JOSÉ LOURENÇO DE SOUSA
NETO
lourencobh@gmail.com
Belo Horizonte, MG
(Brasil)
Sucesso e felicidade
“Não te mortifiques pela
obtenção do ensejo de
aparecer nos cartazes
enormes do mundo. Isso
pode traduzir muita
dificuldade e
perturbação para
teu espírito, agora ou
depois.”
– Emmanuel (Vinha de
Luz, cap. 32).
A busca angustiosa por
sucesso e felicidade tem
sido fator de obsessão
dos mais renitentes e
resistentes.
Renitentes porque, de
maneira pouco
inteligente, somos
habilíssimos no
desenvolvimento de
justificativas para
nossos atos, mesmo os
mais perniciosos.
Facilmente explicamos
nossos comportamentos
viciosos e, pior ainda,
os fomentamos porque
“acreditamos” nessas
justificativas. Assim,
teimosamente, repetimos
velhos erros e colhemos
as mesmas dores.
Resistentes porque esses
atos, fortemente
enraizados em nosso
psiquismo, são de
difícil combate. Não
raro, compondo nossa
paisagem mental,
passam-nos
despercebidos, até que
uma queda mais dolorosa
nos leve a uma reflexão
sobre causas e efeitos,
ou algum amigo caridoso,
e corajoso, nos aponte o
erro.
Fator obsedante porque
escancara as portas a
Espíritos enganadores
que se aproveitam dos
desejos infelizes do
incauto e, facilmente, o
iludem com promessas de
falsa felicidade e
sucesso efêmero.
Lembramos a advertência
de Tiago (1:14) – cada
um é “atraído e engodado
pela sua própria
concupiscência”. Uma vez
na teia, a mosca não se
desprende sozinha.
Mas, se faltarem os
agentes externos, o
indivíduo providencia a
própria obsessão, como
alerta Kardec: “Alguns
estados doentios e
certas aberrações que se
lançam à conta de uma
causa oculta derivam do
Espírito do próprio
indivíduo”1.
Vítima de autoilusão e
perseguindo quimeras, a
pessoa acaba presa num
processo auto-obsessivo
sem que haja,
necessariamente, o
concurso de um
perseguidor. Mas de toda
forma se expõe, pela sua
própria condição mental,
à ação de entidades
oportunistas, que não
tardam em reforçar-lhe o
desequilíbrio.
É ainda mais triste
constatar que as vítimas
dessa busca frenética
sequer sabem dizer,
claramente, o que
entendem por sucesso e
felicidade.
Indagados, costumam
referir-se a sucesso
como sendo símbolos
externos de ostentação
ou a situações fugazes,
que se vão mais
rapidamente do que
vieram. Um título, uma
posição profissional, os
famosos quinze minutos
de fama...
Circunstâncias que
custaram, às vezes, um
alto preço e demandam um
investimento ainda maior
na manutenção, que nem
sempre se efetiva.
Muita gente se mata pelo
holofote do
mundo, esquecidas que a
prescrição do Mestre é
muito diferente:
“Tenho-vos dito isto,
para que em mim tenhais
paz; no mundo tereis
aflições, mas tende
bom ânimo, eu venci
o mundo”. (Jo,
16:33.) (Destaques
nossos.)
Por felicidade entendem
um estado de alma de
fruição permanente e
incompatível com a ideia
de eternidade e de
evolução incessante do
ser; um gozo infinito
que não coaduna com a
dinâmica da vida, que é
um eterno vir-a-ser.
Iludidos, têm o
comportamento das
mariposas que, como na
música popular, dão
voltas ao redor da
lâmpada até morrerem
queimadas.
Os Espíritos deixam
claro que “a felicidade
na Terra é coisa tão
efêmera para aquele que
não tem a guiá-lo a
ponderação, que, por um
ano, um mês, uma semana
de satisfação completa,
todo o resto da
existência é uma série
de amarguras e
decepções”2.
Entregando-se,
deslumbrados, a
demonstrações teatrais
de uma alegria que
cheira a crise de
loucura, não se dão
conta de que se jogam
nos braços da desgraça,
quando julgam estar no
regaço da felicidade. E,
novamente, os Espíritos
nos esclarecem: “A
infelicidade é a
alegria, é o prazer, é o
tumulto, é a vã
agitação, é a satisfação
louca da vaidade, que
fazem calar a
consciência, que
comprimem a ação do
pensamento, que atordoam
o homem em relação ao
seu futuro. A
infelicidade é o ópio do
esquecimento que
ardentemente procurais
conseguir”3.
André Luiz nos orienta
para a autovigilância:
“Para a sua felicidade,
resguarde-se de toda
contemporização com os
enganos que nascem de
você mesmo”4.
E Jesus é ainda mais
efetivo: “Buscai
primeiro o reino de
Deus, e a sua justiça, e
todas estas coisas vos
serão acrescentadas”.
(Mt, 6:33).
Notas:
1.
Obras Póstumas
– 1ª. parte, item 58;
FEB.
2.
O Evangelho segundo o
Espiritismo,
cap. V – item 20.
3.
Idem, cap. V – item 24.
4.
Estude e Viva,
FEB, cap. Resguarde-se.