Grilhões Partidos
Manoel Philomeno de
Miranda
(Parte
17)
Continuamos a apresentar
o
estudo do livro
Grilhões Partidos,
de Manoel Philomeno de
Miranda, obra
psicografada por Divaldo
P. Franco e publicada
inicialmente no
ano de 1974.
Questões preliminares
A. Quem foram, no
passado, Ester e Matias
e que fatos os
vincularam naquela
oportunidade?
Ester fora, no século
XVIII, D. Eduardina Rosa
de Montalvão do
Alcantilado, uma matrona
portuguesa que se
apaixonara por um jovem,
o mesmo Matias de agora,
que se chamava então
Casimiro. Como este a
abandonou para ficar com
outra mulher bem mais
jovem, Eduardina decidiu
vingar-se e contratou
sua morte, em que teve a
colaboração de um
sacerdote católico,
Monsenhor Severo Augusto
dos Mártires.
(Grilhões Partidos, cap.
20, pp. 186 a 192.)
B. Qual é, segundo
Kardec, a causa da
maioria dos casos de
obsessão?
Kardec ensina-nos em seu
livro "O Evangelho
segundo o Espiritismo",
cap. X, item 6, que o
Espírito mau espera que
o outro, a quem ele quer
mal, esteja preso ao seu
corpo e, assim, menos
livre, para mais
facilmente o atormentar,
ferir nos seus
interesses, ou nas suas
mais caras afeições.
Nisso reside a causa da
maioria dos casos de
obsessão. O obsidiado e
o possesso são, pois,
quase sempre vítimas de
uma vingança, cujo
motivo se encontra em
existência anterior e à
qual aquele que a sofre
deu lugar pelo seu
proceder.
(Obra citada, cap. 21,
pp. 193 e 194.)
C. Quem foi no passado o
Coronel Santamaria e que
participação teve nos
fatos que deram origem à
obsessão de Ester?
O Coronel Santamaria
foi, na época dos fatos
mencionados, Monsenhor
Severo Augusto dos
Mártires, que nutria por
D. Eduardina uma mórbida
paixão. Ciente disso,
ela obteve dele a
participação na morte de
dom Casimiro e no
encarceramento num
Convento da jovem Maria
do Socorro, pivô da
separação havida entre
Eduardina e Casimiro. O
tribunal do Santo Ofício
foi manipulado pelo
sacerdote para a prisão
e posterior execução do
rapaz.
(Obra citada, cap. 21,
pp. 194 a 198.)
Texto para leitura
101. Matias e
Ester se reencontram
- Bezerra abriu a
reunião com uma prece
dirigida a Jesus, em que
tocou no problema
Ester-Matias, rogando ao
Mestre seu auxílio para
a solução do doloroso
drama que ali se
desdobrava. Sobreira e
Joel demonstravam grande
confiança e perfeito
equilíbrio ante as
tarefas programadas. Os
demais oravam em união
de pensamento
equilibrado, graças aos
exercícios contínuos e
à dedicação com que se
apresentavam nos
serviços da desobsessão,
verdadeira escola
disciplinante e
iluminativa. Com o
auxílio magnético de
Bezerra e Melquíades,
Matias e Ester foram
despertados para as
realidades do momento.
A jovem parecia menos
aturdida do que na vez
anterior em que seus
pais a visitaram. A
menor incidência
constrangedora de
Matias, parcialmente
afastado, produzia um
desencharcamento
dos fluidos venenosos e
da telepatia perturbante
que seu perseguidor
conseguia, enviando-lhe
contínuas mensagens de
teor destrutivo e
apavorante. Ester, ao
despertar, deparou com
os pais, entregando-se
ao Coronel Santamaria
com expressões de
contentamento e queixa,
em que relatava o
suplício no qual se
debatia... O pai,
devidamente autorizado
por Bezerra, falou-lhe
com carinho: "Confie em
Deus, filhinha! As dores
de hoje prenunciam a
liberdade de amanhã, da
mesma forma que estas
lágrimas retratam a
prisão que erguemos no
passado e nos empareda
nos dias atuais". Ela
lhe respondeu: "Mas
estou louca, papai! Sou
um animal enjaulado...
Nenhum amigo ao meu
lado. Sem sol e sem
esperança...
