A. O estado do
Espírito livre é
diferente do estado
do mesmo Espírito
quando encarnado?
Sim. Quando
desencarnado, ele
experimenta
sensações que não
tinha durante a
encarnação, vê a
natureza sob outro
aspecto e seus
sentidos mais
aperfeiçoados, mais
delicados, são
capazes de se
deixarem influenciar
por vibrações mais
sutis que aquelas
que atuam comumente
sobre nós.
(O Espiritismo
perante a Ciência,
Quinta Parte, Cap. I
– Algumas
observações
preliminares.)
B. Existe relação
entre o grau de
adiantamento do
Espírito e os
elementos que
constituem seu
invólucro fluídico?
Certamente. Conforme
o grau de
adiantamento do
Espírito, os fluidos
que compõem seu
invólucro serão mais
ou menos puros e sua
ação aumentada ou
diminuída em razão
de seu estado mais
ou menos radiante. A
influência do moral
sobre o físico é
ainda mais acentuada
no espaço que na
Terra.
(Obra citada, Quinta
Parte, Cap. I –
Algumas observações
preliminares.)
C. Que são médiuns
escreventes?
Médiuns escreventes
são os que
transmitem pela
escrita os
pensamentos dos
invisíveis. Essa
faculdade é a mais
simples, a mais
cômoda e a mais
completa. Para ela
devem tender os
esforços dos
neófitos, porque
lhes permite
corresponder-se com
os Espíritos de
maneira regular e
continuada. Os
médiuns escreventes
podem ser:
mecânicos,
semimecânicos ou
intuitivos.
(Obra citada, Quinta
Parte, Cap. II – Os
médiuns
escreventes.)
Texto para leitura
766. O estudo das
ciências é, em
geral, muito longo,
porque é preciso
reunir grande número
de observações
antes de descobrir
as relações que as
ligam entre si ou
antes de notar as
leis que as regem;
mas o estudo dos
fatos espiríticos é
complicado por outra
razão. Estamos aqui,
é preciso não
esquecer, em campo
inteiramente diverso
do das ciências
puramente materiais.
Nestas, podem-se
inverter as
condições
experimentais,
porque, sendo inerte
a matéria, os
resultados não
mudam, dadas as
mesmas
circunstâncias. É o
que já não acontece
no estudo do
Espiritismo, onde é
preciso ter sempre
em conta as
individualidades que
intervêm na
manifestação; esta
influência é muito
variável e, as mais
das vezes,
independente de
nossa vontade.
767. Os Espíritos há
trinta anos
ensinaram-nos a
unidade da matéria e
o mundo científico
estava então pouco
inclinado a adotar
essa ideia; hoje ela
generalizou-se; isto
nos é de bom augúrio
para o perispírito
que, esperamo-lo,
será logo
reconhecido como uma
das partes
essenciais do homem.
768. Vimos que o
estado do Espírito
livre é totalmente
diferente do
encarnado; ele
experimenta, em sua
vida nova, sensações
que não tinha com o
corpo; vê a natureza
sob outro aspecto e
seus sentidos mais
aperfeiçoados, mais
delicados, são
capazes de se
deixarem influenciar
por vibrações mais
sutis que aquelas
que atuam comumente
sobre nós. A
sensibilidade é
desenvolvida, no
Espírito, pela
natureza fluídica do
seu invólucro, que
possui uma
constituição
molecular muito
rarefeita, mas,
apesar disso, uma
forma bem
determinada. Como o
Espírito pode, à
vontade, tomar a
forma que lhe
convenha, deve-se
admitir que a causa
da agregação
perispiritual reside
no Espírito, que
age, sem cessar, por
meio da vontade.
769. As propriedades
do perispírito são
perfeitamente
explicáveis,
conforme já
estudamos. O
invólucro da alma é
invisível, porque
seu movimento
vibratório molecular
é muito rápido para
que suas ondulações
sejam perceptíveis
ao olho, mas, se por
qualquer meio,
diminui-se esse
movimento, o ser
torna-se visível,
não só para um
médium como também
para todos os
assistentes.
