Refazimento
Epifânio Leite
Vejo-te, soberana, aos
painéis da memória!
O trono te emoldura a
face de outras eras…
Oprimes sem temor,
espancas onde imperas,
Fulges no fausto vão de
vaidade ilusória!…
A paixão te esfogueia a
fome de vanglória,
Exilas e destróis,
humilhas e encarceras…
Vem a morte, no entanto,
entre forças austeras,
E largas sob a cinza a
pompa transitória!
Foi-se o tempo… Hoje
achei-te em catre duro e
estreito,
Paralítica e só,
parafusada ao leito!…
Chorei ao ver-te a choça
e o triste quarto em
ruínas!
Mas louvo o fel de agora
ante o sol do futuro…
Pela dor subirás ao
reino do amor puro
Em teu carro estelar de
açucenas divinas!
Do cap. 10 do livro
Astronautas do Além,
obra de autoria de
Francisco Cândido
Xavier, J. Herculano
Pires e Espíritos
diversos. Segundo o
autor do soneto, ele o
dedicou a uma venerável
irmã que conheceu na
realeza terrestre há
quatro séculos. Culta,
não espalhou os
benefícios da
inteligência; amiga
incondicional dos amigos
e inimiga implacável dos
adversários; generosa
para com os áulicos
abastados e indiferente
às vítimas da penúria.
Embora destacasse as
vantagens da paz,
incentivou, quanto pôde,
as guerras de conquista
e ambição. Agradecida
aos vassalos obedientes,
perseguia até à morte
quantos não lhe
observassem as
diretrizes. Amada e
odiada, alcançou o Mais
Além e, à frente da
verdade, preocupou-se
com a redenção própria.
Regressou à Terra,
várias vezes,
apagando-se devagar
quanto ao brilho terreno
que ostentava, até que
rogou a prova final,
habilitando-se no corpo
enfermo e disforme, em
acentuada penúria, para
a ascensão próxima à
Espiritualidade
Superior.
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