Damos continuidade nesta edição
ao
estudo do livro O
Espiritismo perante a
Ciência,
de Gabriel Delanne,
conforme
tradução da obra
francesa Le
Spiritisme devant la
science,
publicada originalmente
em Paris em 1885.
Questões preliminares
A. É verdade que nos
fenômenos de transporte
o médium fica fatigado?
Sim. O relato feito por
Vincent revela esse
fato. Segundo ele, após
a realização do
transporte, o médium
ficou muito fatigado,
durante a noite e no dia
seguinte. Era como uma
espécie de esgotamento;
não havia dor, mas
lassidão geral.
(O Espiritismo perante a
ciência, Quinta Parte,
Cap. III – Médiuns
videntes e médiuns
auditivos.)
B. Como o Espírito
explicou a passagem do
objeto transportado pela
parede do recinto?
O Espírito disse que foi
buscar os objetos com os
fluidos tomados do
médium. Ele os
desmaterializou nos
lugares em que se
achavam, porque estavam
em duas casas
diferentes; depois,
quando se tornaram
fluídicos,
transportou-os,
fazendo-os atravessar a
parede, como ele próprio
a atravessava.
(Obra citada, Quinta
Parte, Cap. III –
Médiuns videntes e
médiuns auditivos.)
C. Durante o transporte
qual é o estado do
médium?
Segundo Delanne, o
estado do médium,
durante o fenômeno, é
vizinho da catalepsia,
produzido certamente
pela perda de fluido
vital.
(Obra citada, Quinta
Parte, Cap. III –
Médiuns videntes e
médiuns auditivos.)
Texto para leitura
951. Eis como Vincent
relatou, em notas
datadas de 28 de
setembro de 1880, como
se deu o primeiro
transporte, obtido em
sua casa, com portas e
janelas fechadas:
“Já há alguns dias
magnetizo o médium todas
as noites. Essa
recomendação me foi
feita pelo Espírito que
quer produzir o
transporte, a fim de bem
dispor o sensitivo, que
não é bastante forte
para efeitos físicos, de
modo a que seja possível
obter espontaneamente
com seus fluidos um tal
fenômeno. Magnetizo-o,
pois, ainda esta noite.
Logo que adormeceu,
chegou o Espírito. Eu o
interrogo como se
falasse a um espírito
encarnado. Ele me
entende e seu pensamento
formula uma resposta que
impressiona o cérebro do
médium adormecido. Este
me transmite, então, de
viva voz, como se ela
fosse emitida por seu
pensamento, a frase que
acaba de ouvir; faço,
depois, outra pergunta,
e a conversa continua
até que o Espírito,
percebendo o médium
fatigado, me aconselha
que o acorde.
– É provável – disse ele
– que eu possa fazer
amanhã meu transporte.
– E que nos trareis? –
pergunto.
– Tenho dois objetos em
vista. Estão ambos na
Inglaterra, em Londres.
Um é uma imagem que dei
à minha irmã, no século
passado. Há palavras
inglesas, por trás. O
outro é uma lembrança
que o médium deu,
outrora, a pessoa amiga.
Trarei – acrescentou o
Espírito – um ou outro,
talvez ambos.
– Ireis, então,
buscá-los na Inglaterra?
– Irei. Podes agora
acordá-lo. Até amanhã.
– Acordo o médium. A
sessão durou um quarto
de hora.
No dia seguinte, 29 de
setembro, magnetizo o
médium às 9 horas da
noite. O Espírito chega
e me diz que vai
produzir o fenômeno.
Seguindo-lhe os
conselhos, fiz o médium
deitar-se no chão. O
Espírito manda que
apague a luz, o que
faço. Colocado perto do
médium, ouvir-lhe-ia os
menores movimentos. Ele
não se mexe.
Espero. Ao fim de dois
ou três minutos, o
médium me diz, sempre
adormecido:
– Ele me apresenta
alguma coisa, mas não
posso tomá-la.
– Que lhe apresenta ele?
– Ah, põe-na a meu lado.
Dirijo-me, então, ao
Espírito:
– Estais ainda aí?
Ele responde com voz
fraca:
– Estou; voltarei,
amanhã, e dar-te-ei
pormenores. Acorda-o.
