B. Há médiuns que têm a
faculdade de provocar
fenômenos de
assombramento no lugar
em que se encontrem?
Sim. Esse era o caso da
médium Sra. Russell
Davies, que possuía a
pouco invejável
faculdade de provocar
fenômenos de
assombramento cada vez
que permanecia em alguma
casa onde tivessem
ocorrido, no passado,
cenas de sangue.
(A Morte e os seus
Mistérios, Caso 9.)
C. Que podemos entender
por “transfiguração
alternante”?
Por “transfiguração
alternante” entende-se o
caso em que o mesmo
Espírito vale-se de dois
médiuns para produzir,
em fenômenos sucessivos,
a transfiguração,
reproduzindo a efígie do
seu próprio rosto. Dois
casos desses foram
relatados pelo Sr. R. M.
Sidgwick. No primeiro
caso, materializou-se
por duas vezes a efígie
do seu avô; a primeira
vez, com a mediunidade
da Sra. A. e a segunda,
com a sua própria
mediunidade.
(A Morte e os seus
Mistérios, Casos 10 e
11.)
Texto para leitura
48. O Caso 8 foi
extraído do livro "Um
caso de
desmaterialização
parcial do corpo de um
médium", de Alexandre
Aksakof, que reproduziu
em sua obra o relato
feito em um artigo da
Srta. Killingsbury,
publicado em "The
Spiritualist", de
22-10-1876.
49. Eis o relato: "A
Sra. Crocker, médium
particular de Chicago,
contou-me que há alguns
meses, sob a direção de
seu ‘guia’ espiritual,
iniciou uma série de
sessões para o
desenvolvimento de uma
nova fase de sua
mediunidade, as quais se
realizaram no seu
círculo familiar. Uma
noite, à luz das velas
que ardiam no recinto e
ao clarão da lua, sofreu
uma transformação do seu
rosto, que mudou de
tamanho, forma e
natureza, brotando
depois sobre ele uma
barba negra e abundante.
Todos os assistentes
viram a mesma
transformação e o primo
da médium, que estava
sentado junto ao mesmo
exclamou: ‘É o rosto de
meu pai!’ - Desaparecida
a manifestação,
confirmou que se tratava
da efígie perfeita do
rosto paterno. Pouco
depois, a médium se
transformou em uma
velhinha de cabelos
brancos. Todas estas
metamorfoses se
realizavam sob os
olhares dos presentes,
que não deixaram de as
observar um instante.
Ela afirma que conservou
sempre a consciência de
si mesma, mas que havia
experimentado uma
sensação muito viva de
formigamento e comichão
em todo o corpo, tal
como se estivera
apertando com as mãos os
dois polos de uma forte
bateria elétrica..."
50. Esta alusão final da
médium, que disse
experimentar uma viva
sensação de formigamento
e comichão em todo o
corpo, reveste grande
importância do ponto de
vista probatório, uma
vez que bom número de
médiuns de efeitos
físicos acusa justamente
a mesma sensação, quer
antes, quer durante a
manifestação dos
fenômenos. A Sra.
D'Esperance aludia
muitas vezes a essa
sensação, que é como um
prenúncio dos fenômenos,
e com Eusápia era
habitual a mesma
sensação. Quando durante
as nossas experiências
de três anos, em Gênova,
com o Prof. Morselli,
ouvíamos o médium acusar
a sensação de comichão
em todo o corpo,
ficávamos na
expectativa, pois
sabíamos, por prática
adquirida, que era o
prelúdio da produção dos
fenômenos. Repito,
portanto, que do ponto
de vista probatório essa
espécie de detalhes
secundários adquire não
pouca importância em
favor da legitimidade
dos fatos, pois eles
pertencem a um gênero
que um médium
fraudulento, como também
um narrador infiel, não
pensam em assinalar.
