A. Caso tenha várias
aptidões mediúnicas,
qual delas o médium
deve cultivar?
É raro
circunscrever-se a
faculdade de um
médium a um único
gênero; por causa
disso, o mesmo
médium pode ter
muitas aptidões. Uma
há, porém, que ele
domina, e é esta que
ele deve cultivar,
se lhe for útil.
(O Espiritismo
perante a Ciência,
Quinta Parte, Cap.
II – Os médiuns
escreventes.)
B. Como uma pessoa
pode saber se é ou
não médium?
Segundo os
Espíritos, quando o
princípio, o gérmen
de uma faculdade
existe, ela se
manifesta sempre por
sinais inequívocos.
Infelizmente, não é
raro ver que os
médiuns nem sempre
se contentam com os
dons que recebem, e
desejam, por
amor-próprio ou
ambição, possuir
faculdades
excepcionais que os
tornem notórios.
(Obra citada, Quinta
Parte, Cap. II – Os
médiuns
escreventes.)
C. Que médium
desenhou uma
habitação
supostamente situada
em Júpiter?
Foi Victorien Sardou
quem publicou em
1858 uma estampa
desenhada e gravada
por ele
representando uma
habitação em
Júpiter. O desenho
foi acompanhado de
uma longa nota em
que o médium explica
a maneira pela qual,
assistido por
Bernard de Palissy e
Mozart, pôde
reproduzir, pelo
traço, as habitações
de Júpiter.
(Obra citada, Quinta
Parte, Cap. II – Os
médiuns
escreventes.)
Texto para leitura
810. São muitas as
variedades dos
médiuns escreventes,
com graus inúmeros
em sua diversidade.
Há muitos que
apresentam apenas
gradações, em que
não deixam de
existir propriedades
especiais. É raro
circunscrever-se a
faculdade de um
médium a um único
gênero. O mesmo
médium pode ter, sem
dúvida, muitas
aptidões; uma há,
porém, que domina, e
é esta que ele deve
cultivar, se lhe for
útil.
811. Um Espírito nos
deu, a respeito
disso, o seguinte
conselho: “Quando o
princípio, o gérmen
de uma faculdade
existe, ela se
manifesta sempre por
sinais inequívocos.
Restringindo-se à
sua especialidade o
médium pode
sobressair e obter
grandes e belas
coisas; ocupando-se
com tudo, não obterá
nada de bom.
Observai, de
passagem, que o
desejo de estender
indefinidamente o
círculo das
faculdades é uma
pretensão orgulhosa,
que os Espíritos
nunca deixam impune;
os bons abandonam os
presunçosos que se
tornam, assim,
joguete de Espíritos
enganadores.
Infelizmente, não é
raro ver que os
médiuns nem sempre
se contentam com os
dons que recebem, e
desejam, por
amor-próprio ou
ambição, possuir
faculdades
excepcionais, que os
tornem notórios.
Essa pretensão lhes
tira a mais preciosa
qualidade: a de
médiuns seguros.”
812. Sabemos,
conforme a teoria,
que os médiuns
mecânicos podem ser
chamados, em dado
momento, a fazer
qualquer outra coisa
além da escrita. A
força que lhes faz
mover a mão, para
traçar caracteres,
pode também fazê-los
executar linhas,
curvas, sombreados,
ou seja, fazê-los
desenhar. Este caso
se apresenta
frequentemente e
conhecemos certo
número de pessoas
que obtêm, assim,
uns paisagens,
outros cabeças
admiravelmente
desenhadas,
ignorando
completamente até os
rudimentos desta
arte.
813. O mais curioso
exemplo desse gênero
de mediunidade nos é
oferecido por Sardou,
o eminente
acadêmico, que
publicou em 1858 uma
estampa desenhada e
gravada por ele,
representando uma
habitação em
Júpiter. Esse
desenho é
acompanhado de uma
longa nota de
Victorien Sardou,
onde o célebre autor
explica a maneira
pela qual, assistido
por Bernard de
Palissy e Mozart,
pôde reproduzir,
pelo traço, as
habitações de
Júpiter.
814. Eis o que a
respeito escreveu
Allan Kardec:
“Apresentamos, com
este número de nossa
revista, como
tínhamos anunciado,
o desenho de uma
habitação de
Júpiter, executado e
gravado por
Victorien Sardou,
como médium, e
juntamos o artigo
descritivo que ele
nos quis dar sobre o
assunto. Qualquer
que seja, sobre a
autenticidade das
descrições, a
opinião dos que
possam acusar-nos de
nos estar ocupando
com o que se passa
nos mundos
desconhecidos,
quando há tanto que
fazer na Terra,
pedimos aos leitores
não perder de vista
que o nosso fim
assim como faz ver
nosso título é,
antes de tudo, o
estudo dos
fenômenos, e que,
sob este ponto de
vista, nada deve ser
negligenciado. Ora,
como fato de
manifestações, esses
desenhos são,
incontestavelmente,
dos mais notáveis,
visto que o autor
não sabe desenhar,
nem gravar, e o
desenho foi gravado
por ele em água
forte, sem modelo,
nem ensaio
antecipado, em nove
horas. Supondo,
mesmo, que o desenho
seja uma fantasia do
Espírito que o fez
traçar, o fenômeno
da sua execução não
seria menos digno de
atenção e, nessa
qualidade, merece
figurar em nossa
coleção.”
