B. A “força
organizadora” plasmadora
dos seres vivos atua de
forma automática?
Sim. A "força organizadora" a que Bozzano se refere age
automaticamente na
organização e plasmação
dos seres vivos, sem que
nisso precise do
concurso intencional dos
seres vivos que vai
plasmando. (A Morte e os seus Mistérios, Casos 10 e 11.)
C. Por que o caso 12 é
considerado por Bozzano
um exemplo único em toda
a classe dos fenômenos
de transfiguração?
O principal motivo que levou Bozzano a classificar como único esse
caso é que, numa das
sessões narradas pelo
Sr. James Smith, houve
uma sucessão de
"transfigurações" por
intermédio do mesmo
médium, cada qual
apresentando um rosto
próprio pertinente a
personalidades diversas
que teriam vivido em
épocas bastante
recuadas. Enquanto as
imagens eram copiadas
por um desenhista
presente à reunião, a
entidade oferecia
informações explicativas
do que ali estava sendo
apresentado.
(A Morte e os seus
Mistérios, Caso 12.)
Texto para leitura
65. Gabriel Delanne, no 2° volume da sua obra "Les apparitions
materialisées dos
vivants et des morts"
(pág. 318), observa:
"Existe um incidente que
parece confirmar a
hipótese de que o
Espírito tenha o poder
de modificar o ‘corpo
espiritual’ e isto até o
ponto de conferir ao
mesmo uma aparência
radicalmente diversa da
sua própria. Ora, ainda
uma vez se devem
examinar a fundo os
fatos, se não se quiser
perder-se atrás de uma
falsa pista. É verdade
que o Espírito
desencarnado pode à sua
vontade retomar uma das
formas que teve, ao
voltar à Terra,
reaparecendo
materializado, seja como
era no momento da morte,
seja como era em outra
época da sua vida. Mas,
de assumir a fisionomia
de outro se interpõe um
abismo e eu não conheço
exemplos de Espíritos
que, voluntariamente, se
tenham transformado até
tomar o semblante de
outro Espírito de
defunto."
66. Assim disse Delanne, mas, se teve a intuição da verdade, não se
deteve em comentar por
quais considerações
científicas a afirmativa
de tal verdade se mostra
legitimamente válida.
67. Apresso-me, pois, a salientar como isto serve de base para uma
prova por analogia
fundamental e
formidável, porquanto
versa sobre processos
biológicos e
morfológicos que
determinam a organização
dos seres vivos,
processos que se resumem
no grande fato de que
uma misteriosíssima
"força organizadora",
imanente em todos os
seres vivos e diversa em
cada um deles, preside a
origem da vida, a qual,
no plano da existência
encarnada, age
ocultamente dos seres
que vai plasmando.
68. Sendo essa a lei, daí se infere que, se o Espírito sobrevive à
morte do corpo, então
também a "força
organizadora" é uma
faculdade dele que deve,
por sua vez, sobreviver
à morte do corpo; e,
assim sendo, dever-se-á
reconhecer que nos
fenômenos das
"transfigurações", das
"materializações" e das
"fotografias
transcendentais", quando
resultam de natureza
espírita, é a mesma
"força organizadora"
plasmadora dos seres
vivos, aquela que retoma
automaticamente as
próprias funções não
apenas estimulada pela
vontade do defunto sem
que necessite aí de
pressupor uma ação
direta, intencional, em
tal sentido, do próprio
defunto, assim como a
mesma "força
organizadora" age
automaticamente na
organização e plasmação
dos seres vivos, sem que
precise aí ainda do
concurso intencional dos
seres vivos que essa vai
plasmando.
