O leitor Paulo Henrique
Rodrigues, de Astolfo
Dutra-MG, enviou-nos uma
carta contendo
questionamentos feitos por
um amigo a propósito de
informações contidas em
obras mediúnicas que, na
opinião de seu amigo, não
teriam suporte nos livros de
Allan Kardec. Ele refere-se
especificamente ao Umbral e
às Colônias Espirituais,
cuja existência não aceita.
A carta foi publicada na
edição 250 desta revista.
Eis os questionamentos
apresentados:
1) Se nas Colônias
espirituais convivem
Espíritos mais ou menos
esclarecidos, ou seja,
moralmente um pouco menos
ignorantes, como podem ser
avistadas ou assediadas
pelos supostos Espíritos do
suposto Umbral? Se estão em
‘faixas de sintonia
diferentes’, como um
umbralino consegue detectar
um colonial e até tentar
invadir-lhe a tal colônia?
2) Se o Espiritismo ensina a
humildade e discrição, por
que as descrições das tais
colônias se referem a
‘palácios’, ‘mansões’ e a
uma suntuosidade nos
templos, se tais colônias
seriam para Espíritos
moralmente esclarecidos?
3) Se o Espiritismo
demonstra que o apego à
matéria subsiste e que ainda
o estado de perturbação é
volátil ao Espírito
desencarnado, por que logo o
Umbral, que reuniria os mais
ambiciosos, os mais apegados
à matéria, os mais vaidosos,
é formado por "construções
em ruínas", edificações
lúgubres e apenas castelos
toscos à moda medieval? Não
seria mais lógico crer que
Espíritos elevados morariam
em choupanas e que Espíritos
vaidosos ergueriam para si
palácios suntuosos com todos
os luxos?
4) Os Espíritos não são
todos dotados de capacidade
de manipulação fluídica, bem
como após a perturbação têm
plena consciência do que
fazem?
*
Vamos ater-nos nesta edição
à questão do Umbral e das
Colônias Espirituais, que
nosso confrade afirma não
existir porque Kardec não os
menciona. Os questionamentos
serão tratados na edição da
próxima semana.
Em primeiro lugar, é preciso
que se diga que Allan Kardec
não pôde, por razões
inúmeras, aprofundar-se em
determinados assuntos que
estariam reservados para as
gerações futuras, porque a
revelação espírita é
progressiva e deve seguir,
conforme proposto pelo
próprio Codificador, o
avanço da ciência.
Mas, embora sem os
pormenores que outros
autores nos trariam, Kardec
alude ao assunto em alguns
momentos de seu livro “O Céu
e o Inferno”.
Assim é que no cap. VII da
1ª Parte da obra citada, no
tópico 25º, ele informa que
existem Espíritos
mergulhados em densa treva;
outros se encontram em
absoluto insulamento no
Espaço, atormentados pela
ignorância da própria
posição, como da sorte que
os aguarda. Os mais culpados
padecem torturas muito mais
pungentes por não lhes
entreverem um termo. Alguns
são privados de ver os seres
queridos, e todos,
geralmente, passam com
intensidade relativa pelos
males, pelas dores e
privações que a outrem
ocasionaram. Esta situação
perdura até que o desejo de
reparação pelo
arrependimento lhes traga a
calma para entrever a
possibilidade de, por eles
mesmos, pôr um termo à sua
situação.
Em outro trecho do mesmo
livro, no cap. IV da 2ª
Parte, ele reproduz uma
comunicação do Espírito de
Claire que se refere ao
marido, que muito a
martirizara, e à posição em
que ele se encontrava no
mundo espiritual. Eis o
trecho: “Queres saber qual a
situação do pobre Félix?
Erra nas trevas entregue à
profunda nudez de sua alma.
Superficial e leviano,
aviltado pelo sensualismo,
nunca soube o que eram o
amor e a amizade. Nem mesmo
a paixão esclareceu suas
sombrias luzes. Seu estado
presente é comparável ao da
criança inapta para as
funções da vida e privada de
todo o amparo. Félix vaga
aterrorizado nesse mundo
estranho onde tudo fulgura
ao brilho desse Deus por ele
negado.”