Acendo a lâmpada e
encontro, ao lado do
médium, uma imagem um
tanto semelhante a essas
gravuras que as jovens
trazem em seus livros
sagrados; num lado, há
um desenho representando
uma rosa colorida e, por
trás, as seguintes
palavras em inglês: For
my dear Rika, October,
1783.”
952. Segundo Vincent, em
uma abertura, feita na
imagem, acima da rosa,
passavam três pequenas
fitas brancas, um pouco
desbotadas. Numa, ele
leu, bordadas, estas
palavras: Eu sou o pão
da vida. Na outra: God
is love. E na terceira:
Cristo é minha vida. As
fitas tinham algumas
dobras, mas a imagem
estava intacta, e seria
absolutamente
impossível, rodeada como
é, de um rendado muito
frágil, que esse rendado
não se amarrotasse e
partisse, se o médium
tivesse trazido consigo
esses objetos para os
colocar a seu lado.
“Repito, aliás, que ele
não fez um único
movimento durante a
experiência. Acha-se
como aniquilado nas
almofadas em que o
deitei e tenho muito
trabalho em acordá-lo”,
afirmou Vincent,
acrescentando que o
médium ficou muito
fatigado, durante a
noite e no dia seguinte.
Era como uma espécie de
esgotamento; não havia
dor, mas lassidão geral.
953. Prossegue o relato
de Vincent:
“No outro dia, às 9 e
meia da noite, magnetizo
o médium; o Espírito
chega.
– O médium ficou muito
fatigado – diz ele – por
esse transporte; assim,
não convém prolongar-lhe
o sono. Desejaria que
lhe tivesse observado o
coração e as pulsações.
Terias notado que elas
eram menos fortes que de
costume, que ele não
estava mais em seu
estado ordinário.
– Podeis dizer-me como
procedestes?
– Não tão bem quanto
queria. Foi por uma
espécie de absorção do
fluido vital. Nós nos
impregnamos dos fluidos
do médium.
– Queria também
perguntar como pudestes
fazer com que esses
objetos atravessassem a
parede, desde que o
quarto da experiência
não tem chaminé, e as
portas e as janelas
estavam fechadas?
– Fui buscar os objetos
de dia, com os fluidos
tomados do médium.
Desmaterializei-os nos
lugares em que eles se
achavam, porque estavam
em duas casas
diferentes; depois,
quando eles se tornaram
fluídicos, por essa
primeira operação,
transportei-os para
aqui, fazendo-os
atravessar a parede,
como eu mesmo a
atravesso. Tomei-os, em
seguida, materiais, com
outros fluidos tomados
do médium, que acabavas
de adormecer. A imagem
fora dada por mim,
antigamente, a minha
irmã, chamada Frederika
ou Rika, por abreviação,
na época em que
habitávamos Londres,
depois de ter deixado a
Alemanha. Quanto às três
pequenas fitas, foi o
médium quem as deu, há
quinze ou dezesseis
anos, a uma pessoa
amiga, morta depois em
Londres. Agora, acorda o
médium.
Acordo-o; são dez horas
e um quarto. Tal é a
história desse primeiro
transporte. Durante
muitos dias interroguei
o mesmo Espírito para
saber alguns detalhes
sobre a maneira pela
qual se operava o
fenômeno. Ele dizia
sempre que não me podia
explicar melhor do que o
houvera feito.”
954. Segundo Vincent, no
dia 11 de novembro de
1880, outro Espírito deu
esta resposta pela
escrita medianímica:
“Pediste ao nosso amigo
uma explicação do
fenômeno dos
transportes. O mais
erudito Espírito não
poderia resolver certos
problemas, que
explicaria por meio de
aparelhos especiais, se
vivesse na Terra. A
matéria cósmica tem
sempre o maior papel nas
operações dos Espíritos.
Analisar como se
desagrega um corpo
sólido com o auxílio
dessa matéria, não é
fácil, pois que o
Espírito nem sempre sabe
exatamente como opera. É
preciso contar também
com a vontade do
Espírito que quer fazer
alguma coisa. Em suma,
os termos nos escapam.
Sê indulgente e crê nos
vossos amigos.”
955. Na descrição desse
transporte, notamos que
o estado do médium é
vizinho da catalepsia e
que houve perda de
fluido vital. As
explicações dos
Espíritos não parecem
trazer grande luz ao
assunto, mas, com os
conhecimentos que já
possuímos, elas nos
podem fazer compreender
a maneira pela qual o
fenômeno se realiza.
