A. Que motivo levou
Rafael Ferguson ao
Sanatório?
A causa da internação
foi a hanseníase. Ao
diagnosticar que Rafael
era portador do "mal de
Hansen", em grave fase
de desenvolvimento,
ameaçando a família e a
comunidade em que
circulava, o médico,
conforme praxe na época,
foi peremptório,
encaminhando o enfermo,
sem de nada o informar,
ao Serviço de Lepra, com
indicação expressa de
internação pura e
simples.
(Tramas do Destino, cap.
3, págs. 40 e 41.)
B. Em face do sofrimento
por que devemos passar,
como agem os Benfeitores
espirituais?
Os Benfeitores amorosos
não liberam seus
tutelados da canga do
sofrimento de que
necessitam, por
impositivo dos próprios
erros, mas inspiram
decisões felizes, evitam
ciladas odientas, que
aumentam o padecimento,
impregnam-nos de forças
superiores que decorrem
da oração e do
intercâmbio psíquico,
induzem-nos ao bem,
iluminam a consciência,
amparam-nos moralmente e
tornam-se faróis íntimos
a apontarem o rumo na
noite das provações
santificadoras.
(Obra citada, cap. 4,
págs. 45 e 46.)
C. Fortemente inspirada,
a amiga de Artêmis
confortou-a. Que
palavras ela lhe disse
naquele momento?
Hermelinda a abraçou e,
fortemente inspirada,
confortou-a, dizendo:
"Deus nos dará
forças para vencer a
situação amarga. Jamais
nos deixa órfãos o
Supremo Pai, quando
d'Ele mais necessitamos.
Uniremos nossos esforços
e lutaremos. Em verdade,
nunca preencheremos a
falta do ser querido, em
casa; todavia, o Senhor
não nos deixará sem o
pão, sem a luz da fé,
nem o agasalho da
esperança. Sofreremos e
cresceremos ante Seus
olhos... Razão deve
haver, que nos escapa,
para que sejamos
apanhados por este
superlativo sofrer, nos
verdes dias dos nossos
sonhos, ora tornados
sombrios pesadelos. Não
desanimaremos, apesar de
a alma estar triturada,
e tenho a certeza de que
Ele, o Pai Zeloso, nos
auxiliará a subir a
difícil montanha da
resignação e da
confiança, conduzindo o
fardo que nos cabe
suportar".
(Obra citada, cap. 4,
págs. 47 e 48.)
D. Em sono profundo,
Rafael viu cenas do seu
passado espiritual. Como
isso é possível a alguém
que esteja encarnado?
A razão disso é fácil de
entender: os depósitos
da "memória não
cerebral" guardam os
arquivos dos sucessos
atuais e os pregressos,
pertinentes às vidas
anteriores. A memória
dos fatos pretéritos
radica-se no
perispírito.
(Obra citada, cap. 5,
págs. 53 e 54.)
Texto para leitura
14. Esquizofrenia
- Não era atração de
ordem física que imanava
Rafael e Lisandra, mas a
incoercível força
procedente do passado
espiritual de ambos.
Apesar das tensões
derivadas da preocupação
com a saúde da filha,
ele fez-se mais sociável
e gentil com a esposa,
no que colaborou também
sua irmã Hermelinda, por
quem nutria imenso
respeito. Gilberto, o
primogênito, vivia num
mundo à parte. Sisudo,
não detestava a irmã,
nem a amava; mas se
apiedava dela quando a
via cair nos demorados
vágados ou durante as
crises noturnas
dolorosas. Com o tempo,
tornou-se quase
indiferente ao drama
doméstico. Muitas
pessoas aconselharam os
Fergusons a procurarem a
ajuda do Espiritismo
para o tratamento da
filha. O preconceito
religioso não permitiu,
porém, que eles o
fizessem. Com a
adolescência, Lisandra
começou a apresentar
sinais periódicos que
se assemelhavam à
hebefrenia clássica, que
já se expressava
como cargas obsessivas
de grave teor
espiritual, perturbante.
