A. Qual a diferença
essencial entre o
médium mecânico e o
médium intuitivo?
Segundo Allan
Kardec, o papel do
médium mecânico é o
de uma máquina
enquanto que o
intuitivo age como o
faria um intérprete.
Este, com efeito,
para transmitir o
pensamento dos
interlocutores, deve
compreendê-lo, de
alguma sorte,
apropriar-se dele,
para o traduzir
fielmente, e,
entretanto, esse
pensamento não é o
seu, ele lhe
atravessa, apenas, o
cérebro; tal é
exatamente o que se
passa com o médium
intuitivo.
(O Espiritismo
perante a Ciência,
Quinta Parte, Cap.
II – Os médiuns
escreventes.)
B. Nas comunicações
psicográficas o
médium exerce alguma
influência?
Sim. Embora o
pensamento lhe seja
de todo estranho e o
assunto esteja fora
do âmbito em que ele
habitualmente se
move, nem por isso
deixa o médium de
exercer influência,
no tocante à forma,
pelas qualidades e
propriedades
inerentes à sua
individualidade.
(Obra citada, Quinta
Parte, Cap. II – Os
médiuns
escreventes.)
C. A comunicação é
prejudicada quando o
médium é pouco
adiantado?
Evidentemente.
Quando os Espíritos
são obrigados a
servir-se de médiuns
pouco adiantados,
muito mais longo e
penoso se torna seu
trabalho, porque se
veem forçados a
lançar mão de formas
incompletas, o que é
para eles uma
complicação, pois
serão constrangidos
a decompor seus
pensamentos e a
ditar palavra por
palavra, letra por
letra, constituindo
isso uma fadiga e um
aborrecimento, assim
como um entrave real
à presteza e ao
desenvolvimento das
manifestações.
(Obra citada, Quinta
Parte, Cap. II – Os
médiuns
escreventes.)
Texto para leitura
793. Devemos
preparar-nos, pelo
estudo, para pedir
comunicações a
nossos guias. Quanto
mais fixarmos em
nosso perispírito
conhecimentos que
modifiquem a
contextura do nosso
cérebro, tanto mais
capazes seremos de
exprimir as
instruções dos
invisíveis. Muitas
vezes nos dizem os
Espíritos: “Temos
preparado seu
cérebro para receber
nossas impressões e
só hoje conseguimos
manifestar-nos”, e
isto serve para
apoiar nossa teoria
da ação reflexa. Tal
é, a nosso ver, a
explicação da
mediunidade
mecânica. Ela nos
foi sugerida por um
reparo, o de que os
médiuns pouco
instruídos, dando,
muitas vezes,
esplêndidas
comunicações, sob o
ponto de vista
moral, cometiam,
escrevendo, erros
grosseiros, que o
Espírito não teria
podido cometer se
tivesse livremente
disposto de seus
próprios órgãos;
eles devem provir,
pois, do
intermediário.
Tínhamos pensado,
momentaneamente,
explicar a
mediunidade por uma
ação direta do
Espírito sobre o
braço do médium, mas
tivemos de a isso
renunciar, em
consequência das
razões que acabamos
de expor.
794. Passemos agora
a uma outra
variedade de
fenômeno, a
mediunidade
intuitiva. Nessas
comunicações, não
mais existe qualquer
ação reflexa; o
Espírito não exerce
uma ação efetiva
sobre o cérebro do
médium; ele não lhe
tira a consciência,
ao transmitir-lhe as
vibrações
perispirituais que
representam seu
pensamento, e o
encarnado as apanha
sob forma de ideias;
daí a denominação de
mediunidade
intuitiva dada a
esse gênero de
manifestações.
795. O Espírito
estranho não age
aqui sobre a mão do
médium, por
intermédio do
cérebro, para
fazê-lo escrever;
não a guia;
manifesta-se de modo
mais direto. Sob seu
impulso, o encarnado
dirige a própria mão
e escreve os
pensamentos que lhe
são sugeridos.
Notemos uma coisa
importante, é que o
Espírito estranho
não se substitui à
alma do encarnado,
porque ele não
poderia deslocá-la;
domina-a e lhe
imprime sua vontade.
