A caridade mais
urgente
Outro dia um
amigo me
confidenciou:
–
Sabe,
Wellington,
habituamo-nos,
eu, meus filhos
e esposa, a
praticar o
Evangelho no
Lar. Reunimo-nos
todos os
domingos e
fazemos o estudo
evangélico em
nossa casa há
mais ou menos
uns 3 anos. Os
benefícios foram
grandes, não há
o que discutir.
Mas interessante
é que meu filho
caçula de 10
anos, de tanto
escutar a
palavra caridade
em nossos
estudos,
resolveu propor:
–
Papai, vamos
colocar em
prática aquilo
que aqui
estudamos. Vamos
praticar a
caridade.
Gostaria muito
de visitar os
velhinhos. Pode
ser na Vila
Vicentina
(Instituição na
cidade de Bauru
que cuida de
idosos). Vamos
começar a ir até
lá, papai.
E prosseguiu o
amigo a
comentar:
–
Fiquei
envergonhado com
a proposta de
meu filho.
Embora eu lhe
ensinasse os
princípios
cristãos, estava
longe, muito
longe de
praticá-los.
Precisei ser
alertado pelo
garoto de que a
caridade que eu
tanto falava,
para mim,
restringia-se
apenas a uma
palavra solta,
sem sentimentos,
e proferida
maquinalmente em
nossos estudos
domingueiros.
Como você sabe,
não irei aqui
discorrer sobre
os caracteres da
caridade que são
muito mais
abrangentes do
que uma visita
aos domingos,
mas, confesso
que fiquei mesmo
envergonhado.
Foi então que
começamos a
visitar os
velhinhos. Isto
já faz 1 ano.
Garanto a você:
recebemos muito
mais do que
damos, pois
nessas visitas
aprendemos na
prática que o
tempo corre
célere e a
contagem na
Terra é
regressiva, meu
amigo. Um dia
partiremos daqui
e poderemos
enfrentar a
enfermidade,
dor, solidão,
como tantos por
aí. Constatei o
quão bom
tornou-se essa
prática em
família. Estamos
mais unidos,
juntos e,
aprendendo, de
fato, que se
hoje gozamos de
saúde amanhã
poderá ser
diferente. Meus
três filhos,
todos em idade
adolescente,
estão
vivenciando isso
e posso afirmar
que mudanças
significativas
operaram-se no
comportamento de
todos eles
depois desta
simples prática
de visitar
alguém. Parece
que a vida tomou
um outro
sentido, mais
profundo, amplo.
Atualmente, meu
amigo, dedicamos
o domingo
literalmente ao
seguinte
trabalho: aula
prática à tarde
(visita aos
velhinhos) e
teórica à noite
com o estudo
evangélico.
Ao escutar todo
o fato narrado
pelo amigo,
minhas reflexões
fizeram-se mais
agudas no
tocante à
caridade em sua
forma primeira
que é atender o
próximo em suas
necessidades
mais urgentes.
Lembrei-me então
de uma história
que consta na
obra O
Semeador de
Estrelas, de
Suely Caldas
Schubert.
E conta ela que
certa vez o
médium baiano
Divaldo Franco
encontrava-se
desanimado, pois
o ambiente era
desolador.
Estavam com 16
doentes em um
local pequeno
onde não mais
cabia gente e o
médium
questionava-se:
O que fazer, meu
Deus?
Dr. Bezerra de
Menezes veio em
seu socorro e
narrou
interessante
episódio:
Duas damas muito
ricas da
sociedade de
Moscou foram ao
Teatro Bolshoi.
Assistiram a uma
peça, uma ópera,
que retratava a
história de um
rei cristão que
termina louco.
As duas damas,
vendo aquela
cena choraram,
comoveram-se, e
todo o teatro
também. Quando
terminou, elas
saíram e
encontraram um
homem, à porta,
pedindo esmola.
Uma delas,
comovida, tirou
o pesado casaco
de peles para
dar-lhe, pois
ele estava
sofrendo o frio
da noite de
Moscou. A outra,
porém,
impediu-lhe o
gesto,
explicando:
–
Não faça isso!
Quando chegarmos
à casa
mandaremos
cobertores. Seu
casaco é muito
caro, ele não
vai valorizá-lo.
Ela deteve o
gesto bom e
concluiu:
De fato; você
tem razão. Vamos
fazer como
sugeriu.
Vestiu o casaco
novamente,
dizendo ao
homem:
–
Daqui a pouco eu
lhe mandarei
cobertores e
agasalhos.
Entraram na
carruagem e
foram para o
palácio. Ao
chegarem,
tomaram chá com
biscoitos,
deitaram-se e se
esqueceram do
necessitado.
Pela manhã, a
dama generosa
lembrou-se do
mendigo e,
chamando um
lacaio,
recomendou-lhe
que levasse os
cobertores.
Quando este
chegou ao local
o homem estava
morto. Morrera
congelado pela
madrugada.
E explicou o
médico dos
pobres:
–
Enquanto se
discute a
caridade, o
sofredor morre
ao abandono. A
caridade tem que
ser o socorro do
momento, depois,
discute-se o que
fará.
Maravilha de
lembrança do
notável Dr.
Bezerra.
Quanta gente
necessita dessa
caridade
imediata,
urgente, sem
tempo a perder.
De um ouvido
amigo, da visita
carinhosa, da
palavra
encorajadora, do
abrigo que
protege, do
abraço que
tranquiliza, do
telefonema que
apazigua as
emoções, da sopa
servida em
tantas
instituições,
espíritas ou
não, espalhadas
pelo país.
Quanta coisa
pode ser feita
para amainar
corações
dilacerados pela
dor da
enfermidade
física ou mesmo
moral. As
oportunidades de
praticar essa
caridade urgente
são imensas para
não dizer
infinitas.
Coloquei-me a
pensar na
família de meu
amigo e na
sugestão de seu
filho: um gesto
simples: visita
aos idosos. Que
beleza! Fico a
imaginar os
benefícios
advindos de uma
iniciativa
primária, porém
profunda como
esta, e que une
toda a família
em torno de um
objetivo nobre:
Exercitar o
amor!
Aquela família
compreendeu que
a teoria é
importante – o
estudo do
Evangelho no Lar
–, mas ela não
prescinde da
prática. Aliaram
essas duas
maravilhas de
Deus – teoria e
prática
–,
e hoje gozam,
segundo
comentário do
próprio amigo,
de uma inefável
sensação de
bem-estar.
Benditos aqueles
que já
compreenderam
esta máxima e
dedicam-se à
prática do bem e
da caridade!