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Estudando as obras de Manoel Philomeno de Miranda
Ano 5 - N° 242 - 8 de Janeiro de 2012

THIAGO BERNARDES
thiago_imortal@yahoo.com.br
 
Curitiba, Paraná (Brasil)
 

Grilhões Partidos

Manoel Philomeno de Miranda 

(Parte 17)

Continuamos a apresentar o estudo do livro Grilhões Partidos, de Manoel Philomeno de Miranda, obra psicografada por Divaldo P. Franco e publicada inicialmente no ano de 1974.

Questões preliminares

A. Quem foram, no passado, Ester e Matias e que fatos os vincularam naquela oportunidade? 

Ester fora, no século XVIII, D. Eduardina Rosa de Mon­talvão do Alcantilado, uma matrona portuguesa que se apaixonara por um jovem, o mesmo Matias de agora, que se chamava então Casimiro. Como este a abandonou para ficar com outra mulher bem mais jovem, Eduardina decidiu vingar-se e contratou sua morte, em que teve a colaboração de um sacerdote católico, Monsenhor Severo Augusto dos Mártires. (Grilhões Partidos, cap. 20, pp. 186 a 192.) 

B. Qual é, segundo Kardec, a causa da maioria dos casos de obsessão? 

Kardec ensina-nos em seu livro "O Evangelho segundo o Espiritismo", cap. X, item 6, que o Espí­rito mau espera que o outro, a quem ele quer mal, esteja preso ao seu corpo e, assim, menos livre, para mais facilmente o atormentar, ferir nos seus interesses, ou nas suas mais caras afeições. Nisso reside a causa da maioria dos casos de obsessão. O obsidiado e o possesso são, pois, quase sempre vítimas de uma vingança, cujo motivo se encontra em existência anterior e à qual aquele que a sofre deu lugar pelo seu proceder. (Obra citada, cap. 21, pp. 193 e 194.)

C. Quem foi no passado o Coronel Santamaria e que participação teve nos fatos que deram origem à obsessão de Ester?  

O Coronel Santamaria foi, na época dos fatos mencionados, Monsenhor Severo Augusto dos Mártires, que nutria por D. Eduardina uma mórbida paixão. Ciente disso, ela obteve dele a participação na morte de dom Casimiro e no encarceramento num Convento da jovem Maria do Socorro, pivô da separação havida entre Eduardina e Casimiro. O tribunal do Santo Ofício foi manipulado pelo sacerdote para a prisão e posterior execução do rapaz. (Obra citada, cap. 21, pp. 194 a 198.)

Texto para leitura 

101. Matias e Ester se reencontram - Bezerra abriu a reunião com uma prece dirigida a Jesus, em que tocou no problema Ester-Matias, rogando ao Mestre seu auxílio para a solução do doloroso drama que ali se des­dobrava. Sobreira e Joel demonstravam grande confiança e perfeito equilíbrio ante as tarefas programadas. Os demais oravam em união de pensamento equilibrado, graças aos exercí­cios contínuos e à dedicação com que se apresentavam nos serviços da desobsessão, verdadeira escola disciplinante e iluminativa. Com o auxílio magnético de Bezerra e Mel­quíades, Matias e Ester foram des­pertados para as realidades do mo­mento. A jovem parecia menos aturdida do que na vez anterior em que seus pais a visitaram. A menor incidên­cia constrangedora de Matias, parcialmente afastado, produzia um de­sencharcamento dos fluidos vene­nosos e da telepatia perturbante que seu perseguidor conseguia, en­viando-lhe contínuas mensagens de teor destrutivo e apavorante. Ester, ao despertar, deparou com os pais, entregando-se ao Coronel Santamaria com expressões de contenta­mento e queixa, em que relatava o suplício no qual se debatia... O pai, devidamente autorizado por Bezerra, fa­lou-lhe com carinho: "Confie em Deus, filhinha! As dores de hoje pre­nunciam a liberdade de amanhã, da mesma forma que estas lágrimas re­tratam a prisão que ergue­mos no passado e nos empareda nos dias atuais". Ela lhe respondeu: "Mas estou louca, papai! Sou um animal en­jaulado... Nenhum amigo ao meu lado. Sem sol e sem esperança... Aban­donada. Nem você, nem mamãe jamais me visitaram... Por quê, papai?" O Coronel, respondendo com pa­ciência, lhe disse: "Loucos nos encontramos quando ferimos e fazemos o mal... Esta atitude, sim, é de arrematada loucura. Quando, porém, so­fremos de uma ou outra forma, nos encontra­mos liberando da alucinação. O desequilíbrio da mente é transitório, mas o da alma é de demorado curso... Não se preocupe mais". Explicou-lhe então que eles a visita­ram muitas vezes, mas os médicos os orien­taram para evitar a aproximação, com vistas ao tratamento em curso. A filha queria continuar con­versando, contudo seu pai, obedecendo à orientação mental de Bezerra, pediu que ela se mantivesse em atitude de prece. Phi­lomeno revelou que os conceitos vertidos pelo pai obede­ciam a telementalização dirigida pelo Benfeitor Espiritual. Ester re­tornou, incontinenti, aos cuidados do irmão Melquíades. Foi quando Matias, de­frontando-a, bradou, colérico: "Que faz ela     aqui?" (Cap. 20, pp. 186 a 188) 

