Tornar-se um missionário não
é nada fácil. Convém
recordar que mesmo Allan
Kardec, após receber dos
Espíritos benfeitores a
informação de que o trabalho
que começava era o início de
uma missão, ao consultar o
Espírito Verdade, ouve dele
a seguinte admoestação:
Missão diz respeito a algo
realizado e, ao que nos
consta, você nada fez ainda.
(Veja Obras Póstumas.)
Hoje, olhamos para trás e
podemos afirmar que Chico
foi um verdadeiro
missionário por tudo que
realizou. Viveu o
Espiritismo sob a luz do
mais puro evangelho de
Jesus. Entendeu a verdade e
se fez instrumento da vida
eterna. Calou seus desejos
mais íntimos para
submeter-se, fielmente, como
trabalhador do Cristo, à luz
do Consolador prometido.
Para isso, teve que aceitar
diversos obstáculos que lhe
surgiriam desde sua mais
tenra infância: a perda da
mãezinha, aos cinco anos; a
chacota na escola, e, até
mesmo, nascer como um
mineiro muito humilde, sem
quaisquer recursos
financeiros. Não pôde
constituir família; teve
problemas sérios de saúde
(cegueira, angina péctoris,
etc.) que o acompanharam por
toda a vida.
A história reservada para a
coluna desta semana bem
retratará o que estamos
dizendo.
Quem a conta é Ramiro Gama,
no seu livro “Lindos Casos
de Chico Xavier”, editado
pela LAKE – Livraria Allan
Kardec Editora, de São
Paulo.
Ouçamos o autor:
“Em 1931, quando Chico
passou a receber as
primeiras poesias do
Parnaso de Além-Túmulo,
um cavalheiro de Pedro
Leopoldo, muito
impressionado com os versos,
resolveu apresentar o médium
e os poemas a certo escritor
mineiro, de passagem pela
cidade.
O filho de João Cândido
vestiu a melhor roupa que
possuía e, com a pasta de
mensagens debaixo do braço,
foi ao encontro marcado.
O conterrâneo do médium,
embora católico romano,
apresentou o Chico,
entusiasmado:
- Este é o médium de quem
lhe falei.
O escritor cumprimentou o
rapaz e entregou-se à
leitura dos versos.
Sonetos de Augusto dos
Anjos, poemetos de Casimiro
Cunha, quadras de João de
Deus...
Depois de rápida leitura, o
literato sentenciou:
- Isso tudo é bobagem.
E mirando o Chico, rematou:
- Este rapaz é uma besta.
- Mas, doutor, - disse,
agastado, o conterrâneo do
Chico – o rapaz tem
convicções e abraça o
Espiritismo como Doutrina.
- Pois, então, deve ser uma
besta espírita, - declarou o
escritor.
Bastante desapontado, o
médium despediu-se.
Em casa, durante a oração, a
progenitora apareceu.
- A senhora viu como fui
insultado? perguntou Chico.
E porque Dona Maria se
revelasse alheia ao assunto,
o filho contou-lhe o caso.
A entidade sorriu e disse:
- Não vejo insulto algum.
Creio até que você foi muito
honrado. Uma besta é um
animal de trabalho...
- Mas o homem me apelidou de
“besta espírita”.
- Isso não tem importância,
- exclamou a mãezinha,
desencarnada – imagine-se
como sendo uma besta em
serviço do Espiritismo. Se a
besta não dá coices,
converte-se num elemento
valioso e útil.
Porque o filho silenciasse,
Dona Maria acrescentou:
- Você não acha que é bem
assim?
Chico refletiu e respondeu:
- É... Pensando bem, é isso
mesmo.
E o assunto ficou sem
alteração.”