B. O fenômeno de
transfiguração
ectoplásmica se mostra
sempre combinado com
outras modalidades de
manifestação do mesmo
fenômeno?
Sempre, não; quase sempre, sim. Tudo concorre para demonstrar que
nesse fenômeno, para
completar a
concretização da máscara
ectoplásmica, tanto
podem contribuir o
fenômeno da contração e
adaptação dos músculos
faciais, quanto o outro
fenômeno da subtração de
substância viva aos
tecidos do rosto e isto
com o escopo de
reduzir-lhe ou
remodelar-lhe alguns
traços, adaptando-o de
tal forma à máscara do
defunto que se deseja
representar.
(A Morte e os seus Mistérios, Caso 5.)
C. Durante o processo de
transfiguração, pode o
corpo do médium
tornar-se
momentaneamente oculto à
visão das testemunhas
presentes?
Sim. Foi o que ocorreu na transfiguração da médium Helena Mainardi,
caso em que se verificou
a ocultação da médium
dentro de uma nuvem de
ectoplasma, o que
presumivelmente deve ser
atribuído à poderosa
mediunidade de efeitos
físicos da condessa,
potencialidade que
permitiu uma emissão
abundante de substância
ectoplásmica que logo se
concretizou na máscara
da transfiguração.
(A Morte e os seus
Mistérios, Caso 6.)
Texto para leitura
31. O Caso 5 foi tirado dos "Annales des Sciences Psychiques" e
quem o relata é o Dr.
Joseph Maxwell, nome
assaz conhecido no campo
das investigações
psíquicas. O diretor da
revista, Sr. Cesare de
Vesme, esclarece: "O
caso foi comunicado ao
Dr. Maxwell por um
eminente magistrado seu
colega, que não deseja
seja revelado seu nome;
todavia, se houver
investigadores sérios
que desejem conhecer os
nomes dos dois
percipientes, bem como o
da cidade em que se
produziu o fenômeno, o
Dr. Maxwell tudo
revelará aos
interessados".
32. Esta a narrativa do protagonista: "Meu pai era doutor em
medicina e sempre
exerceu a profissão numa
vila do sul da França.
Nascera em 1812;
casara-se em 1843 e, a
partir dessa data,
habitara na mesma casa
até a morte, ocorrida em
julho de 1903. Aos
primeiros dias de
janeiro de 1903, meu pai
foi assaltado pelos
sintomas da moléstia
que, seis meses depois,
devia levá-lo ao túmulo.
Cerca de dois meses
antes da sua morte, eu
me encontrava no seu
quarto às oito e meia da
noite. Ele dormia na sua
poltrona ao lado da
chaminé e eu me sentara
diante dele,
vigiando-lhe o sono.
Estávamos sós, e não
tardei a perceber que
sua fisionomia ia
gradativamente assumindo
um aspecto que não era
mais o seu, até que
chegou um momento em que
verifiquei,
positivamente, que seu
rosto se transformara no
de minha mãe. Dir-se-ia
que sobre o rosto de meu
pai se colocara a
máscara de minha mãe.
Note-se que, desde muito
tempo, faltavam
inteiramente ao meu pai
os supercílios; mas
naquele momento, acima
de seus olhos fechados,
se desenharam as vastas
sobrancelhas negríssimas
que minha mãe conservara
até os últimos dias de
vida. As pálpebras, o
nariz e a boca se haviam
tornado os de minha mãe.
Não obstante, seu rosto
parecia
consideravelmente maior,
mas devo observar a
respeito que, no período
pré-agônico, o rosto de
minha mãe se
hipertrofiara
notavelmente, até
atingir aproximadamente
as proporções assumidas
pela efígie que aparecia
diante de ruim. Observo,
além disso, que a
própria efígie
reproduzia mais
fielmente o semblante
dela do que o poderia
ter feito se acaso
houvesse reproduzido o
seu rosto alterado pela
moléstia. Meu pai usava
os bigodes e a barba em
ponta muito curta. Barba
e bigodes permaneceram;
mas, contrariamente ao
que se poderia supor,
contribuíam eficazmente
para completar os traços
maternos. A aparição
manteve-se intacta por
dez ou doze minutos;
depois lentamente se
dissipou e meu pai
retomou os traços
normais. Cinco minutos
depois despertou, e eu
perguntei-lhe se sonhara
porventura com sua
esposa; respondeu
negativamente”.
33. Continuando, o protagonista disse que durante a manifestação do
fenômeno ele ficou
imóvel, a observar o
espetáculo que se lhe
deparava, abstendo-se de
estender a mão para
tocar a aparição, e isto
por temer que se
dissipasse.
