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Estudando as obras de Manoel Philomeno de Miranda
Ano 5 - N° 239 - 11 de Dezembro de 2011

THIAGO BERNARDES
thiago_imortal@yahoo.com.br
 
Curitiba, Paraná (Brasil)
 

Grilhões Partidos

Manoel Philomeno de Miranda 

(Parte 14)

Continuamos a apresentar o estudo do livro Grilhões Partidos, de Manoel Philomeno de Miranda, obra psicografada por Divaldo P. Franco e publicada inicialmente no ano de 1974.

Questões preliminares

A. Com o início do tratamento desobsessivo, Ester acusou alguma melhora?

Sim. Notável modificação no semblante da pa­ciente já podia ser vista nos dias seguintes. É que, diminuída a assimilação contínua dos fluidos enfermiços, graças ao afastamento do obsessor, o organismo passava a recobrar pau­latino con­trole de suas funções. (Grilhões Partidos, cap. 18, pp. 159 a 161.)

B. Quem era e como se chamara na Terra o obsessor de Ester?

Ele próprio disse chamar-se Matias, um soldado morto em dezembro de 1944 na campanha da Itália, sob as or­dens do capitão Santamaria, de quem fora ordenança. Chamavam-no "o baiano".  (Obra citada, cap. 18 e 19, pp. 161 a 166.)

C. Que falta cometida pelo Coronel Santamaria irritou tanto o soldado Matias?

Matias atribuía ao então capitão Santamaria a sua morte e depois uma traição imperdoável. Na véspera da ba­talha de Monte Castelo, ele ha­via sonhado que iria morrer naquele dia... Por isso, logo cedo, após rezar, diri­giu-se ao capitão Santamaria para pedir-lhe fosse colocado em qualquer serviço, menos ser mandado para a linha de fogo... Explicou-lhe o motivo de seu pedido. O capitão zombou dele e gritou que todos ali estavam para mor­rer, bradando "que era o nosso dever: dar a vida pela Pátria e que aquela era a hora". O sol­dado compreendeu a situação e, seguindo sua intuição, pediu-lhe um fa­vor. Se mor­resse, como acreditava que ia acontecer, suplicava ao capitão ajudasse sua mãe e sua irmã, que ele deixara na Bahia. O capitão olhou-o sério e, compreendendo a gravidade do pedido, prometeu que aten­deria ao seu pedido, anotando seu número de identidade e o endereço de sua famí­lia, promessa que, no entanto, ele jamais cumpriu. (Obra citada, cap. 19, pp. 166 a 170.)

Texto para leitura

87. O trabalho continua à noite durante o sono - Bezerra de Mene­zes e outros Espíritos acompanhavam a conversa em casa de Sobreira. Manoel Philomeno, após destacar a importância da palestra sadia em torno da reunião, revelou que, no sentido oposto, a conversação vulgar, o co­mentário ácido, os apontamentos irrelevantes perturbam a psicosfera em que as entidades em tratamento se demoram, permitindo a quebra das de­fesas especiais e a invasão dos Espíritos infelizes a cuja convivência mental os membros do grupo se acostumaram, dando prosseguimento às in­ditosas obsessões de que não se desejam libertar. O término da reunião de desobsessão não encerra os serviços de socorro e enfermagem espiri­tual. Por isso, é conveniente que os lidadores encarnados cuidem da preservação psíquica superior do recinto, quanto da própria, demo­rando-se em reflexões e conotações sa­dias, aplicando em si mesmos as lições ouvidas. "Mesmo quando as comunicações hajam apresentado maior soma de sofredores, aos colaboradores terrenos compete a meditação quanto ao futuro que os aguarda, caso não se resolvam à vivência das atitudes enobrecedoras", anotou Phi­lomeno. (Cap. 18, pág. 159) 

