A. No caso da
vidência mediúnica,
o agente do fenômeno
é o médium ou o
Espírito que é
visto?
O agente é o
Espírito. Quando
este quer manifestar
sua presença a um
médium, entra em
relação fluídica com
o encarnado e,
estabelecida a
comunicação, acumula
pelo magnetismo
espiritual, no nervo
ótico, uma
quantidade de fluido
nervoso maior que de
ordinário; certas
fibras se
sensibilizam e
podem, desde logo,
entrar em vibração
correspondente à do
invólucro do
Espírito. A ação
parte, pois, do
Espírito e não do
médium.
(O Espiritismo
perante a ciência,
Quinta Parte, Cap.
III – Médiuns
videntes e médiuns
auditivos.)
B. No célebre
processo em que
Leymarie foi
condenado, em face
da má-fé do médium
Buguet, os juízes
agiram com
imparcialidade?
Não. Em verdade,
como escreveu Eugène
Nus, viu-se na
decisão judicial que
entraram no jogo o
preconceito e a
paixão religiosa,
pois – à vista dos
autos e das provas –
as pessoas
investidas na função
de julgar buscaram
atingir, com a
sentença, o próprio
Espiritismo, uma
doutrina que toca
tão de perto o clero
que não se pode
deixar de sentir sua
ação na penalidade
infligida ao Sr.
Leymarie.
(Obra citada, Quinta
Parte, Cap. III –
Médiuns videntes e
médiuns auditivos.)
C. Que observações
sobre o caso
Leymarie fez Delanne
na obra que estamos
estudando?
Além da parcialidade
dos juízes, Delanne
diz que o fato que
deu origem ao
processo ocorreu
porque os espíritas
daquela época se
haviam desviado da
rota traçada por
Kardec, que sempre
foi contrário à
retribuição dos
médiuns e
posicionou-se de
modo claro contra a
exploração da
mediunidade e os
chamados médiuns
interesseiros.
(Obra citada, Quinta
Parte, Cap. III –
Médiuns videntes e
médiuns auditivos.)
Texto para leitura
860. Suponhamos que
fazemos passar,
através de um
prisma, um raio de
sol; se recolhermos
sobre um écran esse
raio refratado,
notaremos que ele
forma uma faixa
luminosa, composta
de sete cores, que
se chamou de
espectro solar. Os
coloridos extremos
são o vermelho e o
violeta; além dessas
duas cores o olho
não percebe mais
sensações luminosas.
Entretanto,
colocando-se sais de
prata nessa parte
obscura, eles são
decompostos, o que
prova que, além do
violeta, existem
radiações
particulares que o
olho não é capaz de
apanhar, às quais o
termômetro é
insensível, mas cuja
atividade química é
poderosa. Além do
vermelho, existem
ondulações
caloríficas
invisíveis.
Chegamos, assim, a
esta conclusão
necessária, a de que
o espectro completo
formado pelas
radiações solares se
prolonga além do
violeta e do
vermelho, e que é só
a parte média do
espectro total que
nossos olhos podem
distinguir.
861. Existe, pois,
luz que não vemos,
há vibrações
luminosas
inapreciáveis à
vista, porque a
retina, que é o
aparelho receptor,
não pode registrar
as vibrações
luminosas muito
rápidas para ela. O
mesmo para com o
ouvido e com os
outros sentidos, de
sorte que o homem é
uma máquina animal
dotada de aparelhos
receptores, que
funcionam entre
fraquíssimos
limites, comparados
à infinidade da
natureza.
862. Essa ideia é
capital para a
compreensão dos
fenômenos espíritas.
Só percebemos a
matéria pela vista
quando suas
vibrações não
ultrapassam 790
trilhões por
segundo, mas, como
vimos, há ondulações
mais rápidas, que
nos escapam. Ora, os
fluidos
perispirituais são
matéria em estado de
rarefação extrema;
possuem um movimento
vibratório muito
rápido, de sorte
que, em estado
normal, nosso olho
não pode ver os
Espíritos. Mas, se
pudéssemos diminuir
o número das
vibrações
perispirituais, se
conseguíssemos
trazê-las aos
limites
compreendidos na
visão, veríamos os
Espíritos.
