A. Dentro da ciência
existe alguma
explicação plausível
da alucinação?
Não. Os sábios não
deram, até agora,
uma explicação
plausível, sob o
ponto de vista
fisiológico, da
alucinação, e,
embora tenham
sondado todas as
profundezas da ótica
e da fisiologia, não
puderam explicar,
ainda, a fonte das
imagens que se
apresentam ao
espírito em certas
circunstâncias.
(O Espiritismo
perante a ciência,
Quinta Parte, Cap.
III – Médiuns
videntes e médiuns
auditivos.)
B. Como saber se uma
aparição não é, em
verdade, uma
alucinação?
A alucinação não
apresenta nenhum
caráter de
positividade, ao
passo que, na
mediunidade vidente,
o indivíduo dotado
dessa faculdade pode
descrever suas
visões, de forma a
fazê-las reconhecer
pelas pessoas
presentes. Um médium
que só visse
desconhecidos, que
não pudesse dar
provas de que
descreve seres que
viveram na Terra,
passaria, com razão,
aos olhos dos
espiritistas, por um
alucinado.
(Obra citada, Quinta
Parte, Cap. III –
Médiuns videntes e
médiuns auditivos.)
C. Existe algum
outro requisito
importante para se
admitir a veracidade
de uma aparição?
Sim. Dá-se com as
aparições o mesmo
que com os outros
fenômenos espíritas,
onde o caráter
inteligente é a
prova de sua
veracidade. A
aparição que não
apresentar um sinal
inteligente e não
for reconhecida pode
ser posta, portanto,
no rol das ilusões.
(Obra citada, Quinta
Parte, Cap. III –
Médiuns videntes e
médiuns auditivos.)
Texto para leitura
840. A Ciência se
tem ocupado com a
alucinação. Lelut e
Brièri de Boismont
publicaram livros
interessantes, mas
que não explicam
absolutamente o
fenômeno. Eles
acreditam que todas
as ideias, mesmo as
mais abstratas, se
ligam sempre, por
qualquer lado, aos
sentidos, mas que a
faculdade de
perceber um objeto
ou uma paisagem não
é a mesma para todos
os homens. Um pintor
vê uma vez certa
pessoa e conserva
sua imagem durante
muito tempo na
memória. Um
musicista ouvirá,
interiormente,
trechos complicados
de música. Essa
representação
interior parece dar
um passo fora da
ilusão, e tal é a
que nos faz ler
palavras de modo
diverso das que
estão escritas, a
que nos mostra o que
não existe, ou não
nos faz ver o que
há, alterando tudo
de mil maneiras.
Esse estado de
espírito pode ser
determinado por
causas diversas como
a solidão, o
silêncio, a
obscuridade. Em
suma, a ilusão
transforma alguma
coisa de real,
enquanto a
alucinação pinta no
vazio; as coisas que
se veem não existem,
os sons que se ouvem
não têm realidade.
Algumas vezes, a
alucinação não é
reconhecida, porém
não perturba a
razão, não passa,
por assim dizer, da
razão excitada.
“Crê-se que foi este
o caso de Sócrates,
de Joana d'Arc, de
Lutero, de Pascal.”
Segundo Lelut, esses
grandes gênios
seriam uma categoria
de maníacos e as
vozes de Joana, a
Lorena, puras
alucinações. Não
sabemos se será
verdade, mas se
Lelut pudesse ser o
joguete de uma
loucura, que o
fizesse, de repente,
assemelhar-se a
Sócrates, nós o
felicitaríamos, e
assim ficariam
livres os nossos
ouvidos de tais
frioleiras.
841. Os sábios não
deram, pois, até
agora, uma
explicação
plausível, sob o
ponto de vista
fisiológico, da
alucinação.
Entretanto, parecem
ter sondado todas as
profundezas da ótica
e da fisiologia.
Como é, então, que
não puderam
explicar, ainda, a
fonte das imagens,
que se apresentam ao
espírito em certas
circunstâncias?
842. Real ou não, o
alucinado vê alguma
coisa; dir-se-á que
acredita ver, mas
que nada vê. Não é
provável. Pode-se
dizer que é uma
imagem fantástica,
seja; mas qual é a
origem dessa imagem,
como se forma, como
se reflete no
cérebro? Eis o que
não nos dizem.
843. Certamente,
quando o alucinado
crê ver o diabo com
seus cornos e suas
garras, as chamas do
inferno, animais
fabulosos, o Sol e a
Lua que se batem, é
evidente que não
existe nenhuma
realidade; mas, se
se trata de um fruto
da imaginação, por
que descrevem essas
coisas como se
fossem presentes?
Há, pois, diante
dele um quadro, uma
fantasmagoria
qualquer; em que
espelho, então, se
pinta essa imagem?
qual a causa que dá
a essa imagem a
forma, a cor, o
movimento?
844. Já que os
sábios querem
explicar tudo pelas
propriedades da
matéria, que
apresentem uma
teoria da
alucinação, boa ou
má; seria sempre uma
explicação, mas não
o podem fazer,
porque, negando a
alma, privam-se da
causa eficiente do
fenômeno.