Abandonada. Nem você,
nem mamãe jamais me
visitaram... Por quê,
papai?" O Coronel,
respondendo com
paciência, lhe disse:
"Loucos nos encontramos
quando ferimos e fazemos
o mal... Esta atitude,
sim, é de arrematada
loucura. Quando, porém,
sofremos de uma ou
outra forma, nos
encontramos liberando
da alucinação. O
desequilíbrio da mente é
transitório, mas o da
alma é de demorado
curso... Não se preocupe
mais". Explicou-lhe
então que eles a
visitaram muitas vezes,
mas os médicos os
orientaram para evitar
a aproximação, com
vistas ao tratamento em
curso. A filha queria
continuar conversando,
contudo seu pai,
obedecendo à orientação
mental de Bezerra, pediu
que ela se mantivesse em
atitude de prece.
Philomeno revelou que
os conceitos vertidos
pelo pai obedeciam a
telementalização
dirigida pelo Benfeitor
Espiritual. Ester
retornou, incontinenti,
aos cuidados do irmão
Melquíades. Foi quando
Matias, defrontando-a,
bradou, colérico: "Que
faz ela aqui?" (Cap.
20, pp. 186 a 188)
102. Ester e
Matias recordam cenas de
seu passado -
Ester, ante o verdugo,
estremeceu e começou a
gritar,
modificando-se-lhe o
aspecto. A serenidade
foi substituída pelo
pavor, e a tranquilidade
da face pela máscara de
terror. Bezerra
prosseguia sereno e
concentrado. Foi então
que Ester, embora
controlada com firmeza
pelo irmão Melquíades,
se ergueu, revelando-se
agressiva. Ela
aproximou-se de Matias
e, colérica, disse-lhe:
"Odeio-te, sim,
odeio-te...",
gargalhando em estado
lancinante. O irmão
Ângelo, cuidadoso,
pôs-se a trabalhar na
sede do centro cerebral
de Matias, fazendo-o
recuar no tempo,
recordar-se, adentrar-se
pelo passado. Ester
continuou a falar:
"Lembro-me, agora,
infame, traidor.
Traíste-me e pagaste.
Assim mesmo não te
perdoei. Não se
despreza uma mulher
apaixonada, que possui
dinheiro e posição".
Matias começou a
recordar cenas de um
passado remoto, em que
Ester e Constâncio
foram amantes e ele, a
vítima de ambos. Qual o
pior dos dois: o
mandante (Ester) ou o
executor (Constâncio)?
"Irei desforrar-me”,
disse Matias. “Nada de
negociatas. Eu o
antipatizava mesmo antes
e não sabia por quê." A
jovem, porém, replicou,
furiosa: "Sou eu quem se
vai vingar...
Exploraste minha
madureza, roubaste-me,
deixando-me ao abandono,
a fim de ires viver com
outra... Nunca te
permitiria. Mandei
matar-te e o faria outra
vez, porquanto o meu
ódio continua virgem..."
Os dois contendores
prosseguiram em ofensas
recíprocas e acusações
contínuas. Na verdade,
ao contato com Matias,
Ester reviveu cenas e
atitudes inditosas de
sua última existência na
Terra. Via-se agora, com
clareza, que a jovem
débil e insana padecia
por um erro que seu pai
havia cometido, mas
sofria necessariamente
com justiça... Nela
mesma estavam as
matrizes propiciatórias
das ligações para o
reajuste pelas trilhas
da obsessão. As tomadas
por onde vertiam e se
renovavam as ondas do
ódio não aplacado
facultavam que os "plugs"
da raiva de Matias se
conectassem com vigor
com a antiga adversária.
As mãos fortes da Lei
alcançavam os
infratores e os
colocavam no cadinho da
dor, visto que se
recusavam o sagrado
cálice das libações
do amor,
sustentáculo do
equilíbrio e êmulo da
abnegação, no qual nasce
a renúncia que
santifica... Foi então,
nesse momento, que
Bezerra de Menezes
interferiu, pedindo:
"Amigos, sejamos
sensatos e
benevolentes". (Cap. 20,
pp. 189 e 190)
103. O caso
Casimiro e Eduardina
- Bezerra de Menezes
conclamou-os ao perdão
recíproco, mencionando
Jesus, que nos ensinou
que somente o perdão
tranquiliza a alma,
retirando-a das sombras
da desdita... No caso,
ambos eram culpados das
próprias amarguras.
