ALESSANDRO VIANA
VIEIRA DE PAULA
vianapaula@uol.com.br
Itapetininga,
SP(Brasil)
Cair em si
Inegavelmente,
as parábolas de
Jesus são um
manancial de
aprendizado e
beleza,
porquanto são
narrativas
simples, mas de
conteúdos
espiritual e
moral
inigualáveis,
sendo que
permitem ao
leitor ou ao
ouvinte a
identificação
espontânea com o
sentido ético da
lição.
Jesus raramente
apontava os
erros
individuais,
pois sabe que o
ego possui
mecanismos
automáticos de
defesa, dentre
eles, a negação,
de tal sorte
que, com as
parábolas,
facultava à
criatura humana,
de acordo com
seu nível de
maturidade, o
reconhecimento e
a análise de
seus desvios
morais e
equívocos
existenciais.
Dentre as
parábolas
narradas no
evangelho,
destaco a do
filho pródigo,
porque
representa a
síntese da
evolução
espiritual,
permitindo-nos
uma profunda
reflexão a
respeito de como
anda a nossa
atual existência
física.
A benfeitora
Joanna de
Ângelis, na obra
“Em Busca da
Verdade”, pela
lavra mediúnica
do confrade
Divaldo Pereira
Franco, escreve
sobre a referida
parábola,
dando-nos
diversos
enfoques sobre a
conduta de cada
personagem,
tornando a
parábola ainda
mais rica e bela
de ensinamentos.
Fica registrada
a sugestão para
a leitura da
obra mencionada.
A parábola expõe
o momento em que
o filho pródigo,
imaturo e
impulsivo, opta
por sair da casa
do genitor para
viajar a um país
longínquo, onde
gasta sua parte
da herança com
leviandades e
prazeres
materiais. Após
consumir-se nas
paixões e gastar
todo seu recurso
econômico, vê-se
diante de um
período de fome
que se instalara
naquela região.
Privado de tudo
e passando
necessidades,
começa a
trabalhar com
porcos, vindo a
disputar a
comida com eles.
Porém, chega o
momento em que o
filho pródigo
cai em si
e retorna à casa
do pai, onde é
acolhido com
imensa ternura e
amor.
Essa parábola
explica
claramente o
processo do
deotropismo,
isto é, fomos
criados por
Deus, portanto,
saímos “das suas
mãos”, mas, por
imaturidade e
ignorância,
perdemo-nos na
estrada da
evolução e
afastamo-nos
dEle, até o
momento em que,
extenuados pelo
sofrimento e
famintos de amor
e conhecimento,
caímos em nós e
optamos por
voltar à casa do
Pai Celestial,
que, generoso e
confiante,
sempre nos
aguardava.
Cair em nós
significa o
exato momento em
que ocorre o
despertar da
consciência.
A consciência
desperta quando
identificamos
que somos
Espíritos
imortais a
caminho da
plenitude e que
a vida no corpo
tem um sentido
ético, devendo
abranger o
crescimento
intelecto-moral.
Obviamente que é
o primeiro passo
na direção de
regresso a Deus,
pois outros
desafios
evolutivos
surgirão, tais
como,
libertar-se dos
conflitos
cultivados,
harmonizar o
eixo ego-self,
eliminar os
defeitos morais
e converter o
despertar da
consciência em
atitudes
renovadas sob a
égide do amor.
No capítulo
quarto da citada
obra, Joanna de
Ângelis compara
o despertar da
consciência com
o mito da
expulsão do
paraíso.
Enquanto
vivemos,
simbolicamente,
no jardim do
Éden, o ego
(carga de
egoísmo presente
no inconsciente,
fruto da
evolução nos
reinos
inferiores da
criação) toma
todo o espaço do
Self (ser
espiritual que
contém o germe
divino para a
plenitude),
gerando uma vida
materialista, de
acomodação e
deleite. Era a
conduta do filho
pródigo, cuja
consciência
ainda estava
adormecida.
Notemos que Adão
e Eva não
trabalhavam,
porque o
necessário para
as suas
sobrevivências
estava à
disposição no
Éden. Todavia,
após comerem o
fruto da árvore
proibida (mito),
foram expulsos
do paraíso, e
Deus condenou
Adão ao
trabalho.
A partir dessa
ocorrência, Adão
passa a
descobrir o
valor do
trabalho e do
esforço, na
medida em que
tudo o que
necessita passa
a ser fruto do
merecimento,
portanto, há o
despertar da
consciência.
