A. Fora da hipótese
espírita, como
explicar o
surgimento da
partitura encontrada
por Bach?
Uma explicação
possível é ter sido
a partitura escrita
por Bach em estado
sonambúlico.
Admitida tal
hipótese,
pergunta-se: Quem
lhe teria ditado os
versos, escritos sem
rasura e
seguidamente? Onde
teria ele colhido o
conhecimento de
casos passados, que
ignorava e que foram
depois confirmados,
como veremos um
pouco adiante?
(O Espiritismo
perante a Ciência,
Quinta Parte, Cap.
II – Os médiuns
escreventes.)
B. Os fatos
pertinentes à
espineta foram
explicados depois
mediunicamente?
Sim. Bach recebeu
uma comunicação de
Baltazarini, que se
reportou aos fatos
referidos neste
livro e confirmou
que a espineta
realmente lhe
pertencera. (Obra citada, Quinta Parte, Cap. II – Os médiuns
escreventes.)
C. Que é que Delanne
diz sobre a
mediunidade vidente?
Delanne diz que a
mediunidade vidente
é uma das mais
curiosas
manifestações dos
Espíritos e que não
existe melhor prova
da sobrevivência que
aquela que permite a
um Espírito tomar-se
visível.
(Obra citada, Quinta
Parte, Cap. III –
Médiuns videntes e
médiuns auditivos.)
Texto para leitura
828. Se a aparição
de um Espírito pode
ser atribuída a uma
alucinação, a mesma
explicação não pode
ser aplicada à
partitura encontrada
por Bach. Teria sido
escrita por Bach, em
estado sonambúlico?
Admitamo-lo, por
instantes; mas quem
lhe teria ditado os
versos, escritos sem
rasura e
seguidamente? Onde
teria ele colhido o
conhecimento de
casos passados, que
ignorava e que foram
depois confirmados,
como veremos um
pouco adiante?
829. Alberic Second
perguntava se a
espineta tinha
pertencido a
Baltazarini e se
fora esse musicista
que ditara as
palavras do romance
e da música. Como
resposta, eis o que
lemos na Revue
Spirite de fevereiro
de 1866:
“O fato junto é a continuação da interessante história Ária
e palavras do rei
Henrique III,
narrada na Revue, de
julho de 1865. Desde
então, Bach se tomou
médium escrevente,
mas pratica pouco,
em vista da fadiga
que lhe sobrevém. Só
o faz quando
incitado por força
invisível, a qual se
traduz por viva
agitação e tremor da
mão, e aí a
resistência lhe é
mais penosa que o
exercício. Ele é
mecânico, no sentido
absoluto do terno, e
não tem consciência
nem lembrança do que
escreve. Um dia,
quando estava nessas
disposições,
escreveu a quadra
seguinte:
Rei Henrique deu essa grande espineta
A Baltazarini, muito bom músico;
Se ela não for boa ou muito graciosa
Que ao menos a conserve por lembrança.
A explicação desses versos que, para Bach, não tinham
sentido, lhe foi
dada em prosa.
O rei Henrique, meu senhor, deu-me a espineta que possuís;
escreveu uma quadra
numa folha de
pergaminho, fê-la
pregar no estojo e
m’a remeteu. Alguns
anos mais tarde,
tendo que fazer uma
viagem e receando
que o pergaminho
fosse arrancado e se
perdesse, visto que
eu levava comigo a
espineta, tirei-o e
coloquei-o em um
pequeno vão, à
esquerda do teclado,
onde ainda se acha.
A espineta é a origem dos pianos atuais, em sua maior
simplicidade, e se
tocava da mesma
maneira; era um
pequeno cravo, de
quatro oitavas, com
cerca de metro e
meio de comprimento,
quarenta centímetros
de largura, e sem
pés. As cordas, no
interior, eram
dispostas como nos
pianos e tocadas por
meio de teclas.
Transportavam-no à
vontade,
encerrando-o numa
caixa, como se faz
com os violinos e os
violoncelos. Para
ser utilizado
punham-no em uma
mesa ou um móvel.
O instrumento estava em exposição no museu retrospectivo,
nos Campos Elíseos,
onde não era
possível fazer a
pesquisa indicada.
Quando ele lhe foi
entregue, Bach e seu
filho apressaram-se
a esmerilhar em
todos os vãos, mas
inutilmente, de
sorte que
acreditaram numa
mistificação.
Entretanto, para que
não restasse
qualquer dúvida,
Bach o desmontou
completamente e
descobriu, à
esquerda do teclado,
um intervalo tão
estreito que nele
não se podia
introduzir a mão.
