CLÁUDIO BUENO DA SILVA
klardec@yahoo.com.br
Osasco, SP
(Brasil)
A palmadinha,
ontem e hoje
Eu devia ter
mais ou menos
uns sete anos,
criança de tudo.
Falador,
turbulento, não
parava quieto
por cinco
minutos. Hoje,
as crianças não
param quietas
por cinco
segundos!
Gozava as férias
em casa de uma
avó. Num dia x,
alguns tios se
reuniram com
amigos. Falavam
de música, e
havia alguns
instrumentos por
perto. Eu, que
já mexera em
vários deles,
com meus
dedinhos
insolentes, e
fora repreendido
em todas as
ocasiões,
agarrei um
pandeiro e,
idiotizado,
sentei-lhe a mão
descontrolada,
como se
estivesse
tentando “tocar”
algo.
Foi a conta. Um
dos meus tios
tomou o
instrumento da
minha mão e, com
a sua, deu-me
uma palmada na
região convexa
chamada glútea.
Confesso, com
toda a
honestidade, não
doeu nada. Mas,
só então, com
aquele impacto,
percebi (me
toquei) que
estava sendo
inconveniente,
mal-educado, e
confesso, também
com toda a
sinceridade,
senti vergonha,
apesar da pouca
idade, por estar
atrapalhando a
atividade dos
meus tios, que
já faziam
bastante em me
aceitar numa
reunião de
adultos.
Passados cinco
minutos, eu,
emburrado num
canto, recebi do
meu tio
“agressor” um
sorriso
brincalhão e um
abraço
conciliador.
Aquela palmada,
naquele
instante, sem
violência
alguma, sem
agressão (não me
senti
violentado, nem
agredido),
resolveu
prontamente uma
situação que
estava saindo de
controle. E, de
minha parte,
fiquei com a
lição
compulsória que
me cabia e que
lembro,
nitidamente, até
hoje, passados
cinquenta e dois
anos. E asseguro
que se passou
exatamente como
conto agora.
Esta situação
foi bem
diferente de
outra que vivi,
também muito
novo, talvez com
os mesmos sete
anos de idade. É
preciso dizer
que dava muito
trabalho aos
meus pais, pela
minha rebeldia.
Após um dia todo
causando
perturbação, fui
alvo da
indignação de
minha mãe que,
no limite,
descarregou todo
o seu cansaço
sobre a minha
cabeça, em forma
de croques
continuados e
doloridíssimos.
Em seguida,
botou-me nu,
exposto num
canto da
varanda, onde
cheguei a ser
visto e
ridicularizado
por um vizinho.
Creio que dá
para perceber a
diferença entre
um episódio e
outro.
O mundo não está
como está, hoje,
por causa da
palmada, senão
educativa, pelo
menos corretiva
(do primeiro
episódio); mas
as relações
humanas podem
sofrer
influência
danosa por causa
da agressividade
e tortura moral
do segundo.
Diante disso,
fica evidente
que a violência
(do segundo
episódio) é
contrária não
só à atitude
cristã, como
também aos mais
básicos
princípios da
civilidade, que
estamos buscando
a duras penas.
Se pretendemos
ajudar na
implantação da
vida melhor na
Terra, baseados
nas orientações
morais de Jesus,
uma das coisas a
fazer, e
fundamental, é
educar os
Espíritos que
recebemos como
filhos, de modo
a aproximá-los
de Deus (ESE,
XIV, 9).
Enquanto
buscamos a
melhor maneira
de como bem
educar nossas
crianças,
principalmente
na primeira
infância, onde
as más
inclinações
brotam nelas,
reveladas junto
com a
inteligência que
admiramos tanto,
deixemos a
palmadinha – já
que os tempos
são outros –,
para aqueles que
quiserem usá-la,
assumindo com
isso, legalmente
(1), a
responsabilidade
por seus atos.
Moralmente, Deus
saberá
julgá-los, pela
intenção, com
total justiça.
Quanto aos
croques e
torturas morais,
eliminemo-los
quanto antes. E
já será um
grande avanço.
(1)
Foi aprovado na
Câmara dos
Deputados e
seguiu para o
Senado projeto
de lei que
penaliza pais e
educadores –
inclusive com a
possibilidade de
cadeia (?) – que
forem
surpreendidos ou
denunciados,
infligindo
quaisquer
castigos físicos
aos filhos. A
lei ficou
conhecida como
“lei da
palmada”.