Grilhões Partidos
Manoel Philomeno de
Miranda
(Parte
14)
Continuamos a apresentar
o
estudo do livro
Grilhões Partidos,
de Manoel Philomeno de
Miranda, obra
psicografada por Divaldo
P. Franco e publicada
inicialmente no
ano de 1974.
Questões preliminares
A. Com o início do
tratamento desobsessivo,
Ester acusou alguma
melhora?
Sim. Notável modificação
no semblante da
paciente já podia ser
vista nos dias
seguintes. É que,
diminuída a assimilação
contínua dos fluidos
enfermiços, graças ao
afastamento do obsessor,
o organismo passava a
recobrar paulatino
controle de suas
funções.
(Grilhões Partidos, cap.
18, pp. 159 a 161.)
B. Quem era e como se
chamara na Terra o
obsessor de Ester?
Ele próprio disse
chamar-se Matias, um
soldado morto em
dezembro de 1944 na
campanha da Itália, sob
as ordens do capitão
Santamaria, de quem fora
ordenança. Chamavam-no
"o baiano".
(Obra citada, cap. 18 e
19, pp. 161 a 166.)
C. Que falta cometida
pelo Coronel Santamaria
irritou tanto o soldado
Matias?
Matias atribuía ao então
capitão Santamaria a sua
morte e depois uma
traição imperdoável. Na
véspera da batalha de
Monte Castelo, ele
havia sonhado que iria
morrer naquele dia...
Por isso, logo cedo,
após rezar, dirigiu-se
ao capitão Santamaria
para pedir-lhe fosse
colocado em qualquer
serviço, menos ser
mandado para a linha de
fogo... Explicou-lhe o
motivo de seu pedido. O
capitão zombou dele e
gritou que todos ali
estavam para morrer,
bradando "que era o
nosso dever: dar a vida
pela Pátria e que aquela
era a hora". O soldado
compreendeu a situação
e, seguindo sua
intuição, pediu-lhe um
favor. Se morresse,
como acreditava que ia
acontecer, suplicava ao
capitão ajudasse sua mãe
e sua irmã, que ele
deixara na Bahia. O
capitão olhou-o sério e,
compreendendo a
gravidade do pedido,
prometeu que atenderia
ao seu pedido, anotando
seu número de identidade
e o endereço de sua
família, promessa que,
no entanto, ele jamais
cumpriu.
(Obra citada, cap. 19,
pp. 166 a 170.)
Texto para leitura
87. O trabalho
continua à noite durante
o sono - Bezerra
de Menezes e outros
Espíritos acompanhavam a
conversa em casa de
Sobreira. Manoel
Philomeno, após destacar
a importância da
palestra sadia em torno
da reunião, revelou que,
no sentido oposto, a
conversação vulgar, o
comentário ácido, os
apontamentos
irrelevantes perturbam a
psicosfera em que as
entidades em tratamento
se demoram, permitindo a
quebra das defesas
especiais e a invasão
dos Espíritos infelizes
a cuja convivência
mental os membros do
grupo se acostumaram,
dando prosseguimento às
inditosas obsessões de
que não se desejam
libertar. O término da
reunião de desobsessão
não encerra os serviços
de socorro e enfermagem
espiritual. Por isso, é
conveniente que os
lidadores encarnados
cuidem da preservação
psíquica superior do
recinto, quanto da
própria, demorando-se
em reflexões e
conotações sadias,
aplicando em si mesmos
as lições ouvidas.
"Mesmo quando as
comunicações hajam
apresentado maior soma
de sofredores, aos
colaboradores terrenos
compete a meditação
quanto ao futuro que os
aguarda, caso não se
resolvam à vivência das
atitudes enobrecedoras",
anotou Philomeno. (Cap.
18, pág. 159)
88. Ester
apresenta sensível
melhora - A
programação especial de
socorro a Ester e aos
demais envolvidos no
caso previa dois
encontros por semana
para a desobsessão, sem
prejuízo dos demais
trabalhos do grupo.
Rosângela, a jovem
médium que exercia a
função de auxiliar de
enfermagem na Casa de
Saúde, embora proibida
de aproximar-se da
obsessa, pôde observar
naqueles dias notável
modificação no semblante
da paciente. Diminuída
a assimilação contínua
de fluidos enfermiços,
graças ao afastamento do
obsessor, o organismo
passava a recobrar
paulatino controle de
suas funções. Ester
recebia,
simultaneamente, o
auxílio espiritual de
Assistentes de Bezerra
de Menezes, que lhe
renovavam as
disposições e suas
defesas orgânicas e
mentais. Rosângela
comunicou suas
impressões aos pais da
jovem, o que os animou
muito. D. Margarida,
abraçando-a,
perguntou-lhe como
poderiam eles agradecer
a Deus todas as bênçãos
que ora recebiam.