Investigou esse
reduto cheio de pó e
de teias de aranha,
e dele retirou um
pedaço de pergaminho
dobrado, enegrecido
pelo tempo, com 31
centímetros de
comprimento por 7 e
meio de largura, no
qual estava escrita
a quadra seguinte,
em grandes
caracteres da época:
Moys le roi Henri
trois octroys cette
espinette
A Baltazarini, mon gay musicien
Mais si dis mal sône, ou bien | ma| moult simplette
Lors pour mon
souvenir dans lestuy
garde bien.
Este pergaminho está furado nos quatro cantos e os buracos
são, evidentemente,
os dos pregos que
serviram para
fixá-lo na caixa.
Traz, também, além
disso, nas margens,
grande quantidade de
buracos, alinhados e
regularmente
espaçados, que
parecem ter sido
feitos por pregos
muito pequenos.
Os primeiros versos ditados reproduziam, como se vê, o mesmo
pensamento que os do
pergaminho, de que
são a tradução, em
linguagem moderna, e
isto antes que estes
fossem descobertos.
O terceiro verso é obscuro e contém, sobretudo, a palavra
ma, que parece sem
sentido, e não se
pode ligar à ideia
principal que, no
original, está entre
parênteses.
Procuramos,
inutilmente, a
explicação, e o
próprio Bach nada
sabia a respeito.
Estava eu um dia em sua casa, quando houve, espontaneamente,
em nossa presença,
uma comunicação de
Baltazarini, dada
para nós, e assim
concebida:
‘Amico mio.
‘Estou contente contigo; encontraste os versos na minha
espineta; meu desejo
está satisfeito;
estou contente
contigo...
‘O rei, nesses versos, gracejava de minha pronúncia; eu
dizia sempre ma em
lugar de mas.
‘Adio amico. – Baltazarini.’
Assim foi dada, sem pedido prévio, a explicação dessa
palavra ma,
intercalada por
gracejo, pela qual o
rei designava
Baltazarini que,
como muitos de seus
patrícios, assim a
pronunciava várias
vezes.
O rei, dando a espineta ao músico, lhe diz: se ela não é
boa, se ela soa mal
ou se | ma| (porém)
a achar muito
simples, que a
conserve em seu
estojo, em lembrança
de mim. A palavra ma
está rodeada de um
filete, como entre
parênteses.
Teríamos, certamente, procurado esta explicação por muito
tempo, que não podia
ser o reflexo do
pensamento do Sr.
Bach, pois que ele
mesmo não estava
entendendo nada.
Restava resolver uma importante questão: a de saber se a
escrita do
pergaminho era,
realmente, da mão de
Henrique III.
Bach dirigiu-se à biblioteca imperial para compará-la com os
manuscritos
originais. Foram, a
princípio,
encontrados alguns,
sem semelhança
perfeita, mas com o
mesmo caráter. Em
outros documentos,
porém, a identidade
era absoluta, tanto
no tipo da letra
como na assinatura.
Não podia haver dúvida sobre a autenticidade do pergaminho,
embora certas
pessoas, que
professam uma
incredulidade
ridícula para com as
coisas ditas
sobrenaturais,
tenham achado que
aquilo não passava
de uma boa imitação.
Observaremos que não se trata aqui de uma escrita mediúnica,
dada pelo Espírito
do rei, mas de um
manuscrito original,
escrito pelo próprio
rei, quando vivo, e
que não tem nada de
mais maravilhoso que
aqueles que as
circunstâncias
fortuitas fazem
descobrir todos os
dias. O maravilhoso,
se maravilhoso
existe, só está na
forma pela qual foi
revelada sua
existência. É bem
certo que, se o Sr.
Bach se contentasse
em dizer que o tinha
achado, por acaso,
em seu instrumento,
isso não teria
provocado nenhuma
objeção.”
830. Tal é a
narrativa exata da
comunicação
literária e musical
obtida por Bach.
Poderíamos citar
grande número de
casos, tão seguros
como este, em que a
intervenção dos
Espíritos não é
menos manifesta, mas
preferimos enviar o
leitor à Revue
Spirite, onde
formigam descrições
semelhantes,
trazendo todas o
cunho de verdade
indiscutível.
831. Vejamos agora
dois outros
fenômenos: vidência
e audiência. A
mediunidade vidente
é evidentemente uma
das mais curiosas
manifestações dos
Espíritos. Não há
melhor prova da
sobrevivência que
aquela que permite a
um Espírito tomar-se
visível. Para chegar
a este resultado
deve ele fazer no
encarnado certas
modificações
perispirituais, que
é preciso estudar.
Distingamos os dois
casos seguintes:
1º. O médium vê com
os olhos;
2º. O médium vê em
estado de
desprendimento.