69. Do exposto resulta que, nos casos em que o automatismo da
"força organizadora" se
mostra de natureza
subconsciente ou de
natureza anímica, o
médium não poderá fazer
outra coisa senão
reproduzir a própria
forma exteriorizada,
materializada ou
fluídica, animada e
inteligente, assim como
existia em qualquer
época da sua vida, isto
é, não poderá jamais
tomar o semblante
animado e inteligente de
uma terceira pessoa,
visto que se é verdade,
como indubitavelmente é
verdade, que a "força
organizadora" age
automaticamente, então
isto equivale dizer que
essa tem o poder de
reproduzir e não o de
criar. E, ao contrário,
nos casos em que o
automatismo se mostra de
natureza extrínseca ou
espírita, o defunto
comunicante não poderá
fazer outra coisa senão
reproduzir, por sua vez,
a própria forma
materializada ou
fluídica, animada e
inteligente, tal como
existia em qualquer
época da sua vida, e
jamais reproduzir a
forma animada e
inteligente de outro
Espírito, porque,
repito, a "força
organizadora", por ser
um automatismo, reproduz
e não cria.
70. Resulta daí que estes simples, mas inabaláveis, argumentos de
fato bastam por si sós
para demonstrar que a
hipótese por mim
defendida parece
irrefutável, visto que,
se se trata de um
processo automático,
então é verdade que tal
automatismo não poderá
fazer outra coisa senão
reproduzir formas e
rostos plasmados
automaticamente e nunca
criar novos, porquanto
criar novos
subentende-se um
processo ativo e
intencional, e já não
passivo e automático.
71. Torna-se, pois, evidente, no que se refere aos fenômenos de
materializações de
fantasmas e rostos
animados e inteligentes,
que são estes os limites
em que deverão ser
circunscritos os poderes
modeladores do Espírito
humano, encarnado ou
desencarnado, limites
impostos pelos fatos de
que o pensamento e a
vontade não têm poder
dirigente sobre a
misteriosíssima "força
organizadora" e criadora
das "formas arquétipos"
individuais, "força
organizadora" que se
identifica com a "ideia
diretriz" pressentida
por Claude Bernard, como
se identifica com a
teoria do "impulso vital
criador" de Bergson e
com a outra teoria
análoga de Geley, sobre
a existência de um
"dinamismo vital
organizador" posto nas
fontes da vida, ao passo
que tudo concorre para
fazer presumir que, na
manifestação de tal
mistério imperscrutável
do ser, nós assistimos
ao manifestar, nos
mundos, de um atributo
da imanência divina do
Universo.
72. Vemos, em conclusão, que o Pensamento e a Vontade teriam, ao
contrário, poder
diferente no vasto campo
da natureza inanimada,
vale dizer, no domínio
das criações puramente
plásticas ou artísticas.
Isto posto, e tornando
aos fenômenos de
transfiguração,
concluiremos observando
que se é verdade, como
indubitavelmente é
verdade, que as
considerações expostas
provam que os "Espíritos
encarnados" e os
"desencarnados" não têm
poder dirigente sobre a
modalidade pela qual
funciona automaticamente
a "força organizadora" e
plasmadora da Vida nos
mundos, então, quando se
obtém um rosto
radicalmente diverso do
semblante do médium, se
deverá inferir que a
"forma organizadora" em
ação não é a do médium,
mas uma outra a esse
extrínseca, isto é, o
Espírito que sobre ele
atua.
73. O Caso 12, pela excepcional modalidade de produção, é exemplo
único em toda a classe
dos fenômenos de
transfiguração. Diz o
Sr. James Smith, de
Melbourne, em um
interessantíssimo
opúsculo intitulado: "How
I became a Spiritualist"
(Como me tornei
espiritualista), que
teve o primeiro contato
com a fenomenologia
mediúnica graças ao
auxílio de um médium de
"transfiguração".
74. No livro citado, narra ele o seguinte: "Pelo fim do ano de
1870, a curiosidade
impeliu-me a procurar
uma senhora idosa que
residia em Charlton, em
um casebre composto de
três aposentos e tinha
fama de ser um médium
extraordinário. Eu
esperava colhê-la em
fraude, mas, pela
segunda vez que a
procurei, achei-me em
face de uma manifestação
estupefaciente. Ela era
alemã e esposa de um
alfaiate ambulante. Não
tivera educação alguma;
sua conversação era
vulgar e sua
personalidade destituída
de qualquer atrativo.