Hebefrenia é uma
variedade de
esquizofrenia que se
observa, em geral, nos
adolescentes. Ela
tornara-se distante da
realidade, com péssimo
aproveitamento no Liceu,
embora se esforçasse por
aprender e fosse pontual
às aulas. Os pais não
acreditavam pudesse a
filha concluir o curso,
mas anelavam prepará-la
melhor culturalmente
para enfrentar o
futuro. (Cap. 3, págs.
39 e 40)
15. A
lepra
- Por essa mesma
ocasião, o chefe do lar
foi vitimado por uma
série de problemas
orgânicos, que muito
afligiram seus
familiares. Em plena
convalescença, deu-se
conta de constantes
cãibras nas mãos e nos
pés, e passou a
experimentar,
periodicamente,
sensações de perda do
tato. Surgiram então
algumas despigmentações
cutâneas que o levaram,
apreensivo, a conhecido
dermatologista, que não
titubeou no pronto
diagnóstico. Rafael era
portador do "mal de
Hansen", em grave fase
de desenvolvimento,
ameaçando a família e a
comunidade em que
circulava. O
especialista, conforme
praxe na época, foi
peremptório,
encaminhando o enfermo,
sem de nada o informar,
ao Serviço de Lepra, com
indicação expressa de
internação pura e
simples. Chegavam assim
as excruciantes aflições
que desabariam por
longos anos sobre os
Fergusons. Rafael nada
sabia, mas, por
intuição, antes de rumar
ao consultório
indicado, dirigiu-se ao
lar. Experimentava
profunda sensação de
aniquilamento. Em
silêncio, opresso,
adentrou-se no lar e
procurou fixar n'alma,
indelevelmente, todas as
cenas, que lhe seriam as
reminiscências futuras.
Não teve coragem de
oscular os familiares.
Algo lhe dizia ser
aquela uma despedida que
o levaria à loucura
surda e insuportável. A
esposa percebeu seu
semblante marcado pela
dor e interrogou-o
preocupada. Naquele
momento, ele deu-se
conta de quanto a amava
e desejou suplicar-lhe
perdão e ajuda. Sopitou,
porém, a vontade e
dirigiu-se à clínica a
que fora encaminhado.
Sentia-se avançando para
o matadouro. O médico
usou de sinceridade
absoluta: "Não há
dúvida, o senhor é
portador do mal de
Hansen, de lepra, como é
vulgarmente conhecida a
enfermidade. Não se
fazem, sequer,
necessários os exames
para a confirmação do
diagnóstico... Estes
poderão ser
providenciados após o
internamento". A palavra
e o diagnóstico
desabaram sobre Rafael
como o ruir de tudo,
esmagando suas forças
enfraquecidas. Ele
recusava crer no que
ouvia, mas o
especialista prosseguiu:
"Sou obrigado a
interná-lo no Sanatório
próprio. Sua vida,
agora, pertence ao
Estado, encarregado de
zelar pela população.
Não digo que o senhor
seja uma ameaça, porém,
convenhamos, é um perigo
para a coletividade".
Depois, dando curso à
rude explicação,
aconselhou ao enfermo
ser de bom alvitre
poupar seus familiares
ao escândalo de ser
levado à força, ou, o
que é pior, ao contágio.
(Cap. 3, págs. 40 e 41)
16. No Lazareto
- Após ouvir a cruel
sentença, Rafael, sem
conseguir articular a
palavra, com a garganta
túrgida e a alma em
febre, assentiu com a
cabeça, enquanto as
lágrimas desataram-lhe
em abundância. Dali
mesmo, o enfermo foi
transferido para o
Lazareto, um casarão
semi-abandonado, em que
os réprobos do pretérito
espiritual culposo
ressarciam os débitos,
na áspera posição
atual. Antes de
despedir-se, informado
de que a família seria
notificada
posteriormente, ele
redigiu com mão trêmula
um recado à esposa, que
a tudo ignorava,
esclarecendo-lhe a
necessidade de uma
viagem urgente,
prometendo notícias
pormenorizadas logo
depois. O médico
comprometeu-se a enviar
o bilhete à
destinatária, enquanto
Rafael seguiu,
sentenciado pela
legislação divina
incorruptível, para o
cumprimento da pena
impostergável. Na alma
aturdida, em densa
noite, o Sr. Ferguson,
sem o amparo de uma fé
luarizante, não possuía
o socorro das estrelas
morais que fulgem
esperança no céu das
aflições. Deixou-se,
pois, sucumbir, sem
raciocinar,
impossibilitado de
pensar ante a situação
maceradora que o impelia
à revolta em que
mergulhou, sob o
estrugir do ódio, em
forma inicial de ira,
que o dilaceraria, no
futuro, como ácido a
requeimá-lo por dentro.
