Lemos no livro “Chico
Xavier, Mediunidade e Paz”,
de Carlos A. Baccelli,
editado pela Didier, uma
emocionante história contada
pelo próprio Chico, sobre
importante momento de sua
vida em meados do século
passado, já na cidade de
Uberaba.
Narra o médium mineiro:
“Estava atravessando um dos
períodos mais difíceis da
minha vida. Um companheiro
muito querido havia nos
deixado e, na soleira da
porta de nossa casa, eu
meditava a sós... Naquele
momento, se eu precisasse
voltar à terra natal, não
possuía cinco cruzeiros no
bolso para o ônibus... As
lágrimas me escorriam pelas
faces, quando em meio a uma
luz muito intensa, surgiu-me
aos olhos a figura de um
Mensageiro Espiritual, de
elevada hierarquia, muito
superior à condição de
Emmanuel, dizendo-me vir da
parte do Senhor. Ele começou
a conversar comigo,
interrogando:
- O Senhor solicita lhe seja
perguntado se quando Ele
levou a sua mãe deste mundo,
deixando-o órfão aos cinco
anos de idade, você teve
mágoa dele?...
Surpreso com a sublime
visita, respondi que não e o
Mensageiro prosseguiu como
se conhecesse,
detalhadamente, cada trecho
do caminho que eu havia
percorrido até aquele exato
momento.
- Quando o impediu de
estudar, através daqueles
que lhe dificultaram acesso
aos bancos escolares,
negando-lhe as oportunidades
que sonhava, você teve mágoa
do Senhor?
Com o coração aos saltos,
afirmei que não, porque o
Senhor sabe o que é melhor
para mim...
- Quando Ele permitiu que
você ficasse órfão pela
segunda vez, subtraindo de
sua presença aquela que foi
a sua segunda mãe,
deixando-o com doze crianças
para sustentar com um
reduzido salário, você teve
mágoa do Senhor?
Não, apressei-me a dizer, eu
não poderia guardar mágoa
alguma do senhor...
E o Missionário Celeste, sem
qualquer pausa na voz,
continuou discorrendo sobre
os pontos mais delicados da
minha existência atual,
sempre repetindo a mesma
questão.
- Quando perdeu a companhia
de seu irmão José Xavier,
que lhe era o apoio e o
incentivo na Doutrina, ante
o serviço a realizar, você
teve mágoa do Senhor?
Não, chorei muito, e ainda
choro, mas não senti mágoa
do Senhor...
- Quando, entre as flores
que desabrocham no jardim
promissor da mediunidade,
surgiram os primeiros
espinhos a lhe dilacerarem a
alma, em forma de ingratidão
e calúnia, você teve mágoa
do Senhor?
Não, repeli convicto, jamais
tive mágoa do Senhor, a quem
devo tudo o que tenho e tudo
o que sou...
- Quando Ele afastou o
casamento de seus planos de
felicidade e realização
pessoal, você teve mágoa do
Senhor? Não, eu não posso me
queixar de nada, pois tenho
recebido bem mais do que
mereço...
- E agora, quando, depois de
tantos anos, dedicando-se
integralmente ao Evangelho,
vê-se abandonado por aquele
em que repousavam as suas
esperanças no entardecer da
vida física, você sente
mágoa do Senhor?
Não, respondi em lágrimas,
seja feita a vontade do
Senhor...
Estabeleceu-se, então, entre
nós, um silêncio que não
ousei quebrar...
Depois de rápidos segundos,
como se estivesse
comunicando-se,
telepaticamente, com os
planos da Luz, o Mensageiro
concluiu:
- O Senhor manda dizer-lhe
que, doravante, nada há de
faltar... Não tenha receios,
porque Ele providenciará
tudo o que você necessitar
para prosseguir servindo-o
entre os homens, na
Terra...”