845. Os fatos que
observamos,
diariamente,
demonstram que há
verdadeiras
aparições e o dever
do espiritista
esclarecido é
distinguir entre os
fenômenos devidos às
manifestações dos
Espíritos e os que
têm por causa os
órgãos enfermos do
indivíduo.
846. Em suma, a
alucinação não
apresenta nenhum
caráter de
positividade, ao
passo que, para
admitir-se a
mediunidade vidente,
é preciso que o
indivíduo dotado
dessa faculdade
possa descrever suas
visões, de forma a
fazê-las reconhecer
pelas pessoas
presentes. Um médium
que só visse
desconhecidos, que
não pudesse dar
provas de que
descreve seres que
viveram na Terra,
passaria, com razão,
aos olhos dos
espiritistas, por um
alucinado.
847. No estado
normal do organismo
humano, as
impressões
produzidas pelos
sentidos
armazenam-se no
cérebro, graças à
propriedade de
localização das
células cerebrais.
As diversas
aquisições
classificam-se
segundo o gênero de
ideias a que
pertencem; são
materiais de que o
Espírito se serve
quando deles tem
necessidade.
848. A alma de um
homem sadio tem ação
preponderante e
diretora sobre todos
os elementos
submetidos a seu
império; mas se, por
uma circunstância
qualquer, a harmonia
entre o corpo e a
alma se torna menos
perfeita, a desordem
se introduz na
organização cerebral
e umas tantas
ideias, formas ou
odores têm tendência
a predominar sobre
as outras; são, em
geral, as impressões
que fortemente agem
no indivíduo, as que
o abalam, produzindo
os fenômenos de
alucinação, prólogo
da loucura, na maior
parte dos casos.
849. Diferente é o
fenômeno espírita,
em que o médium vê
um objeto, uma
pessoa real. O
Espírito visto pode
ser descrito
minuciosamente; e só
quando a visão é
reconhecida como
sendo a descrição
exata de pessoa
morta, estranha ao
médium, é que
admitimos a
intervenção
espiritual.
850. As verdadeiras
aparições têm um
caráter que, a um
observador
experimentado, não é
possível confundir
com um jogo de
imaginação. Como
sucedem em pleno
dia, devemos
desconfiar daquelas
que julgamos ver à
noite, para que não
sejamos vítimas de
uma ilusão de ótica.
Dá-se, aliás, com as
aparições o mesmo
que com os outros
fenômenos espíritas,
onde o caráter
inteligente é a
prova de sua
veracidade.
851. A aparição que
não apresentar um
sinal inteligente e
não for reconhecida
pode ser posta,
ousadamente, no rol
das ilusões. Como se
vê, somos muito
circunspectos na
apreciação desses
fenômenos, e
queremos, antes de
tudo, acentuar que
os espiritistas,
longe de aceitar as
divagações dos
cérebros doentios,
são minuciosos
observadores dos
fatos, e
positivistas, na
plena acepção do
termo.
852. Como dissemos,
a mediunidade
vidente pode
exercer-se de duas
maneiras: ou pelo
desprendimento, ou
pelos órgãos do
corpo. Para dar um
exemplo de cada
gênero, vamos narrar
os dois seguintes
fatos, colhidos na
Revue Spirite de
1861:
“Um de nossos
colegas – diz Allan
Kardec – contava-nos
ultimamente que um
oficial seu amigo
estava na África,
quando viu,
inopinadamente, o
quadro de um cortejo
fúnebre. Era o de um
de seus tios, que
habitava em França,
e que ele não via há
muito tempo. Notou,
distintamente, toda
a cerimônia, desde a
partida da casa
mortuária, até a
igreja e ao
transporte ao
cemitério. Chegou a
reparar diversas
particularidades de
que não podia ter
ideia. Estava
acordado, no
momento, mas em
certo estado de
prostração, de que
só saiu quando tudo
desapareceu.
Impressionado,
escreveu para
França, pedindo
novas de seu tio, e
soube que este tinha
morrido,
subitamente, e havia
sido enterrado na
hora e no dia em que
se deu a aparição,
com as
particularidades que
ele tinha visto.”
É evidente aqui que
foi a alma do
oficial que se
desprendeu; tendo o
fato se passado na
França, no dia e
hora em que o
oficial o via na
África, era preciso
que sua alma
irradiasse à
distância, para
notar o que se
passava ao longe.
853. Vamos à segunda
história:
“Um médico de nosso
conhecimento, Felix
Malo, tratara uma
jovem; percebendo,
porém, que os ares
de Paris lhe eram
prejudiciais,
aconselhou-a a
passar algum tempo
com sua família, na
província, o que ela
fez. Havia seis
meses que ele nada
sabia a seu
respeito, nem nela
pensava mais, quando
uma noite, lá pelas
dez horas, estava no
seu quarto de dormir
e ouviu bater à
porta do gabinete de
consulta. Supondo
que alguém o vinha
chamar para um
doente, mandou que
entrasse, mas ficou
muito surpreendido
por ver diante de si
a moça em questão,
pálida, com as
vestes que lhe eram
conhecidas,
dizendo-lhe com
grande sangue-frio:
– Senhor Malo, venho
dizer-lhe que estou
morta –, e
desapareceu.