956. Notemos que o
Espírito reconhece que
ele age pela vontade, o
que tínhamos
estabelecido nos outros
gêneros de manifestação.
A vontade é o único
agente de que dispõe
para manipular os
fluidos; é uma força que
o Espírito dirige como
quer.
957. Ele não percebe
como os fenômenos se
operam; verifica-os, mas
não os pode analisar,
assim como há alguns
séculos acontecia com a
nutrição, a respiração,
que os homens ignoravam
como se produziam. Ainda
hoje, a geração é uma
operação misteriosa,
apesar das numerosas
pesquisas feitas sobre o
assunto.
958. Tentemos,
entretanto, investigar a
maneira de se dar um
transporte. Vimos que os
corpos podem ocupar
estados diferentes,
desde o sólido à matéria
radiante; podemos, pois,
compreender que o
Espírito, por sua
vontade e com os fluidos
do médium, produzirá uma
operação semelhante à da
água, quando passa a
vapor por meio do
aquecimento. O fluido
vital faz, na
desmaterialização, o
papel de calórico; como
compreender, porém, que
o corpo desmaterializado
conserve a sua forma e
as relações das
moléculas entre si?
959. Se tivéssemos
apenas que lidar com os
corpos brutos,
poder-se-ia supor que o
Espírito forma, por sua
vontade, uma espécie de
invólucro fluídico e que
ele encerra o corpo
desmaterializado nesse
tecido fluídico, mas não
se conceberia como,
voltando esse corpo ao
estado de matéria, podem
as moléculas
recolocar-se em sua
ordem normal.
960. Vejamos uma
hipótese que nos parece
a mais racional.
Demonstramos que o homem
tem um invólucro
semimaterial e que os
animais possuem um
semelhante; há duplos
fluídicos em todas as
criaturas que têm vida,
porque todas se
desenvolvem segundo um
tipo determinado, e é
necessário que uma força
fluídica o conserve em
meio às contínuas
mutações da matéria.
Assier estabeleceu esse
fato para os animais e
para as plantas, tanto
pela lei de analogia,
como pelas experiências
diretas que se encontram
relatadas no capítulo
III do seu livro sobre a
humanidade póstuma. Ele
leva seu sistema mais
longe ainda, e crê que o
duplo fluídico se
aplica, mesmo aos corpos
brutos.
961. Se considerarmos
que os metais
cristalizam em tipos
determinados,
reconhecer-se-á que eles
são também dirigidos por
uma força fluídica e que
podem possuir um duplo
fluídico. Admitido esse
fato, tudo se torna
perfeitamente claro. O
Espírito que quer fazer
um transporte tem apenas
que volatilizar, de
alguma sorte, a matéria
do objeto sobre o qual
opera, depois transporta
esse duplo para o lugar
que escolheu e lá ele
toma ao fluido universal
os elementos necessários
à reconstrução do objeto
material por meio do
fluido vital.
962. Com as plantas a
operação é a mesma. O
duplo fluídico reproduz,
molécula por molécula,
todas as partes da
planta, pois que,
sendo-lhe o esboço,
basta incorporar as
moléculas do fluido
universal, tornadas
materiais pelo Espírito,
e a planta aparece com
todos os seus
pormenores, sua
frescura, seu colorido,
aos olhos dos
assistentes. Enfim, é
sempre a mesma operação
que se executa, quando
um Espírito se quer
tornar visível e
tangível, como nas
experiências de Crookes.
963. Não sabemos até que
ponto nossa hipótese se
aproxima da realidade,
mas os fenômenos se
produzem, é preciso
explicá-los e a nossa
teoria, até agora, é a
que nos parece mais de
acordo com o ensino
espírita e os
descobrimentos modernos.
(1)
(Continua no próximo
número.)
(1)
Os fenômenos de transporte foram estudados por Ernesto Bozzano, que
publicou a respeito o
livro Fenômenos de
Transporte, estudado
sequencialmente nas
edições 175 a 183 desta
revista. Eis o link
que remete à primeira
parte do estudo da
citada obra:
http://www.oconsolador.com.br/ano4/175/classicosdoespiritismo.html