Assim ocorre
conosco. Quando
os ensinamentos
de Jesus
preenchem os
vazios da alma,
passamos a
trabalhar em
favor do nosso
crescimento
espiritual, na
busca dos
valores
imperecíveis que
dignificam a
nossa vida. Na
simbologia de
Joanna de
Ângelis,
passamos a ser
um novo Adão,
isto é, um homem
novo, com ideais
bem definidos,
procurando mais
servir do que
ser servido.
Caímos em nós e
redefinimos o
rumo de nossa
vida como ser
imortal
destinado à
plenitude,
porque começamos
a regressar à
Casa do Pai,
nesse processo
de integração
com o Arquétipo
Primordial,
razão pela qual
Jesus disse que
Ele e o Pai eram
um só (perfeita
integração).
Paulo de Tarso,
ao cair em si,
verbalizou “já
não sou eu que
vivo, mas é o
Cristo que vive
em mim”, porque
integrou-se com
o pensamento de
Jesus e, por
consequência, de
Deus.
Anote-se que ao
cair em si é
natural que
surjam as
culpas, que, do
ponto de vista
psicológico, é
produtiva desde
que bem
direcionada.
Joanna de
Ângelis fala do
“Eu-Angélico”
(recursos
divinos em nossa
intimidade), que
estimula a
culpa, pois a
presença desta é
sinal de
instalação do
despertar da
consciência, que
nos aponta o
certo e o
errado, o bem e
o mal proceder.
Diante da
presença da
culpa, cabe-nos
não repetir o
erro e reparar o
mal causado, se
possível. Caso
não seja, basta
fazer o bem em
favor de alguém
ou da vida,
porquanto a ação
fraterna é ponto
positivo na
contabilidade
divina a anular
ou amenizar o
mal causado (o
amor cobre a
multidão de
pecados – Simão
Pedro).
À medida que
vamos evoluindo,
aproximamo-nos
cada vez mais de
Deus,
tornamo-nos mais
livres e
felizes, uma vez
que começamos a
superar os
impulsos
inferiores e as
tendências
agressivas, bem
como não
permitiremos que
o mal dos maus
nos atinjam.
Isto é ser
livre. Não
permitir que os
outros afetem a
serenidade
interior
conquistada a
partir do cair
em si.
O Espírito de
Joanna de
Ângelis ainda
nos apresenta
Jesus como sendo
o filho pródigo
do amor, haja
vista que se
afastou das
regiões celestes
(Casa do Pai) e
foi para o país
longínquo da
matéria densa,
vivendo com a
ralé (pigmeus
morais –
simbologia do
porco na
parábola).
Ensinou a
criatura humana
a dissipar a
sombra
individual, mas
foi
incompreendido e
crucificado,
voltando, rico
de bênçãos, à
Casa do Pai.
Todavia, seus
ensinos
permanecem como
lições vivas de
esperança e
júbilo, tendo
suas parábolas
contribuído para
esse cenário,
auxiliando-nos
no processo
inevitável do
cair em si, com
o escopo de
renovação moral.
Para os
espíritas, cujo
despertar da
consciência foi
mais intenso em
virtude dos
conhecimentos
amealhados a
partir do
Espiritismo,
percebemos que o
cair em si se
dará diante dos
mínimos erros,
porque a
consciência, de
imediato,
apontará que não
procedemos
conforme
deveríamos.
O Espírito de
Bezerra de
Menezes fala-nos
sobre o ousar no
bem, dar um
passo além, de
forma que o
verdadeiro
cristão, por ter
caído em si,
sabe que pode
fazer mais em
favor do amor e
da paz,
sobretudo,
dulcificando a
própria conduta.
Frise-se que o
processo do cair
em si não é um
episódio único,
mas inicia-se
com o despertar
da consciência,
cuja extensão
vai se ampliando
na exata
proporção do
nosso esforço em
favor da busca
do conhecimento
e da vivência do
amor.
“Conhecereis a
verdade e ela
vos libertará”
dos equívocos,
da ignorância.
Naturalmente,
chegará um
momento da
evolução em que
não mais
precisaremos
cair em nós,
pois a
consciência e a
conduta estarão
perfeitamente
afinadas com as
diretrizes do
evangelho.
O tema e a
parábola em
questão são
profundos, de
forma que
caberiam outros
apontamentos,
mas fica o
convite para o
autoencontro,
cientes de que o
Pai Generoso nos
aguarda sempre,
amoroso e
gentil, cabendo
a cada um de nós
apressar esse
retorno,
sobretudo pelas
escolhas
acertadas e por
uma vida pautada
pela pureza de
coração.
“Bem-aventurados
os puros de
coração, porque
verão a Deus”.