796. Vimos, ainda há
pouco, que o
fotófono transmite
as vibrações sonoras
por intermédio de um
raio luminoso; aqui
a ação é idêntica. O
Espírito estranho,
por sua vontade,
imprime ao cordão
fluídico movimentos
ondulatórios que
repercutem no
perispírito do
médium; essas
vibrações, chegando
ao cérebro
perispiritual, fazem
vibrar as partes
análogas àquelas por
onde foram emitidas
no Espírito, de
sorte que as
vibrações
semelhantes acordam
ideias da mesma
natureza. É o que se
passa, aliás, no
caso da palavra.
Quando se pronuncia
o vocábulo homem, as
vibrações sonoras
chegam ao cérebro,
fazem-no vibrar de
tal maneira que
evocam no Espírito
de quem escuta a
ideia representada
por aquela palavra.
As vibrações
perispirituais agem
da mesma maneira,
mas sem passar, no
caso que nos ocupa,
pelos órgãos
materiais da
audição. É assim,
pelo menos, que
concebemos a
transmissão do
pensamento.
797. Nesta
circunstância, o
papel da alma
encarnada não é
passivo; é ela que
recebe o pensamento
do Espírito e que o
transmite. O médium,
nesse gênero de
comunicação, tem,
pois, consciência do
que escreve, posto
que não se trate do
seu pensamento.
798. Se assim é,
dir-se-á, nada prova
que seja um Espírito
estranho quem
escreve e não o do
médium. A distinção
é algumas vezes
muito difícil, mas
pode-se reconhecer o
pensamento sugerido
pelo fato de não ser
jamais preconcebido;
ele se forma, por
assim dizer, à
medida que se
escreve e, muitas
vezes, é contrário à
ideia que,
antecipadamente, se
havia feito; pode
estar mesmo, neste
caso, fora dos
conhecimentos do
médium.
799. Allan Kardec
distinguiu
perfeitamente as
duas variedades de
mediunidade: ele
declara que o papel
do médium mecânico é
o de uma máquina
enquanto que o
intuitivo age como o
faria um intérprete.
Este, com efeito,
para transmitir o
pensamento dos
interlocutores, deve
compreendê-lo, de
alguma sorte,
apropriar-se dele,
para o traduzir
fielmente, e,
entretanto, esse
pensamento não é o
seu, ele lhe
atravessa, apenas, o
cérebro; tal é
exatamente o que se
passa com o médium
intuitivo.
800. Notemos que,
ainda aí, o
desenvolvimento
intelectual do
intermediário é
indispensável para
que este possa
exprimir
corretamente as
ideias que recebe.
Como é ele quem
escreve, quem
redige, pode dar aos
pensamentos
sugeridos uma forma
mais ou menos
literária, conforme
seus estudos ou
capacidade. É,
portanto, sobretudo
no ponto de vista
moral e pelas provas
que fornecem que
devem ser julgadas
as comunicações, e
não pelo estilo, que
pode ser
perfeitamente
desfigurado pelo
intérprete.
801. Acabamos de
expor dois gêneros
de mediunidade bem
caracterizados, mas
que, na realidade,
não se apresentam
sempre com aquela
nitidez; são, antes,
dois termos extremos
de uma série de
estados, variando do
mais ao menos.
Algumas vezes, o
médium é mais
mecânico que
intuitivo, outras,
pende para a segunda
destas faculdades;
enfim, podem
encontrar-se pessoas
que gozem dos dois
modos de
manifestação: são os
semimecânicos. É
fácil compreender
que a natureza
fluídica dos
indivíduos não é a
mesma e, portanto, a
ação espiritual não
se pode exercer de
maneira idêntica em
todos os organismos;
ela apresenta grande
número de gradações,
que não podem ser
definidas e que são
reconhecidas pelo
exercício.
802. Todos somos,
mais ou menos,
médiuns intuitivos.
Quem já não sentiu,
na calma profunda de
uma bela noite,
essas influências
misteriosas e
benfazejas que
confortam o coração?
Donde vêm esses
pensamentos tão
doces, esses sonhos
encantadores, essas
aspirações para o
ideal que
experimentamos em
certas épocas da
vida? Eles nos são
inspirados pelos
entes amados que nos
rodeiam, que nos
cercam com sua
solicitude e que se
sentem felizes
quando nos veem
seguir os conselhos
que nos insinuam.