51. Sobre o caso,
Alexandre Aksakof disse
o seguinte: "Um
argumento de peso em
favor da legitimidade de
tais manifestações
consiste na consideração
de que não só não se
mostram contraditórias
com o princípio de
acordo com o qual se
produzem os fenômenos de
materialização, como
constituem, ao
contrário, uma espécie
de fase inicial
transitória, prestes a
transformar-se em outra,
sob a ação de uma força
organizadora ignorada”.
52. O Caso 9 foi colhido
no livro autobiográfico
da médium Sra. Russell
Davies “The Clairvoyance
of Bessie Williams” (A
Clarividência de Bessie
Williams), publicado a
conselho de sua amiga
Sra. Florence Marryat.
Nele, lê-se, entre
outras coisas, que a
referida médium possuía
a pouco invejável
faculdade de provocar
fenômenos de
assombramento cada vez
que permanecia em alguma
casa onde tivessem
ocorrido, no passado,
cenas de sangue.
53. Sucedeu então que,
tendo a médium adquirido
uma casa de verão, onde
se alojara com sua
família, não tardaram a
manifestar-se fenômenos
de assombramento muito
importunos como sejam:
ruídos insistentes de
passos pesados, que
deambulavam pela casa,
de lutas e de combates
violentos, seguidos de
quedas de corpos ao
solo.
54. Certa noite
produziu-se um fenômeno
impressionante de
transfiguração do rosto
da Sra. Russell Davies,
descrevendo-a seu esposo
nos seguintes termos:
"Estava eu sentado à
mesa da sala de jantar e
minha senhora diante de
mim, com o menino nos
braços. De repente ela
exclamou: ‘Sinto como se
me tivessem ferido em um
braço. Oh! que dor!’
Fiz-lhe observar: ‘Minha
querida, são dores
reumáticas’. Como não
replicasse, olhei para
aquele lado e notei que
sua fisionomia se havia
transformado
horrivelmente e ficado
embrutecida, adquirindo
uma expressão de
diabólica perversidade.
Em lugar de minha
esposa, sempre afável e
sorridente, se achava
diante de mim um velho
repugnante, de fronte
proeminente, cujos olhos
de abutre se esquivaram
ao meu olhar, com
intenções furtivas que
quase me faziam desmaiar
de terror. Eu havia
ouvido falar em
fenômenos de
‘transfiguração’, porém
jamais assistira ao
desenvolvimento dos
mesmos. Levantei-me
apressadamente para
acudir em auxílio do
menino. O braço de minha
esposa o foi deixando
lentamente nos meus, ao
mesmo tempo que a sua
outra mão se estendia
sinistramente para uma
faca que estava sobre a
mesa e que eu me
apressei a pôr fora do
seu alcance. Pouco
depois minha senhora
suspirou profundamente,
e, com grande regozijo
para mim, vi que o seu
rosto voltava ao estado
normal..."
55. Averiguou-se, logo
depois, que alguns
séculos antes aquela
casa fora uma hospedaria
cujo dono, quando se lhe
mostrava propícia a
ocasião, assassinava os
hóspedes para roubá-los.
Naturalmente, depois do
referido fenômeno de
"transfiguração", os
Russell Davies
apressaram-se em
abandonar a casa.
56. Neste episódio, como
em outros já relatados,
dever-se-ia admitir que
o fenômeno de
"transfiguração" do
rosto da médium no de um
"velho repugnante, de
fronte proeminente e com
olhos de abutre", teve
origem na combinação das
diversas modalidades de
produção que os mesmos
fenômenos comportam:
contração e adaptação
dos músculos faciais,
distribuição de
ectoplasma ou subtração
de substâncias vivas nas
zonas a serem
modificadas no rosto da
médium.
57. Do ponto de vista da
hipótese espírita,
mostrar-se-ia sugestiva
e instrutiva a causa
determinante do fenômeno
de "transfiguração", que
se realizara pelo fato
de encontrar-se a médium
em um ambiente onde
outrora haviam ocorrido
vários crimes, ambiente
que se tornou assombrado
tão-somente devido à
presença de uma
"sensitiva" que,
mediante seus "fluidos"
exteriorizáveis, tornara
possível a produção dos
usuais fenômenos de
assombramento, isto é,
tornara possível a
manifestação aos vivos,
na forma que se mostrara
realizável, dos
protagonistas dos dramas
que se verificaram em um
determinado ambiente.
