MATHEUS A. TUNES
matheus.tunes@usp.br
São Paulo, SP
(Brasil)
Resposta ao
artigo:
Espiritismo não
é ciência
O presente
artigo é uma
carta-resposta a
um aluno de
pós-doutorado do
departamento de
Física
Matemática do
Instituto de
Física da
Universidade de
São Paulo, que
escreveu no mês
de outubro de
2011, para o
jornal acadêmico
“O Caos”, um
texto onde expõe
críticas vazias
e sem
fundamentação
e/ou escrutínio
científico
pertinente.
Resolvi escrever
este texto não
em virtude das
críticas do
doutor à
doutrina
espírita, pois
estas se
resolveriam
apenas com o
estudo dos
princípios
espíritas, uma
vez que as
prerrogativas
levantadas são
fruto de uma
clara ignorância
do acadêmico
para com as
bases do
Espiritismo,
conforme
qualquer leitor
iniciado na
doutrina poderá
observar. O
texto é
resultado de
minha indignação
para com uma
atitude
anticientífica
de um doutor
frente a novas
possibilidades
de pesquisas que
a doutrina
espírita fornece
a cientistas
versados nas
ciências
físicas, tal
como propiciou
há muito tempo
com sir William
Crookes, Camille
Flammarion,
entre tantos
outros.
*
Sobre o artigo
intitulado
Espiritismo não
é ciência de
autoria do Dr.
Sérgio Giardino,
publicado na
edição anterior
do jornal “O
Caos”, gostaria
de tecer alguns
comentários, sem
perder o caráter
imparcial e
pacífico das
discussões neste
jornal, que é
uma iniciativa
muito
interessante do
CEFISMA para
integração e
disseminação de
ideias do corpo
discente do IF.
Se o nobre
físico teórico,
embasado pelas
concepções
filosóficas de
Bachelard,
acredita mesmo
que a filosofia
é um sistema de
conhecimento
fechado e que a
ciência deve
verter sua
metodologia de
pesquisa apenas
“aos fatos
exteriores”,
então, há de
convir que, caso
seja esse o
estrito papel do
cientista,
caberá então ao
filósofo a
formulação mais
aprofundada dos
conceitos e
teorias baseados
nos dados
obtidos e
sabemos que isso
não é verdade.
O próprio
cientista,
portanto, atua
como filósofo no
sentido de
possuir igual
liberdade e
criatividade
para penetrar
profundamente no
âmago do
desenvolver de
suas teorias e
muitas vezes sem
recorrer ao
universo
exterior, sem
observar lógica
aparente (pelo
menos em um
primeiro
momento),
salientando a
existência de
uma linha tênue
que une a
metodologia de
trabalho nos
universos
filosófico e
físico.
Para embasar
bibliograficamente
essas ideias,
sugiro a leitura
do filósofo
Raymond Aron [1]
que procura
enfatizar uma
identidade da
filosofia com a
ciência,
definindo que “a
filosofia é um
trabalho
científico que,
inspirado ou
iluminado pela
psicologia e
pela teoria do
conhecimento,
conserva uma
orientação para
generalização”.
Diante disso,
convido-o a
refletir se este
não é o real
trabalho do
físico, o de
formular teorias
e buscar suas
generalizações,
analisando seus
domínios,
limites de
validade e
outras nuances
que são
características
para estas
generalizações,
e novamente
observamos os
pontos de
contato entre os
dois universos
supracitados.
Se ainda não
observar a
aproximação
existente no
sentido empírico
e metodológico,
veja que
Einstein
salienta [2]
“que a tarefa
suprema de um
físico é a
investigação
daquelas leis
sumamente
universais (...)
a partir das
quais se pode
obter uma imagem
do mundo através
da dedução pura,
mas não existe
caminho lógico
que conduza a
essas leis.
Somente se pode
alcançá-las
através da
intuição,
baseada em
alguma coisa
parecida com um
amor intelectual
aos objetos da
experiência”.
Será mesmo que a
Física deva
estar a todo
tempo submetida
à lógica
matemática
irrestrita e à
“dependência dos
fatos
exteriores”,
conforme
ressalta o Dr.
Sérgio em seu
artigo?
Ainda baseado na
argumentação
colocada sobre o
fato de a
ciência ser um
sistema aberto e
a filosofia um
sistema fechado,
convidamos
novamente o
amigo físico a
considerar a
teoria geral dos
sistemas,
iniciada em
meados de 1950
pelo biólogo
Ludwig von
Bertalanffy (e
por outros), que
afirma em seu
escopo que os
sistemas
fechados são
caracterizados
pela não
influência do
‘universo
exterior’ em seu
funcionamento e
da não
influência do
sistema no meio
(fechado nas
duas direções).
Uma simples
pergunta o porá
em reflexão: em
nenhum momento a
Física
influenciou os
trabalhos da
filosofia e
vice-versa?
Se o nobre
doutor se
dedicasse a
estudar as bases
da doutrina
espírita,
saberia em
primeiro lugar,
que o livro
básico do
Espiritismo
chama-se O
Livro dos
Espíritos e
verificaria que
a chamada
doutrina
espírita foi
organizada por
Hyppolite Léon
Denizard Rivail
(cujo pseudônimo
era Allan
Kardec), que
apenas compilou
as informações
que resultaram
de pesquisas
realizadas com o
método
científico da
época em
comunicações
espíritas
através de
médiuns de
efeitos físicos.
Gostaria de
ainda salientar
que o
Espiritismo
muito se
distancia de
doutrinas
religiosas que
na idade média,
conforme o Dr.
