FRANCISCO
REBOUÇAS
costareboucas@ig.com.br
Niterói, RJ (Brasil)
A
prece e seus
efeitos
A oração fazia
parte das
rígidas
disciplinas do
culto judaico.
Os judeus
rezavam duas
vezes por dia,
mais ou menos às
9 e 13 horas,
postados em
direção a
Jerusalém. Na
cidade santa,
voltavam-se para
o Templo. Muitos
faziam dessa
prática um
recurso de
ostentação e
religiosidade (é
bem mais fácil
aparentar
contrição do que
viver os
princípios
religiosos).
Achavam que
através do culto
exterior se
habilitariam ao
recebimento das
graças, divinas,
esquecendo-se de
que a religião
visa
principalmente à
renovação moral
do indivíduo.
Jesus referia-se
a eles como
sepulcros
caiados, brancos
por fora e
cheios de
podridão por
dentro! Uma
imagem forte,
mas real. Não há
nada mais
lamentável do
que a falsa
religiosidade!
O Evangelho
segundo o
Espiritismo -
CAPÍTULO XXVII
Também disse
esta parábola a
alguns que
punham a sua
confiança em si
mesmos, como
sendo justos, e
desprezavam os
outros: Dois
homens subiram
ao templo para
orar; um era
fariseu,
publicano o
outro. - O
fariseu,
conservando-se
de pé, orava
assim, consigo
mesmo: Meu Deus,
rendo-vos graças
por não ser como
os outros
homens, que são
ladrões,
injustos e
adúlteros, nem
mesmo como esse
publicano. Jejuo
duas vezes na
semana; dou o
dízimo de tudo o
que possuo.
O publicano, ao
contrário,
conservando-se
afastado, não
ousava, sequer,
erguer os olhos
ao céu; mas
batia no peito,
dizendo: Meu
Deus, tem
piedade de mim,
que sou um
pecador.
Declaro-vos que
este voltou para
a sua casa,
justificado, e o
outro não;
porquanto,
aquele que se
eleva será
rebaixado e
aquele que se
humilha será
elevado. (S.
LUCAS, cap.
XVIII, vv. 9 a
14.)
Jesus definiu
claramente as
qualidades da
prece. Quando
orardes, diz
ele, não vos
ponhais em
evidência;
antes, orai em
secreto. Não
afeteis orar
muito, pois não
é pela
multiplicidade
das palavras que
sereis
escutados, mas
pela sinceridade
delas. Antes de
orardes, se
tiverdes
qualquer coisa
contra alguém,
perdoai-lhe,
visto que a
prece não pode
ser agradável a
Deus, se não
parte de um
coração
purificado de
todo sentimento
contrário à
caridade. Orai,
enfim, com
humildade, como
o publicano, e
não com orgulho,
como o fariseu.
Examinai os
vossos defeitos,
não as vossas
qualidades e, se
vos comparardes
aos outros,
procurai o que
há em vós de
mau. (Cap. X, nº
7 e nº 8.)
Donde podemos
concluir que a
prece deve ser
feita com o
coração, e não
com os atos e
gestos
espalhafatosos,
que indiquem que
estamos orando;
é momento de
meditação e
concentração em
que devemos
estar em contato
com forças
superiores em
sabedoria e
amor.
Entre os
egípcios e
hindus, chineses
e persas, gregos
e cipriotas,
gauleses e
romanos, a prece
expressando
invocação e
louvor, adoração
ou meditação é o
agente refletor
do Plano Celeste
sobre a alma do
homem.
Orando, Moisés
recolhe no Monte
Sinai os
mandamentos que
alicerçam a
justiça de todos
os tempos, e,
igualmente em
prece, seja nas
margens do
Genesaré ou em
pleno Tabor,
respirando o
silêncio de
Getsêmani ou nos
braços da cruz,
o Cristo revela
na oração o
reflexo
condicionado de
natureza divina,
suscetível de
facultar a
sintonia entre a
criatura e o
Criador.
A oração, em
essência,
expressa
sentimentos.
O Evangelho
segundo o
Espiritismo
–
Cap. XXVII
INSTRUÇÕES DOS
ESPÍRITOS
Maneira de orar
O dever
primordial de
toda criatura
humana, o
primeiro ato que
deve assinalar a
sua volta à vida
ativa de cada
dia, é a prece.
