FERNANDA LEITE
BIÃO
fernandabiao9@hotmail.com
Belo Horizonte,
Minas Gerais
(Brasil)
O adoecimento
das (nas)
relações
interpessoais
Em meio à vasta
rede de relações
que os sujeitos
experimentam, em
que vivenciam
suas histórias
de vida, a
socialização
é o caminho para
a construção da
convivência
interpessoal.
Marca
imperativa,
dentre os
primeiros
lampejos de
vida, ainda
mesmo quando
crianças, a
socialização com
os primeiros
pares (pais e
cuidadores) é de
grande
importância para
o
desenvolvimento
físico e
psíquico.
Primeiros passos
para o
conhecimento do
outro e de si
mesmo. Primeiros
passos para as
primeiras
manifestações
das escolhas e,
quem sabe, o
ensaio para o
respeito das
diferenças e dos
diferentes.
Assim, é no seio
familiar em que
as primeiras
experiências
significativas e
primárias de
socialização são
vivenciadas e,
com tais
experiências, a
possibilidade
dos primeiros
contornos de
personalidade e
de
reconhecimento
do Eu se
tornarem
possíveis.
Sentimentos e
emoções,
autoconhecimento
e os primeiros
nós existenciais
também podem ser
encontrados
nesse momento.
Aos nós
existenciais
chamo aquelas
situações
traumáticas e/ou
repetitivas
em que os
sujeitos são
inseridos e que,
embora sirvam de
ensejo para se
desenvolver
algum tipo de
aprendizado no
campo do
sentimento,
atuam também
como um fenômeno
paralisante em
relação ao
Outro, uma
dificuldade para
o
estabelecimento
de relações
atuais e
vindouras, o que
impossibilita o
ser vivente de
enfrentar os
desafios e as
oportunidades de
crescimentos de
novas relações
interpessoais.
Em outras
palavras, o medo
e a desconfiança
se tornam
companhia
constante, em
detrimento da
possibilidade de
crescimento que
mudanças em
relações aos
Outros pode
trazer. É o
velho que
esbarra no novo
a todo o
momento. E
quanto incômodo
pode ser sentido
e traduzido por
meio de um corpo
falante, de uma
mente pensante e
sentimentos
transformados em
armaduras
protetoras de si
mesmo e do
outro. Daí
nascem os
questionamentos,
dentre os quais
se destaca esta
indagação: como
vai sua vida de
relações?
Ando por vários
lugares a
escutar
murmúrios e o
queixume da dor
nascida dos
conflitos. Dor
que corta para
além de lugares
palpáveis.
Corações que
choram sem
cessar.
Sentimentos sem
nomes, emoções
silenciosas e
barulhentas. A
necessidade de
compreender a
dor que lateja.
A que veio a
dor? O que ela
quer me contar?
Vejo o quanto se
relacionar é um
padecimento e a
enfermidade
atual é gostar.
Padecem almas
que não escutam
a si mesmas, em
meio a uma
sinfonia
interior,
lastreada pelo
grito que teima
em sair. Quem as
ouve? Quem se
ouve? Quem ouve
quem?
Deseja-se o
sonho do amor
impossível,
aquele que calou
a alma e a
modelou,
docilizando os
sentimentos
alheios, a
responder a uma
necessidade que
talvez seja
somente uma
fantasia, uma
crença sobre a
forma mais
bonita de ser
amado e de ser
correspondido
nas próprias
necessidades.
As necessidades
sempre
existirão,
motivo por que
se deve
perguntar se a
própria
necessidade não
violenta a
possibilidade de
receber o Outro,
ou seja, de
estar aberto
para o que o
mundo
circundante tem
a lhe oferecer.
Se eu não quero,
tenho de
aprender a dizer
a palavra mágica
– “não” –, ser
livre e
sustentar a
escolha de não
querer. E, por
falar em
liberdade,
parafraseando
Sartre, estamos
condenados a ser
livres. Concordo
com esse
brilhante
filósofo e
reitero suas
palavras,
afirmando que
estamos também
condenados a nos
relacionarmos.
Que tal começar
a pensar nisso?