Grilhões Partidos
Manoel Philomeno de
Miranda
(Parte
19)
Continuamos a apresentar
o
estudo do livro
Grilhões Partidos,
de Manoel Philomeno de
Miranda, obra
psicografada por Divaldo
P. Franco e publicada
inicialmente no ano de
1974.
Questões preliminares
A. Que consequências
podem resultar das
impressões do ódio
quando sufocadas, em vez
de diluídas no amor?
Segundo dr. Bezerra de
Menezes, os assuntos
perniciosos sepultados
sem a elucidação que os
anula, ressurgem, quando
menos se espera, em
forma de ansiedade,
frustração, receio ou
insegurança. "As
impressões do ódio,
quando sufocadas, por
falta de oportunidade de
serem diluídas no amor,
geram enfermidades que
afetam o corpo e a
mente", aditou o
Benfeitor.
(Grilhões Partidos, cap.
22, pp. 209 a 211.)
B. Qual era o estado de
Ester quando se deu seu
reencontro com os pais?
Cambaleante, exaurida e
revelando na face o
longo cativeiro e o
abandono que sofria,
Ester parecia um
escombro humano, alguém
que saíra de um campo de
extermínio, não de um
Hospital. Logo que os
pais a abraçaram, Ester
foi acometida de uma
vertigem, decorrente da
debilidade e da emoção
do encontro. Logo
depois, recobrou
parcialmente a lucidez e
foi levada à Casa de
Jacarepaguá, mas, sem
recobrar totalmente a
razão, balbuciava
palavras ininteligíveis,
desconexas, entremeadas
de soluços e suspiros
entrecortados.
(Obra citada, cap. 23,
pp. 213 a 216.)
C. Como se chamava a mãe
do soldado Matias e como
se deu seu primeiro
encontro com o Coronel
Santamaria?
Ela, que contava então
pouco mais de 50 anos,
chamava-se Abigail. O
encontro foi amistoso e
ela a tudo ouviu,
paciente. Ao fim da
conversa, o Coronel e
ela encerraram o
encontro com uma prece
em favor de Matias e
deles mesmos.
(Obra citada, cap. 23,
pp. 216 a 220.)
Texto para leitura
112. A
finalidade da regressão
ao passado
- Joel, inspirado por
Bezerra de Menezes,
sugeriu que Ester fosse
transferida para outro
hospital em que pudesse
receber assistência
geral, ajudando-a no
restabelecimento da
saúde. Quando o Coronel
retornasse da viagem à
Bahia, ela poderia
voltar a seu lar
definitivamente. No novo
hospital, além de se
desintoxicar dos
fluidos deprimentes do
Sanatório em que estava,
quase sem medicação
própria, ela teria nova
convivência com sua mãe,
que poderia visitá-la
continuamente,
concorrendo assim para
sua pronta recuperação.
O encontro em casa dos
Santamarias terminou em
meio ao júbilo geral.
Quando eles se
dispersaram, Philomeno
indagou a Bezerra:
"Desde que os
participantes da
terapêutica do mergulho
no passado não iriam
guardar lembranças, por
que a presença deles?" O
Benfeitor Espiritual
explicou-lhe que nenhuma
experiência, mesmo as
não recordadas, se perde
em nosso cabedal de
aquisições pessoais. "O
importante, no caso, não
é recordar o erro, mas
dele libertar-se,
expulsando o débito
praticado dos painéis
da alma." Bezerra
esclareceu então que os
assuntos perniciosos
sepultados sem a
elucidação que os anula,
ressurgem, quando menos
se espera, em forma de
ansiedade, frustração,
receio ou insegurança.
"As impressões do ódio,
quando sufocadas, por
falta de oportunidade de
serem diluídas no amor,
geram enfermidades que
afetam o corpo e a
mente", aditou o
Benfeitor. Na verdade, o
que ocorreu naquela
noite foi uma
psicoterapia de grupo,
através da qual se
realizou uma catarse
verbal com que se
desarmaram as ciladas da
ira e se despiram as
personagens da vindita,
da traição e da sombra.
Fazendo com que os
litigantes se
recordassem das causas
anteriores que os
afligiam na atualidade,
foi-lhes propiciado o
ensejo de se
enfrentarem, uns diante
dos outros, sem ardis,
nem desculpismo vulgar.
"A recordação total, no
entanto, para alguns,
na esfera física, não
treinados para a vida
nos dois planos,
simultaneamente,
constituiria aflição e
distonia
desnecessárias. Daí, a
misericórdia do Senhor
facultando-lhes o
olvido", concluiu
Bezerra. (Cap. 22, pp.
209 a 211)
113. Ester sai do
Sanatório - O
capítulo traz no seu
introito uma lição
extraída do cap. XXVII,
item 6, d' O Evangelho
segundo o Espiritismo,
em que se lê que é
possível que Deus aceda
a certos pedidos, sem
perturbar a
imutabilidade das leis
que regem o conjunto,
subordinada sempre essa
anuência à sua vontade.
Preparava-se a remoção
de Ester para uma Casa
de Repouso
recém-inaugurada,
situada em Jacarepaguá,
no Rio de Janeiro, que
tinha à sua frente o Dr.
Armando Bittencourt,
verdadeiro sacerdote da
Medicina e
espiritualista abnegado
que acreditava na
reencarnação e conhecia
os fundamentos das
obsessões. O
diretor-clínico do
Sanatório, obviamente,
opôs-se à remoção da
enferma, mas o Dr.
