LEONARDO MARMO
MOREIRA
leonardomarmo@gmail.com
São João Del
Rei, MG (Brasil)
O Espiritismo
começa com “O
Livro dos
Espíritos”, mas
não termina com
ele
“O Livro dos
Espíritos” é a
obra básica da
Doutrina
Espírita, ou
seja, é a
primeira e
fundamental obra
da Doutrina
codificada por
Allan Kardec.
Isso, no
entanto, não
torna “O Livro
dos Espíritos” a
obra “completa”
do Espiritismo,
muito menos sua
única obra. É
muito
interessante
notar na folha
de rosto de “O
Livro dos
Médiuns” (obra
ainda pouco lida
pelos espíritas,
infelizmente) a
caracterização
do livro como
sendo
continuação de
“O Livro dos
Espíritos”.
Realmente, além
da sua
“Continuação”
com o segundo
livro da
Codificação, “O
Livro dos
Espíritos” será
desdobrado
novamente nas
demais obras da
Codificação (“O
Evangelho
segundo o
Espiritismo”, “O
Céu e o Inferno
ou A Justiça
Divina segundo o
Espiritismo” e
“A Gênese, os
Milagres e as
predições
segundo o
Espiritismo”).
O Professor J.
Herculano Pires,
prefaciando a
sua tradução ao
português de “O
Livro dos
Espíritos”, faz
uma análise
muito
interessante da
estrutura
pedagógica dessa
obra, bem como
de toda a
codificação,
deixando claro
que cada uma das
quatro partes de
“O Livro dos
Espíritos”
fornece as
estruturas
básicas para o
seu respectivo
desenvolvimento
em cada obra do
chamado
“Pentateuco
Espírita”,
especificamente
correlacionada.
A primeira
parte, “As
Causas
Primárias”, que
seria a mais
autoexplicativa
e difusa nas
demais obras,
tem em “A
Gênese” seu
principal
desenvolvimento;
a segunda parte,
“Mundo Espírita
ou dos
Espíritos”, se
amplia e
aprofunda em “O
Livro dos
Médiuns”; a
terceira parte,
“As Leis
Morais”, dá
origem ao “O
Evangelho
segundo o
Espiritismo”, e
a quarta parte,
“Esperanças e
Consolações”,
fornece as
estruturas de
sustentação para
o surgimento de
“O Céu e o
Inferno”.
De fato, o
Espiritismo não
tem nem
considera
nenhuma obra
especialmente
“sagrada”, no
sentido de
infalível
conceitualmente,
isso valendo
para “O Livro
dos Espíritos”,
para “A Bíblia”
ou para qualquer
outra obra
relevante para o
movimento
espírita.
O caráter
científico do
Espiritismo é
caracterizado,
entre outros
fatores, por um
interminável
questionamento
(somente “O
Livro dos
Espíritos”
apresenta 1.019
perguntas com
várias
subdivisões,
desdobramentos,
comentários
etc.), por uma
pesquisa
constante e por
um
aprofundamento
conceitual
ininterrupto.
Por isso, Allan
Kardec,
inteligente e
humilde, deixa
claro em “A
Gênese” que se a
Ciência provar
que o
Espiritismo
errou em algum
ponto, o
Espiritismo
deveria corrigir
este ponto e
seguir com a
Ciência,
evitando,
portanto, os
convencionais
equívocos
típicos de
movimentos
puramente
religiosos, mas
sem maiores
níveis de
coerência
filosófico-científica.
Essa proposta
não deixa de ser
um verdadeiro
“antídoto”
contra o
fanatismo, que
poderia levar à
dogmatização de
certos
postulados,
“engessando” a
possibilidade de
evolução
doutrinária e
favorecendo a
contaminação do
Espiritismo com
predisposições
pessoais, as
quais podem
valorizar
determinado
aspecto em
detrimento do
conjunto
doutrinário, ou
mesmo inserir
erros
doutrinários
graves nas Casas
Espíritas.
Vivemos um
momento no
movimento
espírita em que
muitos grupos se
dividem entre
aqueles que
defendem a
leitura única e
exclusiva de
Allan Kardec, e
muitas vezes só
de “O Livro dos
Espíritos” e “O
Evangelho
segundo o
Espiritismo”, e
outros grupos
que valorizam e
estudam com
bastante
intensidade
novas obras,
mediúnicas ou
não.
Considerando o
número crescente
de publicações
espíritas,
verdadeira
revolução no
mercado
editorial
brasileiro, o
meio-termo seria
a postura mais
adequada. Nem a
leitura
exclusiva das
obras de Allan
Kardec, o que,
apesar de
indiscutivelmente
valioso,
limitaria a
capacidade de
desenvolvimento
doutrinário do
movimento
espírita de uma
forma geral, e
nem uma volúpia
excessiva por um
grande número de
obras, sem um
planejamento
racional de
formação
pedagógica, seja
ela em nível
pessoal,
autodidata, ou
organizada pelos
dirigentes
espíritas para
grupos
doutrinários
frequentadores
assíduos das
casas espíritas.
Se nós espíritas
excluíssemos ou
desvalorizássemos
as obras
não-kardequianas,
limitaríamos a
acessibilidade
de muitos irmãos
às informações
doutrinárias. De
fato, poderíamos
não ter tido no
movimento
espírita a
decisiva adesão
de Eurípedes
Barsanulfo, que
se converteu ao
Espiritismo após
a leitura da
obra “Depois da
Morte”, de Léon
Denis. Por outro
lado, se não
tivermos uma
escala mínima de
prioridade em
termos de
conteúdo
doutrinário,
corremos o risco
de perder a
solidez e a
unidade
doutrinária que
Allan Kardec e
as principais
obras
subsidiárias
fornecem à
doutrina.
Divaldo Pereira
Franco
coerentemente
recomenda que os
dirigentes
espíritas não
divulguem obras
que não leram ou
que leram e não
aprovaram
doutrinariamente,
independentemente
de quem seja o
autor das
mesmas. Sem
levar tais
propostas a
atitudes
extremadas, a
valorização de
obras que sejam
verdadeiramente
ricas de
conteúdo é
procedimento de
elevação do
nível
doutrinário de
todos os adeptos
e salvaguarda da
qualidade dos
centros
espíritas. O
Espiritismo é
movimento de
educação e a
leitura
sistemática de
obras de elevado
conteúdo é uma
das bases para o
crescimento
intelecto-moral
de todos nós.