803. O que os
artistas, os
escritores, os
oradores chamam
inspiração é ainda
uma prova da
intervenção dos
Espíritos, que nos
influenciam para o
bem e para o mal,
mas ela é antes obra
daqueles que nos
desejam o bem e
cujos bons conselhos
frequentemente
cometemos o erro de
não seguir; ela se
aplica a todas as
circunstâncias da
vida, nas resoluções
que devemos tomar;
sob esse ponto de
vista, pode-se dizer
que todos somos
médiuns. Se
estivéssemos bem
compenetrados desta
verdade, teríamos
muitas vezes
recorrido à
inspiração dos guias
nos momentos
difíceis da vida.
Evoquemos, pois, com
fervor esses caros
amigos e
admirar-nos-emos dos
resultados obtidos;
e quer tenhamos uma
decisão a tomar ou
um trabalho difícil
por fazer,
sentir-lhes-emos a
benéfica influência.
804. As explicações
teóricas que
expendemos são
absolutamente
confirmadas pelos
Espíritos e se
baseiam nas
comunicações dos
nossos guias e no
ensino de Allan
Kardec. Encontramos,
com efeito, em O
Livro dos Médiuns,
questão 225, o
estudo seguinte,
ditado por um
Espírito:
“A dissertação que
se segue, dada
espontaneamente por
um Espírito
superior, que se
revelou mediante
comunicações de
ordem elevadíssima,
resume, de modo
claro e completo, a
questão do papel do
médium:
Qualquer que seja a
natureza dos médiuns
escreventes, quer
mecânicos ou
semimecânicos, quer
simplesmente
intuitivos, não
variam
essencialmente os
nossos processos de
comunicação com
eles. De fato, nós
nos comunicamos com
os Espíritos
encarnados dos
médiuns, da mesma
forma que com os
Espíritos
propriamente ditos,
tão-só pela
irradiação do nosso
pensamento.
Os nossos
pensamentos não
precisam da
vestidura da palavra
para serem
compreendidos pelos
Espíritos e todos os
Espíritos percebem
os pensamentos que
lhes desejamos
transmitir, sendo
suficiente que lhes
dirijamos esses
pensamentos e isto
em razão de suas
faculdades
intelectuais. Quer
dizer que tal
pensamento tais ou
quais Espíritos o
podem compreender,
em virtude do
adiantamento deles,
ao passo que, para
tais outros, por não
despertarem nenhuma
lembrança, nenhum
conhecimento que
lhes dormitem no
fundo do coração, ou
do cérebro, esses
mesmos pensamentos
não lhes são
perceptíveis. Nesse
caso, o Espírito
encarnado, que nos
serve de médium, é
mais apto a exprimir
o nosso pensamento a
outros encarnados,
se bem não o
compreenda, do que
um Espírito
desencarnado, mas
pouco adiantado, se
fôssemos forçados a
servir-nos dele,
porquanto o ser
terreno põe seu
corpo, como
instrumento, à nossa
disposição, o que o
Espírito errante não
pode fazer.
Assim, quando
encontramos em um
médium o cérebro
povoado de
conhecimentos
adquiridos na sua
vida atual e o seu
Espírito rico de
conhecimentos
latentes, obtidos em
vidas anteriores, de
natureza a nos
facilitarem as
comunicações, dele
de preferência nos
servimos, porque com
ele o fenômeno da
comunicação se nos
torna muito mais
fácil do que com um
médium de
inteligência
limitada e de
escassos
conhecimentos
anteriormente
adquiridos.”
805. Segundo ainda a
mesma dissertação,
com um médium cuja
inteligência atual,
ou anterior, se ache
desenvolvida, o
pensamento do
Espírito se comunica
instantaneamente de
Espírito a Espírito,
por uma faculdade
peculiar à essência
mesma do Espírito.
Nesse caso,
encontram-se no
cérebro do médium os
elementos próprios a
dar ao pensamento a
vestidura da palavra
que lhe corresponda,
e isto quer o médium
seja intuitivo, quer
semimecânico, ou
inteiramente
mecânico. Essa a
razão por que, seja
qual for à
diversidade dos
Espíritos que se
comunicam com um
médium, os ditados
que este obtém,
embora procedendo de
Espíritos
diferentes, trazem,
quanto à forma e ao
colorido, o cunho
que lhe é pessoal.
