LEDA MARIA
FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
Nossa conta particular
ante
a contabilidade
divina
Ah! Se tu conhecesses
também, ao menos neste
teu dia, o que à paz
pertence!” – Jesus¹
Nesta passagem
evangélica, encontramos
Jesus junto à cidade de
Jerusalém, exclamando
essas palavras numa
referência a toda
infelicidade que se
abateria sobre ela. É
notário que o Mestre
tinha conhecimento de
todas as aflições pelas
quais a humanidade
terrena passaria, por
conta do endurecimento
de seu coração, e por
essa razão, podemos
dizer que elas não se
referiam, apenas, à
cidade material, mas a
todos os homens que,
como a cidade, estavam
destinados à ruína pela
degradação em todos os
setores da experiência
evolutiva.
Mas o que significam
essas palavras de Jesus?
Vamos, por alguns
instantes, imaginar como
seria o mundo se cada um
conhecesse o que lhe
pertence para a paz
interior, ou seja, o que
cada um de nós tem que
possa nos trazer paz.
Entretanto, como
desenvolvemos uma
atitude de total
desatenção a esse
imperativo da vida,
terminamos por perder
tempo precioso em
atritos dolorosos,
através dos quais
acabamos por adquirir
débitos imensos diante
das Leis Divinas.
Sabemos que um gesto ou
uma palavra são capazes
de movimentar energias
poderosas,
desequilibrantes ou
tranquilizadoras, de
alegrias ou de
tristezas, de paz ou de
guerras, e essas
palavras de Jesus nos
convidam a pensar nas
oportunidades de serviço
que estamos deixando
passar.
Por alguns momentos,
ainda, atentemos para a
afirmação do Divino
Amigo quando nos diz “ao
menos neste teu dia”. Ao
menos hoje, agora, vamos
prestar atenção a esse
chamamento amoroso.
Vamos, presentemente,
observar de quais
serviços podemos dispor
para atender à
solicitação do Divino
Amigo, e podermos
avaliar o tempo que
perdemos – consciente ou
inconscientemente – no
cultivo de outros
valores. Para o Espírito
diligente, sempre há
convites ao trabalho.
Torna-se necessário,
portanto, diante desses
convites, que procuremos
com dignidade
compreender nossos
deveres, os compromissos
morais a que cada um de
nós está sujeito com
todos aqueles que nos
cercam. Compete a cada
um de nós meditar a
respeito disso,
lembrando que “o homem
encarnado dispõe de um
tempo glorioso que é
provisoriamente seu,
dado pelo Altíssimo, em
favor de sua própria
renovação”.²
É razoável que cada um
procure compreender a
substância dos atos que
pratica nas atividades
diárias, porque, mesmo
obedientes às leis
humanas, é
imprescindível
examinarmos a qualidade
do que fazemos para que,
no mecanismo da vida do
qual somos peça da
engrenagem, não
estejamos sendo fator de
ferrugem ou de atraso no
relógio do tempo. É da
Lei da Deus que toda
semeadura será
devolvida. É preciso
agir com cuidado em cada
dia, porquanto o bem ou
o mal, tendo sido
semeados, crescerão
junto de nós, de
conformidade com as leis
que regem a vida.
Podemos dizer o mesmo
daqueles que se revoltam
diante das dificuldades,
das nuvens que surgem no
horizonte: nuvens de
contrariedades, de
projetos que não deram
certo, de esperanças
desfeitas e, sem
perceber, acabam
envenenando as fontes da
própria vida.
Desejaríamos, todos nós,
um céu azul no
horizonte, um Sol
brilhante durante o dia
e um céu estrelado à
noite. No entanto, as
nuvens aparecem e a
perplexidade toma conta
de nós. Todavia, é
preciso ficar atentos a
esses momentos de
sombras. A existência
terrena impõe angústias
e aflições a todos
aqueles que lhe vivem a
experiência. Porém, é
conveniente que
guardemos a serenidade e
a confiança nesses
momentos, pois é nessas
sombras, comuns na luta
planetária, que o Pai
oculta lições profundas,
através das quais nos
fala sábia e
amorosamente.
Não ignoramos a
imortalidade do Espírito
que habita em nós e,
como tal, é fácil
imaginar que uma única
existência não seria o
suficiente para
aprendermos tudo aquilo
de que necessitamos, a
fim de sermos criaturas
melhores e mais felizes.
Melhores, porque
precisamos de tempo e
oportunidades para
aprender a desenvolver
as virtudes que Jesus
veio nos ensinar. E se
não tivermos esse tempo
e essas oportunidades,
não conseguiremos
refazer nossas escolhas
equivocadas, retomando o
caminho do amor.
Felizes, porque ao
cuidarmos de cumprir
nossas obrigações,
poderemos sentir que
todos os fantasmas de
nossa inquietude são
afastados, e que grande
parte dos problemas
sociais do mundo poderia
ser resolvida
naturalmente.