Enquanto, com os meus
botões, fazia essas
observações, ela caiu em
transe, seu corpo foi
abalado por uma
sacudidela convulsiva,
assaz penosa, e pouco
depois, pela sua boca,
se manifestou uma
personalidade
inteligentíssima, que
não podia certamente
identificar-se com a do
médium. A acentuação
tedesca da sua palestra
desaparecera totalmente;
assumira uma atitude
grave e digna, a
linguagem tornara-se
característica e
elegante, de maneira
que, inesperadamente, me
foi dado ouvir uma
conferência
interessantíssima sobre
a evolução cosmogônica;
e quem me falava dizia
ter vivido na Terra
anteriormente a qualquer
aurora histórica...”.
75. A narrativa
prossegue: “Em seguida,
eis que se manifesta uma
outra entidade
espiritual que se
mostrou profundamente
versada nas indagações
etnológicas; e, depois
de me ter descrito os
doze tipos principais de
gênero humano, assim
continuou: ‘Se na
próxima vez vieres
acompanhado do amigo
Vievers, que é um hábil
desenhista, nós te
mostraremos
sucessivamente, sobre a
cara desta mulher, os
doze tipos primitivos da
raça humana.
Naturalmente no dia
seguinte voltei,
juntamente com o amigo
desenhista e a entidade
manteve a palavra. Meu
amigo logrou traçar, em
bem sucedidos esboços,
os doze tipos da
humanidade primitiva
tais como apareceram
sobre o semblante
transfigurado do médium,
alguns dos quais era a
tal ponto repulsivos que
causavam espanto. O
amigo Vievers remeteu-me
cópias que ainda
conservo cuidadosamente.
Os tipos aparecidos
foram os seguintes: o
Caraíba, o Asiático do
norte, o Europeu do sul,
o Africano, o Malaio e o
Peruano. Como disse,
alguns dos rostos eram
horríveis de ver-se e
isto a ponto do meu
amigo Vievers se
espantar com eles de tal
maneira que, em dado
momento, só com
dificuldade cheguei a
impedir que atirasse
fora o lápis e fugisse.”
76. Segundo o Sr. Smith, cada tipo daquelas transfigurações se
manteve por tempo
bastante longo, pois que
a entidade fornecia
interessantes
informações em torno da
história de cada um
deles, informações que
ele transcrevia
rapidamente.
77. À primeira vista dir-se-ia que esta sucessão de "tipos"
representantes das raças
primitivas da humanidade
consistiria em projeções
intencionais, não mais
automáticas, de
verdadeiras máscaras
plásticas, criadas para
a circunstância, pela
vontade da entidade
comunicante, assim como
as modelaria
plasticamente um
escultor no mundo dos
vivos, mas, se tomarmos
na devida consideração
algumas palavras com que
se exprimiu a
personalidade mediúnica
comunicante, então será
preciso concluir que
também neste caso
extremo, o qual se
mostra único em toda a
casuística dos fenômenos
em apreço, também neste
caso excepcional, se
encontre em ação a mesma
lei, enquanto que a
transfiguração do rosto
do médium no do
pré-histórico caraíba
teria sido devido à
autêntica intervenção de
um Espírito de caraíba,
e, assim sendo,
dever-se-ia inferir
outro tanto para os
demais episódios de
transfiguração, devidos,
por sua vez, à
intervenção de cada um
dos representantes das
raças primitivas que se
materializaram, os
quais, por um ato de
vontade, teriam posto em
ação o automatismo
modelador da sua "força
organizadora", chegando
a plasmar sua efígie tal
qual era ela nos tempos
remotíssimos da sua
encarnação terrena.
78. Os "esboços" executados pelo artista desenhista constituiriam
já um primeiro
encaminhamento para a
contribuição de
documentações da
investigação científica
dos fenômenos de
transfigurações, mas não
são eles acessíveis e,
em consequência, não
podem ser utilizados na
pesquisa científica.
Todavia, o professor
Marco Tullio Falcomer,
de Veneza, o qual há
muitos anos enviou a
Bozzano o opúsculo de
James Smith, achava-se
em relações epistolares
com este último e disse
que o Sr. Smith
publicara em fototipia,
em uma revista
australiana, a coleção
dos desenhos em apreço.
O nome dessa revista não
chegou, porém, ao
conhecimento de Bozzano
e, por isso, não é
citado na obra ora em
estudo.
(Continua na próxima
edição.)