LEONARDO ROCHA
l.rocha1989@gmail.com
Londres,
Inglaterra
A primeira
viagem de Chico
Xavier ao
Triângulo
"Parece-me,
minha irmã, que
vivi um sonho...
Araxá,
Sacramento,
Monte Carmelo
ficaram sendo
três recantos do
céu. Tudo, tudo
está em minha
memória como
incentivo santo
ao trabalho,
embora as
saudades que me
ferem por
dentro.” (Chico
Xavier, em carta
a Delacir de
Melo Ramos.
Pedro Leopoldo,
3 de agosto de
1956.)
Num belo dia de
inverno do ano
de 1956, começou
a correr pelas
ruas de Araxá a
informação de
que Chico
Xavier, já então
um médium
consagrado no
Brasil todo,
pelo seu
trabalho
mediúnico e
assistencial em
Pedro Leopoldo,
estava na
cidade.
Chica (Francisca
Martins de
Oliveira), amiga
inseparável de
Delacir (Delacir
de Melo Ramos),
por volta de
14h,
“casualmente”
encontrou com o
Chico Xavier na
escadaria do
Correio de
Telégrafos,
onde, após uma
breve
apresentação,
Chico a convidou
para um café.
– Ele me
convidou para
tomar um café em
um bar, em
frente ao
Correio, o que
de imediato me
causou um
espanto: “mas em
um bar, Chico?!”
– aí veio a
primeira lição
do memorável
encontro:
“Chica, quando
um espírita
entra em um bar,
ali vira lar” –
relembrava Chica,
sempre nas
conversas em
família.
Correu pela
cidade a notícia
de que Chico
Xavier estava de
passagem. Ao
anoitecer, as
amigas
inseparáveis
correram para o
“Caminheiros do
Bem”,
emocionadas e
esbaforidas, e,
como grandes
ativistas do
Espiritismo na
cidade, na
época, tiveram a
satisfação de
encontrar
Francisco
Cândido Xavier.
Esta foi a
primeira visita
de Chico Xavier
ao Triângulo
Mineiro, região
que ele
colocaria no
mapa do
Espiritismo
mundial ao se
transferir para
Uberaba pouco
tempo depois com
toda a
grandiosidade da
sua obra
missionária.
– Participamos
de uma reunião
mediúnica com o
Chico naquele
dia. Eu me
lembro de que
ele psicografou
ali uma mensagem
destinada aos
espíritas de
Araxá. A
mensagem
original ficou
com a Sílvia
Barsanti, e
fazia referência
a uma encarnação
anterior do
nosso grupo na
época do Império
Romano --
relembra Delacir.
– Nesta reunião
– relembrava
Chica na
intimidade –
parece que as
pessoas que ali
estavam
perseguiram o
Cristo na sua
pessoa, ou na
pessoa dos seus
discípulos. Após
a reunião eu
liguei para o
Tavico (Gustavo
Martins Filho) e
disse a ele que
o Chico estava
indo para a casa
de João Perfeito
(João Geraldo
Perfeito).
– Eu tinha
acabado de
chegar da linha
de passes,
sempre após as
reuniões no
Caixeta, quando
recebi a notícia
que a Chichica
(maneira como
Tavico trata a
sua irmã) havia
ligado, então,
chamei a Geralda,
minha esposa, e
fomos à casa de
João Perfeito,
onde tivemos
pela primeira
vez com o Chico
Xavier –
confirma Tavico.
Chico Xavier
havia se
hospedado numa
pensão da cidade
com o médium
Waldo Vieira,
provavelmente já
pensando na sua
mudança para
Uberaba. De
Araxá, foram
para Sacramento,
onde visitaram o
Lar de Eurípedes,
mantido por
Corina Novelino.
-- Eu e a Chica
fomos de ônibus
até Sacramento.
Eu tinha uma
máquina
fotográfica.
Tirei as fotos
do Chico lá no
Lar de Eurípedes
e mandei para
ele em Pedro
Leopoldo,
depois. Não
seguimos com o
Chico para
Uberaba. Pouco
depois ele me
escreveu uma
carta
agradecendo por
tudo e
manifestando o
desejo de voltar
um dia -- diz
Delacir.
A carta ficou
por décadas
esquecida numa
gaveta, e só
agora
recuperada. Com
a leitura da
carta, vieram as
lembranças da
viagem e de um
tempo de grande
entusiasmo e
pioneirismo no
Espiritismo
brasileiro. Mas,
sobretudo, as
melhores
lembranças
possíveis de
Chico Xavier.
“Ele estava
sempre alegre,
sempre
sorridente.
Nunca estava
triste, fechado.
Era uma alegria
só,
contagiante.”
Delacir diz que
ela e Corina
Novelino já
tinham
encontrado o
Chico antes
desta primeira
visita a Araxá:
-- Tínhamos ido
uma vez até
Pedro Leopoldo,
onde
participamos de
reuniões no
Centro dele. Não
me esqueço dos
perfumes
despejados pela
irmã Scheilla,
maravilhosos, ao
ar livre, das
comunicações da
Meimei e das
famosas
“peregrinações”
do Chico, em que
ele saía pela
cidade no final
do dia
distribuindo
mantimentos aos
mais pobres e
dando passes nas
pessoas. Aquela
viagem foi muito
importante
porque
aprendemos muito
sobre
Espiritismo lá
com o Chico.
Havia muita
coisa do
Espiritismo que
ainda não havia
sido revelada.
Ele me disse
inclusive que
“se nós
elevássemos o
pensamento uma
oitava acima,
estaríamos em
contato
permanente com o
mundo
espiritual, tudo
depende do nosso
pensamento”.
Na carta de
agradecimento
pela acolhida,
Chico Xavier
revela também
sua humildade
sincera,
característica
que sempre o
acompanhou. Ele
diz num trecho:
“lembrando-me de
vocês, do
exemplo de
bondade e fé que
me deram à alma,
sinto a
renovação de
minhas pobres
forças para a
luta”.
Chico Xavier
fala das
saudades de
todos aqueles a
quem encontrou
na memorável
viagem de 55
anos atrás ao
Triângulo
Mineiro. Ele
manda lembranças
aos espíritas
que encontrou na
região,
mencionando “o
seu Antoninho
(presidente do
Centro Espírita
Caminheiros do
Bem), Roldão
(médium
espírita, que
fazia o
receituário),
Johnny Nolli,
Chica, Ângela
Maria e João e
José Perfeito”.
Chico Xavier
agradece pelas
fotos (“as
primeiras que
recebi”) e
encerra
profético:
“Jesus, porém,
há de
conceder-me a
felicidade de
voltar, não é?”.
Neste glorioso
ano em que Chico
visitou o
Triângulo pela
primeira vez,
Delacir Ramos
ocupava a
presidência do
Centro Espírita
Francisco
Caixeta. Mais
tarde, Francisca
Martins assumiu,
também, este
posto. Antes,
porém, Chica fez
parte da
primeira
diretoria como
1ª Secretária da
então presidente
Dulcineia Ramos.
Notas:
1. O autor é
neto de Zequinha
Ramos, fundador
do Centro
Espírita
Francisco
Caixeta, 1951, e
filho de Delacir
Ramos.
2. Colaborou
neste artigo
Fábio Augusto
Martins, de
Araxá-MG,
sobrinho de
Francisca
Martins de
Oliveira.
Este artigo foi
publicado na
edição de
setembro/outubro
de 2011 da Folha
Espírita, de
Araxá-MG, a qual
mantém o
seguinte site na
internet é http://www.espiritacaixeta.org.br/index.htm.