863. Esse resultado
pode ser atingido de
duas maneiras:
1º - diminuindo o
número das
ondulações
luminosas;
2º - aumentando o
poder visual dos
olhos.
864. É possível
diminuir o movimento
vibratório de um
raio de luz? Não
hesitamos em
afirmá-lo, porque
notáveis
experiências feitas
ultimamente vieram
tornar essa verdade
indubitável. Os
raios luminosos
ultravioleta, do
espectro, invisíveis
até então, tornam-se
visíveis quando são
projetados em uma
espécie particular
de vidro, contendo
um silicato de um
metal denominado
urânio. Esse vidro
tem a propriedade de
tornar visíveis os
raios que, sem ele,
não nos
impressionariam os
olhos. Se tomarmos
um pedaço desse
vidro e o
iluminarmos,
sucessivamente, à
luz elétrica, à de
uma vela, à de uma
lâmpada de gás, e se
o colocarmos no
campo de um espectro
prismático de luz
branca, vê-lo-emos
brilhar conforme a
cor da luz que lhe
cair em cima. Se o
iluminarmos com
raios ultravioleta,
notá-lo-emos com uma
cor misteriosa, que
revela a presença de
raios até agora
invisíveis aos olhos
mortais.
865. Examinemos o
caso em que a
potência do olho
pode ser aumentada;
essa operação terá
ainda, por fim,
fazer ver os
Espíritos. A alma,
dissemo-lo muitas
vezes, é uma
essência
indivisível,
imaterial e
intangível, que
constitui a
personalidade de
cada indivíduo; ela
é cercada de matéria
quintessenciada, que
lhe forma o
invólucro e pela
qual entra em
relação com a
natureza exterior.
Esse corpo fluídico,
em virtude de sua
rarefação, possui um
movimento molecular
mais rápido que o
dos gases e dos
vapores, que já são
invisíveis para nós.
Logo, também ele não
será visível, porque
os olhos não têm, no
estado normal, fibra
que possa vibrar
harmonicamente com
ele.
866. Se um Espírito,
porém, quer
manifestar sua
presença, entra em
relação fluídica com
o encarnado, assim
como vimos
precedentemente, e,
estabelecida a
comunicação, acumula
pelo magnetismo
espiritual, no nervo
ótico, uma
quantidade de fluido
nervoso maior que de
ordinário; certas
fibras se
sensibilizam e
podem, desde logo,
entrar em vibração
correspondente à do
invólucro do
Espírito. Desde que
se produz esse
fenômeno, o ser,
assim modificado, vê
o Espírito e o verá
enquanto a ação
continuar.
867. Pouco a pouco,
esta operação se vai
renovando, grande
número de vezes; as
fibras adquirem
maior aptidão
vibratória, as ondas
luminosas se
propagam no
organismo, seguindo
a linha a que
Hérbert Spencer deu
o nome de linha de
menor resistência,
de sorte que a onda
caminha, cada vez
com mais facilidade,
ao longo dessa linha
e, por fim, ela
mesma acaba por
tomar naturalmente
esse movimento
vibratório, desde
que a primeira
molécula é agitada.
O médium, na
realidade, tem um
sentido novo, devido
à extensão do
aparelho visual.
868. Quando o
Espírito se quer
tornar visível a
muitas pessoas, é
sempre obrigado a
tomar ao médium
fluido nervoso, mas
a modificação se
opera nele e não
mais nos olhos dos
assistentes. Vimos
que a simples
alteração no
movimento molecular
de um corpo pode
fazê-lo passar do
estado transparente
à opacidade. Da
mesma forma, um
vapor que se
condensa, isto é,
cujo movimento
vibratório diminui,
torna-se muito
rapidamente visível,
sob a forma de
nevoeiro; enfim, que
o vidro de urânio
permite ver os raios
do espectro, os
quais, sem ele,
seriam invisíveis.
869. O Espírito
pode, portanto, agir
de maneira análoga.
Esse fenômeno
pinta-nos fielmente
o que se passa no
caso da fotografia
dos Espíritos.
Estudemos esse novo
gênero de
manifestação.