(Cap. 3, págs. 42 e 43)
17. A
força da prece
- Não houve despedida
entre o enfermo e seus
familiares, nenhuma
palavra que pudesse
diminuir a inclemência
do horror que se abateu
sobre Artêmis, quando
notificada do inditoso
acontecimento. O ofício
lacônico do órgão
competente, sem mais
amplos informes,
alcançou a finalidade,
como um raio destruidor,
atingindo débil floração
de vida. Se Hermelinda
não acudisse, Artêmis
ter-se-ia ferido no
solo, em virtude do
desmaio que a venceu, ao
ler o comunicado, que
exigia também a presença
de toda a família, no
Posto de Saúde, para os
exames que se impunham.
Sem saberem como agir de
imediato, foram as duas
amigas inspiradas à
oração pela genitora
desencarnada de Artêmis.
Naquele momento,
Lisandra repousava, após
mais uma crise
angustiante, e Gilberto
se encontrava no Liceu.
As duas almas irmãs,
trucidadas pelo
sofrimento,
recolheram-se então à
oração lenificadora. Aos
poucos, sob o
beneplácito da oração
que jamais se demora sem
resposta, foram-se
acalmando, atendidas
pelo magnetismo
dulcificador e
reconfortante que lhes
aplicavam os invisíveis
Amigos Espirituais,
responsáveis pelo curso
dos acontecimentos
educativos em prol da
sua redenção. Os
Benfeitores amorosos não
liberam os seus
tutelados da canga do
sofrimento de que
necessitam, por
impositivo dos próprios
erros, mas inspiram
decisões felizes, evitam
ciladas odientas, que
aumentam o padecimento,
impregnam-nos de forças
superiores que decorrem
da oração e do
intercâmbio psíquico,
induzem-nos ao bem,
iluminam a consciência,
amparam-nos moralmente e
tornam-se faróis íntimos
a apontarem o rumo na
noite das provações
santificadoras.
Refeitas, assim, do
primeiro grande choque,
as duas almas afins
combinaram que não
poderiam ocultar aos
jovens o drama que
pesava sobre o lar,
mesmo porque todos
deveriam submeter-se aos
exames médicos
inadiáveis. (Cap. 4,
págs. 45 e 46)
18. Deus jamais
nos deixa órfãos
- As horas agora pesavam
no compasso da lentidão.
A ausência do chefe da
família se transformava
num tipo de morte mais
dorido do que o da
desencarnação, a que se
adicionavam as
dificuldades financeiras
derivadas de sua
ausência, o que era mais
uma sombra de dor para
aquelas almas aflitas.
Os Fergusons eram
pessoas da classe média,
conforme os padrões
vigentes na Terra, que
dependem das quotas do
labor realizado, sem
maiores economias que
possam suportar um
período largo de
vicissitudes. Naquele
tempo, o ingresso num
Leprocômio significava
uma viagem sem retorno.
Acrescentava-se a isso o
estigma que acompanhava
as famílias em cujo seio
surgia um hanseniano,
as quais inspiravam
pavor e, em alguns
lugares, perseguição
implacável. Muitas
vezes, as pessoas
ligadas a hansenianos
viam-se obrigadas a
terrível silêncio, sem
lograrem sequer uma
palavra de conforto dos
amigos ou dos parentes
mais chegados. Artêmis
somava, então, à
extrema aflição de uma
indébita viuvez com o
esposo vivo-morto, toda
a gama das próximas
dificuldades financeiras
e a carga dos
preconceitos humanos.
