LEDA MARIA
FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
A felicidade está em nós
Na questão 920 de O
Livro dos Espíritos,
Kardec pergunta aos
Espíritos Superiores se
o homem pode gozar,
sobre a Terra, de uma
felicidade completa.
Respondem que, tendo em
vista esse homem viver
sobre o planeta em
provas e expiações,
depende dele amenizar
seus males e ser tão
feliz quanto se pode ser
sobre a Terra, visto ser
ele o artífice de sua
própria infelicidade,
uma vez desviado que se
encontra da prática das
leis de Deus.
Conclui-se, portanto,
que a felicidade
plena, como tantos
desejam, não é possível
por ora.
É sabido que vivemos
cercados de problemas de
toda ordem, mas também
não ignoramos que essas
atribulações são
inerentes à própria
vida, tendo em vista o
grau evolutivo em que a
humanidade terrena se
encontra.
Defrontamo-nos, assim,
com problemas pessoais,
profissionais e aqueles
que envolvem a sociedade
na qual estamos
inseridos. Observamos
que, independentemente
de posição social,
intelectual ou
profissional, todos têm
dificuldades pela
existência na qual
transitam.
Muitas vezes, essa
dificuldade não está no
campo individual, mas
surge quando nos
relacionamos com o
outro, situação
inevitável de quem vive
em sociedade – somos
seres gregários por
excelência. Outras
vezes, a situação se
inverte: o outro é que
tem problemas no
relacionamento conosco,
apesar dos nossos
esforços em diminuir os
pontos de atrito – todo
esforço para o
estabelecimento da
harmonia é salutar.
Por conta de tantas
situações de desajuste,
ouvimos, frequentemente,
as pessoas dizerem que a
felicidade não é deste
mundo. O interessante é
que, muitas vezes, são
criaturas que têm à sua
disposição todos os
recursos que facilitam
sua vida, ou seja, que
não lhes trazem
problemas de ordem
material. Muitos que se
dizem infelizes têm a
juventude, ou a beleza,
ou a fortuna e, às
vezes, as três juntas,
bens tão cobiçados pela
maioria das pessoas.
Diante dessa
constatação, é
importante perguntarmos:
se a maioria das pessoas
deseja esses bens e se
muitas são infelizes,
apesar de possuí-los,
por que os desejam? O
Evangelho nos lembra que
ainda somos criaturas
ligadas a tudo que é
material e que poucos de
nós buscam,
verdadeiramente,
libertarem-se dessas
amarras. Felicidade e
bens materiais caminham
juntos, no nosso
julgamento, ainda, tão
estreito.
Os que buscam essa
libertação são aqueles
que já compreenderam
que, além do corpo
físico, somos um ser
espiritual, e isto
representa uma vitória
do Espírito sobre a
matéria. E começam a
entender que os valores
materiais não são
suficientes para
preencher esse vazio que
se forma em suas vidas,
em um determinado
momento. A beleza física
já não faz sentido por
ser apenas externa e
como tudo o que a ela se
assemelha, o tempo se
encarrega de
transformar. A fortuna
já não compra mais o que
realmente se necessita.
A juventude, somente, já
não representa mais a
força necessária para se
continuar caminhando com
segurança.
Em cada um desses
elementos há um vazio
que precisa ser
preenchido. Então, o que
falta? Falta o despertar
para os verdadeiros
valores. Falta acordar
para os novos dias que
estão se anunciando para
nós. Falta a
conscientização de que
somos Espíritos em
evolução, e não corpos
que se deterioram com o
tempo. Somos Espíritos
imortais, habitando,
temporariamente, corpos
mortais, finitos.
Como preencher esse
vazio? O primeiro passo
é a aceitação dessa nova
realidade, com o
entendimento e a coragem
de voltar sobre os
próprios passos e
reiniciar a caminhada
com novos propósitos e
firmeza de decisão. É
imprescindível abandonar
os velhos valores que
nada acrescentam em
nossa vida e nem nos
fazem criaturas
melhores. É indiscutível
negar que necessitamos
buscar a fortuna da
sabedoria, a juventude
da esperança – força
renovadora que nos
impulsiona à frente,
constantemente – e a
beleza da prática do
amor, pela caridade com
o próximo e igualmente
conosco. “A luz com a
qual clareamos caminhos
alheios é crédito
perante a vida,
entretanto, somente a
luz que fazemos no
íntimo nos pertence e é
fonte de liberdade e
equilíbrio, paz e
riqueza na alma.”¹
Esse processo, nas
palavras de Ermance
Dufaux, exige tempo,
disposição incansável de
recomeçar, meditação,
cultivo de novos
hábitos, oração,
renúncia, capacidade de
sacrifício, vigilância
mental, vontade ativa,
disciplina sobre os
desejos, diálogo
fraternal, dever
cumprido e amparo
espiritual. E dizemos
nós, não todos ao mesmo
tempo e, por isso mesmo,
o Criador nos concede a
misericórdia da
reencarnação.
Muitos dizem que a
felicidade não é desse
mundo. Certamente que é!
Não a felicidade plena,
porque nossa existência,
nesse momento, não
comporta, mas é do mundo
de luz que cada um cria
dentro de si, na luta
contra suas tendências
inferiores, que estão
sempre nos afastando de
Deus, e que tanto nos
pesam.
A felicidade é possível,
sim, neste mundo. Não do
mundo de necessidades
fantasiosas, fictícias
que criamos, mas do
mundo do amor ao próximo
pela tolerância, pela
aceitação do outro como
ele é, pela alegria de
poder ser útil sem
querer nada em troca,
pelo cumprimento do
dever realizado, sem
levar em conta sua
importância ou seu
tamanho. E os Espíritos
Superiores nos alertam
para isso na questão 926
³, dizendo que aquele
que sabe limitar seus
desejos e vê sem inveja
os que estão acima de
si, poupa-se de muitas
decepções nesta vida. O
mais rico, dizem
textualmente, é aquele
que tem menos
necessidade.
Somos os responsáveis
pela construção desse
novo mundo. Se erramos
nas nossas escolhas, o
fizemos por
desconhecimento de que
havia outro caminho;
mas, hoje, ao
entendermos isso, nos
colocamos em condição de
aceitar o outro, pois
sabemos que ele ignora
hoje, o que
desconhecíamos ontem.
“A felicidade, tão
procurada no mundo da
transitoriedade, está em
nós, no ato de
penetrarmos na
desconhecida gleba do
eu, arando esse terreno
fértil para que floresça
a Divindade da qual
somos todos portadores.
Essa é a felicidade dos
Espíritos Superiores,
conforme assertiva da
codificação; todavia,
pode ser a nossa, ainda
agora...” ¹
Sejamos, pois, os
iniciadores dessa
transformação que
atingirá todo planeta,
tornando-nos um ponto de
luz a espalhar o exemplo
do amor por onde
passarmos.
Bibliografia:
1 - Ermance Dufaux –
Mereça Ser Feliz –
[psicografado por]
Wanderley S. de
Oliveira, Editora INEDE,
Belo Horizonte/MG, 2.
ed., 2003, Capítulo 2.
2 – KARDEC, Allan – O
Livro dos Espíritos
– Livro IV, Capítulo I –
Penas e Gozos
Terrestres.
3 - KARDEC, Allan – O
Evangelho segundo o
Espiritismo – Cap. 5
– Bem–aventurados os
Aflitos, item 20.