Em julho de 1940, a cidade
de Campos, no Rio de
Janeiro, foi brindada com a
visita de Chico Xavier, que
ali permaneceu por quatro
dias. No dia 26 daquele mês,
na Escola Caminheiros da
Verdade, filial da Escola de
Jesus - fundada e dirigida
por Clóvis Tavares - Chico
recebeu uma mensagem
assinada pelo Espírito de
Silvinho Lessa, que havia
desencarnado, vítima de um
acidente, havia quatro anos.
Contava, na ocasião, onze
anos de idade. Seus pais
estavam presentes.
Começa assim a mensagem:
“Meu querido Papai. Peço ao
seu bom coração, bem como a
Mamãe, que me abençoem. Os
Espíritos caridosos do lugar
onde me encontro me
trouxeram hoje para rever a
casinha muito amada, os pais
carinhosos e queridos, como
fazem de vez em quando. Eu
estou alegre e peço ao
senhor que prossiga
confortando a Mamãe na sua
saudade imensa. Eu também
sofri muito com a nossa
separação. O desastre me
havia deixado impressões
muito dolorosas, mas agora
sei, como o senhor e Mamãe
hão de saber, mais tarde,
por que tudo aquilo
aconteceu. Tudo foi justo e
a minha partida fez com que
o seu coração se elevasse a
Jesus num caminho de santo
fervor. O senhor hoje crê,
tem paciência, é amigo das
criancinhas. Eu trazia uma
grande saudade de casa,
quando escutei na Escola de
Jesus Cristo aquela história
do bezerro que se havia
separado da mãe. E então
compreendi que o Senhor e a
Mamãe atravessaram muitos
obstáculos e para irem ter
com o filhinho inesquecido
encontraram forças para a
estrada que vai até Jesus.
Penso que o nosso lucro
espiritual foi muito
grande...”
Após a leitura do ditado
mediúnico, Chico perguntou a
Clóvis como seria essa
história do bezerrinho... E
Clóvis se lembrou de que um
dia, em uma aula de
Evangelização, contara esse
caso, para explicar por que,
às vezes, as crianças
partiam para a pátria
espiritual antes dos pais.
E, resumiu para Chico da
seguinte maneira: “Um
camponês, guiando uma vaca e
um bezerrinho, desejava
atravessar um riacho. À
margem do regato, porém, a
vaca emperra, não querendo
traspassá-lo. O camponês
jeitosamente procura
conduzir o animal, mas este,
rebelde, continua imóvel.
Esgotados todos os recursos,
o aldeão teve uma ideia,
pondo-a em prática: segurou
nos braços o bezerrinho e o
levou para a outra margem do
ribeiro. Vendo o novilho na
outra margem, a vaca dá por
finda sua rebeldia e
atravessa o riacho para
juntar-se ao filho. A ilação
a extrair-se da parábola é
que a Providência utiliza
esse processo para
encaminhar criaturas que se
conservam a margem do rio da
verdade, não animadas a
atravessá-lo: a
transferência dum ser
querido para os mundos de
além-túmulo produz, muita
vez, a disposição de amor e
obediência nos corações dos
que ficam”.
Então Clóvis, surpreso
porque nem ele se lembrava
da historieta e nem Chico a
conhecia, emite a seguinte
exclamação, recordando uma
carta de Paulo aos Hebreus,
pensando no Espírito do
menino que estivera presente
àquela aula, sem que
soubesse: “Realmente,
estamos rodeados de uma
grande nuvem de
testemunhas”.
Extraído do livro “Trinta
Anos Com Chico Xavier”,
escrito por Clóvis Tavares e
editado pelo Instituto de
Difusão Espírita, de
Araras-SP.