Albuquerque (médico
pediatra e companheiro
da família no Centro
Espírita que todos
frequentavam) dispôs-se
a assumir as
responsabilidades do
caso, ao lado do pai de
Ester. O reencontro
desta com seus genitores
causou-lhes, contudo,
uma surpresa dolorosa. O
estado da filha
lacerou-os. Cambaleante,
exaurida e revelando na
face o longo cativeiro
e o abandono que sofria,
Ester parecia um
escombro humano, alguém
que saíra de um campo de
extermínio, não de um
Hospital. (Cap. 23, pp.
213 a 215)
114. O Coronel vai
a Salvador - Os
pais abraçaram-na, mas
Ester foi acometida de
uma vertigem, decorrente
da debilidade e da
emoção do encontro.
Logo depois, recobrou
parcialmente a lucidez e
foi levada à Casa de
Jacarepaguá. A jovem,
sem recobrar totalmente
a razão, balbuciava
palavras ininteligíveis,
desconexas, entremeadas
de soluços e suspiros
entrecortados... O Dr.
Bittencourt determinou
que nos primeiros dias
fossem evitadas maiores
emoções, sugerindo a
técnica sonoterápica
por um breve tempo, de
modo a ajudar o
organismo seviciado pela
demorada conjuntura. Sua
mãe poderia estar a seu
lado. A expectativa da
recuperação era
promissora, porquanto,
amenizado o fator
cármico nos destinos da
família, que estava
vivamente interessada em
recobrar a serenidade,
os meios eficazes para a
obtenção e preservação
da saúde se faziam
evidentes. Enquanto
isso, o Coronel
Santamaria se dirigia à
cidade de Salvador,
onde, com a ajuda de
colegas de armas, logrou
reunir informações que
o permitiram encontrar
em afastado bairro
daquela cidade a casa da
mãe de Matias. Era uma
choupana pobre guindada
em ladeira íngreme, mas
a senhora Abigail ali
não se encontrava, só
devendo retornar a
casa, segundo
informações dos
vizinhos, à noite. (Cap.
23, pp. 215 e 216)
115. O Coronel
encontra a mãe de Matias
- Mais tarde, o Coronel
regressou à casa da mãe
de Matias. Eram vinte
horas, e a senhora o
aguardava, curiosa. Com
pouco mais de 50 anos,
cabeça quase branca,
pele enrugada, D.
Abigail revelava no
semblante profundos
sulcos de dor e de
desventura. O traje
humilde, assim como o
lar, apresentava
esmerado asseio. Ao
vê-la, o Coronel
lembrou-se do "baiano",
seu ordenança, e se
comoveu ao ver a penúria
em que por tantos anos
aquela mulher vivera...
No diálogo, ele explicou
ter conhecido Matias na
campanha da Itália.
Abigail, ao ouvir a
referência ao filho,
desatou a chorar.
Bezerra de Menezes, que
a tudo assistia,
socorreu-a com
providencial recurso
magnético,
diminuindo-lhe a aflição
e acalmando-a. O Coronel
pôde então relatar à
pobre mulher a razão de
sua estada ali,
historiando todos os
acontecimentos, sem
aludir, obviamente, ao
processo obsessivo que
Matias provocara em
Ester. Falou de sua
promessa ao filho e, por
fim, explicou-lhe que,
sendo espírita, estava
desejoso de reparar o
que considerava
imperdoável esquecimento
de sua parte. Contou
por que aderira ao
Espiritismo,
reportando-se à
enfermidade da filha e,
por fim, expôs que
Matias, comunicando-se
mediunicamente,
relatara os sofrimentos
dela e da irmã,
fazendo-o desse modo
recordar-se do
compromisso que não
tivera ocasião de
regularizar. D. Abigail
a tudo ouviu, paciente.
Aquela confissão selava
sagrada comunhão
espiritual, enfatizando
os deveres entre as
criaturas, todas irmãs,
conforme o ensino de
Jesus. Ele não lhe vinha
trazer moedas, comprar a
paz. Rogava-lhe apenas
ajuda, compreensão e
bondade, a fim de
socorrê-lo com a
caridade de
conceder-lhe a honra de
tê-la como irmã. (Cap.
23, pp. 216 a 219)
116. A
mãe de Matias se diz
espírita
- A mulher não
compreendia muito bem,
pelo cérebro, tudo o que
lhe era narrado.
Todavia, sentia-o pelo
coração, acabando, no
fim, por revelar ao
Coronel sua crença
também no Espiritismo.
Contou-lhe em seguida
que suas dores atingiram
o clímax quando a
filha, perturbada havia
quase quatro anos,
abandonara o lar e fora
homiziar-se em reduto de
degradação moral, onde a
abandonaram. Houve um
dia que supôs
enlouquecer. Ela
ajoelhou-se na via
pública e gritou por
Deus, desesperada,
recordando que, se o
filho não houvesse
desencarnado, talvez lhe
fossem evitados tantos
sofrimentos. Não pôde
precisar quanto tempo
durou a desesperação,
mas lembrava ter tido a
sensação de que o filho
acudira aos seus apelos,
sem que isso
significasse qualquer
luz em meio a tantas
trevas... Algum tempo
depois, procurou o
socorro de uma Casa
Espírita, onde vinha
adquirindo a esperança
e a paz. Ali fora
informada de que o filho
sofria no Além e
necessitava de suas
preces intercessórias e
das suas lembranças, sem
mágoas nem rancores...
Na mesma ocasião,
soubera pela filha que
esta o vira deformado,
aterrador, o que
sucedera outras vezes,
causando na moça um
horror indescritível.
Josefa, a filha, era
médium. O diálogo
chegara ao fim. O
Coronel pediu permissão
para conversar com
Josefa logo fosse
possível e ambos
encerraram o encontro
com uma prece em favor
de Matias e deles
mesmos. Com a oração a
choupana modesta
saturou-se de fluidos
superiores. (Cap. 23,
pp. 219 e 220)
(Continua no próximo
número.)