Quase todos vós
orais, mas quão
poucos são os
que sabem orar!
Que importam ao
Senhor as frases
que
maquinalmente
articulais umas
às outras,
fazendo disso um
hábito, um dever
que cumpris e
que vos pesa
como qualquer
dever?
A prece do
cristão, do
espírita,
seja qual for o
seu culto, deve
ele dizê-la logo
que o Espírito
haja retomado o
jugo da carne;
deve elevar-se
aos pés da
Majestade Divina
com humildade,
com profundeza,
num ímpeto de
reconhecimento
por todos os
benefícios
recebidos até
aquele dia; pela
noite
transcorrida e
durante a qual
lhe foi
permitido, ainda
que sem
consciência
disso, ir ter
com os seus
amigos, com os
seus guias, para
haurir, no
contacto com
eles, mais força
e perseverança.
Deve ela subir
humilde aos pés
do Senhor, para
lhe recomendar a
vossa fraqueza,
para lhe
suplicar amparo,
indulgência e
misericórdia.
Deve ser
profunda,
porquanto é a
vossa alma que
tem de elevar-se
para o Criador,
de
transfigurar-se,
como Jesus no
Tabor, a fim de
lá chegar nívea
e radiosa de
esperança e de
amor. A vossa
prece deve
conter o pedido
das graças de
que necessitais,
mas de que
necessitais em
realidade.
Inútil,
portanto, pedir
ao Senhor que
vos abrevie as
provas, que vos
dê alegrias e
riquezas.
Rogai-lhe que
vos conceda os
bens mais
preciosos da
paciência, da
resignação e da
fé. Não digais,
como o fazem
muitos: "Não
vale a pena
orar, porquanto
Deus não me
atende". Que é o
que, na maioria
dos casos, pedis
a Deus? Já vos
tendes lembrado
de pedir-lhe a
vossa melhoria
moral? Oh! Não;
bem poucas vezes
o tendes feito.
O que
preferentemente
vos lembrais de
pedir é o bom
êxito para os
vossos
empreendimentos
terrenos e
haveis com
frequência
exclamado: "Deus
não se ocupa
conosco; se se
ocupasse, não se
verificariam
tantas
injustiças".
Insensatos!
Ingratos! Se
descêsseis ao
fundo da vossa
consciência,
quase sempre
depararíeis, em
vós mesmos, com
o ponto de
partida dos
males de que vos
queixais. Pedi,
pois, antes de
tudo, que vos
possais melhorar
e vereis que
torrente de
graças e de
consolações se
derramará sobre
vós. (Cap. V, nº
4.)
Deveis orar
incessantemente,
sem que, para
isso, se faça
mister vos
recolhais ao
vosso oratório,
ou vos lanceis
de joelhos nas
praças públicas.
A prece do dia é
o cumprimento
dos vossos
deveres, sem
exceção de
nenhum, qualquer
que seja a
natureza deles.
Não é ato de
amor a Deus
assistirdes os
vossos irmãos
numa
necessidade,
moral ou física?
Não é ato de
reconhecimento o
elevardes a ele
o vosso
pensamento,
quando uma
felicidade vos
advém, quando
evitais um
acidente, quando
mesmo uma
simples
contrariedade
apenas vos roça
a alma, desde
que vos não
esqueçais de
exclamar:
Sede bendito,
meu Pai?!
Não é ato de
contrição o vos
humilhardes
diante do
supremo Juiz,
quando sentis
que falistes,
ainda que
somente por um
pensamento
fugaz, para lhe
dizerdes:
Perdoai-me, meu
Deus, pois
pequei (por
orgulho, por
egoísmo, ou por
falta de
caridade);
dai-me forças
para não falir
de novo e
coragem para a
reparação da
minha falta?!
Isso independe
das preces
regulares da
manhã e da noite
e dos dias
consagrados.
Como o vedes, a
prece pode ser
de todos os
instantes, sem
nenhuma
interrupção
acarretar aos
vossos
trabalhos. Dita
assim, ela, ao
contrário, os
santifica. Tende
como certo que
um só desses
pensamentos, se
partir do
coração, é mais
ouvido pelo
vosso Pai
celestial do que
as longas
orações ditas
por hábito,
muitas vezes sem
causa
determinante e
às quais
apenas
maquinalmente
vos chama a hora
convencional. -
V. Monod. (Bordéus,
1862.)