102. Ester e Matias recordam cenas de seu passado - Ester, ante o ver­dugo, estremeceu e começou a gritar, modificando-se-lhe o aspecto. A serenidade foi substituída pelo pavor, e a tranquilidade da face pela máscara de terror. Bezerra prosseguia sereno e concentrado. Foi então que Ester, embora controlada com firmeza pelo irmão Melquíades, se er­gueu, revelando-se agressiva. Ela aproximou-se de Matias e, colérica, disse-lhe: "Odeio-te, sim, odeio-te...", gargalhando em estado lanci­nante. O irmão Ângelo, cuidadoso, pôs-se a trabalhar na sede do centro cerebral de Matias, fazendo-o recuar no tempo, recordar-se, adentrar-se pelo passado. Ester continuou a falar: "Lembro-me, agora, infame, traidor. Traíste-me e pagaste. Assim mesmo não te perdoei. Não se des­preza uma mulher apaixonada, que possui dinheiro e posição". Matias começou a recordar cenas de um passado remoto, em que Ester e Constân­cio foram amantes e ele, a vítima de ambos. Qual o pior dos dois: o man­dante (Ester) ou o executor (Constâncio)? "Irei desforrar-me”, disse Matias. “Nada de negociatas. Eu o antipatizava mesmo antes e não sabia por quê." A jo­vem, porém, replicou, furiosa: "Sou eu quem se vai vingar... Explo­raste minha madureza, roubaste-me, deixando-me ao abandono, a fim de ires viver com outra... Nunca te permitiria. Mandei matar-te e o faria outra vez, porquanto o meu ódio continua virgem..." Os dois contendo­res prosseguiram em  ofensas recíprocas e acusações contínuas. Na ver­dade, ao contato com Matias, Ester reviveu cenas e atitudes inditosas de sua última existência na Terra. Via-se agora, com clareza, que a jovem débil e insana padecia por um erro que seu pai havia cometido, mas sofria necessariamente com justiça... Nela mesma estavam as matri­zes propiciatórias das ligações para o reajuste pelas trilhas da obsessão. As tomadas por onde vertiam e se renovavam as ondas do ódio não aplacado facultavam que os "plugs" da raiva de Matias se conectas­sem com vigor com a antiga adversária. As mãos fortes da Lei alcança­vam os infratores e os colocavam no cadinho da dor, visto que se recusavam o sagrado cálice das libações do     amor, sustentáculo do equilí­brio e êmulo da abnegação, no qual nasce a renúncia que santi­fica... Foi então, nesse momento, que Bezerra de Menezes interferiu, pedindo: "Amigos, sejamos sen­satos e benevolentes". (Cap. 20, pp. 189 e 190) 

