tachavam de
loucuras. Mas
mostrando-lhes que
podemos explicar
logicamente os fatos
por hipóteses
deduzidas das
modernas concepções
científicas,
abrir-lhes-emos os
olhos sobre uma
ordem de fatos que
eles ignoravam e por
isso mesmo
chamaremos a atenção
dos homens sérios
para um domínio
inexplorado e
fecundo em
maravilhosas
descobertas. É,
pois, dar um passo
avante na propagação
de nossas crenças
explicar o
mediunismo por uma
teoria que não
choque, em nada, as
ideias do mundo
científico.
752. Não podemos
pretender dar as
relações numéricas
que ligam os
diferentes fenômenos
da mediunidade;
ninguém entretanto
duvida que elas
existem e
chegar-se-á mais ou
menos depressa a
descobri-las,
conforme a exatidão
dos métodos que se
empregarem. Já vimos
Crookes construir
aparelhos de medida
muito sensíveis para
apreciar a
influência dessa
força, que se exerce
à distância do foco
donde ela emana e
com nenhum condutor
visível, assim como
o constata o
relatório da
Sociedade Dialética.
753. Foi seguindo
uma ordem de ideias
paralela a esta que
Helmholtz e Donders
chegaram a calcular
o tempo fisiológico
da visão, isto é, a
duração que separa o
momento em que uma
sensação luminosa
fere o olho, daquele
em que ela é
percebida pelo
cérebro. Essas
experiências, muito
simples, formam os
elementos
fundamentais de toda
atividade
intelectual, porque
nelas entram em jogo
a sensação, a
percepção, a
reflexão e a
vontade.
754. Segundo seu
grau de
complexidade, cada
ciência se aproxima
mais ou menos da
precisão matemática
à qual ela deve
chegar, cedo ou
tarde, e tanto isto
é verdade que a
ideia de aplicar o
cálculo aos
fenômenos vitais não
é nova.
755. Fechner teve a
glória de ter
coordenado os
trabalhos
contemporâneos e de
os ter completado
com suas próprias
pesquisas. Esta
parte da Física
Fisiológica tomou o
nome de Psicofísica.
756. É por esta
ordem de ideias que
devemos impelir o
Espiritismo. É
preciso agora,
quando a existência
da força psíquica é
incontestável, medir
sua ação sobre o
homem e a que ela
pode exercer à
distância. A
filosofia grandiosa
dos Espíritos está
assentada em bases
da mais rigorosa
lógica; é preciso,
pois, estudar as
leis físicas que
tornarão nossas
experiências
irrefutáveis.
757. Existem,
infelizmente, entre
os médiuns, os mais
deploráveis
preconceitos. Uns se
supõem investidos de
uma espécie de
sacerdócio, que os
deve colocar acima
de seus
contemporâneos, e
consideram como
atentatória à sua
dignidade qualquer
medida que tenha por
fim fiscalizar-lhes
a faculdade. Outros
– ajuntemos que são
pouco numerosos –
consideram o
mediunismo como um
dom que lhes permite
ganhar facilmente a
vida, e se
estabelecem médiuns
como o faria um
salsicheiro ou um
padeiro.
758. É de desejar
que os espiritistas
sérios reajam contra
essas tendências
contrárias às
instruções dos
Espíritos, e que
Allan Kardec
reprovava
energicamente. Disse
Lafontaine: Mais
vale um franco
inimigo do que um
amigo desastrado. É
uma verdade isto,
sobretudo em
Espiritismo.
759. Formou-se uma
classe de fanáticos
que querem excluir
toda medida
preventiva que tenha
por fim resguardar
contra uma possível
fraude. Consideram
eles os
investigadores
sérios como falsos
irmãos e, por pouco,
lhes pregariam uma
peça. Essas pobres
pessoas não
compreendem que é de
interesse capital
que não se produza a
menor suspeita; sem
isto, adeus
convicções! Com seu
desajeitado zelo,
fazem mais mal à
doutrina que os mais
encarniçados
detratores.
760. Não é só na
França que isto
acontece, senão
também na
Inglaterra. Veja o
que, a propósito,
escreveu Hudson
Tuttle, na
Banner of Light,
sob o título O
Sacerdócio dos
Médiuns:
“Banner, em
seu número de 26 de
fevereiro de 1876,
traz um artigo
assinado por T. R.
H., que apresenta as
mais errôneas
conclusões. O pior é
que esse senhor diz
alto o que muitos
pensam baixo. Já se
tem cem vezes
repetido que os
fenômenos
espirituais tinham
por fim convencer os
incrédulos. Para
convencer é preciso
que os fenômenos se
possam produzir e
que deles se tenha a
prova, sem perturbar
as leis que presidem
à sua manifestação.
Ora, o autor do
precitado artigo,
contrariando toda
ciência, diz: ‘Não
está distante o dia,
eu o espero, em que
os médiuns terão, em
geral, uma
suficiente
independência para
negar a todos o
direito de exigir
uma prova qualquer,
quanto a seus
diversos poderes.’ É
a primeira vez que
vemos atribuir-se
aos médiuns um poder
sagrado que não
admite contradição.
Onde nos levará
isso? Ao culto dos
médiuns. Deve-se,
como entre os
antigos levitas,
criar uma classe
especial que fique
acima das leis que
regem a generalidade
dos homens e
devemos, com os
olhos fechados,
aceitar o que lhes
aprouver chamar de
espiritual? Mas o
papa se torna um
pigmeu ao lado do
colosso que assim se
quer erigir acima do
julgamento de todos.