Felicidade que a
prece
proporciona
Vinde, vós que
desejais crer.
Os Espíritos
celestes acorrem
a vos anunciar
grandes coisas.
Deus, meus
filhos, abre os
seus tesouros,
para vos
outorgar todos
os benefícios.
Homens
incrédulos! Se
soubésseis quão
grande bem faz a
fé ao coração e
como induz a
alma ao
arrependimento e
à prece! A
prece! ah! como
são tocantes as
palavras que
saem da boca
daquele que ora!
A prece é o
orvalho divino
que aplaca o
calor excessivo
das paixões.
Filha
primogênita da
fé, ela nos
encaminha para a
senda que conduz
a Deus. No
recolhimento e
na solidão,
estais com Deus.
Para vós, já não
há mistérios;
eles se vos
desvendam.
Apóstolos do
pensamento, é
para vós a vida.
Vossa alma se
desprende da
matéria e rola
por esses mundos
infinitos e
etéreos, que os
pobres humanos
desconhecem.
Avançai, avançai
pelas veredas da
prece e ouvireis
as vozes dos
anjos. Que
harmonia! Já não
são o ruído
confuso e os
sons estrídulos
da Terra; são as
liras dos
arcanjos; são as
vozes brandas e
suaves dos
serafins, mais
delicadas do que
as brisas
matinais, quando
brincam na
folhagem dos
vossos bosques.
Por entre que
delícias não
caminhareis! A
vossa linguagem
não poderá
exprimir essa
ventura, tão
rápida entra ela
por todos os
vossos poros,
tão vivo e
refrigerante é o
manancial em
que, orando, se
bebe. Dulçurosas
vozes,
inebriantes
perfumes, que a
alma ouve e
aspira, quando
se lança a essas
esferas
desconhecidas e
habitadas pela
prece! Sem
mescla de
desejos carnais,
são divinas
todas as
aspirações.
Também vós, orai
como o Cristo,
levando a sua
cruz ao Gólgota,
ao Calvário.
Carregai a vossa
cruz e sentireis
as doces emoções
que lhe
perpassavam
nalma, se bem
que vergado ao
peso de um
madeiro
infamante. Ele
ia morrer, mas
para viver a
vida celestial
na morada de seu
Pai.
–
Santo Agostinho.
(Paris,
1861.)
Em outras obras
O assistente
Áulus esclarece
a André Luiz
que: “... E toda
oração, filha da
sinceridade e do
dever bem
cumprido, com
respeitabilidade
moral e limpeza
de sentimentos,
permanece tocada
de
incomensurável
poder. Analisa a
questão nestes
termos, todas as
pessoas dignas e
fervorosas, com
o auxílio da
prece, podem
conquistar a
simpatia de
veneráveis
magnetizadores
do Plano
Espiritual, que
passam, assim, a
mobilizá-los na
extensão do bem.
Nos Domínios da
Mediunidade
– Cap.
17.
... Pela oração
nos comunicamos
instantaneamente
com
intercessores
muito mais
solícitos e
poderosos, em
inesgotáveis
fontes
espirituais de
socorro, sem
apadrinhamento,
sem protocolo,
sem que se
pergunte se
somos ricos ou
pobres, bem
situados na
sociedade ou
humildes
serviçais.
A Voz do Monte
– Cap.:
Ante a Oração.
A mente
centralizada na
oração pode ser
comparada a uma
flor estelar,
aberta ante o
Infinito,
absorvendo-lhe o
orvalho
nutriente de
vida e luz.
“Orar constituía
fórmula básica
da renovação
íntima, pela
qual divino
entendimento
desce do coração
da vida para a
vida do
coração.”
Mecanismos da
Mediunidade
–
Capítulo 25.
Precisamos
atentar para o
fato de que a
prece é um
sublime canal de
contato de que
todos dispomos
para entrar em
contato com as
fontes
superiores do
bem, e que a
oração feita com
fervor, nascida
do fundo de
nossos mais
puros
sentimentos,
pode nos trazer
benefícios que
estão ainda bem
distantes de
nossa acanhada
compreensão.
Fontes:
1) O Evangelho
segundo o
Espiritismo,
Cap. XXVII.
2) Nos Domínios
da Mediunidade,
Cap. 17 e 25.
3) A Voz do
Monte, Cap. Ante
a Oração.