58. Os Casos 10 e 11
foram recolhidos pelo
autor no número de julho
de 1930 da revista
inglesa “The Occult
Review”, em que o Sr. R.
M. Sidgwick relata uma
série de experiências
obtidas em seu círculo
familiar com sua própria
mediunidade combinada
com a de uma senhora a
quem denomina Sra. A.
Entre outros, cita ele
dois casos de
"transfiguração
alternante", nos quais
se materializou duas
vezes a efígie do seu
avô; a primeira vez, com
a mediunidade da Sra. A.
e a segunda, com a sua
própria mediunidade.
59. Eis o seu relato:
"Numa tarde de inverno,
fui visitar a Sra. A.,
que possui mui notáveis
faculdades mediúnicas.
Encontrei-a sentada
junto ao fogão, onde
ardiam alguns carvões,
porém sem chama,
irradiando em torno uma
forte luz vermelha. A
luz do dia havia
desaparecido quase
completamente, deixando
o quarto em plena
obscuridade, salvo um
amplo círculo em volta
do fogão. A Sra. A. se
achava muito perto do
fogo, de maneira que seu
rosto aparecia vivamente
iluminado. Conversamos
durante um bom pedaço de
tempo; logo fizemos uma
pausa que se prolongou
durante dois ou três
minutos, após o que lhe
fiz uma pergunta, sem
obter resposta. Ao mesmo
tempo notei que a minha
amiga respirava
ruidosamente e,
olhando-a fixamente no
rosto, verifiquei que
sua fisionomia, assim
como a sua respiração,
não davam mostras de
achar-se em um estado de
sonolência normal.
Fiquei, pois, à espera
de alguma manifestação
e, tal como ocorre com
frequência em nossas
experiências, a
manifestação teve lugar;
mas, por certo, mais
distinta do que eu podia
esperar. Enquanto eu
vigiava atentamente a
médium, percebi que o
seu semblante ia lenta,
mas positivamente, se
transformando. O oval do
rosto, as linhas, os
traços da fisionomia já
não eram os mesmos tão
familiares para mim.
Logo se produziu
improvisadamente a
transformação final,
desaparecendo também o
nariz aquilino da Sra.
A., vendo-me eu diante
de um rosto de homem.
Com indescritível
assombro reconheci nessa
cara a reprodução
perfeita do meu avô.
Fiquei a tal ponto
impressionado que deixei
escapar um grito de
estupor, o que
determinou a instantânea
desaparição do fenômeno
e diante de mim ficou a
Sra. A., já desperta, a
qual se apressou a
pedir-me desculpa por
haver dormido,
incorrendo em uma falta
de atenção”.
60. Eis a parte final do
relato: “Nada lhe disse
de quanto havia
ocorrido, pois eu
esperava que esse
fenômeno teria
ulteriores
desenvolvimentos e sabia
por experiência que as
manifestações adquiriam
maior valor teórico
quando o médium ignorava
os antecedentes...
Transcorreu algum tempo,
e outra vez se produziu
o inesperado... que,
provavelmente, se
realizou por ter-se
reproduzido casualmente
uma idêntica situação de
ambiente. Com efeito, eu
de novo me achava
sentado ao lado da Sra.
A., na sala de jantar,
junto do fogão, onde
ardiam vivamente, mas
sem chamas, alguns
tições, que irradiavam
em torno uma brilhante
luz vermelha. Achava-se
então também presente a
filha da Sra. A. Não
tardou que eu notasse
não serem as condições
de ambiente inteiramente
normais, sentindo um
gelado sopro de ar que,
baixando do teto, me
envolvia a cabeça. Esta
última circunstância,
unida às demais
sensações subjetivas, me
induziu a vigiar
atentamente o que
estaria ocorrendo com
relação à Sra. A.;
reparei, porém, que por
sua vez ela me fitava
com uma expressão de
grande assombro.