870. A fotografia
espírita é um
fenômeno que
suscitou muitas
discussões e deu
lugar a um processo
célebre em 1875. Os
jornais, que se
apresentam, em
geral, como
adversários dos
fatos espíritas, não
deixam de aproveitar
a oportunidade de
ridicularizar nossa
doutrina e seus
defensores. A
despeito das
alegações de mais de
140 testemunhas, que
afirmaram, sob
palavra de honra,
haver reconhecido
personagens mortas
de sua família, e
obtido suas
fotografias,
aproveitaram a má-fé
do médium Buguet
para fazer acreditar
ao público que
nessas produções só
havia, de um lado,
velhacaria e, do
outro, credulidade
estúpida.
871. É incontestável
que Buguet abusou da
boa-fé das pessoas
que confiaram em sua
honestidade; os
manequins
encontrados em sua
casa o provam
suficientemente, mas
não é menos certo
que ele era médium,
de fato, quando
começou.
872. Quando se veem
pessoas sérias como
Royard, químico,
Tremeschini,
engenheiro, a
condessa de
Caithness, o conde
Pomar, o príncipe de
Wittgenstein, o
duque de
Leuchtemberg, o
conde de Bullet, o
coronel Devolluet,
O. Sullivan,
ministro dos Estados
Unidos, de Turck,
cônsul, jurarem que
reconheceram
Espíritos, por serem
a reprodução exata
da fisionomia de
seus parentes ou
amigos mortos, é
preciso ser cego
para duvidar da
realidade das
manifestações. Os
juízes, entretanto,
não hesitaram em
condenar Leymarie,
gerente da sociedade
espírita, a um ano
de prisão e 500
francos de multa,
porque esperavam
atingir nele o
Espiritismo,
doutrina que toca
tão de perto o clero
que não se pode
deixar de sentir sua
ação na penalidade
infligida àquele que
representava o
Espiritismo francês.
873. Sobre esse
assunto, pensamos
como Eugène Nus e
diremos com ele:
“Nesta espécie de
causas e em muitas
outras, desconfio do
Tribunal, tanto
quanto do acusado.
Se há neste mundo
intrigantes,
charlatães,
impostores, inimigos
da propriedade, da
Religião, da Ciência
e da família, há
também, nas cadeiras
com toga vermelha ou
preta, homens que,
com a melhor boa-fé
do mundo, prestam
serviços,
acreditando lavrar
sentenças. Estou
convencido de que na
França,
principalmente, e em
alguns países
civilizados, a
justiça está em
progresso
relativamente a
épocas anteriores.
Estou perfeitamente
convencido de que
nossos juízes poriam
na porta da rua, e
talvez em Macas, o
velhaco que tivesse
a ousadia de
propor-lhes, não
importa por que
preço, uma ordem de
soltura em favor de
um tratante. Não
duvido um instante
que o mais pobre e
menos pago de nossos
magistrados
repelisse, com
indignação, as
ofertas de um
Artaxerxes, que
pleiteasse, para
roubar a fortuna de
outrem. Mas, desde
que entram em jogo
os preconceitos, as
paixões políticas,
religiosas e mesmo
as científicas,
acredito firmemente
que já não há
juízes, mesmo em
Berlim.”
874. Se tivemos que
experimentar uma
condenação contra
nós, foi porque nos
desviamos da rota
traçada por Allan
Kardec. Este
inovador era
contrário à
retribuição dos
médiuns e tinha para
isso boas razões. Em
sua época, os irmãos
Davenport muito
fizeram falar de si,
mas como ganhavam
dinheiro com suas
habilidades, Allan
Kardec afastou-se
deles,
prudentemente. E foi
bom que assim o
fizesse, porque,
depois do escândalo
que obrigou esses
industriais a sair
da França, ele pôde
continuar a ensinar
o Espiritismo sem
ser atingido pelo
descrédito desses
americanos
fantasistas.
875. Eis o que
Kardec escreveu, a
propósito do
assunto, em O
Livro dos Médiuns:
“Como tudo pode
tornar-se objeto de
exploração, nada de
surpreendente
haveria em que
também quisessem
explorar os
Espíritos. Resta
saber como
receberiam eles a
coisa, dado que tal
especulação viesse a
ser tentada. Diremos
desde logo que nada
se prestaria melhor
ao charlatanismo e à
trapaça do que
semelhante ofício.