88. Ester apresenta sensível melhora - A programação especial de socor­ro a Ester e aos demais envolvidos no caso previa dois encontros por semana para a desobsessão, sem prejuízo dos demais trabalhos do grupo. Rosângela, a jovem médium que exercia a função de auxiliar de enferma­gem na Casa de Saúde, embora proibida de aproximar-se da obsessa, pôde observar naqueles dias notável modificação no semblante da pa­ciente. Diminuída a assimilação contínua de fluidos enfermiços, graças ao afastamento do obsessor, o organismo passava a recobrar pau­latino con­trole de suas funções. Ester recebia, simultaneamente, o auxílio espi­ritual de Assistentes de Bezerra de Menezes, que lhe reno­vavam as disposições e suas defesas orgânicas e mentais. Rosângela co­municou suas impressões aos pais da jovem, o que os animou muito. D. Margarida, abraçando-a, perguntou-lhe como poderiam eles agradecer a Deus todas as bênçãos que ora recebiam. "Amando e servindo, como vêm fazendo", respondeu-lhe a médium. "O Pai não deseja a punição de nós outros, os pecadores, mas nosso arrependimento em forma de renovação e ação va­liosa a proveito nosso e dos demais." Foi nesse clima de ale­gria e es­peranças que se iniciaram os preparativos da terceira reunião mediú­nica em prol do Ester. A leitura do cap. 23 d' O Livro dos Médiuns, que versou sobre a obsessão, facultou a todos valiosas lições, predis­pondo-os favoravelmente para o complexo e importante mi­nistério. (Cap. 18, pp. 159 a 161) 

89. A influência benéfica de Bezerra - Desperto pela interferência de Bezerra de Menezes, que se lhe fez visível, o Espírito que perseguia Ester experimentou inesperada emoção: "Anjo venerando! – exclamou – eu sei que há anjos bons, como há os demônios que nos escravizam! Tenho sido vítima de demorado desgosto e fui encaminhado por nobre conselheiro da Justiça a proceder à cobrança própria". E indicou o Co­ronel Santamaria como sendo o homem que infelicitou a sua vida, des­truindo, quase, os seres mais queridos que possuía. Bezerra disse-lhe ser apenas um irmão que se esforçava por sua paz, e explicou-lhe que se tornava necessário um diálogo entre ambos – vítima e algoz – para que aquela situação de ódio e vindita tivesse um fim. Bezerra re­latou-lhe conhecer todo o drama que os jungia e acrescentou: "O mal é sempre pior para quem o cultiva. O teu conselheiro equivocou-se, con­duzindo-te a grave erro". Aconselhou-o então a apresentar-se como al­guém que espera reparação, porque ele não era um indivíduo mau: apenas enfermara. Não era lícito, pois, prosseguir na corrida desenfreada para a desdita pessoal. Era hora de parar e refrear o desequilíbrio. O inditoso vingador, atraído pelo magnetismo do "médico dos pobres", dulcificado pela primeira vez, acercou-se do médium  Joel, que estava em profundo transe inconsciente. Uma aragem suave penetrou o ambiente. As expectativas eram felizes. O grupo todo orava em perfeita identi­dade, ligando-se uns aos outros por delicados fila­mentos luminosos, cujo teor vibratório atestava a potência mental e moral de cada um. Sobreira, auxiliado pelo dirigente espiritual, passou a registrar a cena que ali se desdo­brava na esfera espiritual. "Sê bem-vindo, meu irmão!" –  disse ao infeliz irmão que ali comparecia, e este, emulado pelo convite, exclamou: "Sou infeliz!" (Cap. 18, pp. 161 a 163) 

90. O obsessor se identifica - Abrindo o capítulo, Philomeno con­signa a seguinte lição extraída do item 280 d' O Livro dos Espíritos: "Os bons se ocupam em combater as más inclinações dos outros, a fim de ajudá-los a subir. É sua missão". Um frêmito percorreu os companhei­ros, colhidos pela surpresa ante a manifestação inditosa do obsessor de Es­ter. Ele dizia ser infeliz, porque odiava e queria odiar, visto não saber fazer outra coisa. Sobreira atendeu-o dizendo que ódio é des­vio, não é estrada; é amor revoltado, não é saúde; é brasa viva queimando a quem o retém. E acrescentou: "Nenhuma ofensa merece a resposta do ódio, antes o revide pelo perdão. Odiar é do instinto, perdoar, da razão". O Espírito infeliz dizia ter sido enganado na sua última passa­gem pela Terra e não conseguia esquecê-lo. Apontando o Coronel Santa­maria, pediu a Sobreira que lhe perguntasse o que ele fizera. O dou­trinador respondeu esclarecendo que o amigo não se recordava de nada. Eles estavam em planos diferentes da vida. Ele não podia vê-lo, não sabia o seu nome, nem o que acontecera entre ambos... Aliás, ninguém ali sabia como ele (o Espírito) se chamara na anterior existência ter­rena. A voz do dirigente estava impregnada de doçura e clareza, bon­dade e fé, vibrações essas que alcançavam o interlocutor de forma be­néfica, apaziguadora. A entidade informou então chamar-se Matias, um soldado morto em dezembro de 1944 na campanha da Itália, sob as or­dens do capitão Santamaria, de quem fora ordenança. Chamavam-no "o baiano"... (Cap. 19, pp. 165 e 166) 