Enquanto o Benfeitor
falava, os cooperadores
espirituais impediam que
os altercadores
prosseguissem, ouvindo
atentamente os conceitos
preciosos. Ester estava
agora transfigurada em
matrona portuguesa dos
primeiros dias do século
XIX – chamava-se então
Eduardina. Matias
retratava no semblante
traços de nobre beleza
física no ardor da
juventude, havendo
desaparecido dele os
sinais deformantes da
desencarnação na guerra
– era o jovem Casimiro.
O poderoso vigor da
mente, atuando nos
tecidos
plástico-modeladores do
perispírito, ali estava
perfeitamente
demonstrado. Bezerra
explicou que permitira
as reminiscências do
passado para solucionar
as dificuldades do
presente. Mas, acentuou,
"o passado deve
constituir ponto de
partida para o avanço e
não local de retorno
para o atraso". A
vitória cabe, realmente,
a quem perdoa e ajuda,
esquece o mal para fazer
o bem, sepulta a mágoa
para libertar a
confiança... "Quem ruma
às alturas – declarou
Bezerra – aspira paz;
quem se reserva às
baixadas atordoa-se nos
espaços exíguos e
úmidos, onde o sol não
penetra..." Nesse
momento, o Coronel
Santamaria passou do
choro resignado à
convulsão do
desespero... Sua cabeça
parecia que ia estourar.
O Mentor aplicou-lhe
recursos magnéticos e
propôs-lhe, amoroso:
"Recorde, meu filho!
Quando encontramos
Jesus, verdadeiramente,
descobrimos a vida.
Recorde, a fim de
encontrar-se com a
consciência e
purificá-la no presente.
Voltemos à cidade de
Braga... Recuemos... Os
últimos dias do século
XVIII... As notícias da
revolução francesa...
Braga, a cidade-reduto
da fé... A nobre cidade
dos Braganças,
originários da antiga
fortaleza de
Guimarães...
Recorde..." Houve um
momento de silêncio.
Eduardina (Ester) cravou
seus olhos no Coronel
Santamaria, enquanto
Casimiro (Matias)
agitava-se, receoso. Em
face da sugestão, em
processo regressivo da
memória, uma
transfiguração operou-se
no pai de Ester,
modificando-lhe a
aparência. O rosto
fez-se anguloso, com os
zigomas salientes, o
nariz aquilino, a pele
macilenta, a calvície
pronunciada... E o
Coronel, com esse
aspecto desagradável,
grunhiu, fanhoso:
"Braga! Eterno santuário
de Portugal, berço de
cavaleiros, santos e
nobres, louvada sejas!"
(Cap. 20, pp. 191 e
192)
104. O Monsenhor
Severo Augusto dos
Mártires -
Kardec ensina-nos em seu
livro "O Evangelho
segundo o Espiritismo",
cap. X, item 6, que o
Espírito mau espera que
o outro, a quem ele quer
mal, esteja preso ao seu
corpo e, assim, menos
livre, para mais
facilmente o
atormentar, ferir nos
seus interesses, ou nas
suas mais caras
afeições. Nisso reside a
causa da maioria dos
casos de obsessão. O
obsidiado e o possesso
são, pois, quase sempre
vítimas de uma vingança,
cujo motivo se encontra
em existência anterior e
à qual aquele que a
sofre deu lugar pelo seu
proceder. Deus o permite
para os punir do mal que
a seu turno praticaram,
ou, se tal não se deu,
por haverem faltado com
a indulgência e a
caridade, não perdoando.
Quando o Coronel
Santamaria reassumiu a
aparência da última
encarnação, em que fora
o Monsenhor Severo
Augusto dos Mártires, em
Braga, Portugal, Bezerra
de Menezes providenciou
a colocação no recinto
de um aparelho parecido
aos receptores de
televisão da Crosta, com
aproximadamente 15
polegadas por 10 na face
do vídeo. Ali, qual se
estivesse o aparelho
acionado por ignorada
energia, projetou-se
formosa cidade, colorida
e movimentada. Bezerra
estimulava no Coronel o
prosseguimento das
recordações. As imagens
mentais evocadas
reviviam no receptor com
a pujança de vida e cor
da realidade. Era dia de
sol na velha cidade
portuguesa e o movimento
de pessoas na praça da
Sé anunciava uma
procissão. Diversos
prelados concelebraram a
missa, finda a qual se
iniciava o préstito, do
qual participava o
Monsenhor Severo dos
Mártires. (Cap. 21, pp.