"Amando e servindo, como
vêm fazendo",
respondeu-lhe a médium.
"O Pai não deseja a
punição de nós outros,
os pecadores, mas nosso
arrependimento em forma
de renovação e ação
valiosa a proveito
nosso e dos demais." Foi
nesse clima de alegria
e esperanças que se
iniciaram os
preparativos da terceira
reunião mediúnica em
prol do Ester. A leitura
do cap. 23 d' O Livro
dos Médiuns, que versou
sobre a obsessão,
facultou a todos
valiosas lições,
predispondo-os
favoravelmente para o
complexo e importante
ministério. (Cap. 18,
pp. 159 a 161)
89. A
influência benéfica de
Bezerra
- Desperto pela
interferência de Bezerra
de Menezes, que se lhe
fez visível, o Espírito
que perseguia Ester
experimentou inesperada
emoção: "Anjo venerando!
– exclamou – eu sei que
há anjos bons, como há
os demônios que nos
escravizam! Tenho sido
vítima de demorado
desgosto e fui
encaminhado por nobre
conselheiro da Justiça a
proceder à cobrança
própria". E indicou o
Coronel Santamaria como
sendo o homem que
infelicitou a sua vida,
destruindo, quase, os
seres mais queridos que
possuía. Bezerra
disse-lhe ser apenas um
irmão que se esforçava
por sua paz, e
explicou-lhe que se
tornava necessário um
diálogo entre ambos –
vítima e algoz – para
que aquela situação de
ódio e vindita tivesse
um fim. Bezerra
relatou-lhe conhecer
todo o drama que os
jungia e acrescentou: "O
mal é sempre pior para
quem o cultiva. O teu
conselheiro
equivocou-se,
conduzindo-te a grave
erro". Aconselhou-o
então a apresentar-se
como alguém que espera
reparação, porque ele
não era um indivíduo
mau: apenas enfermara.
Não era lícito, pois,
prosseguir na corrida
desenfreada para a
desdita pessoal. Era
hora de parar e refrear
o desequilíbrio. O
inditoso vingador,
atraído pelo magnetismo
do "médico dos pobres",
dulcificado pela
primeira vez, acercou-se
do médium Joel, que
estava em profundo
transe inconsciente. Uma
aragem suave penetrou o
ambiente. As
expectativas eram
felizes. O grupo todo
orava em perfeita
identidade, ligando-se
uns aos outros por
delicados filamentos
luminosos, cujo teor
vibratório atestava a
potência mental e moral
de cada um. Sobreira,
auxiliado pelo dirigente
espiritual, passou a
registrar a cena que ali
se desdobrava na esfera
espiritual. "Sê
bem-vindo, meu irmão!"
– disse ao infeliz
irmão que ali
comparecia, e este,
emulado pelo convite,
exclamou: "Sou infeliz!"
(Cap. 18, pp. 161 a
163)
90. O obsessor se
identifica -
Abrindo o capítulo,
Philomeno consigna a
seguinte lição extraída
do item 280 d' O Livro
dos Espíritos: "Os bons
se ocupam em combater as
más inclinações dos
outros, a fim de
ajudá-los a subir. É
sua missão". Um frêmito
percorreu os
companheiros, colhidos
pela surpresa ante a
manifestação inditosa do
obsessor de Ester. Ele
dizia ser infeliz,
porque odiava e queria
odiar, visto não saber
fazer outra coisa.
Sobreira atendeu-o
dizendo que ódio é
desvio, não é estrada;
é amor revoltado, não é
saúde; é brasa viva
queimando a quem o
retém. E acrescentou:
"Nenhuma ofensa merece a
resposta do ódio, antes
o revide pelo perdão.
Odiar é do instinto,
perdoar, da razão". O
Espírito infeliz dizia
ter sido enganado na sua
última passagem pela
Terra e não conseguia
esquecê-lo. Apontando o
Coronel Santamaria,
pediu a Sobreira que lhe
perguntasse o que ele
fizera. O doutrinador
respondeu esclarecendo
que o amigo não se
recordava de nada. Eles
estavam em planos
diferentes da vida. Ele
não podia vê-lo, não
sabia o seu nome, nem o
que acontecera entre
ambos... Aliás, ninguém
ali sabia como ele (o
Espírito) se chamara na
anterior existência
terrena. A voz do
dirigente estava
impregnada de doçura e
clareza, bondade e fé,
vibrações essas que
alcançavam o
interlocutor de forma
benéfica, apaziguadora.