815. No fim do
artigo, acrescentou
Allan Kardec: “O
autor desta
interessante
descrição é um
desses adeptos
fervorosos e
esclarecidos que não
temem manifestar
claramente suas
crenças e se colocam
acima da crítica dos
que nada creem fora
do círculo de suas
ideias. Ligar o nome
a uma doutrina nova,
afrontando os
sarcasmos, é coragem
que não é dada a
todos, e por isso
felicitamos Sardou.”
816. Desde essa
época, já longínqua,
tivemos numerosas
provas de que essa
mediunidade já
estava bem
espalhada. Um
ferreiro, chamado
Fabre, desenhou um
esplêndido quadro
representando
Constantino quando
pôs em fuga o
exército de Maxêncio,
o qual não seria
reprovado por um
mestre. Já vimos
pessoas ignorantes
dos princípios de
desenho esboçar
cabeças, de maneira
inteiramente
original. A mão era
agitada com um
movimento febril de
vaivém e só parecia
fazer traços;
cessada a atividade
espiritual,
encontrou-se, no
meio dessa confusão,
a adorável figura de
uma jovem, cujos
traços puros se
destacavam
nitidamente em meio
ao inextricável
labirinto de riscos
a lápis.
817. É bom observar
que para esta
espécie de
mediunidade são
necessárias aptidões
especiais, e não
basta ser um médium
mecânico para que
alguém se torne
desenhista. Os
Espíritos, que
conhecem nossas
existências
anteriores, podem
julgar-nos aptos a
esse gênero de
manifestações, ainda
quando não sintamos,
agora, nenhuma
inclinação para as
artes; é, pois, a
eles que compete
dirigir-nos e a nós
seguir-lhes
docilmente a
orientação.
818. O ensaio de
teoria geral que
apresentamos dos
fenômenos da escrita
pode ainda
aplicar-se a certas
manifestações de
ordem complexa. Tal
é o caso narrado
pelo Grand Journal
de 4 de junho de
1865.
819. Ei-lo, tal como
o reproduz a
revista:
“Todos os editores e
amadores de música
de Paris conhecem G.
Bach, discípulo de
Zimmerman, primeiro
prêmio de piano do
Conservatório, no
concurso de 1819, um
dos nossos mais
estimados e mais
distintos
professores de
piano, bisneto do
grande Sebastião
Bach, de quem leva
dignamente o nome
ilustre. Informado
pelo nosso comum
amigo, o Sr.
Dollingen,
administrador do
Grand Journal, de
que um verdadeiro
prodígio se tinha
produzido no
apartamento de Bach,
durante a noite de 5
de maio último, pedi
a Dollingen que me
levasse à casa do
Sr. Bach, e fui
acolhido no nº 8 da
rua Castellane com
grande gentileza.
Penso que é inútil
acrescentar que,
depois da
autorização expressa
do herói desta
maravilhosa
história, é que me
permito contá-la:
A 4 de maio, Léon
Bach, que é um
curioso doublé de
artista, trouxe a
seu pai uma espineta
admiravelmente
esculpida. Depois de
longas e minuciosas
pesquisas, o Sr.
Bach descobriu, em
uma tábua interior,
a marca do
instrumento; datava
de abril de 1664 e
foi fabricado em
Roma. Bach passou
parte do dia em
contemplação de sua
preciosa espineta e
nela pensava, ainda,
ao deitar-se, quando
o sono lhe veio
fechar as pálpebras.
Não há que admirar,
portanto, tivesse o
seguinte sonho: No
mais profundo sono,
Bach viu aparecer à
cabeceira um homem
de longas barbas,
sapatos redondos na
ponta, com grossas
borlas, calças
largas, gibão de
grandes mangas, com
fofos no alto,
enorme colarinho em
torno do pescoço e
um chapéu pontudo de
abas largas. Esta
personagem
inclinou-se para o
Sr. Bach e lhe
disse:
– A espineta que
possuís me
pertenceu. Ela
muitas vezes
serviu-me para
distrair o meu
senhor, o Rei
Henrique III. Quando
ele era moço, compôs
uma ária com
palavras que gostava
de cantar, e eu o
acompanhava muitas
vezes. Compô-las em
lembrança de uma
mulher que encontrou
na caça e de quem se
tomou de amores.
Afastaram-na; dizem
que a envenenaram e
o rei teve com isto
grande desgosto.
Quando estava
triste, cantarolava
este romance. Para
distraí-lo tocava
eu, então, em minha
espineta, uma música
de minha composição,
que ele muito
apreciava. Vou
fazê-la ouvir.