Quando surgiu o livro “Nosso
Lar”, primeira obra escrita
por André Luiz, dúvidas
inúmeras foram levantadas
por personalidades
importantes, a exemplo de
Leopoldo Machado, que
tiveram dificuldade em
aceitar parte das
informações que o livro
apresentava.
Sabemos hoje que tais
dúvidas não tinham
fundamento nenhum porque, a
rigor, André Luiz não trazia
novidades sobre o tema, que
já fora examinado
anteriormente por inúmeros
autores.
Se o amigo do leitor que nos
escreveu tivesse lido o
livro “A Vida no Outro
Mundo”, obra de Cairbar
Schutel publicada antes do
surgimento do médium Chico
Xavier, saberia disso, o que
implica dizer que negar a
existência do chamado Umbral
e das Colônias Espirituais
mencionadas por André Luiz
significa refutar a
contribuição inestimável de
autores consagrados como,
por exemplo, Conan Doyle,
Oliver Lodge, Carl du Prel,
Swedenborg, Winifred Moyes,
Ernesto Bozzano, Cairbar
Schutel e Lilian Walbrook,
dentre muitos outros.
Eis, a propósito, algumas
informações que colhemos no
livro “A Vida no Outro
Mundo”, de Cairbar Schutel:
1. Há no Outro Mundo
diversos planos de
existência, e não poderia
ser de outro modo, porque os
Espíritos, revestidos de seu
corpo espiritual, não podem
viver num meio que não
esteja de acordo com sua
vestimenta espiritual, que
vibra sempre ao ritmo da
elevação de cada um, em
sabedoria e moralidade. Uma
região isenta de oxigênio
seria hostil a Espíritos
ainda necessitados de
oxigênio. Os círculos que
envolvem a Terra se
diferenciam pela fluidez da
matéria que os compõe. (A
Vida no Outro Mundo, 5ª.
edição, pp. 82, 83, 85 e
107.)
2. O primeiro plano do Mundo
Espiritual é bem parecido
com o plano terráqueo.
Pode-se dizer que o nosso
plano aqui na Terra é uma
cópia materializada desse
plano, o que explica a
existência ali de habitações
semelhantes às nossas. (Obra
citada, pp. 87 a 89.)
3. Muitas obras e estudiosos
falam sobre a existência de
cidades, casas, hospitais,
templos e palácios no Outro
Mundo e Conan Doyle menciona
em seu livro “História do
Espiritismo” vários casos, a
exemplo de sir Oliver Lodge,
Carl du Prel, Swedenborg,
Winifred Moyes e Lilian
Walbrook. (Obra citada, pp.
54, 56, 57, 78, 92, 95, 96,
97, 102 e 103.)
4. Nas mensagens transcritas
por Conan Doyle, além da
referência à existência de
casas lindas e flores, um
dos comunicantes fala do
alimento utilizado no plano
em que vivia, o qual não se
parece com o nosso porque é
muito mais agradável e
delicado. (Obra citada, pp.
95 a 97.)
5. Nas obras de Swedenborg
faz-se menção a casas,
templos, salões, palácios.
As crianças são bem
recebidas no Outro Mundo,
sejam ou não batizadas, e
ali elas crescem cuidadas
por mulheres jovens, até que
lhes apareçam suas mães
verdadeiras. (Obra citada,
pp. 98 a 100.)
6. No livro “O Caso de
Lester Coltman”, de Lilian
Walbrook, Coltman (Espírito)
dá-nos a seguinte
informação: “Meu trabalho
continua aqui como se
iniciou na Terra, ou seja,
no terreno científico. Para
progredir em meus estudos,
visito frequentemente um
laboratório, onde encontro
facilidades tão completas
como extraordinárias para a
realização de experiências.
