FRANCISCO
REBOUÇAS
costareboucas@ig.com.br
Niterói, RJ (Brasil)
A porta estreita
Entrai pela
porta estreita,
porque larga é a
porta da
perdição e
espaçoso o
caminho que a
ela conduz, e
muitos são os
que por ela
entram. – Quão
pequena é a
porta da vida!
Quão apertado o
caminho que a
ela conduz! E
quão poucos a
encontram! (São
Mateus, cap.
VII, vv. 13 e
14.)
Muitas pessoas,
até mesmo no
meio espírita,
interpretam ao
pé da letra essa
passagem do
evangelho de
Mateus, sobre a
porta estreita,
por entenderem
que o homem foi
punido pelo
cometimento do
pecado original,
em desobediência
aos desígnios de
Deus, fazendo
por merecer esse
justo castigo da
perda do
paraíso, e que,
por conseguinte,
só conseguirá a
salvação a peso
de muitos
sofrimentos,
impostos por
muitas
dificuldades,
que exigirão da
criatura grandes
esforços para
suplantar
verdadeiros
suplícios e
martírios com
que Deus
resolveu
castigá-lo.
Ainda têm a
velha e viciada
visão do Deus
cruel, vingador,
irascível, que
se vingava de
quem não
cumprisse suas
determinações,
condenando o
desgraçado por
sua
desobediência a
castigos dignos
do mais violento
e desumano
carrasco
terrestre, sem
levar em conta
certas
circunstâncias
como, por
exemplo, quando
alguém cometia
algo contrário
às suas Leis por
pura ignorância,
ou até mesmo por
ter aprendido
com alguém de
maneira errada,
e procedia
conforme o que
conhecia;
pensamento esse,
fruto do ensino
religioso
ultrapassado e
sem coerência a
que sempre
esteve
submetido.
Pobre infeliz,
que além de ter
que vencer as
suas próprias
dificuldades no
enfrentamento
das vicissitudes
que lhe estão
entrelaçadas,
fazendo parte
ativa do seu
momento de
crescimento,
desde há muitos
séculos, ainda
tinha que fugir
da fúria cruel e
irracional do
“Deus” que
deveria ser seu
pai amoroso e
compreensivo
dando-lhe
exemplo de
mansuetude, paz,
harmonia, amor
etc. etc., e não
alguém tão ou
mais violento e
vingador quanto
ele próprio.
Para desfazer
esse terrível
equívoco, a
sabedoria divina
nos enviou o
Consolador
Prometido por
Jesus e, n’O
Evangelho
segundo o
Espiritismo,
desfrutamos da
oportunidade
sublime de
aprender a
interpretar essa
mesma passagem
de Mateus de uma
outra maneira,
com ótica
diferente. Os
Espíritos
superiores nos
esclarecem que
precisamos saber
antes de tudo
que Deus é nosso
Pai e que nos
ama com o amor
que nenhum ser
humano é capaz
de amar,
consolidando na
nossa doutrina
as palavras
proferidas pelo
nosso Mestre
Jesus, quando
nos ensinou a
orar ao “Pai
nosso que está
no céu”.
Se nós como
pais, com a
nossa acanhada
visão
espiritual, não
aceitamos
condenar um
filho nosso que
tenha caído em
erro, pois lhe
concedemos
sempre nova
oportunidade de
se recuperar do
erro, e até
mesmo assumimos
muitos desses
erros, quitando
o débito com o
outro a quem
nosso filho
contraiu a
dívida, para não
assistirmos sua
desventura,
quanto mais esse
Pai criador de
tudo e de todos,
detentor de
todas as
virtudes em grau
absoluto.
Explicam-nos os
mensageiros da
boa nova, nessa
incomparável
obra, que é
estreita a porta
da salvação
porque a grandes
esforços sobre
si mesmo é
obrigado o homem
que a queira
transpor, para
vencer suas más
tendências,
coisa a que
poucos se
dispõem a fazer,
e que é larga a
porta da
perdição, porque
são numerosas as
paixões más que
ainda trazemos
arraigadas em
nosso espírito
milenar, e, por
isso mesmo, o
maior número de
criaturas
envereda pelo
caminho do mal
na hora que é
chamado a
escolher o
caminho a
trilhar usando o
seu
livre-arbítrio,
e assumindo,
portanto, as
consequências
das suas
escolhas,
representando
para nós o
complemento da
máxima: "Muitos
são os chamados
e poucos os
escolhidos”.
E continua o
ensinamento nos
esclarecendo:
“Tal o estado da
Humanidade
terrena, porque,
sendo a Terra
mundo de
expiação, nela
predomina o mal.
Quando se achar
transformada, a
estrada do bem
será a mais
frequentada.
Aquelas palavras
devem, pois,
serem entendidas
em sentido
relativo e não
em sentido
absoluto. Se
houvesse de ser
esse o estado
normal da
Humanidade,
teria Deus
condenado à
perdição a
imensa maioria
das suas
criaturas,
suposição
inadmissível,
desde que se
reconheça que
Deus é todo
justiça e
bondade”.
Mas, de que
delitos esta
Humanidade se
houvera feito
culpada para
merecer tão
triste sorte, no
presente e no
futuro, se toda
ela se achasse
degredada na
Terra e se a
alma não tivesse
tido outras
existências? Por
que tantos
entraves postos
diante de seus
passos? Por que
essa porta tão
estreita que só
a muito poucos é
dado transpor,
se a sorte da
alma é
determinada para
sempre, logo
após a morte?
Assim é que, com
a unicidade da
existência, o
homem está
sempre em
contradição
consigo mesmo e
com a justiça de
Deus. Com a
anterioridade da
alma e a
pluralidade dos
mundos, o
horizonte se
alarga; faz-se
luz sobre os
pontos mais
obscuros da fé;
o presente e o
futuro tornam-se
solidários com o
passado, e só
então se pode
compreender toda
a profundeza,
toda a verdade e
toda a sabedoria
das máximas do
Cristo.
Nem todos os que
dizem: "Senhor!
Senhor!”
entrarão no
reino dos céus.¹
Na mesma obra
acima, em seu
Capítulo VI – O
Cristo
Consolador, João
XIV, vv.15 a 17
e 26, o Espírito
de Verdade vem
nos trazer os
esclarecimentos
que nos faltavam
acerca do
assunto,
afirmando-nos:
“Mas, ingratos,
os homens
afastaram-se do
caminho reto e
largo que conduz
ao reino de meu
Pai e
enveredaram
pelas ásperas
sendas da
impiedade”.²
Em vista de
tantos
esclarecimentos,
trazidos a lume
pelo insigne
codificador do
Espiritismo,
através do
trabalho de
implantação da
verdade entre
nós, realizado
por Jesus e seus
diletos
colaboradores da
esfera mais alta
da
espiritualidade
superior, para
que tenhamos
conhecimento da
verdade, pois só
ela será capaz
de nos libertar
de nossa secular
ignorância,
dediquemo-nos a
estudá-la com
disposição, com
sincera intenção
de apreender
seus luminosos
ensinamentos com
disciplina e boa
vontade, e
certamente
compreenderemos,
por fim, que
Deus é manancial
inesgotável de
amor em
benefício de
todas as suas
criaturas.
Fontes:
1) O Evangelho
segundo o
Espiritismo –
Cap. XVIII;
2) Idem, idem,
Cap. IV.