É, portanto, necessário
que cada um conheça o
que lhe toca, para que a
tranquilidade individual
se estabeleça em seu
íntimo, e perceba que,
ao cuidar de sua própria
conta particular, ou
seja, de seus créditos e
de seus débitos com as
Leis Divinas, estará,
certamente, colaborando
para que todos, ao seu
redor, cuidem também das
suas próprias contas,
sem que nos
transformemos em
policiais do Evangelho.
Quando assumimos a
postura de zeladores da
conta alheia, estamos
nos candidatando a
invasores da felicidade
e da tranquilidade do
próximo e, certamente,
nos preparando para o
ingresso em campos de
grande sofrimento.
Mas Jesus não se cansa
de nos convidar à
prática do bem. Os
apelos do Mestre
continuam e se renovam a
cada instante. Aqui, é
um livro amigo que nos
revela a verdade de
maneira silenciosa. Ali,
é um amigo generoso que
insiste em que mudemos
nossas atitudes, tendo
em vista as realidades
luminosas da vida.
Acolá, é a doença no
próprio corpo ou em
pessoa querida que nos
alerta para a
necessidade de mudanças,
valorizando mais o tempo
que dispomos para o
trabalho de renovação. E
o que dizer, ainda, dos
nossos pais, dos nossos
mestres, do sentimento
religioso que nos
consola e que está
sempre nos impulsionando
ao exercício do amor.
Tudo isso não são
convites à prática do
Bem?
O convite ao bem sempre
nos acompanhou, mas
dificilmente o
percebemos. Por
rebeldia, os homens
costumam rir, passando,
obrigatoriamente na
direção de desencantos,
de frustrações e
desesperanças que, com o
tempo, os obrigarão a
equilibrar seus
pensamentos. E se isso
acontecerá, queiramos ou
não, por que esperar que
a necessidade se
instale, que a dor tome
conta de nosso ser, que
a sombra nos açoite sem
piedade, quando podemos
seguir, calmamente, por
estradas de luz e sem
vacilar, em direção ao
Pai Criador?
E por qual razão criamos
tanta dificuldade para
atender a esse
chamamento? Porque temos
o direito de escolher
entre o certo e o
errado, entre o fazer e
o não fazer. Temos
também uma consciência
que nos estimula e nos
sustenta, para que
decidamos, sempre, pelo
certo e como ela é
antagônica às seduções
dos interesses e às
seduções do coração,
quase sempre sucumbimos.
Diante disso, seria bom
perguntarmos: obedecemos
a quem? Aos impulsos
baixos da natureza ou
aos apelos do Mestre
para o serviço de
autoelevação? Se ainda
não conseguimos definir
a quem estamos
submetidos, melhor parar
e refletir para
verificar se não estamos
transformando obediência
que salva em escravidão
que condena. Para que o
homem não se perdesse,
Deus estabeleceu
gradações evolutivas no
caminho até Ele.
Instituiu a lei do
próprio esforço na
aquisição dos supremos
valores e determinou que
esse homem aceitasse
Seus desígnios, sem
rebeldia para que
pudesse ser,
verdadeiramente, livre.
Entretanto, o homem
preferiu construir sua
própria escravidão,
organizando seu
cativeiro através de
desmandos, da posse
material, da ganância,
da vaidade, do orgulho e
tantos outros
sentimentos que nos
ligam a condições de
inferioridade.
Temos hoje plena
consciência das nossas
imensas dificuldades
para praticar o
Evangelho, rota segura
para que cumpramos a lei
do próprio esforço.
Entendemos que ninguém
poderá realizar por nós
o que nos compete. E,
justamente por termos
consciência de tudo
isso, graças ao
conhecimento evangélico
que já possuímos, é que
não podemos mais adiar o
que precisamos fazer. E
o que é que precisamos
fazer? A resposta surge
clara diante do nosso
tema: zerar nossa conta
particular com as Leis
de Deus.
Seria interessante
lembrar, para
finalizarmos, o que o
Evangelho pergunta: se
não houvesse as
dificuldades, se não
tivéssemos opositores,
se não nos sentíssemos
abandonados, se nunca
fôssemos criticados ou
ridicularizados, se os
entes amados não nos
trouxessem problemas ou
se nunca fôssemos
induzidos às tentações
de todas as espécies, de
que maneira seríamos
obrigados a entesourar
as luzes da experiência
que nos permite a
prática de virtudes que
nos fortalecem a alma?
Bibliografia:
1 - LUCAS, 19:42.
2 – EMMANUEL (Espírito).
Pão Nosso, [psicografado
por] F.C.Xavier, 17ª
ed., FEB, Rio de
Janeiro/RJ- lição 38.
Outras fontes:
KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o
Espiritismo, Capítulos
16 e 17.
EMMANUEL (Espírito).
Palavras de Vida Eterna
– [psicografado por]
F.C.Xavier, 20ª ed.,
Edição CEC - Uberaba/MG
– 1995, lição 14.