770. No estado
normal, pode o
Espírito
locomover-se em
nossa atmosfera e à
superfície do globo
sem que nada lhe
estorve a marcha;
sua natureza lhe
permite atravessar
nossa matéria
grosseira, como a
luz atravessa os
corpos diáfanos;
numa palavra, ele
pode ir a toda
parte, sem encontrar
obstáculo material.
771. Conforme o grau
de adiantamento do
Espírito, os fluidos
que compõem seu
invólucro serão mais
ou menos puros, sua
ação aumentada ou
diminuída em razão
de seu estado mais
ou menos radiante. É
evidente que os
fluidos grosseiros,
materiais, que se
aproximam dos gases
terrestres, são
menos aptos às
operações da vida
espiritual, que os
dos Espíritos
superiores, de
alguma sorte
quintessenciados.
772. A influência do
moral sobre o físico
é ainda mais
acentuada no espaço
que na Terra.
Podemos aqui viciar
nosso invólucro, por
forma a que ele se
torne impróprio às
funções da vida;
assim também, as más
paixões, fixando no
perispírito fluidos
grosseiros,
prejudicam o
progresso da alma e,
por consequência,
seu bem-estar.
773. O que dizemos
se aplica
indistintamente a
todos os Espíritos,
de sorte que o mundo
espiritual é, em
todos os pontos,
comparável ao nosso,
mas a hierarquia se
estabelece sobre uma
única base, a do
adiantamento moral.
774. Suponhamos,
agora, que um
Espírito queira
comunicar-se e
procuremos
compreender os
sucessivos fenômenos
que se vão
desenrolar. Há duas
alternativas: ou o
Espírito sabe
comunicar-se ou não
sabe. No primeiro
caso, quando são
boas as suas
intenções, um
Espírito mais
instruído o dirige e
lhe mostra como deve
agir; se for para o
mal, ele nada
consegue, na maior
parte das vezes,
porque não encontra
um Espírito um tanto
elevado que o queira
auxiliar na tarefa.
775. O Espírito que
sabe comunicar-se é
ainda obrigado a
procurar um médium –
um ser humano cuja
constituição seja
tal que lhe possa
ceder parte do seu
fluido vital.
Tendo-o encontrado,
eis como opera,
então, o Espírito.
Por sua vontade ele
projeta um raio
fluídico sobre o
perispírito do
médium, penetra-o
com seu fluido,
estabelecendo,
assim, comunicação
direta com o
encarnado. É por
esse cordão que o
fluido vital do
homem é atraído pelo
Espírito. Essa dupla
corrente fluídica
pode ser comparada
aos fenômenos de
endosmose, isto é, à
troca que se produz
entre dois líquidos
de densidades
diferentes, através
de uma membrana.
Aqui, os líquidos
são substituídos
pelos fluidos e a
membrana pelo corpo.
776. Estabelecida a
comunicação, o
Espírito pode agir
sobre o médium,
produzindo efeitos
diversos, que se
traduzem pela visão,
audição, escrita,
tiptologia etc. São
essas diferentes
manifestações que
vamos estudar
detalhadamente nos
capítulos seguintes.
777. Em suma, vê-se
que são necessárias
algumas
circunstâncias
adequadas para
obter-se uma
comunicação, e daí
não nos devermos
admirar dos
insucessos que
acompanham quase
sempre as primeiras
tentativas. Eis as
condições
indispensáveis: 1º -
É preciso que o
Espírito evocado
possa ou queira
atender à evocação;
2º - que a evocação
seja sincera, com o
fim de instruir e
não de divertimento
ou de proveito
material; 3º -
que o Espírito
evocado tenha também
o desejo de fazer o
bem; 4º - que saiba
o que deve fazer
para manifestar-se;
5º - que
encontre um médium
apto a
reproduzir-lhe o
pensamento ou a
fornecer-lhe os
fluidos necessários,
que variam conforme
o gênero de
manifestação; 6º -
finalmente, que
nenhuma ação
exterior contrarie o
Espírito em suas
manifestações.
778. Muito
importante sobretudo
é esta parte, porque
se trata de
verdadeiro
magnetismo
espiritual, e
sabe-se quanto, nas
ações magnéticas,
podem vontades
estranhas perturbar
o bom resultado do
fenômeno. Não
falamos do estado de
saúde do médium, das
influências
exercidas pelos
agentes físicos,
luz, calor,
eletricidade, porque
lhes ignoramos a
maneira de agir, mas
não deixam eles de
ter grande
influência, o que
seria útil
determinar, de
futuro.