832. Existe um meio
simples, por onde um
médium pode saber em
que estado se
encontra. Ao ver um
Espírito, se desvia
o olhar ou fecha os
olhos, e a aparição
continua visível; é
que ele está
desprendido; se,
pelo contrário, não
percebe mais o
Espírito, é que vê
com os olhos do
corpo.
833. No
desprendimento, a
visão se opera fora
dos órgãos dos
sentidos, e disso
não nos ocuparemos
por saber que os
desencarnados veem,
ouvem e, de maneira
geral, percebem por
todas as partes do
perispírito. A vista
pela alma, em estado
de desprendimento,
entra, pois, no caso
geral da visão dos
Espíritos entre si.
834. O que convém
notar é que o
Espírito é,
entretanto, obrigado
a agir sobre o
médium, para
conseguir-lhe o
desprendimento. Que
é, pois, o
desprender-se? Para
a alma é estar menos
acorrentada ao
corpo. Sabemos que
durante sua passagem
na Terra o Espírito
está ligado ao
invólucro material
pelo perispírito,
que aciona, ele
próprio, o sistema
nervoso.
835. Quanto mais
ativa é a vida do
encarnado, mais
abundante é a
circulação nervosa e
menos pode o
Espírito
desprender-se; mas
se, como vimos na
teoria do
magnetismo, é
possível paralisar,
momentaneamente, os
laços que prendem a
alma ao corpo,
produz-se uma
irradiação do
Espírito encarnado,
que, nessa condição,
goza de quase todas
as faculdades que
possui na
erraticidade. Ele
pode, pois, ver os
Espíritos,
descrevê-los, dar,
assim, provas de sua
existência. Esse
estado particular se
nos apresenta
frequentemente no
sono. Os sonhos são,
a maior parte das
vezes, lembranças
que conservamos de
nossas viagens no
Espaço; ainda que,
ao despertar, não
nos recordemos dos
fatos de que fomos
testemunhas durante
a noite, não se deve
concluir que a alma
não se tenha
desprendido.
836. Em primeiro
lugar, vejamos o que
entendemos por
mediunidade vidente,
porque é bom não
tomarmos por
aparições as figuras
diáfanas que se
percebem na
semissonolência e ao
despertar. É preciso
cuidado contra as
causas de erro que
provêm da imaginação
superexcitada. Quem
já não acreditou
distinguir, em dados
momentos, figuras,
paisagens, nos
desenhos bizarros
formados pelas
nuvens? E a razão
nos diz que elas não
existem, em
realidade. Sabe-se,
também, que na
obscuridade os
objetos revestem
aparências
extraordinárias.
Quantas vezes, num
quarto, à noite, uma
veste pendurada, um
vago reflexo
luminoso não parecem
ter uma forma humana
aos olhos dos de
maior sangue frio?
Se a isso se vem
juntar o medo ou uma
credulidade
exagerada, a
imaginação faz o
resto.
837. Os
materialistas
empregam a palavra
alucinação para
explicar a
mediunidade vidente.
A palavra alucinação
vem do latim
hallucinari, errar,
de ad lucem. A
alucinação poderia
ser definida como um
sonho em estado de
vigília; é a
percepção de uma
imagem ilusória, de
um som que não
existe realmente,
que não tem valor
objetivo. Assim como
o objeto
representado não
impressiona a
retina, o som
escutado não fere o
ouvido; a causa
eficiente da
alucinação existe no
aparelho nervoso
sensorial e deve ser
atribuída a um
trabalho particular
do cérebro. Esse
fenômeno não existe
somente para a vista
e para o ouvido; os
outros sentidos
também podem ser
alucinados; um
contato, um odor, um
sabor sem que haja
ação prévia de um
excitante exterior,
são verdadeiras
alucinações.
838. Essas
pretendidas
sensações, que
experimentam as
pessoas atingidas
por tal doença,
dependem das
imagens, das ideias
reproduzidas pela
memória, ampliadas
pela imaginação e
personificadas pelo
hábito. As
alucinações podem
ser produzidas por
causas físicas ou
morais. As primeiras
são muito numerosas:
o abaixamento ou
elevação da
temperatura, o abuso
das bebidas
alcoólicas, as doses
elevadas de sulfato
de quinina, a
digitális, a
beladona, o
estramônio, o
meimendro, o
acônito, o ópio, a
cânfora, as
emanações azotadas,
o haxixe, o abalo do
cérebro por queda,
etc.
839. Entre as causas
morais, as mais
comuns são uma
impressão súbita dos
sentidos, uma
sensação viva e
prolongada, a
atenção
violentamente fixada
no mesmo objeto, o
insulamento, o
remorso, o temor, o
terror.
(Continua no próximo
número.)