O médico
assegurou-se de que
estava bem acordado
e que não havia
entrado ninguém;
tomou informações e
soube que aquela
moça falecera na
noite em que lhe
havia aparecido.”
Neste caso, foi o
Espírito da moça que
veio procurar o
médico. Os
incrédulos não
deixarão de dizer
que o doutor podia
estar preocupado com
a saúde de sua
antiga doente e que
não seria de admirar
que lhe previsse a
morte. Seja, mas
como explicariam a
coincidência de sua
aparição com o
momento da morte,
quando havia muitos
meses que o médico
não ouvia falar em
seu nome? Supondo,
mesmo, que ele
soubesse da
impossibilidade de
cura, como poderia
prever que ela
morreria em tal dia
e em tal hora? O
doutor viu com os
olhos do corpo; a
aparição era
sensível, desde que
ela bateu à porta do
gabinete. É este
caso de visão que
vamos considerar
agora.
854. Vejamos a vista
medianímica pelos
olhos da pessoa.
Quando um médium vê
um Espírito,
pode-se, a priori,
estabelecer a
seguinte questão: é
o médium que
experimenta uma
modificação ou o
Espírito? Com
efeito, no estado
ordinário, não vemos
os Espíritos, porque
nossos órgãos são
muito grosseiros
para nos fazer
perceber certas
vibrações que lhes
escapam. Mas quando
se realiza a visão,
ou nossos órgãos
adquiriram maior
sensibilidade ou o
Espírito fez com que
seu invólucro
experimentasse
certas modificações
que, diminuindo a
rapidez das
vibrações
moleculares
perispirituais,
pudesse torná-lo
visível. Se este
último modo de
encarar o fenômeno
fosse exato, o
Espírito seria visto
por todas as pessoas
presentes: é o que
se dá, no caso das
materializações, que
já estudamos com
Crookes; mas, quando
numa assembleia, só
uma pessoa vê os
Espíritos, é que
esta experimenta uma
variação orgânica do
sentido da vista,
que é interessante
estudar.
855. O olho, como se
sabe, é uma
verdadeira câmara
escura, no fundo da
qual se desenham as
impressões
luminosas. A retina,
formada pela
expansão do nervo
ótico, transporta ao
cérebro as vibrações
luminosas; aí elas
se transformam em
sensações. Os
fisiologistas não se
limitaram a estudar
a participação da
retina na função
visual, remontando
dos efeitos às
causas, mas
procuraram a
explicação desses
fatos.
856. Para explicar a
sensação da cor, a
do claro, a do
escuro, eles
admitiram
velocidades
diferentes nas ondas
de um fluido (éter),
que estivesse
espalhado em todo o
Universo. Essas
ondas
impressionariam a
retina, de maneira
diferente, e a
natureza da
percepção, de que a
alma tem
consciência, seria
subordinada a essas
impressões
variáveis. Por esta
teoria, admite-se
que os fenômenos de
visão sejam,
simplesmente, o
resultado da
percepção, pelo
sensorium, de um
estado determinado
da retina, e a
sensação da
obscuridade é
explicada pela
ausência de qualquer
sensação, e pelo
estado da própria
retina.
857. Admitidas as
sensações de luz
como o resultado de
uma alteração
sobrevinda na
retina, indagaram
alguns fisiologistas
onde esse estado era
percebido pela alma.
É evidentemente no
encéfalo e não na
retina. O que põe
fora de dúvida a
participação da
retina no ato da
visão é que os
animais de vista
mais penetrante são
os que têm a retina
mais desenvolvida.
Sendo esta membrana
a extremidade
expandida do nervo
ótico, e não
apresentando uma
sensibilidade igual
em toda a sua
superfície, as
fibras que compõem o
nervo ótico não
vibram todas em
uníssono. As mais
sensíveis poderão
ser impressionadas
por ondas luminosas,
que deixarão as
outras em repouso.
Tal fato é a
consequência da
especificação dos
órgãos, ou seja da
tendência que
possuem as fibras
para se acomodarem a
um estado vibratório
determinado.
858. Não esqueçamos
que uma condição é
indispensável ao bom
funcionamento dos
aparelhos
sensoriais, a de que
cada órgão tenha uma
quantidade
determinada de
fluido nervoso à sua
disposição; as
sensações serão
agudas ou nulas,
conforme aquela
quantidade aumenta
ou diminui. Temos
numerosos exemplos.
Em certos estados
patológicos o ouvido
atinge uma agudeza
notável; esse
desenvolvimento é
devido à acumulação
momentânea do fluido
nervoso no nervo
acústico; o mesmo
acontece com os
outros sentidos.
859. Isto posto,
vejamos, pelo estudo
da luz, entre que
limites de vibrações
se pode exercer, no
estado normal, o
sentido da vista.
(Continua no próximo
número.)