O homem aproximou-se
da espineta,
desferiu alguns
acordes e cantou a
ária com tanta
expressão, que Bach
acordou em lágrimas.
Acendeu uma vela,
olhou o relógio,
verificou que eram
duas horas depois da
meia-noite e não
tardou a dormir de
novo.”
820. Prossegue a
narrativa da
revista:
“No dia seguinte de
manhã, ao despertar,
Bach ficou
grandemente
surpreendido, por
achar, em sua cama,
uma página de
música, com uma
escrita muito fina e
de notas
microscópicas.
Dificilmente com o
auxílio de suas
lunetas, pôde Bach,
que é muito míope,
compreender as
garatujas. Pouco
depois, o neto de
Sebastião sentava-se
ao piano e decifrava
o trecho. O romance,
as palavras e a
música eram
exatamente conforme
as que o homem do
sonho lhe tinha
feito ouvir. Ora,
Bach não é
sonâmbulo, nunca
escreveu um único
verso, e as regras
da poesia lhe são
absolutamente
estranhas.”
821. As estrofes
constantes do
manuscrito foram
reproduzidas pela
revista, com a
observação de que a
ortografia então
utilizada não era
familiar ao senhor
Bach.
822. Segundo a
reportagem a que nos
referimos, a
ortografia musical
não era menos
arcaica que a
ortografia
literária, e as
chaves foram feitas
de modo diverso do
que então se usava.
Além disso, o
acompanhamento é
escrito em um tempo
e o canto em outro.
823. Finalizando a
reportagem, seu
autor diz que Bach
teve a gentileza de
fazê-lo ouvir os
trechos, que eram de
uma harmonia
simplesmente ingênua
e penetrante. E
acrescentou: “O
jornal L'Estoile diz
que o rei teve
grande paixão por
Maria de Clèves,
marquesa de Isle,
morta na flor da
idade, em uma
Abadia, a 15 de
outubro de 1874. Não
será a ‘pobre bela,
triste e
enclausurada’ de que
ele fala nas coplas?
(1)
O mesmo jornal diz
também que um músico
italiano, chamado
Baltazarini, veio
para a França, nessa
época, e que foi um
dos favoritos do
rei. A espineta
pertenceu a
Baltazarini? Foi o
Espírito de
Baltazarini quem
escreveu o romance e
a música? Mistério
que não ousamos
aprofundar. Alberic
Second.”
824. Algumas
reflexões sobre o
assunto não serão
fora de propósito.
“Mistério que não
ousamos aprofundar”,
e por quê? Há um
fato cuja
autenticidade é
demonstrada, como
reconheceis, e como
se relaciona com a
vida misteriosa de
além-túmulo, não
ousais procurar-lhe
a causa! Temeis
encará-la de face?
Tendes, pois, medo
das almas? Ou
receais obter a
prova de que tudo
não termina com a
vida do corpo?
825. É verdade que
para um cético que
não sabe nada e que
não crê em nada além
do presente, esta
causa é bem difícil
de achar. Mas, por
isso mesmo que o
fato é mais estranho
e parece afastar-se
das leis conhecidas,
deve ainda mais
obrigar à reflexão e
despertar, pelo
menos, a
curiosidade.
Dir-se-ia,
verdadeiramente, que
certas pessoas têm
medo de ver muito
claramente, porque
ser-lhes-ia forçoso
convir que se
enganaram.
826. Vejamos,
entretanto, as
deduções que todo
homem sério pode
tirar desse fato,
abstração feita de
qualquer ideia
espírita. Bach
recebe um
instrumento cuja
Antiguidade verifica
e que lhe causa
grande satisfação.
Preocupado com a
ideia, é natural que
esta lhe provoque um
sonho: ele vê um
homem com os trajes
da época, que toca e
canta no instrumento
uma ária de então;
não há nada ali,
certamente, que, em
rigor, não possa ser
atribuído à
imaginação
superexcitada pela
emoção da véspera,
sobretudo em um
musicista.
827. Mas aqui a
lembrança se
complica, a ária e
as palavras não
podem ser uma
reminiscência, visto
que Bach não as
conhecia. Quem as
podia ter revelado,
se o Espírito que
lhe apareceu não
passa de um ser
fantástico, sem
realidade? Que a
imaginação
superexcitada faça
reviver na memória
coisas esquecidas,
concebe-se; mas
teria ela o poder de
dar-nos ideias
novas, de
ensinar-nos coisas
que não sabemos, que
nunca soubemos, de
que nunca nos
ocupamos? Seria um
fato de alta
gravidade e que
mereceria ser
examinado, porque
seria a prova de que
o Espírito age,
percebe e concebe
independentemente da
matéria.
(Continua no próximo
número.)
(1)
Copla [do lat.
copula, 'união',
pelo esp. copla]
significa: pequena
composição poética,
geralmente em
quadras, para ser
cantada.