Após a prece
lenificadora, Hermelinda
abraçou a cunhada e,
fortemente inspirada,
confortou-a, dizendo:
"Deus nos dará
forças para vencer a
situação amarga. Jamais
nos deixa órfãos o
Supremo Pai, quando
d'Ele mais necessitamos.
Uniremos nossos esforços
e lutaremos. Em verdade,
nunca preencheremos a
falta do ser querido, em
casa; todavia, o Senhor
não nos deixará sem o
pão, sem a luz da fé,
nem o agasalho da
esperança. Sofreremos e
cresceremos ante Seus
olhos... Razão deve
haver, que nos escapa,
para que sejamos
apanhados por este
superlativo sofrer, nos
verdes dias dos nossos
sonhos, ora tornados
sombrios pesadelos. Não
desanimaremos, apesar de
a alma estar triturada,
e tenho a certeza de que
Ele, o Pai Zeloso, nos
auxiliará a subir a
difícil montanha da
resignação e da
confiança, conduzindo o
fardo que nos cabe
suportar". (Cap. 4, págs.
47 e 48)
19. Uma noite de
agonia -
Hermelinda,
semi-incorporada pela
genitora de Artêmis,
olhos brilhantes,
concluiu: "Dia virá
em que veremos retornar
o nosso Rafael, mutilado
ou não, em outras
circunstâncias, ao lar
que o esperará por todo
o sempre, onde foi
impedido de permanecer,
por enquanto, ao império
da superior vontade de
Deus". Após tais
palavras, uma atmosfera
de paz saturou o
ambiente, fazendo-o
sutil, qual o clima que
deveria ser,
habitualmente, o de
todos os lares da Terra.
Naquela noite, reunindo
suas forças
claudicantes, após
transcorrida a refeição
e realizados os deveres
escolares, Artêmis
elucidou os filhos
quanto ao ocorrido e,
sem qualquer
dramaticidade, expôs
sobre os cuidados que
deveriam ter, a partir
de então, em se
referindo ao pai, bem
como a respeito dos dias
que viriam menos
ditosos, encerrando a
entrevista com um toque
superior de otimismo e
esperança. Os jovens não
puderam ocultar a
angústia diante das
consequências do
ocorrido: o padecimento
do pai, a desventura da
mãe, a ameaça que
pairava sobre todos
quanto à hipótese de
estarem também
contaminados, e o futuro
da família, que agora
se tornava mais incerto.
Aumentando a carga de
desespero daquele lar,
Lisandra, acoimada pelo
choque, foi vencida de
novo por demorado
mergulho em dura crise
epileptiforme, perdendo
a consciência. A jovem
agitava-se balbuciando
palavras inteligíveis,
diversas da ocorrência
tipicamente epiléptica,
sem as convulsões
características.
Inquieta, como se
passeasse por lúgubres
sítios que lhe
causassem horror e
alucinação, expressava
conexão nas palavras
enunciadas com esgares.
Eram as reminiscências
da vida anterior, que
produziam agora os
desaires e as aflições
que se impunham como
medida salvadora para
sua reabilitação pessoal
e a dos implicados nas
desditas passadas.
Aquela foi, para os
Fergusons, uma demorada
noite de agonia, até a
quase total lassidão das
resistências físicas e
morais. (Cap. 4, págs.
48 e 49)
20. A
reação de Rafael
- Passado o primeiro
momento, após a notícia
desconcertante que lhe
martelava a mente,
Rafael não conseguia
coordenar direito as
ideias. Era-lhe
inconcebível aceitar
aquela contingência,
que se semelhava a
grosseiro embuste do
destino, de que se
liberaria mediante
surpresa idêntica da
fortuna. Ao anoitecer,
defrontando a aspérrima
realidade que encontrara
no Hospital, não
suportou a dor
superlativa e
entregou-se ao choro
convulsivo, selvagem.
Aquele era um mundo de
mutilados, de sombras
inditosas, purulentas,
na escuridão de um
inferno horrendo. Rafael
sentia o recrudescer dos
sentimentos inferiores,
dominando-o num ódio
primitivo contra Deus,
contra todos, contra
ele mesmo. Fizera-se um
vulcão em erupção. O
odor nauseante da sala,
as péssimas condições de
higiene, a promiscuidade
coletiva eram tão
macerantes quanto a
própria enfermidade. Na
véspera – pensava –
dormira no lar e
agora... Não sopitou o
desespero e foi
acometido por um acesso
nervoso. Enfermeiros e
colegas de infortúnio
acorreram e
dominaram-no.