34. Segundo ele, outra pessoa também viu o que ele havia
presenciado: a criada de
seu pai - uma moça de 31
anos - à qual sua mãe,
no leito de morte,
recomendara velar por
seu pai. Quando ela
entrou no quarto, ele
lhe disse: "Joana, olha
meu pai adormecido!" -
Ela exclamou: "Oh! Como
se assemelha à pobre
senhora! Estupefaciente!
Extraordinário!"
35. A respeito do
assunto, a criada Joana
fez-lhe a seguinte
declaração: "Recordo-me
perfeitamente de que,
cerca de dois meses
antes da morte de vosso
pai, eu subi ao seu
quarto e vos encontrei
com ele. Vós me
dissestes: Joana, olha
meu pai adormecido! - E
eu logo exclamei: ‘Oh!
como se assemelha à
pobre senhora! É
estupefaciente! É uma
coisa extraordinária!’
Confirmo que vosso pai,
no curso da sua última
enfermidade, repetiu-me
muitas vezes ter visto
em várias ocasiões a
aparição de sua esposa,
acrescentando ter-se
arrependido de haver
estendido as mãos para
atraí-la a si, pois que,
assim agindo, provocara
sempre a sua instantânea
desaparição."
36. O caso exposto é de natureza espontânea e não experimental ou
mediúnica e, como se
viu, realizou-se à
aproximação da morte do
protagonista, o qual
tivera, precedentemente,
várias visões do
fantasma daquela que
chegou a materializar a
própria efígie,
transfigurando o seu
rosto, circunstâncias
estas todas a que não
falta valor sugestivo,
tendo em vista o fato de
que os casos de
"aparição de defuntos no
leito de morte" são
relativamente comuns e
que entre eles são
relativamente frequentes
os casos percebidos
coletivamente ou
sucessivamente por
várias pessoas,
circunstância que
confere certeza a
respeito da sua
objetividade. Daí
resultaria que o caso em
apreço poderia ser
classificado como um
episódio de "aparições
reiteradas de uma
defunta no leito de
morte do marido", com o
acréscimo de uma
manifestação física
complementar, sob forma
de transfiguração do
rosto do enfermo e isto,
presumivelmente, com o
objetivo de fazer-se
notar também pelo filho.
37. Do ponto de vista probatório é de notar no caso em apreço a
feliz circunstância de
ter sido visto o
fenômeno de
transfiguração
coletivamente por duas
testemunhas, e como a
criada Joana não
percebera a efígie da
defunta logo ao entrar
no quarto, circunstância
que exclui a existência
nela de estados
passionais
predisponentes de
alucinação por
influência de
circunstâncias, deve-se
reconhecer que a
objetividade do fenômeno
se mostra desta vez
provada de maneira
cientificamente
adequada.
38. Sob um outro ponto de vista, manifesto é que o fenômeno de
"transfiguração" não
poderia ser esclarecido
com a hipótese por
demais simplista da
contração e adaptação
dos músculos faciais.
Serve especialmente para
demonstrá-lo o fenômeno
dos "nigérrimos
supercílios maternos"
aparecerem sobre a cara
do enfermo, desprovido
de sobrancelhas.
Deve-se, portanto,
concluir que, nesse
caso, se está em
presença de um fenômeno
de transfiguração com
notáveis rudimentos de
materialização e
adaptação de substância
ectoplásmica ao rosto do
indivíduo.
39. Além disso, preciso é considerar que tudo concorre para
demonstrar que o
fenômeno de
transfiguração
ectoplásmica se mostra
quase sempre combinado
com as outras
modalidades de
manifestação do mesmo
fenômeno no sentido de
que, para completar a
concretização da máscara
ectoplásmica, tanto
podem contribuir o
fenômeno da contração e
adaptação dos músculos
faciais, quanto o outro
fenômeno da subtração de
substância viva aos
tecidos do rosto e isto
com o escopo de
reduzir-lhe ou
remodelar-lhe alguns
traços, adaptando-o de
tal forma à máscara do
defunto que se deseja
representar.
40. Ter-se-ia, portanto, de concluir que, nos casos de completa
transfiguração do rosto
de um vivo, concorrem
todas as modalidades de
manifestação que o
fenômeno comporta,
modalidades combinadas
harmonicamente umas com
as outras, por uma
vontade operante -
subconsciente ou
extrínseca - servida
automaticamente por
aquela mesma
misteriosíssima "força
organizadora" que
preside, na natureza, a
organização dos seres
vivos.