779. Como se vê, é
preciso um concurso
de circunstâncias
favoráveis para as
relações com o mundo
espiritual, e os
reveses numerosos a
que nos expomos, por
inobservância dessas
prescrições, mostram
que o fenômeno está
longe de depender do
acaso e deve ser
estudado com muito
método, se lhe
queremos descobrir
as leis.
780. Não é,
portanto, depois de
um jantar e de
libações que podemos
encontrar as
condições
necessárias para a
prática do
Espiritismo, e não
será de espantar que
os Espíritos recusem
manifestar-se,
quando os querem
exibir como animais
curiosos, à guisa de
sobremesa, aos
convidados para a
festa.
781. Vejamos algo
sobre os médiuns
escreventes, que são
os que transmitem
pela escrita os
pensamentos dos
invisíveis; sem
dúvida, são os mais
úteis instrumentos
de comunicação com
os Espíritos. Essa
faculdade é a mais
simples, a mais
cômoda e a mais
completa. Para ela
devem tender os
esforços dos
neófitos, porque
lhes permite
corresponder-se com
os Espíritos de
maneira regular e
continuada. Deve-se
a ela afeiçoar-se
mormente porque por
esse meio os
espíritas revelam a
sua natureza e o
grau de seu
aperfeiçoamento ou
de sua
inferioridade.
782. Pela facilidade
que se lhes oferece
de exprimir-se, os
Espíritos podem
fazer-nos conhecer
seus pensamentos
íntimos,
colocando-nos,
assim, nas condições
de julgá-los e
apreciá-los em seu
próprio valor. É
indispensável
estudar essa
faculdade,
pacientemente,
porque é ela a mais
suscetível de
desenvolver-se pelo
exercício.
783. Os médiuns
escreventes podem
ser: mecânicos,
semimecânicos ou
intuitivos.
784. A mediunidade
mecânica é
caracterizada pela
passividade absoluta
do médium durante a
comunicação. O
Espírito que se
manifesta age
indiretamente sobre
a mão, pelos nervos
que lhe
correspondem; dá-lhe
um impulso
completamente
independente da
vontade do médium, e
a mão age sem
interrupção,
enquanto o Espírito
tem o que dizer e
não se detém senão
quando ele terminou.
Os movimentos da
pessoa que recebe a
mensagem são
puramente
automáticos; assim é
que já vimos médiuns
desse gênero
sustentar conversa,
enquanto a mão
escrevia
maquinalmente.
785. A
inconsciência, nesse
caso, constitui a
mediunidade mecânica
ou passiva, e não
pode deixar dúvida
quanto à
independência do
pensamento de quem
escreve. Os
movimentos são,
algumas vezes,
violentos e
convulsivos, porém,
as mais das vezes,
calmos e comedidos.
Os bruscos
sobressaltos
observados podem
provir da
imperfeição ou da
inexperiência do
Espírito que se
manifesta.
786. Os Espíritos,
por sua vontade,
colhem, nos médiuns,
o fluido vital que
lhes é necessário
para estabelecer a
harmonia entre seu
perispírito e o do
médium. Há mistura e
troca dos dois
fluidos. Formam uma
espécie de atmosfera
fluídica, que
envolve o cérebro do
médium, e que
termina no seu
próprio perispírito
por uma espécie de
cordão fluídico. Há,
pois, a partir desse
momento, um
intermediário entre
eles e o encarnado;
é por meio desse
condutor que
transmitem ao
cérebro seu
pensamento e sua
vontade; de sorte
que para ditar uma
comunicação
basta-lhes querer. A
atmosfera fluídica
de que falamos pode
ser comparada à
camada elétrica que
se acumula
lentamente em um
condensador. O
médium representa o
papel de instrumento
e o Espírito o de
operador.
