MARCUS VINICIUS DE AZEVEDO BRAGA
acervobraga@gmail.com
Brasília, DF
(Brasil)
A religião de
Deus
Ainda que
saibamos que a
religião, em
linhas gerais, é
uma coisa
benéfica, um
progresso para a
humanidade, nos
entristece ver
que essa prática
social se vê
frequentemente
arrolada em
conflitos entre
pessoas,
comunidades e
nações, servindo
como mote da
divisão e do
poder que
explora.
As experiências
ecumênicas,
valorosas, por
vezes descambam
para comparações
estéreis de
visões de mundo
e tertúlias
sobre méritos
salvacionistas,
desperdiçando
oportunidades de
entendimento e
de fraternidade
na frieza do
loteamento de
eventos e
produções
gráficas, sobre
a égide de isso
ser ecumenismo.
Deus, quando nos
permitiu reunir
na busca da
comunhão com
Ele, certamente
(perdoem-nos o
antropomorfismo)
não pensou isso
como um
instrumento de
dissensão.
Quantas mortes
sangrentas o
passado e o
presente nos
brindam, à luz
da religião?
Como é
contraditório
ver o filho de
um carpinteiro,
que pregava o
amor ao próximo,
cercado de
pessoas
humildes, alçado
ao madeiro,
sendo então
convertido em
elemento de
desagregação e
de jogos
políticos.
Cristo cósmico,
espiritual,
divino,
salvador... A
figura do Rabi
da Galileia,
imerso na força
da dominação e
da tradição,
converte-se em
um sincretismo
político-religioso,
no senhor dos
exércitos,
príncipe dos
eleitos e
provedor de
riquezas
materiais.
O formalismo,
como meio de
compensação do
caos da
incerteza, e as
formas retas,
como amparo e
segurança,
transformam-se
em fins
ensimesmados,
aprisionando a
ideia de Deus em
visões
deturpadas e
interesseiras,
que por vezes
fazem da
religião um
clube de
interesses
econômicos e
políticos, e um
índex de normas
demarcadoras
desse mesmo
clube, como
elemento de
exclusão e de
poder.
Essa incômoda
reflexão nos
aparece toda vez
que alguém tem
dificuldade de
entender que o
Espiritismo é
uma religião,
apesar de não se
enquadrar nesse
paradigma, no
pensamento
Kardequiano. Ou
ainda, pelo fato
de ser religião,
alguns de nossos
confrades
buscarem
introduzir essas
práticas
reprováveis na
casa espírita,
por uma questão
de isonomia com
outras
denominações.
Incomoda, pois
isso acarreta
viver a
religiosidade
sem refletir nos
seus
fundamentos, no
que existe de
mais intrínseco
nessa nossa
forma de
relacionar com
Deus, que deseja
a construção de
seu reino pelo
respeito às
raças, etnias e
povo, com
justiça e
caridade.
Dizermos que
somos religiosos
é mais do que
apenas o
formalismo da
prática
exterior. Cada
religião é um
portal de
comunicação da
criatura com
Deus, à sua
maneira. Como
tudo, a religião
pode ser
instrumento de
opressão e
dominação, de
luta e
discórdia, mas
também de
comunhão e
fortalecimento
dos laços.
O crescimento do
ateísmo
detectado nas
pesquisas, em
especial na
Europa, nos leva
a refletir se o
problema está em
Deus, se é que
isso é possível,
ou se na forma
pela qual as
religiões têm
trazido Deus ao
mundo.
Graças a Deus,
religião como
denominação não
é sinônimo de
elevação
espiritual. A
religiosidade,
refletida na
postura de
comunhão com
Deus,
representa, sim,
caminhada firme
rumo à evolução,
ainda que
insistamos, por
vezes, à conta
de nossa
influência
judaico-cristã,
proferir
bravatas sobre
povos eleitos,
imputando a Deus
as nossas
imperfeições.