103. O caso Casimiro e Eduardina - Bezerra de Menezes conclamou-os ao perdão recíproco, mencionando Jesus, que nos ensinou que somente o perdão tranquiliza a alma, retirando-a das sombras da desdita... No caso, ambos eram culpados das próprias amarguras. Enquanto o Benfeitor falava, os cooperadores espirituais impediam que os altercadores pros­seguissem, ouvindo atentamente os conceitos preciosos. Ester estava agora transfigurada em matrona portuguesa dos primeiros dias do século XIX – chamava-se então Eduardina. Matias retratava no semblante tra­ços de nobre beleza física no ardor da juventude, havendo desaparecido dele os sinais deformantes da desencarnação na guerra – era o jovem Casimiro. O poderoso vigor da mente, atuando nos tecidos plástico-mo­deladores do perispírito, ali estava perfeitamente demonstrado. Bezer­ra explicou que permitira as reminiscências do passado para solucionar as dificuldades do presente. Mas, acentuou, "o passado deve constituir ponto de partida para o avanço e não local de retorno para o atraso". A vitória cabe, realmente, a quem perdoa e ajuda, esquece o mal para fazer o bem, sepulta a mágoa para libertar a confiança... "Quem ruma às alturas – declarou Bezerra – aspira paz; quem se reserva às bai­xadas atordoa-se nos espaços exíguos e úmidos, onde o sol não pene­tra..."  Nesse momento, o Coronel Santamaria passou do choro resignado à convulsão do desespero... Sua cabeça parecia que ia estourar. O Men­tor aplicou-lhe recursos magnéticos e propôs-lhe, amoroso: "Recorde, meu filho! Quando encontramos Jesus, verdadeiramente, descobrimos a vida. Recorde, a fim de encontrar-se com a consciência e purificá-la no presente. Voltemos à cidade de Braga... Recuemos... Os últimos dias do século XVIII... As notícias da revolução francesa... Braga, a ci­dade-reduto da fé... A nobre cidade dos Braganças, originários da an­tiga fortaleza de Guimarães... Recorde..."  Houve um momento de silên­cio. Eduardina (Ester) cravou seus olhos no Coronel Santamaria, en­quanto Casimiro (Matias) agitava-se, receoso. Em face da sugestão, em processo regressivo da memória, uma transfiguração operou-se no pai de Ester, modificando-lhe a aparência. O rosto fez-se anguloso, com os zigomas salientes, o nariz aquilino, a pele macilenta, a calvície pro­nunciada... E o Coronel, com esse aspecto desagradável, grunhiu, fa­nhoso: "Braga! Eterno santuário de Portugal, berço de cavaleiros, san­tos e nobres, louvada sejas!" (Cap. 20, pp. 191 e 192) 

104. O Monsenhor Severo Augusto dos Mártires - Kardec ensina-nos em seu livro "O     Evangelho segundo o Espiritismo", cap. X, item 6, que o Espí­rito mau espera que o outro, a quem ele quer mal, esteja preso ao seu corpo e, assim, menos livre, para mais facilmente o    atormentar, ferir nos seus interesses, ou nas suas mais caras afeições. Nisso reside a causa da maioria dos casos de obsessão. O obsidiado e o possesso são, pois, quase sempre vítimas de uma vingança, cujo motivo se encontra em existência anterior e à qual aquele que a sofre deu lugar pelo seu proceder. Deus o permite para os punir do mal que a seu turno pratica­ram, ou, se tal não se deu, por haverem faltado com a indulgência e a caridade, não perdoando. Quando o Coronel Santamaria reassumiu a apa­rência da última encarnação, em que fora o Monsenhor Severo Augusto dos Mártires, em Braga, Portugal, Bezerra de Menezes providenciou a colocação no recinto de um aparelho parecido aos receptores de televisão da Crosta, com aproximadamente 15 polegadas por 10 na face do ví­deo. Ali, qual se estivesse o aparelho acionado por ignorada energia, projetou-se formosa cidade, colorida e movimentada. Bezerra estimulava no Coronel o prosseguimento das recordações. As imagens mentais evoca­das reviviam no receptor com a pujança de vida e cor da realidade. Era dia de sol na velha cidade portuguesa e o movimento de pessoas na praça da Sé anunciava uma procissão. Diversos prelados concelebraram a missa, finda a qual se iniciava o préstito, do qual participava o Mon­senhor Severo dos Mártires. (Cap. 21, pp. 193 e 194) 

