ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, MG (Brasil)
Resgate vicário
A Humanidade deve aceitar Jesus como "Modelo e Guia" e
não como réu de culpa alheia
"Os pais, dizeis, comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos ficaram estragados?!" - Ezequiel, 18:2.
Querem os homens que a justiça humana seja mais perfeita que a Justiça Divina!... Somos, desde a mais tenra infância, bombardeados com informações estapafúrdias, equivocadas, que ficam como "corpo estranho" em nossa mente, causando-nos perplexidades primeiro e incredulidade empós. Não fossem os informes seguros, claros e lógicos da Doutrina Espírita, permaneceríamos vivendo no círculo restrito da ignorância e da descrença, por não conseguirmos compreender os mecanismos das Leis da Vida. Qual tribunal humano que, em sã consciência, condenaria uma pessoa pelo crime de outra? Nenhum, evidentemente!...
Pois bem, não é que muitos acreditam que Jesus foi condenado à pena máxima pelos pecados dos homens? Com isto Ele lavou com Seu sangue os pecados da Humanidade (!?). Ficamos sem saber se essa lavação foi só da Humanidade contemporânea de Jesus ou se incluiu, também, a Humanidade anterior a Ele. E como ficam os pecados da Humanidade que veio depois d`Ele? Seria então necessário crucificá-lO novamente?
Por outro lado, dizem - também - que somos herdeiros do "pecado" de Adão e Eva. Onde a base para tais descalabros jurídicos? São essas histórias fantásticas e inverossímeis que embalaram - por séculos - a fé ingênua e irracional de nossos avoengos. Triste é constatar que ainda existem centenas de milhares de criaturas que se deixam embair por tais lendas!...
Sem embargo, (felizmente) até fora dos arraiais espiritistas já existem alguns pensamentos menos equivocados que esses. Por exemplo: Segundo os gnósticos, a crucificação de Jesus não significou resgate de nossas transgressões - um inocente pagando pelos pecadores - mas é tida como uma oportunidade de revelar o divino dentro de cada um de nós. Não é, portanto, segundo os gnósticos, um resgate vicário, injusto...
Já em 1979, Elaine Pagels publica uma obra de nome "The Gnostic Gospels" em New York, pela Editora Randon House, onde, entre outras importantes revelações, ela nos informa que em lugar de ter vindo para nos salvar do pecado, Jesus veio como um Guia, que abre acesso à Realidade Espiritual.
Essa assertiva harmoniza-se com os ensinamentos que os Espíritos Superiores ministraram, quando informaram ao Mestre Lionês, na questão de número 625 de "O Livro dos Espíritos", que Jesus é "o Modelo e Guia mais perfeito que Deus há dado à Humanidade”.
São chegados os tempos de nos emanciparmos do ancestral berço das superstições, crendices, quimeras e utopias do passado medieval... Já não é sem tempo!
Allan Kardec leciona com propriedade :
"(...) O papel de Jesus não foi o de simples legislador moralista, tendo por exclusiva autoridade a Sua palavra. Cabia-Lhe dar cumprimento às profecias que Lhe anunciaram o advento; a autoridade Lhe vinha da natureza excepcional de Seu Espírito e da Sua missão divina. Ele viera ensinar aos homens que a verdadeira Vida não é a que transcorre na Terra e sim a que é vivida no Reino dos Céus; viera ensinar-lhes o caminho que a esse Reino conduz, os meios de eles se reconciliarem com Deus e de pressentirem esses meios nas marchas das coisas por vir, para a realização dos destinos humanos. (...) Entretanto, não disse tudo. A Ciência tinha de contribuir poderosamente para a eclosão e o desenvolvimento das coisas que Ele teve que ocultar devido à ignorância de seus contemporâneos que as não poderiam compreender. Importava, pois, dar tempo à Ciência para progredir...”
Hodiernamente, a Ciência já alcançou patamares nunca dantes imaginados. Não podemos, portanto, continuar nos deixando embair e embalar pelas crenças supersticiosas do pretérito.
Cabe ao Espiritismo, como Ciência, Filosofia e Religião que é, revelar aos homens tudo o que Jesus deixou velado. Não mais se justificam os dogmas ancilosados que injuriam e aviltam as mais comezinhas noções de justiça, encobrindo a razão sob o pálio da ignorância...
Com Kardec, compreendemos, então, a verdadeira epopeia da vida de Jesus, que foi o maior poema de Amor recitado por Deus para a emancipação da Humanidade, que deve aceitá-lO como "Modelo e Guia" e não como réu inocente em regime de absurdo resgate vicário.