Tenho casa própria,
verdadeiramente bela, com
uma grande biblioteca, na
qual existe toda a classe de
livros de consulta:
históricos, científicos, de
Medicina, e de todos os
gêneros da Literatura. Para
nós, estes livros são tão
interessantes como para vós,
os da Terra. Tenho uma sala
de música com toda a sorte
de instrumentos. Tenho
quadros de rara beleza e
móveis de gosto apurado.” Na
sequência, Lester Coltman
refere-se a uma paisagem
extraordinariamente bela que
ele podia descortinar de
suas janelas e diz haver ali
magníficas escolas para
instrução dos Espíritos de
crianças. (Obra citada, pp.
93 a 95.)
As informações de Cairbar
Schutel não são diferentes
das que Ernesto Bozzano nos
trouxe em seu livro “A Crise
da Morte”, obra publicada em
1926 pela Federação Espírita
Brasileira.
Eis trechos da referida
obra:
1. Segundo esclarecimentos
ditados pelo Espírito de
Celfra: a) existem esferas
espirituais de transição, em
que os Espíritos guardam a
forma humana e se veem num
meio análogo ao terrestre;
b) o peso do Espírito
recém-chegado ao mundo
espiritual provém das
condições de pecado em que
toda gente aí chega; c)
enquanto a alma do
recém-vindo estiver ligada,
de alguma sorte, ao mundo
dos vivos, o Espírito não
pode deixar de existir numa
condição quase terrena; d)
após a morte do corpo
físico, nas altas esferas
espirituais a faculdade de
pensar experimenta uma
transformação e uma expansão
prodigiosas. (A Crise da
Morte, pp. 159 a 161.)
2. Jim Nolan disse que, ao
entrar no mundo espiritual,
parecia-lhe caminhar sobre
um terreno sólido, quando
encontrou sua avó, que o
levou para longe dali, para
sua morada. A morada da avó,
onde ele repousou e dormiu
naquela noite, tinha o
aspecto de uma casa. “No
mundo dos Espíritos –
explicou ele –, há a força
do pensamento, por meio do
qual se podem criar todas as
comodidades desejáveis...”
(Obra citada, p. 32.)
3. O Espírito, pensando na
forma humana, se veria de
novo em forma humana;
pensando em estar vestido,
achar-se-ia coberto de
roupas que, sendo tão
etéreas como o seu próprio
corpo, lhe pareceriam tão
substanciais como as vestes
terrenas. É assim que ele
encontra, no mundo
espiritual, um meio e uma
morada correspondentes a
seus hábitos terrestres,
morada que lhe preparariam
os seus familiares, tornados
antes dele à existência
espiritual. (Obra citada, p.
36.)
4. Felicia Scatcherd diz ter
sido conduzida a uma
maravilhosa morada que os
próprios Espíritos haviam
criado pela força do
pensamento. (Obra citada,
pp. 117 a 121.)
5. A
mensagem do Espírito trouxe
notícias sobre as habitações
existentes no mundo
espiritual, construídas por
Espíritos que se
especializaram em modelar,
pelo pensamento, a matéria
espiritual. (Obra citada,
pp. 137 a 143.)
6. Os Espíritos se encontram
novamente, na vida
espiritual, com a forma
humana. Todos se acham num
meio espiritual radioso e
maravilhoso (no caso de
mortos moralmente normais) e
num meio tenebroso e
opressivo (no caso de mortos
moralmente depravados).
Todos reconhecem que o meio
espiritual é um novo mundo
objetivo, real, análogo ao
meio terrestre
espiritualizado. Eles
aprendem que isso se deve ao
fato de que, no mundo
espiritual, o pensamento
constitui uma força
criadora, por meio da qual o
Espírito existente no “plano
astral” pode reproduzir em
torno de si o meio de suas
recordações. Os Espíritos
dos mortos gravitam
fatalmente e automaticamente
para a esfera espiritual que
lhes convém, por virtude da
“lei de afinidade”. (Obra
citada, pp. 164 a 166.)
Sobre a região chamada
Umbral e as esferas
espirituais que circundam a
Crosta terrestre
recomendamos ao leitor que
leia o texto publicado nesta
mesma seção na edição 226 de
nossa revista. Eis o link:
http://www.oconsolador.com.br/ano5/226/oespiritismoresponde.html
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