A enfermidade
física impõe
lições das mais
significativas.
Todo processo de
moléstia da
máquina orgânica
é um convite ao
cidadão para
rever seus
hábitos. Não
podemos
malbaratar o
corpo físico,
pois não somos
como os gatos
que possuem sete
vidas. Nós temos
apenas uma – é
óbvio que outras
oportunidades
virão por
intermédio da
reencarnação –
mas para sermos
objetivos temos
que aproveitar a
atual.
Aliás, se há uma
coisa que o
capitalismo
ainda não
conseguiu
colocar à venda
foi a tal da
vida humana. Não
tem como o
sujeito perder a
vida e depois
comprá-la no
supermercado ou
shopping Center.
Por mais que
encontremos
produtos nesses
locais, lá não
vendem vida, ou
seja, vida
orgânica, um
corpo físico
igual ao nosso.
Se tivesse, eu
ia querer um
novo em folha,
com certeza.
E em toda fase
da minha
enfermidade –
tive dois
infartos há 2
meses – ainda
não fui chamado
para a cirurgia.
Estou esperando,
mas sinceramente
não sei se
espero a
desencarnação ou
o chamado do
hospital. Vamos
ver qual dos
dois chega
primeiro.
Fato é que minha
situação hoje
não é diferente
das que vivem
milhares de
milhões de
brasileiros que
dependem do SUS
– Sistema Único
de Saúde. Posso
dizer que essa
situação é uma
mestra, pois nos
ensina a ter
paciência.
Claro! Ou o
indivíduo tem
paciência e
conserva a
calma, ou
desencarna de
uma vez.
Uma outra lição
importante
deixada pela dor
é o aprendizado
da humildade.
Exatamente:
somos todos
iguais;
independentemente
dos meus belos
olhos castanhos,
eu sou igual
àquele senhor de
certa idade que
comparece às
sessões de
quimioterapia já
com o corpo
físico cansado
pelas surras da
vida.
Com a
enfermidade
aprendemos que o
orgulho é uma
grande bobagem.
Estamos no mesmo
barco, logo, uma
reflexão mais
acurada sobre as
razões dos
sentimentos de
superioridade
que vez ou outra
nos dominam
mostra-nos que
somos todos
iguais em termos
de direitos e
deveres. Talvez
você conteste
dizendo que há
gente que tem
apenas direitos.
Mas isso é coisa
do homem, para
Deus tudo segue
na mais absoluta
igualdade, pois
teremos que
prestar contas
dos mínimos atos
que aqui
praticamos.
Porém, basta
olhar o lado
positivo das
coisas que
estaremos sempre
aprendendo e
tirando lições
grandiosas.
Quando o médico
disse que as
minhas
coronárias
pareciam as de
um senhor de 70
anos, embora eu
tenha somente
36, aprendi que
a sinceridade
dói um bocado,
mas é uma
ferramenta
preciosa para o
despertar da
ilusão de que
seremos sempre
jovens; jovens,
aqui no sentido
físico. Tem
gente que pensa
que será jovem
para sempre, por
isso detona a
máquina física
e, ainda, quando
a enfermidade
bate à porta,
revolta-se
contra Deus,
acusando-o de
culpado, ou
exclama
indignado: Que
mundo cruel!
Cruel somos nós
mesmos que não
respeitamos os
limites do corpo
e nos
envenenamos com
todos os tipos
de substâncias
nocivas ao
organismo. Eu
mesmo jantava
salgado todas as
noites. Vejam
bem o resultado:
cirurgia
cardíaca.
E dias atrás
encontrei com um
amigo que me
animou:
– Que ano esse,
hein, rapaz?
Dois infartos e
6 meses afastado
do serviço, das
palestras que
você tanto
gosta. Que
coisa!
Respondi a ele:
– Ano
maravilhoso
mesmo. Aprendi
muita coisa em
2011. Tudo o que
eu não deveria
ter feito na
vida foi o ano
de 2011 que me
ensinou. Ora, já
que somos
Espíritos
imortais, como
esquecer data
tão
significativa?
É a vida, caro
leitor, o velho
e batido ditado
“quem não
aprende pelo
amor aprende
pela dor”, mais
uma vez,
mostrou-se
implacável.
Lembro-me dos
vários conselhos
de amigos:
Cuide-se rapaz,
cuide-se!
Esses conselhos
eram para eu
aprender pelo
amor. Mas fiz
ouvidos moucos e
estou
aprendendo, ou
melhor, assim
espero, pela
dor.
Vamos ver se num
futuro próximo
eu possa já ter
atingido a
maturidade de
aprender pelo
amor. E olha que
meu pai sempre
dizia: –
Juízo, menino,
tome juízo!
Mas eu não quis,
preferi comer
salgado.