91. Morte e traição - À medida que falava, a entidade começou a revi­ver as cenas de seu passado recente. Era dezembro de 1944 e o inverno cruel os castigava em Monte Castelo. No dia 12 vieram as ordens para tomar a Cordilheira de Monte Castelo, cuja anterior tentativa havia fracas­sado. Concentrado e observando o Espírito em deplorável deses­pero, Philomeno podia acompanhar as cenas que afloravam de sua mente e se condensavam em vigoroso processo ideoplástico. As dores do momento de sua desencarnação pareciam voltar. Sobreira, inspirado por Bezerra, acudiu Matias, aplicando-lhe passes magnéticos de longo curso, com a função calmante, e ao mesmo tempo lhe pediu tivesse calma e conser­vasse a confiança em Deus, porque tudo isso já havia passado. "As lem­branças más – disse ele – se corporificam facilmente, tornando-se algoz im­penitente... Asserena-te". Matias atribuía ao então capitão Santamaria a sua morte e depois uma traição imperdoável. Os Espíritos Melquíades e Ângelo acudiram os pais de Ester, e Sobreira, com sua voz pausada, melódica, rítmica, influenciado por Bezerra de Menezes, pro­duziu indução calmante ao atribulado Espírito. O pai de Ester recor­dava e revia mentalmente os tumultuosos dias da Segunda Guerra Mun­dial, aquele rude dezembro e as duras batalhas, mas não se lembraria de Matias, um sim­ples soldado raso, não fosse a alcunha com que todos o identificavam: "o baiano". Que mal lhe fizera? Disso ele absoluta­mente não se lem­brava. Os mistérios da vida eram muitos, a colhê-lo agora, em surpre­sas contínuas. (Cap. 19, pp. 166 a 168) 

92. Matias descreve a própria morte - Sobreira aplicou recursos através de passes no médium Joel, que continuava incorporado por Matias, es­tertorando, em ligeiras convulsões. A fluidoterapia recompôs o Espí­rito, que, estimulado por Bezerra, deu curso à narração dos tristes acontecimentos. Ele sempre acreditara em sonhos e, na véspera da ba­talha de Monte Castelo, ha­via sonhado que iria morrer naquele dia... Por isso, logo cedo, após rezar, diri­giu-se ao capitão Santamaria para pedir-lhe fosse colocado em qualquer serviço, menos ser mandado para a linha de fogo... Explicou-lhe o motivo de seu pedido. O capitão zombou dele e gritou que todos ali estavam para mor­rer, bradando "que era o nosso dever: dar a vida pela Pátria e que aquela era a hora". O sol­dado compreendeu a situação e, seguindo sua intuição, pediu-lhe um fa­vor. Se mor­resse, como acreditava que ia acontecer, suplicava ao capitão ajudasse sua mãe e sua irmã, que ele deixara na Bahia. O capitão olhou-o sério e, compreendendo a gravidade do pedido, prometeu que aten­deria ao seu pedido, anotando seu número de identidade e o endereço de sua famí­lia... Aquele fora um momento solene... Matias informou então que, se­guindo com os companheiros, efetivamente tombara em combate. Não ha­via, contudo, palavras que exprimis­sem o que lhe aconteceu: "Nunca soube realmente como foi... Era so­mente a zoada na cabeça, a dor, o sangue a jorrar, a agonia, o clarão e a morte..." Perdia a consciência e depois acordava na mesma desgra­çada situação... Gritava e outros gritos abafavam o seu... Segu­rava os pedaços do corpo que estourara... Quanto tempo isso durou? Não sabia dizer. Parecia uma eternidade... (Cap. 19, pp. 169 e 170) (Continua no próximo número.)


 


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