Bagatela
Raimundo Correia
O vento corre uivante e
desempedra
Alvo seixo engastado na
montanha
A pedra solta cai sobre
outra pedra,
Brotam faíscas de uma
luz castanha...
Novo golpe do vento e o
fogo medra
Na alfombra ressequida,
em doida sanha...
Há luta que se alteia e
se desmedra
No incêndio arrasador em
fúria estranha..
Mais forte zune o vento
e a tudo encrispa,
Sobem chamas cruéis de
chispa em chispa...
O homem chora a perdida
sementeira...
Também no mundo é
assim... Por bagatela
Surge a paixão que se
desencastela,
Queimando a safra de uma
vida inteira.
Raimundo Correia exerceu
cargos de magistratura,
administração e
diplomacia, e foi
professor da Faculdade
de Direito de Ouro
Preto. Membro fundador
da Academia Brasileira
de Letras, nasceu no
município de Cururupu,
Maranhão, em 13/5/1859 e
faleceu em Paris, em
13/9/1911. O soneto
acima faz parte de
Antologia dos Imortais,
obra psicografada pelos
médiuns Waldo Vieira e
Francisco Cândido
Xavier.
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