Pôr uma venda nos
olhos da razão e
transformar os
espectadores em
títeres, com os
médiuns a lhes
puxarem os cordéis,
seria querer o fim
do Espiritismo a
breve trecho.
Ousamos declarar que
as provas
estritamente
científicas impostas
pelo professor
Crookes e a retidão
de suas observações
fizeram mais para
impressionar o mundo
científico que
quaisquer cartas de
louvores de
pesquisadores
comuns. Não há
espíritas que não
falem com legítimo
orgulho das
investigações do
célebre professor.
Estudei um pouco os
fenômenos
espirituais e
ninguém me acusará
de procurar
sistematicamente
causar danos à causa
que me tomou os
melhores momentos de
minha vida, nem de
querer impor
condições
prejudiciais ao
fluido espiritual.
Porque amo o
Espiritismo é que o
quero ver liberto de
toda a mentira,
desembaraçado de
toda acusação de
falsidade. O
professor Crookes,
como todos sabem,
colocou uma gaiola
em torno dos
instrumentos de
música que, apesar
disso, tocaram
algumas árias; este
fato prova
suficientemente que
o poder espiritual
pode agir através
dessas gaiolas. Por
que, desde então,
não colocar sempre
uma gaiola
semelhante em torno
dos instrumentos?
Por que deixar um
pretexto àqueles que
é preciso convencer?
E por que,
sobretudo,
qualificar de falso
irmão aquele que
propõe medidas de
controle tão
seguras? Quando um
médium se furta a
uma prova que a
minha própria
experiência, aliada
à de outros,
demonstrou não ser
prejudicial às
manifestações,
apresso-me em pôr
termo a qualquer
espécie de prática
com ele. Confesso
não compreender por
que o médium honesto
resistiria a certas
condições
experimentais que se
lhe queira impor.
Nada, sem dúvida,
poderia ser-lhe mais
importante, do que a
completa elucidação
da causa que ele
defende; a causa só
pode ganhar com isso
e ele deve
considerar ponto de
honra colocar em
terreno livre toda
observação. E então,
mesmo que se tenha
controlado uma vez
as manifestações de
um médium, não há
razão para que
outras manifestações
sejam admitidas como
verdadeiras, se as
mesmas condições de
controle não tenham
sido observadas.”
761. Eis o que é bem
falar e desejaríamos
que os espiritistas
pensassem da mesma
maneira. É preciso
nos coloquemos em
face dos
preconceitos de
nosso tempo, que
está muito inclinado
a nos tomar por
alucinados, e
deixemos aos céticos
a facilidade de se
convencerem, só lhes
fazendo ver
fenômenos
absolutamente
irrefutáveis. Nestas
condições,
formaremos adeptos;
se não se submeterem
a isso, de que
servirá a
propaganda?
762. Devemos dizer
que a grande maioria
dos espiritistas
pensa como nós e que
estas reflexões
visam apenas a um
restrito grupo de
atrasados, que
temeriam dar um
tremendo golpe na
doutrina, revelando
um embuste. Cumpre,
ao contrário, o
maior vigor e é
porque os fenômenos
existem que se faz
mister vigiar os
charlatães que
tentariam imitá-los.
763. A mediunidade
se nos apresenta de
tal maneira
probante, que a
dúvida não é mais
permitida a quem
queira estudar
seriamente; mas se o
pesquisador tem a
infelicidade de
encontrar, no começo
de suas
investigações, um
impostor, conclui
falsamente que o
Espiritismo não
passa de um novo
método de
exploração. Não nos
devemos expor à
crítica e, por isso,
Allan Kardec pregou
sempre a mais
absoluta
fiscalização.
764. A propósito da
tentativa de
explicação
científica, que
apresentamos,
poderão observar-nos
que apoiamos nossas
demonstrações em
hipóteses e que,
portanto, não
servirão para
convencer os
incrédulos.
Responderemos que o
terreno em que
entramos não foi
ainda reconhecido e
que forçoso nos é
recorrer às
hipóteses. Mas
teremos o cuidado de
aventá-las de tal
sorte que nenhuma
experiência venha
desmenti-las. É
nestas condições que
uma teoria é
aceitável.
Conformamo-nos,
aliás, com o uso dos
sábios, que estão
reduzidos aos
sistemas, para
explicar os mais
simples fenômenos,
os que se passam sob
seus olhos e cujas
condições de
produção podem
variar à vontade.
Não esqueçamos, com
efeito, que os
tratados de física
ou de química só nos
apresentam as
relações entre as
diferentes
substâncias, sem
mostrar a natureza
íntima dos corpos.
Fala-se sem cessar,
da matéria, sem lhe
definir exatamente a
verdadeira
constituição.
765. A força é um
proteu
(1)
de formas múltiplas,
cuja essência é
ainda um mistério.
Finalmente,
verificamos
correlações ou
diferenças entre
certo número de
fatos e daí
deduzimos leis, mas
sem conhecer a
verdadeira natureza
dos corpos sobre os
quais elas se
exercem, nem o que
são essas leis em si
mesmas.
(Continua no próximo
número.)
(1)
Proteu: aquele que
muda facilmente de
opinião ou de
sistema.