Sérgio diz em
seu artigo,
“decidiam
questões desse
tipo
[científicas]”:
por mais que
tente, não vai
encontrar na
história do
Espiritismo
atuações dessa
natureza.
Além do mais,
quem estudar
filosofia
espírita irá
verificar que
Ramatis não é
aceito pela
comunidade
espírita porque
suas pretensas
revelações não
passam pelos
crivos da
racionalidade e
da
universalidade
dos ensinos dos
Espíritos.
Saberia também
que o critério
de verdade no
Espiritismo não
é a revelação e
sim a
racionalidade.
No devido tempo,
aquilo que for
demonstrado pela
observação e
pela ciência em
sua construção,
desde que não
sejam teorias
científicas, mas
verdades
práticas,
abandonando o
terreno
estritamente
teórico
–
assim como bem
diz o ilustre
doutor,
“basear-se em
fatos exteriores
comprovados por
experimentações
variadas e
feitas por
experimentadores
diversos”
–,
para isso diz
textualmente
Allan Kardec
[3]:
“caminhando de
par com o
progresso, o
Espiritismo
jamais será
ultrapassado. Se
novas
descobertas lhe
demonstrassem
estar em erro
acerca de um
ponto qualquer,
ele se
modificaria
nesse ponto. Se
uma verdade nova
se revelar, ele
a aceitará".
Ainda enfatiza
que o
Espiritismo
“assimilará
sempre todas as
doutrinas
progressivas
(...) sem o que
ele se
suicidaria”.
Isso é um
sistema
filosófico-científico
aberto ou
fechado?
Para quem se
interessar pelo
estudo do
aspecto
filosófico do
Espiritismo,
recomendamos as
obras do
filósofo José
Herculano Pires
(formado pela
Faculdade de
Filosofia da USP
e pós-graduado
pela mesma) que,
atuando em sua
área, escreveu
dezenas de
compêndios
acerca da
atuação e da
conceitualização
teórico-filosófica
do Espiritismo.
Aliás, se
tratarmos de
autoridades
científicas,
gostaria de
indagar-lhe se
conhece os
trabalhos do
físico e químico
inglês, sir
William Crookes
(o mesmo das
ampolas que
levam o seu nome
e que foram tão
úteis para os
estudos com
gases e vácuo no
início do século
XX), na seara da
investigação dos
fenômenos de
materialização
espiritual,
publicando
inclusive um
livro intitulado
Recherches
sur les
phenomenes du
spiritualisme
[4], onde relata
e documenta com
rigor científico
os fenômenos
observados nas
sessões
espíritas que
frequentava em
Londres e por
toda a Europa.
Outros
cientistas como
Aksakof,
Lombroso, Doyle
e, no campo da
Física, Robert
Hare (além de
Crookes), se
dedicaram a
estudar os
fenômenos
espíritas,
concluindo pela
veracidade da
hipótese
espírita.
Será que ao
afirmar que o
Espiritismo não
tenha pelo menos
um aspecto
científico não é
desconsiderar o
trabalho sério
de inúmeros
cientistas e
pesquisadores
que se propõem
imparcialmente a
investigar esses
fenômenos, e
tantos outros,
inclusive na
USP, que
participam de
atividades de
pesquisa nessa
área? Será que,
se o estudo
desses fenômenos
não tivesse
lançado pelo
menos as bases
de uma ciência
revolucionária
que destrói
pelas suas
assertivas a
filosofia
materialista,
não deveriam
aqueles que não
aceitam a
hipótese
espírita,
instigados pela
curiosidade e
pelo desejo de
refutar uma
hipótese,
planejar
pesquisas para
refutar ou
confirmar tais
fenômenos?
Os fatos
espíritas são
realmente
negáveis, como
bem diz o
ilustre
articulista:
“não tentei
negar aqui os
fatos usados
pelo
Espiritismo,
pois fatos não
podem ser
negados por
argumentos, mas
mostrar que suas
explicações não
são válidas”.
Porém, dizer
baseado em
argumentos
pessoais
–
que chama
“provas
factuais”
–
que as
explicações
espíritas não
são válidas é
uma atitude não
científica e é
contra isso que
devemos lutar na
Universidade.
Para encerrar,
apenas
recomendaria:
como graduando,
aspirante à
pesquisa, que
estudasse melhor
a questão sobre
a teoria da
evolução contida
em O Livro
dos Espíritos
e cotejasse com
as teorias
modernas e
revolucionárias
de Humberto
Maturana, doutor
em Biologia, e
com as teorias
sobre a
inteligência das
células,
contidas no
livro “A
Biologia da
Crença”, do phD
Bruce Lipton,
pois as
colocações que
faz o
Espiritismo
estão
absolutamente de
acordo com essas
novas teorias
que tratam da
evolução, na
visão sistêmica.
Referências:
[1] ARON, R.
La Philosophie
Critique de
l’Historie.
Libraire
Philosophique J.
Vrin (1969);
[2] EINSTEIN, A.
em citação no
livro de SMITH,
C. M. The
problem of life.
An essay in the
origins of
biological
though.
Macmillan Press
(1976);
[3] KARDEC, A.
A Gênese.
Capítulo 01,
item 55. Editora
Federação
Espírita
Brasileira
(1967);
[4] CROOKES,
William.
Recherches sur
les phenomenes
du spiritualisme.
Paris: Ed. de la
B.P.S. (1923);
Matheus A. Tunes
é aluno do curso
de bacharelado
em Física, na
USP, em São
Paulo-SP.