A entidade informou
então chamar-se Matias,
um soldado morto em
dezembro de 1944 na
campanha da Itália, sob
as ordens do capitão
Santamaria, de quem fora
ordenança. Chamavam-no
"o baiano"... (Cap. 19,
pp. 165 e 166)
91. Morte e
traição - À
medida que falava, a
entidade começou a
reviver as cenas de seu
passado recente. Era
dezembro de 1944 e o
inverno cruel os
castigava em Monte
Castelo. No dia 12
vieram as ordens para
tomar a Cordilheira de
Monte Castelo, cuja
anterior tentativa havia
fracassado. Concentrado
e observando o Espírito
em deplorável
desespero, Philomeno
podia acompanhar as
cenas que afloravam de
sua mente e se
condensavam em vigoroso
processo ideoplástico.
As dores do momento de
sua desencarnação
pareciam voltar.
Sobreira, inspirado por
Bezerra, acudiu Matias,
aplicando-lhe passes
magnéticos de longo
curso, com a função
calmante, e ao mesmo
tempo lhe pediu tivesse
calma e conservasse a
confiança em Deus,
porque tudo isso já
havia passado. "As
lembranças más – disse
ele – se corporificam
facilmente, tornando-se
algoz impenitente...
Asserena-te". Matias
atribuía ao então
capitão Santamaria a sua
morte e depois uma
traição imperdoável. Os
Espíritos Melquíades e
Ângelo acudiram os pais
de Ester, e Sobreira,
com sua voz pausada,
melódica, rítmica,
influenciado por Bezerra
de Menezes, produziu
indução calmante ao
atribulado Espírito. O
pai de Ester recordava
e revia mentalmente os
tumultuosos dias da
Segunda Guerra Mundial,
aquele rude dezembro e
as duras batalhas, mas
não se lembraria de
Matias, um simples
soldado raso, não fosse
a alcunha com que todos
o identificavam: "o
baiano". Que mal lhe
fizera? Disso ele
absolutamente não se
lembrava. Os mistérios
da vida eram muitos, a
colhê-lo agora, em
surpresas contínuas.
(Cap. 19, pp. 166 a
168)
92. Matias
descreve a própria morte
- Sobreira aplicou
recursos através de
passes no médium Joel,
que continuava
incorporado por Matias,
estertorando, em
ligeiras convulsões. A
fluidoterapia recompôs o
Espírito, que,
estimulado por Bezerra,
deu curso à narração dos
tristes acontecimentos.
Ele sempre acreditara em
sonhos e, na véspera da
batalha de Monte
Castelo, havia sonhado
que iria morrer naquele
dia... Por isso, logo
cedo, após rezar,
dirigiu-se ao capitão
Santamaria para
pedir-lhe fosse colocado
em qualquer serviço,
menos ser mandado para a
linha de fogo...
Explicou-lhe o motivo de
seu pedido. O capitão
zombou dele e gritou que
todos ali estavam para
morrer, bradando "que
era o nosso dever: dar a
vida pela Pátria e que
aquela era a hora". O
soldado compreendeu a
situação e, seguindo sua
intuição, pediu-lhe um
favor. Se morresse,
como acreditava que ia
acontecer, suplicava ao
capitão ajudasse sua mãe
e sua irmã, que ele
deixara na Bahia. O
capitão olhou-o sério e,
compreendendo a
gravidade do pedido,
prometeu que atenderia
ao seu pedido, anotando
seu número de identidade
e o endereço de sua
família... Aquele fora
um momento solene...
Matias informou então
que, seguindo com os
companheiros,
efetivamente tombara em
combate. Não havia,
contudo, palavras que
exprimissem o que lhe
aconteceu: "Nunca soube
realmente como foi...
Era somente a zoada na
cabeça, a dor, o sangue
a jorrar, a agonia, o
clarão e a morte..."
Perdia a consciência e
depois acordava na mesma
desgraçada situação...
Gritava e outros gritos
abafavam o seu...
Segurava os pedaços do
corpo que estourara...
Quanto tempo isso durou?
Não sabia dizer. Parecia
uma eternidade... (Cap.
19, pp. 169 e 170) (Continua no próximo
número.)