105. Arquitetada a morte de dom Casimiro - Logo que a procissão se acer­cou de formosa herdade, ajoelhada ao portão principal, uma dama nos seus quarenta anos de idade respondeu com um aceno de cabeça à saudação do Monsenhor. Tratava-se da temida senhora Eduardina Rosa de Mon­talvão do Alcantilado. O Monsenhor, que não passara ainda dos 52 anos, tinha pela mulher uma mórbida paixão. Logo mais, ele se dirigiu à casa da senhora Eduardina, atendendo a um bilhete que ela lhe enviara. Era evidente a arrogância da senhora e o asco que a mesma nutria pelo sa­cerdote. Ela, porém, lhe propunha um acordo. "Se me ama, conforme apre­goa, que me lave a honra ultrajada", disse-lhe a dama. Desprezada por dom Casimiro, a cujos encantos não resistira, ela resolvera vin­gar-se dele e da jovem por quem ele se dizia apaixonado: uma so­brinha da senhora, de nome Maria do Socorro. Dona Eduardina, após expor seu pro­pósito, perguntou ao Monsenhor qual seria o preço a pagar. Ele lhe respondeu que queria a fidelidade dela até à morte, pela morte de dom Casimiro. Quanto a Maria do Socorro, o sacerdote sugeriu seu encarce­ramento num Convento de arrependidas. Acertado o plano, apertaram-se as mãos e sorveram precioso licor de fabricação espe­cial... O conci­liábulo funesto selava os destinos de ambos para o fu­turo, em compro­missos demorados de dor e sombra imprevisíveis. (Cap. 21, pp. 194 a 197) 

106. Casimiro não suporta as torturas e morre - Depois, Bezerra de Mene­zes, valendo-se de passes de reequilíbrio ministrados no Coronel, fez com que cessassem suas lembranças, deixando-o, no entanto, despertar. Acercou-se então de Matias e sugeriu: "Recorde, Casimiro. Lembre-se de quando lhe chegou a precatória para apresentar-se ao Tribunal..." Re­vivendo as ocorrências do passado, Matias passou a projetar no apa­relho as imagens retidas no inconsciente, enquanto se retorcia... Moço leviano, que se utilizara da aparência para seduzir moçoilas trêfegas, chegara a Braga, vindo de Leiria, onde sua família era proprietária de terras e possuía título de nobreza. Ele fora a Braga para tentar a car­reira eclesiástica, por lhe parecer rendosa e favorável à vazão dos pendores negativos que o dominavam. Invejado e até mesmo odiado pelos mestres no Seminário, e não suportando as disciplinas, enfermara, con­seguindo licença especial com posterior dispensa. Nesse período, por solicitação da família, hospedara-se na residência de D. Eduardina, conhecida dos seus, enquanto tratava a saúde afetada. Foi aí que teve início sua vinculação infeliz com a senhora... Recusando-se com ela casar, conforme a apaixonada amante exigia, e já lhe havendo seduzido a sobrinha, num momento de desabafo, narrou-lhe toda a verdade, amea­çando unir-se a Maria do Socorro, para "limpar-lhe o nome e honrar o filho". Depois desses episódios, o rapaz preparava-se para retornar a Lei­ria, quando foi alcançado pela intimação do Santo Ofício e encami­nhado ao Tribunal, sendo imediatamente encarcerado. Era acusado de roubo, atitude indecorosa para com a Igreja, prostituição de menores, me­diante sedução diabólica... Por trás da acusação estava a interferên­cia do Monsenhor Severo dos Mártires. Sofrendo julgamento arbitrário e sigiloso, as torturas sofridas na prisão reduziram-no a escombro hu­mano, com decorrente morte prematura, antes de ser decre­tada a sen­tença... (Cap. 21, pp. 197 e 198) (Continua no próximo número.)



 


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