CHRISTINA NUNES
meridius@superig.com.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
A subjetividade
de um médium
Ainda agora
estava sentada,
em meu quarto,
com as janelas
abertas de par
em par dando
para uma árvore
linda que existe
na calçada, bem
em frente. Tem
folhas em forma
de coração e,
nesta época do
ano, dá flores
grandes,
amareladas e
perfumadas.
Não sei qual a
espécie desta
árvore, apesar
de já ter
pesquisado. Mas
o fato é que se
define em
autêntica
terapia o me
deter na sua
contemplação de
tempos em tempos
– enquanto me
perco em
pensamentos e
reflexões,
ouvindo o canto
dos pássaros
delicados que se
aninham nos seus
ramos frondosos.
Nada embora em
todos os dias
sendo acordada
ao som desta
bela sinfonia,
não desfruto
desta bênção
como devido,
e com a devida
frequência.
Parece incrível,
mas não
acontece, porque
a correria do
dia-a-dia, o se
levantar já com
a mente tomada
por preocupações
de toda ordem, a
sobrecarga de
ocupações e
divagações sobre
uma
multiplicidade
de situações
cotidianas me
impede.
A verdade,
porém, é que foi
bem neste estado
esporádico, mas
perfeito e
apaziguado de
alma, que me
detive há pouco,
depois de
receber uma
mensagem
lindíssima e
comovente do
autor de meu
próximo livro
psicografado.
Ele fora um
músico. E estes
instantes
abençoados de
plenitude
espiritual
acontecem,
preferencialmente,
durante as
ocasiões em que
a paz ambiente é
presenteada por
tal conjugação
bem-vinda de
fatores
favoráveis:
silêncio,
cenário, sons
delicados,
tranquilidade
íntima.
Eis, portanto, a
razão pela qual
uma obra
literária
espírita, como
uma gestação,
demanda ausência
de pressa, e,
por vezes, o
decorrer de todo
um ano, ou mais,
para vir à luz
de forma
apropriada.
Porque o
trabalho
mediúnico
requer circunstâncias
únicas, das
quais outras
modalidades de
produção
literária
prescindem,
demandando
apenas a
inspiração
proveniente do
próprio autor.
O escritor de
livros
psicografados,
contudo,
trabalha sempre
em parceria.
Somos, antes, e
como bem definia
o nosso
saudoso Chico
Xavier, o
lápis. O
instrumento de
manifestação do
verdadeiro autor
das obras.
Assim, existe,
em decorrência,
uma miríade
insuspeitada de
elementos
concorrentes
para a
realização
destes projetos
– dentre os
quais a
subjetividade do
médium, mais
rica do que
possa parecer à
primeira
vista, como
fator preponderante.
O médium
necessita,
nestes casos, e
antes de tudo,
de uma simbiose
de energias
adequada com o
Espírito
comunicante. Há
que existir uma
quota suficiente
de empatia, de
recursos
íntimos, bem
como linguísticos
e, por vezes,
culturais, que
favoreçam o
desenvolvimento
bem-sucedido do
trabalho. Em
muitas das
vezes, no caso
do médium
psicógrafo que
produz obras
literárias
regulares, como
no trabalho com
romances
mediúnicos, os
Espíritos
autores e
participantes da
equipe que nos
assessora no
plano invisível
se tratam de
velhos
conhecidos; de
antigos
familiares:
pais, mães,
irmãos, amigos
ou cônjuges de
múltiplas
jornadas na
materialidade,
com quem
guardamos
elevado nível de
afinidades, bem
como de
afetividade ou
de comunhão
amorosa
autêntica.
Por conseguinte,
é comum que o
universo
emocional do
canal
reencarnado seja
rico em nuances
e fenômenos
perceptíveis, em
primeiro lugar,
somente pelo
próprio
indivíduo em
questão.
Baseando-se nas
próprias
vivências, a
exemplo, e por
ocasião do
recebimento das
obras de meu
mentor do
invisível, Caio
Fábio Quinto,
com quem guardo
vínculos
milenares em
vidas vividas na
antiguidade
romana,
detive-me por
largo período
com a
sensibilidade
aflorada para a
atração sempre
exercida sobre a
minha
individualidade
pelos filmes e
livros a
respeito do
assunto, que
passei a
acessar,
inclusive para
fins de pesquisa
útil à
confirmação de
contextos
narrados, de
maneira quase
obsessiva.
Se o visitante,
como no caso do
nosso próximo
livro a ser
lançado, foi um
músico, com a
sensibilidade
exaltada para
esta vertente
artística, por
pura empatia nos
vemos inclinados
aos temas
associados, como
me aconteceu
durante todo
este mês, sem
poder resistir
ao impulso de
ouvir a minha
coleção de
clássicos
ligeiros, bem
como, até
mesmo, à
tentação
insólita
de adquirir sem
mais nem menos
um violino –
embora seja
instrumento a
respeito do qual
nutro grande
admiração – para
tomar aulas de
música, já que
possuo um
histórico antigo
de algum
conhecimento
musical com meu
velho piano,
violão e flauta.
Se o Espírito
autor padeceu
algum sofrimento
rude, ou reveses
de saúde, há que
se policiar, no
médium, muitas
vezes, a
tendência em
assumir e
somatizar
sintomas
idênticos, mas
de origem
inexistente, que
acontecem
somente em
função da
sintonia por
vezes fulminante
entre a
individualidade
do visitante
amigo, ou amado
de outras
épocas, que
comparece para
contar, através
da nossa
intermediação, a
sua história,
com toda a
riqueza
prodigiosa de
nuances,
emoções,
sensações e
sentimentos que,
quando
invigilantes,
acabamos
assumindo para o
nosso próprio
Universo íntimo.
É por esta razão
que não se deve
pensar ser a
subjetividade e
o mundo
particularizado
de um médium um
território
solitário, no
qual ele estagia
sozinho em meio
a meras
impressões, ou
ainda de forma
árida, apenas
funcionando como
um canal
destituído de
sensações sem
significação
digna, para
depois retornar
ao seu cotidiano
povoado das
pessoas e dos
supostos
acontecimentos
tidos
erroneamente
como os únicos
reais.
O médium, ao
invés, se
relaciona e se
socializa de
forma quase
eletrizante, de
vez que, além de
com os muitos
com quem comunga
a atual jornada
na matéria,
também, e
principalmente,
interage com
energias
individuais de
encarnados e
desencarnados, ou
seja, com seus
seres reais – e
com as equipes,
na maior parte
das vezes
numerosas,
constituídas de
amigos,
familiares e
afetos de um
passado mais ou
menos remoto,
que o amparam e
assessoram das
esferas
dimensionais
adjacentes à
Terra.
E assim,
experimenta,
constante e
insuspeitadamente,
vivências reais
e muito
palpáveis que o
definem, mais do
que como o
reencarnante
terreno de
convivência
restrita com
quem o acompanha
no aprendizado
rápido de cada
reencarnação,
também, e
preferencialmente,
como o cidadão
cósmico, que
traz ao seu
redor, e por
detrás das
cortinas da
invisibilidade,
extenso cortejo
de seres que,
com ele,
enriquecem e
criam
incessantemente
a teia infinita
da sinfonia da
Vida.