193 e 194)
105. Arquitetada a
morte de dom Casimiro
- Logo que a procissão
se acercou de formosa
herdade, ajoelhada ao
portão principal, uma
dama nos seus quarenta
anos de idade respondeu
com um aceno de cabeça à
saudação do Monsenhor.
Tratava-se da temida
senhora Eduardina Rosa
de Montalvão do
Alcantilado. O
Monsenhor, que não
passara ainda dos 52
anos, tinha pela mulher
uma mórbida paixão. Logo
mais, ele se dirigiu à
casa da senhora
Eduardina, atendendo a
um bilhete que ela lhe
enviara. Era evidente a
arrogância da senhora e
o asco que a mesma
nutria pelo sacerdote.
Ela, porém, lhe propunha
um acordo. "Se me ama,
conforme apregoa, que
me lave a honra
ultrajada", disse-lhe a
dama. Desprezada por dom
Casimiro, a cujos
encantos não resistira,
ela resolvera vingar-se
dele e da jovem por quem
ele se dizia apaixonado:
uma sobrinha da
senhora, de nome Maria
do Socorro. Dona
Eduardina, após expor
seu propósito,
perguntou ao Monsenhor
qual seria o preço a
pagar. Ele lhe respondeu
que queria a fidelidade
dela até à morte, pela
morte de dom Casimiro.
Quanto a Maria do
Socorro, o sacerdote
sugeriu seu
encarceramento num
Convento de
arrependidas. Acertado o
plano, apertaram-se as
mãos e sorveram precioso
licor de fabricação
especial... O
conciliábulo funesto
selava os destinos de
ambos para o futuro, em
compromissos demorados
de dor e sombra
imprevisíveis. (Cap. 21,
pp. 194 a 197)
106. Casimiro não
suporta as torturas e
morre - Depois,
Bezerra de Menezes,
valendo-se de passes de
reequilíbrio ministrados
no Coronel, fez com que
cessassem suas
lembranças, deixando-o,
no entanto, despertar.
Acercou-se então de
Matias e sugeriu:
"Recorde, Casimiro.
Lembre-se de quando lhe
chegou a precatória para
apresentar-se ao
Tribunal..." Revivendo
as ocorrências do
passado, Matias passou a
projetar no aparelho as
imagens retidas no
inconsciente, enquanto
se retorcia... Moço
leviano, que se
utilizara da aparência
para seduzir moçoilas
trêfegas, chegara a
Braga, vindo de Leiria,
onde sua família era
proprietária de terras e
possuía título de
nobreza. Ele fora a
Braga para tentar a
carreira eclesiástica,
por lhe parecer rendosa
e favorável à vazão dos
pendores negativos que o
dominavam. Invejado e
até mesmo odiado pelos
mestres no Seminário, e
não suportando as
disciplinas, enfermara,
conseguindo licença
especial com posterior
dispensa. Nesse período,
por solicitação da
família, hospedara-se na
residência de D.
Eduardina, conhecida dos
seus, enquanto tratava a
saúde afetada. Foi aí
que teve início sua
vinculação infeliz com a
senhora... Recusando-se
com ela casar, conforme
a apaixonada amante
exigia, e já lhe havendo
seduzido a sobrinha, num
momento de desabafo,
narrou-lhe toda a
verdade, ameaçando
unir-se a Maria do
Socorro, para
"limpar-lhe o nome e
honrar o filho". Depois
desses episódios, o
rapaz preparava-se para
retornar a Leiria,
quando foi alcançado
pela intimação do Santo
Ofício e encaminhado ao
Tribunal, sendo
imediatamente
encarcerado. Era acusado
de roubo, atitude
indecorosa para com a
Igreja, prostituição de
menores, mediante
sedução diabólica... Por
trás da acusação estava
a interferência do
Monsenhor Severo dos
Mártires. Sofrendo
julgamento arbitrário e
sigiloso, as torturas
sofridas na prisão
reduziram-no a escombro
humano, com decorrente
morte prematura, antes
de ser decretada a
sentença... (Cap. 21,
pp. 197 e 198) (Continua no próximo
número.)