Transcorrido algum tempo
ela falou por fim,
explicando que, alguns
momentos antes, meu
rosto havia desaparecido
debaixo da máscara de
outro rosto muito mais
velho, de olhos claros e
pele corada, com uma
massa compacta de
cabelos branquíssimos.
Ao mesmo tempo, tivera a
impressão subjetiva de
que era meu avô que se
manifestava. Sua filha,
que estava sentada atrás
de mim, nada havia
visto, naturalmente, de
tal transfiguração, mas
ficara alguns momentos
perplexa ao ver uma
espécie de emanação de
luz lunar em torno da
minha cabeça. O que mais
me surpreendeu em tudo
isto foi o fato de a
Sra. A. nada saber, em
absoluto, a respeito de
meu avô, apesar do que
me descreveu com
muitíssima fidelidade.
Era, pois, inegável que
lhe percebera a imagem.
Estendi-me mais do que
costumo fazer na
descrição destas duas
manifestações, não só
porque pertencem a uma
categoria bem mais rara
e interessante, como
também porque, no meu
entender, das mesmas
sobressai manifestamente
o deliberado propósito
de proporcionar-me a tão
desejada prova da
sobrevivência do
Espírito humano. Da
primeira vez fui
testemunha do fenômeno;
da segunda, porém, o foi
a Sra. A. e isto quer
dizer que houve dois
testemunhos
independentes, que
assistiram ao mesmo
fenômeno, com a formação
do mesmo rosto de
defunto, o que reforça
notavelmente a prova
exigida acerca da
realidade objetiva do
fenômeno em referência”.
61. Tais são as
conclusões do relator e
protagonista dos fatos e
o significado
probatório, que decorre
da observação coletiva
do mesmo fenômeno, é
desta vez eficientemente
reforçado pela
circunstância, quiçá
única, da sucessiva
manifestação do mesmo
defunto mediante a
transfiguração dos
rostos de dois médiuns.
62. Do ponto de vista da
interpretação espírita
dos fatos, mostra-se sem
dúvida notável a
primeira manifestação do
defunto por um médium
que jamais o conhecera e
que ignorava o seu
semblante:
circunstâncias de fato
estas que induzem a
concluir que o fenômeno
da transfiguração do
rosto da médium no da
entidade não poderia,
desta vez, atribuir-se
às "faculdades
modeladoras" da
subconsciência.
63. Neste ponto parece
indispensável que eu me
detenha em examinar o
assunto nos limites que
circunscrevem os
denominados "poderes
criadores" da
subconsciência humana e
isto com o fim de
eliminar algumas
opiniões errôneas a
propósito, as quais não
são apenas
compartilhadas por
nossos opositores, mas,
sob certos aspectos,
também pelos
propugnadores da
hipótese espírita. Entre
estes últimos há, de
fato, quem admite que os
"Espíritos dos defuntos"
estão em condição de
tomar a "forma fluídica"
ou a "forma
materializada", animada
e inteligente, de outro
defunto, mistificando de
tal forma os vivos,
enquanto os opositores
sustentam que o
subconsciente do médium
é capaz de criar
fluidicamente ou
materializar fantasmas
animados e inteligentes
de defuntos por ele
conhecidos em vida, ou
de defuntos também pelo
médium desconhecidos,
mas conhecidos de algum
dos presentes
(clarividência
telepática ou telemnésia).
64. Ora, tudo concorre
para demonstrar que
estão em erro tanto os
nossos antagonistas
quanto certos espíritas,
já que a análise
comparada dos fatos
demonstra, ao contrário,
que os "Espíritos
encarnados" como os
"desencarnados" não
estão em condições de
exteriorizar ou de
reproduzir outra forma
fluídica ou
materializada, animada e
inteligente, que não a
sua.
(Continua na próxima
edição.)