ALTAMIRANDO
CARNEIRO
alta_carneiro@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
Os números na
Natureza
Até que ponto os
números influem
no destino das
pessoas, é algo
interessante a
ser analisado,
segundo a
Doutrina
Espírita. Quanto
à Natureza,
sabemos que
tudo, desde o
ser mais
infinitamente
pequeno ao mais
extraordinariamente
grande, é regido
pelo número.
Camille
Flammarion, na
obra Deus
na Natureza, destaca
pontos
importantes a
respeito desse
fato.
Vejamos: 1) Cada
molécula é um
modelo de
simetria e
representa um
tipo geométrico;
2) Todas as
combinações
obedecem a
regras
geométricas; 3)
Para exilar da
Natureza o
espírito,
particularmente
o espírito
geométrico, é
preciso recusar
à evidência o
papel
representado
pelo número e
obstinar-se a
não ouvir a
harmonia
profundamente
espalhada nas
obras criadas.
E se assim é com
a Natureza, não
poderia ser
também com os
humanos? É uma
pergunta que
lançamos aos
estudiosos.
Recorrendo mais
uma vez a
Flammarion,
destacamos este
belo trecho do
livro Deus
na Natureza:
“A Harmonia não
é tão-somente a
fraseologia
musical escrita
em partituras e
executada por
instrumentos
humanos; não
consiste apenas
nessas
obras-primas a
justo título
admiradas e
afloradas nos
belos dias de
inspiração dos
cérebros dos
Mozart e dos
Beethoven. A
harmonia enche o
Universo com os
seus acordes.
Assim como os
sons derivam do
número de
vibrações
sonoras, as
cores derivam
das vibrações
luminosas. O
colorido de uma
paisagem vale
por uma espécie
de música. A
verdura dos
prados é formada
pelo número,
qual o tema de
uma melodia; a
rosa que se
desbotou é o
centro de uma
esfera de
vibrações
luminosas,
constituindo o
matiz aparente,
e o rouxinol,
que trina em
carícias,
projeta no ar as
vibrações
sonoras
características
do seu tônus.
Todo movimento é
número e todo
número é
harmonia.
Sons e cores
estendem-se
abaixo e acima
dos limites de
nossa
organização,
igualmente
subordinados a
regras
numéricas. Há
sons que o
ouvido humano
não pode captar,
assim como há
cores que nos
escapam à
retina. O vento
que suspira
entre os cedros
e pinheiros; o
lamento das
vagas na praia
arenosa; o
zumbido do
inseto no âmbito
dos bosques;
todos os
indefiníveis
sons que animam
a Natureza são
vibrações
sonoras,
pertinentes ao
reinado do
número.
A planta
integral encerra
mais certos
corpos
determinados por
sua natureza: o
trigo contém o
glúten azotado;
a videira, cal;
a batata,
potassa; o chá,
magnésio; o
tabaco, salitre,
etc.. A cada
planta convêm
uns tantos
elementos
minerais e a
própria planta é
que os sabe
escolher.”
Na Revista Espírita
de julho de
1868, Allan
Kardec dá o seu
parecer a
respeito do
assunto, no
capítulo
intitulado “A
Ciência da
concordância dos
números e a
fatalidade”. Diz
o Codificador
que, embora
tenha visto
alguns casos
singulares de
concordância
entre as datas
de certos
acontecimentos,
isto se deu em
pequeno número,
para tirar uma
conclusão, mesmo
aproximada.
Acrescenta,
porém, que, por
não se ver razão
para determinada
coisa, não é
motivo para
dizer que ela
não exista.
Explica Allan
Kardec que há
fatos sobre os
quais tem uma
opinião pessoal,
mas que, neste
caso, não tem
nenhuma.
Contudo, se
existir uma Lei
que regule a
concordância dos
acontecimentos,
um dia ela será
conhecida, pois
o Espiritismo,
que assimila
todas as
verdades, não
irá repelir mais
esta. Tendo sido
exposta a
questão aos
Espíritos, estes
disseram haver,
no conjunto dos
fenômenos
morais, como nos
fenômenos
físicos,
relações
baseadas em
números.
Dizem os
Espíritos que a
Lei da
Concordância das
datas não é uma
quimera. É,
porém, uma das
coisas que serão
reveladas mais
tarde e nos
darão a chave de
muitos fatos que
parecem
anomalias. Em
vista disto,
Kardec levanta
uma questão: se
os
acontecimentos
que decidem a
sorte da
Humanidade, de
uma nação, de
uma tribo, têm
vencimentos
regulados por
uma lei
numérica, não é
a consagração de
uma fatalidade,
como fica,
então, o
livre-arbítrio
do homem?
O próprio Kardec
responde que
isto não
entrava, de
maneira alguma,
o livre-arbítrio
humano, pois
todas as leis
que regem o
conjunto dos
fenômenos da
Natureza têm
consequências
fatais,
inevitáveis,
fatalidade esta
indispensável à
manutenção da
harmonia
universal. E
explica que o
homem que sofre
estas
consequências
está submetido à
fatalidade, em
tudo quanto não
depende de sua
livre
iniciativa.
Assim, por
exemplo, diz
Allan Kardec: o
homem deve
morrer
fatalmente. Mas
se,
voluntariamente,
apressa a sua
morte, pelo
suicídio ou
pelos excessos,
age em virtude
de seu
livre-arbítrio.
Deve-se comer
para viver: é a
fatalidade; mas,
se comer além do
necessário,
pratica um ato
de sua livre
vontade; numa
cela, o
prisioneiro é
livre para
mover-se à
vontade, no
espaço que lhe é
concedido. Mas
as paredes, que
ele não pode
transpor,
restringem-lhe a
liberdade; a
disciplina é
para o soldado
uma fatalidade.
Mas ele não é
livre em suas
ações pessoais.
Enfim, conclui
Kardec, tendo o
homem o
livre-arbítrio,
em nada entra a
fatalidade em
suas ações
individuais;
quanto aos
acontecimentos
da vida privada,
que muitas vezes
parecem
atingi-lo
fatalmente, têm
duas fontes bem
distintas: uns
são a
consequência
direta de sua
conduta na
existência
presente; ele
não pode
queixar-se senão
de si mesmo e
não da
fatalidade, ou,
como se diz, de
sua má estrela.
Os outros são
inteiramente
independentes da
vida presente e
perecem, por
isto mesmo,
devidos a uma
certa
fatalidade.