41. Os Casos 6 e 7 têm ligação com a condessa Helena Mainardi, nome
fartamente conhecido
pelos cultores de
investigações psíquicas
de quarenta anos
passados. Helena foi um
poderoso médium. Ela
enviou ao Congresso
Espiritualista de
Londres, de junho de
1898, uma longa relação
dos fenômenos obtidos em
seu próprio círculo
familiar, com sua
mediunidade combinada
com a da baronesa
Rosenkrantz, também
notável médium, círculo
em que eram frequentes
os casos de
"transfiguração".
42. O relato em apreço foi publicado integralmente pela "Light", da
qual faço o seguinte
extrato com base no que
a condessa Mainardi
escreveu: "Numa noite de
inverno do ano de 1898,
obtivemos fenômenos
muito interessantes.
Achavam-se presentes a
baronesa Rosenkrantz; o
General Gugiani, com sua
esposa; o Dr. Visam
Scozzi, meu marido e eu.
Uma lâmpada vermelha,
colocada sobre a mesa,
iluminava nossos rostos.
A baronesa Rosenkrantz
estava de pé, atrás da
minha cadeira, fazendo
‘passes magnéticos’
sobre minha cabeça e
ombros, quando, de
repente, meu esposo, que
estava sentado defronte,
exclamou: ‘Não vejo mais
minha mulher!’ Por sua
vez o General Gugiani
observou: ‘Dir-se-ia que
a condessa desapareceu.’
O Dr. Visam Scozzi
declarou que também não
me via, mas que percebia
no meu lugar uma coluna
de substância escura. Eu
ouvia perfeitamente suas
exclamações, porém, por
mais que tentasse, não
lograva articular uma
palavra, embora não
houvesse deixado um só
momento de ver os
assistentes, os quais
continuavam discutindo
acaloradamente o
fenômeno da minha
desaparição, quando
repentinamente me viram
reaparecer, mas com o
rosto de outra pessoa.
Meu marido exclamou
assustado: ‘Oh! esta não
é minha senhora!’ A
baronesa Rosenkrantz
inclinou-se para mim,
olhou-me fixamente de
perto e disse:
‘Reconheço as feições de
Helena Blavatsky!’ Pouco
depois a máscara da
Blavatsky desapareceu e
tornei a ser eu mesma,
reconhecida como tal por
todas os assistentes,
com grande satisfação”.
43. De acordo com o relato de Helena Mainardi, a baronesa
Rosenkrantz foi, logo em
seguida, envolvida em um
influxo mediúnico e,
sentando-se junto dela,
exclamou: "Olha com
atenção o meu rosto!"
Transcorridos uns breves
instantes, todos viram
transformar-se o seu
semblante, que se tornou
muito jovem, ao passo
que a baronesa é um
tanto entrada em anos. O
Dr. Visani Scozzi disse
então: "Este é o rosto
de uma jovem a quem eu
conheci intimamente há
vinte anos”.
44. Do ponto de vista da fidelidade da narrativa, o nome do Dr.
Visani Scozzi, autor de
um livro clássico sobre
mediunidade, e a quem
foi apresentado o relato
antes de ser enviado ao
seu destino, constitui
um ótimo testemunho a
respeito.
45. Do ponto de vista da realidade objetiva das transfigurações
observadas, destaca-se a
circunstância de sua
natureza coletiva, a
cujo respeito convém
insistir sobre o fato de
que foram cinco os
experimentadores que
observaram,
coletivamente, os mesmos
rostos nas
transfigurações
ocorridas.
46. É de notar que, na produção do primeiro episódio, sobressai o
detalhe pouco comum da
ocultação do médium
dentro de uma nuvem de
ectoplasma, o que
presumivelmente deve ser
atribuído à poderosa
mediunidade de efeitos
físicos da condessa Mainardi, potencialidade
que permitiu uma emissão
abundante de substância
ectoplásmica que logo se
concretizou na máscara
da transfiguração.
47. Por último, observa-se que, em ambos os episódios, os rostos que
se materializaram foram
identificados, e o caso
do Dr. Visani Scozzi,
que reconheceu no
semblante da jovem, que
se manifestou, o de uma
jovem senhora que
conhecera vinte anos
antes, é um caso
bastante notável no seu
gênero, porquanto a
baronesa Rosenkrantz,
que ele conhecera em
casa da família Mainardi,
sem dúvida alguma
ignorava por completo a
existência da jovem dama
que se havia
materializado por
transfiguração do seu
próprio rosto.
(Continua na próxima
edição.)