787. Poder-se-ia
estranhar ver um
cordão fluídico
servir de veículo às
vibrações
perispirituais
determinadas pelo
pensamento, mas
convém não esquecer
que esse fenômeno é
análogo ao que se
produz no fotófono
imaginado por Graham
Bell. O célebre
inventor americano
construiu um
aparelho no qual a
luz serve de veículo
ao som. No telefone
o movimento da placa
vibratória diante da
qual se fala muda o
magnetismo de um
ímã. Essa
modificação
determina um
movimento elétrico
que, reagindo sobre
o ímã do aparelho
receptor, aciona por
sua vez a placa
cujas vibrações
reproduzem um som
idêntico ao que foi
emitido na
embocadura do
aparelho
transmissor. Mas no
fotófono não há mais
o fio de
comunicação; ele é
substituído por um
raio luminoso, o
qual, deformando-se
na embocadura,
transporta as
vibrações da voz à
lâmina vibrante do
receptor, que
reproduz um som
idêntico ao emitido
na outra estação.
788. Compreendemos,
assim, como uma
vibração, partida do
Espírito, se propaga
por meio de um
cordão fluídico até
o aparelho receptor,
que é o perispírito
do encamado. Aí
chegadas, as
vibrações atuam no
cérebro do encamado,
pela forma comum.
789. Vejamos, agora,
o que se passa com o
médium. Ele é, logo
que o fenômeno
começa,
absolutamente
inconsciente.
Momentaneamente, seu
cérebro fica quase
todo à disposição do
Espírito, que dele
se serve sem que o
encarnado tenha
consciência das
ideias que ali se
agitam. É uma
verdadeira ação
reflexa, determinada
por uma influência
espiritual, e por
intermédio do fluido
nervoso. Assim se
explica por que
certos Espíritos dão
comunicações com
erros ortográficos
ou de estilo, quando
não os cometiam em
vida. É que não
encontram no cérebro
do médium um
instrumento com a
perfeição capaz de
lhes transmitir as
ideias.
790. Sabemos, pelas
experiências de
Schiff, que as
impressões
sensoriais estão
localizadas em
certas partes da
camada cerebral dos
hemisférios, e que
as células são tanto
mais sensíveis
quanto mais se
desenvolvem, pelo
estudo, as
faculdades do
espírito; de sorte
que, quanto maior
for a instrução do
médium, mais
impressionável será
seu cérebro e, ao
contrário, quanto
mais desprezada for
sua cultura
intelectual, menos
apto será ele para
transmitir as
inspirações dos
guias.
791. Suponhamos que
o Espírito
manifestante queira
exprimir esta frase:
“Deus é a causa
eficiente do
Universo.” Ele fará
vibrar as células
nervosas dos
hemisférios
cerebrais do médium,
mas se o encarnado
não fixou em seu
cérebro a palavra
eficiente, ele a
substituirá por
outra equivalente e
poderá dizer: “Deus
é causa atuante do
Universo”. Se essa
operação
reproduzir-se grande
número de vezes, o
Espírito poderá
ditar uma bela
comunicação, mas
será ela mal
transmitida pelo
órgão. Se um grande
músico só tiver à
sua disposição um
instrumento
imperfeito, nunca
chegará, apesar de
todo seu talento, a
fazer ouvir uma pura
melodia.
792. Prevemos uma
objeção: Têm-se
visto, muitas vezes,
médiuns receberem
comunicações em
línguas que lhes são
desconhecidas, como
o inglês, por
exemplo, e
escreverem, mesmo,
páginas inteiras
nesse idioma. Para
responder, diremos
que o médium deve
ter, em encarnação
anterior, habitado o
país em que se
emprega a língua de
que o Espírito se
serve; ele guardou
em seu perispírito o
traço dessa
passagem. São as
reminiscências
inconscientes de que
o Espírito, por
instantes, faz uso.
Isso está de acordo
com o que observamos
no capítulo do
perispírito,
relativamente aos
progressos rápidos
de que certas
crianças dão
exemplos; nós os
atribuímos às
faculdades
adquiridas,
guardadas no
perispírito em
estado latente. É
preciso, também,
levar em conta,
nesse gênero de
manifestação, a
maleabilidade do
médium, ou seja, a
aptidão de
transmitir certas
ideias. Se o
Espírito encontra um
cérebro bem
mobiliado, pode
desenvolver seu
pensamento. Temos
exemplos de
encarnados que
recebem
comunicações, apesar
de sua ignorância na
arte de escrever,
mas estes são raros
e os Espíritos
preferem servir-se
de bons
instrumentos.
(Continua no próximo
número.)