806. Com efeito, se
bem o pensamento lhe
seja de todo
estranho, se bem o
assunto esteja fora
do âmbito em que ele
habitualmente se
move, nem por isso
deixa o médium de
exercer influência,
no tocante à forma,
pelas qualidades e
propriedades
inerentes à sua
individualidade. Os
Espíritos são quais
compositores de
música, que hão
composto ou querem
improvisar uma ária
e só têm à mão ou um
piano, um violino,
uma flauta, um
fagote ou uma gaita
de dez centavos. É
incontestável que,
com o piano, o
violino, ou a
flauta, executarão a
composição de modo
muito compreensível
para os ouvintes. Se
bem sejam muito
diferentes uns dos
outros os sons
produzidos pelo
piano, pelo fagote
ou pela clarineta,
nem por isso ela
deixará de ser
idêntica em qualquer
desses instrumentos,
abstração feita dos
matizes do som. Mas,
se só tiverem à
disposição uma gaita
de dez centavos,
defrontarão eles
enorme dificuldade.
807. Quando são os
Espíritos obrigados
a servir-se de
médiuns pouco
adiantados, muito
mais longo e penoso
se torna o trabalho,
porque se veem
forçados a lançar
mão de formas
incompletas, o que é
para eles uma
complicação, pois
serão constrangidos
a decompor seus
pensamentos e a
ditar palavra por
palavra, letra por
letra, constituindo
isso uma fadiga e um
aborrecimento, assim
como um entrave real
à presteza e ao
desenvolvimento das
manifestações.
808. Por isso é que
os Espíritos gostam
de achar médiuns bem
adestrados, bem
aparelhados, munidos
de materiais prontos
a serem utilizados,
numa palavra: bons
instrumentos, porque
então seu
perispírito, atuando
sobre o daquele a
quem mediunizam,
nada mais tem que
fazer senão
impulsionar a mão
que lhes serve de
lapiseira, ou
caneta, enquanto
que, com os médiuns
insuficientes, são
obrigados a um
trabalho análogo ao
que têm quando se
comunicam mediante
pancadas, isto é,
formando, letra por
letra, palavra por
palavra, cada uma
das frases que
traduzem os
pensamentos que
queiram transmitir.
809. Allan Kardec
ajuntou às
explicações
precedentes a
seguinte Nota, com a
qual concordamos
plenamente:
“Esta análise do
papel dos médiuns e
dos processos pelos
quais os Espíritos
se comunicam é tão
clara quanto lógica.
Dela decorre, como
princípio, que o
Espírito haure, não
as suas ideias,
porém, os materiais
de que necessita
para exprimi-las, no
cérebro do médium e
que, quanto mais
rico em materiais
for esse cérebro,
tanto mais fácil
será a comunicação.
Quando o Espírito se
exprime num idioma
familiar ao médium,
encontra neste,
inteiramente
formadas, as
palavras necessárias
ao revestimento da
ideia; se o faz numa
língua estranha ao
médium, não encontra
neste as palavras,
mas apenas as
letras. Por isso é
que o Espírito se vê
obrigado a ditar,
por assim dizer,
letra a letra, tal
qual como quem
quisesse fazer que
escrevesse alemão
uma pessoa que desse
idioma não
conhecesse uma só
palavra. Se o médium
é analfabeto, nem
mesmo as letras
fornece ao Espírito.
Preciso se torna a
este conduzir-lhe a
mão, como se faz a
uma criança que
começa a aprender.
Ainda maior
dificuldade a vencer
encontra aí o
Espírito. Estes
fenômenos, pois, são
possíveis e há deles
numerosos exemplos;
compreende-se, no
entanto, que
semelhante maneira
de proceder pouco
apropriada se mostra
para comunicações
extensas e rápidas e
que os Espíritos hão
de preferir os
instrumentos de
manejo mais fácil,
ou, como eles dizem,
os médiuns bem
aparelhados do ponto
de vista deles. Se
os que reclamam
esses fenômenos,
como meio de se
convencerem,
estudassem
previamente a
teoria, haviam de
saber em que
condições
excepcionais eles se
produzem.” (Continua no próximo
número.)