Muito mais numerosos
do que os falsos
sonâmbulos, que já
se conhecem, seriam
os falsos médiuns e
este simples fato
constituiria fundado
motivo de
desconfiança. O
desinteresse, ao
contrário, é a mais
peremptória resposta
que se pode dar aos
que nos fenômenos só
veem trampolinices.
Não há charlatanismo
desinteressado.
Qual, pois, o fim
que objetivariam os
que usassem de
embuste sem
proveito, sobretudo
quando a
honorabilidade os
colocasse acima de
toda suspeita? Se
for de constituir
motivo de suspeição
o ganho que um
médium possa tirar
da sua faculdade,
jamais essa
circunstância
constituirá uma
prova de que tal
suspeição seja
fundada. Quem quer,
pois, que seja
poderia ter real
aptidão e agir de
muito boa-fé,
fazendo-se
retribuir. Vejamos
se, neste caso, é
razoavelmente
possível esperar-se
algum resultado
satisfatório.”
876. Ainda a
respeito dos médiuns
interesseiros,
Kardec fez as
seguintes
ponderações na obra
acima mencionada:
“Quem haja
compreendido bem o
que dissemos das
condições
necessárias para que
uma pessoa sirva de
intérprete dos bons
Espíritos, das
múltiplas causas que
os podem afastar,
das circunstâncias
que,
independentemente da
vontade deles, lhes
sejam obstáculos à
vinda, enfim, de
todas as condições
morais capazes de
exercer influências
sobre a natureza das
comunicações, como
poderia supor que um
Espírito, por menos
elevado que fosse,
estivesse, a todas
as horas do dia, às
ordens de um
empresário de sessão
e submisso às suas
exigências, para
satisfazer à
curiosidade do
primeiro que
aparecesse? Sabe-se
que aversão infunde
aos Espíritos tudo
que cheira a cobiça
e a egoísmo, o pouco
caso que fazem das
coisas materiais;
como, então,
admitir-se que se
prestem a ajudar
quem queira traficar
com a presença
deles? Repugna
pensar isso e seria
preciso conhecer
muito pouco a
natureza do mundo
espírita, para
acreditar-se que tal
coisa seja possível.
Mas, como os
Espíritos levianos
são mais
escrupulosos e só
procuram ocasião de
se divertirem à
nossa custa,
segue-se que, quando
não se seja
mistificado por um
falso médium, tem-se
toda a probabilidade
de o ser por alguns
de tais Espíritos.
Estas sós reflexões
dão a ver o grau de
confiança que se
deve dispensar às
comunicações desse
gênero. Ao demais,
para que serviriam
hoje médiuns pagos,
desde que qualquer
pessoa, se não
possui faculdade
mediúnica, pode
tê-la nalgum membro
da sua família,
entre seus amigos,
ou no círculo de
suas relações?
“Médiuns
interesseiros não
são apenas os que
porventura exijam
uma retribuição
fixa; o interesse
nem sempre se traduz
pela esperança de um
ganho material, mas
também pelas
ambições de toda
sorte, sobre as
quais se fundem
esperanças pessoais.
É esse um dos
defeitos de que os
Espíritos
zombeteiros sabem
muito bem tirar
partido e de que se
aproveitam com uma
habilidade, uma
astúcia
verdadeiramente
notáveis, embalando
com falaciosas
ilusões os que desse
modo se lhes colocam
sob a dependência.
Em resumo, a
mediunidade é uma
faculdade concedida
para o bem e os bons
Espíritos se afastam
de quem pretenda
fazer dela um degrau
para chegar ao que
quer que seja, que
não corresponda às
vistas da
Providência. O
egoísmo é a chaga da
sociedade; os bons
Espíritos a
combatem; a ninguém,
portanto, assiste o
direito de supor que
eles o venham
servir. Isto é tão
racional, que inútil
fora insistir mais
sobre este ponto.”
(Continua no próximo
número.)