Aplicou-se-lhe medicação
calmante, enquanto ele
se debatia em fúria,
negando-se a permanecer
na jaula a que se sentia
relegado. Blasfêmias
espocaram-lhe pelos
lábios febris, até à
exaustão, quando se fez
sentir o efeito do
medicamento. Faltava, à
época, maior
compreensão em torno da
hanseníase, de suas
causas e de sua terapia,
o que era agravado pela
ignorância quanto à
preparação psicológica
dos enfermos, a fim de
submeter-se ao
tratamento em clima de
confiança, embora a
pouca esperança de cura.
Até os enfermeiros
viviam isolados da
sociedade, porque se
temia a doença mais do
que os criminosos
portadores de alta
periculosidade. No dia
seguinte, Rafael não
teve forças para
levantar-se, deixando-se
ficar imerso na torva
desesperação sem
palavras. Negar-se-ia a
viver – reflexionava,
aturdido. Pensou também
nos familiares e nos
horrores que eles
deveriam estar
experimentando com a
infausta notícia.
Considerou-se então,
naquele momento, um ser
desprezível e
desgraçado, um "imundo",
como milenarmente se
dizia acerca dos
leprosos. (Cap. 5, págs.
51 e 52)
21. Rafael vê
cenas de seu passado
- Rafael chorou,
emocionado – não as
lágrimas de ácido
comburente,
devastadoras, mas as que
nascem nas fontes do
sofrimento, que,
enquanto são vertidas,
acalmam, refrescam o
ser, lenindo as
ulcerações e prometendo
cicatrizá-las. Perdera a
noção do tempo e do
espaço, e uma sensação
desconhecida
entorpeceu-o, levando-o
a sono profundo, não
obstante as horas do dia
claro. No transe,
sentiu-se recuar às
contingências da vida
atual, como se
estivesse diante de uma
tela de cinemascópio e
se revisse em caráter
retrospectivo, desde o
internamento até ao
berço e daí, após uma
larga faixa de sombras,
paisagens passadas, em
que se sentia viver.
Destacavam-se, na visão
colorida, cenas que
retratavam poder e
distinção social em
torno de um homem
abastado e nobre, e
bajulado, no qual se
descobriu a si mesmo,
embora alguns diferentes
traços fisionômicos...
Sentiu a arrogância e a
prepotência daquele
homem e a alta carga de
paixões, que a custo
dissimulava. A mente
varrida por dramas
sucessivos parecia
deleitar-se em poder
executá-los
sinistramente. Sabia-se
temido e odiado, no que
se comprazia.
Continuando a viagem de
reminiscências,
encontrou-se numa ampla
alcova, diante de bela
mulher imóvel, que
fitava aterrada a
construção de uma
parede. Ele parecia
vingar-se de alguém...
Os cenários depois se
enevoaram, perderam os
contornos e ele,
voltando à posição
anterior, passou a fugir
em delírio,
desequilibrado, açodado
por implacável vingador
que cavalgava em seu
encalço, alcançando-o e
liberando-o, para
novamente vencê-lo.
Rafael pôs-se então a
gritar e, debatendo-se
no leito humilde,
despertou, banhado de
suor, com expressão
bestial. Um enfermeiro,
de nome Cândido, acudiu,
procurando acalmá-lo.
“Era apenas um
pesadelo”, disse-lhe o
atendente, aduzindo que
todos eram vítimas
desses sonhos
tenebrosos, quando davam
ingresso ali; depois se
acostumavam. Na verdade,
o que Rafael vira foram
cenas de seu passado
espiritual, no qual
fixara as matrizes do
sofrimento atual,
porquanto os depósitos
da "memória não
cerebral" guardam os
arquivos dos sucessos
atuais e os pregressos,
pertinentes às vidas
anteriores. (Cap. 5,
págs. 53 e 54)(Continua
no próximo número.)