MARIA ENY
ROSSETINI PAIVA
menylins@terra.com.br
Lins, SP
(Brasil)
O reino de Deus,
na visão do
filósofo
Herculano
Os fundamentos
Neste estudo que
fazemos sobre o
filósofo,
literato e
jornalista, José
Herculano Pires,
cuja militância
espírita nos
deixou obras
admiráveis,
estamos
analisando o
livreto “O
Reino”, poema
feito de beleza
e alta
filosofia.
No cap. II, OS
FUNDAMENTOS,
Herculano nos
mostra quais são
os fundamentos
do
Reino de Deus. O
renomado
escritor afirma:
“Daquele momento
em diante o
Reino do
Carpinteiro
estava
implantado na
Terra. E nada
mais, nenhuma
violência e
nenhuma manobra
escusa
conseguiram
fazê-lo
desaparecer”.
Depois considera
que “há
milênios uma
luta conjugada
contra o Reino
tenta destruir
os seus
fundamentos e a
sua realização.
Mas esse Reino
permanece e se
alarga, “como
uma flor
teimosa, que
desabrocha
lentamente,
apesar das
tempestades, das
secas, das
pragas, do sol
inclemente e da
inclemência
maior do coração
humano”.
Quais são,
então, os
fundamentos
desse estranho
Reino? O
Carpinteiro os
coloca na
proclamação de
Isaías, quando o
cita na sinagoga
de Nazaré.
O primeiro
fundamento é o
Espírito do
Senhor. O
Espírito divino
é muito vasto,
mas podemos
afirmar que,
antes de mais
nada, ele é
“amor e
justiça”.
São assim os
três fundamentos
do Reino de
Deus, (Deus,
Amor e Justiça),
consoante Jesus
proclamou. Os
Espíritos
confirmam essa
visão do Reino
de Deus, em
várias
colocações de O
Livro dos
Espíritos e de
outros livros de
Allan Kardec.
Como a nossa
Justiça é muito
falha, Jesus, ao
proclamar a
instauração do
Reino, proclama
que foi ungido,
para trazer a
boa nova
(evangelho) aos
pobres.
Herculano é
brilhante e
profundo quando
explica
porque o Reino é
anunciado aos
pobres.
Vejamos:
“Que Justiça é
essa? Então nós,
os ricos, não
merecemos a Boa
Nova? Claro que
merecem, como
todos os demais
filhos de Deus,
mas, para isso,
precisam fazer o
que o Jovem
Carpinteiro
ensinou ao moço
rico que
desejava entrar
no Reino:
Vai, vende o que
tens e dá-o aos
pobres; depois,
vem e segue-me.
“Então, esse é o
Reino da Pobreza
e da Miséria?
Seria um Reino
de vagabundos e
mendigos?
Não, pois
dividir a
riqueza não é
destruí-la, mas
multiplicá-la. É
abrir-lhe outras
possibilidades
de crescimento,
não mais entre
as garras do
egoísmo, mas
entre as mãos do
altruísmo. Os
ricos que não
têm entrada no
Reino são os que
construíram o
seu próprio
reino na Terra.”...
(negritamos)
Herculano
prossegue justo
e claro: “Os
ricos que não
têm entrada no
Reino são os que
construíram o
seu próprio
reino na Terra.
Esses
reinozinhos
egoístas,
fechados em si
mesmos,
alimentando a
vaidade, a
ganância, a
impiedade, a
arrogância, são
os mais ferozes
inimigos do
Reino. Por isso
é mais fácil um
camelo passar
pelo fundo de
uma agulha do
que um desses
reizinhos, que a
morte despojará
de suas basófias
e pretensões,
entrar no
Reino”.
“Os pobres são
os injustiçados
da Terra. Os
ricos são os que
amealharam os
bens da Terra e
fizeram a sua
própria justiça.
O Reino é do
Céu, mas o Jovem
Carpinteiro o
trouxe para a
Terra, a fim de
que a Justiça se
faça através do
Amor.”
Fica difícil
para nós
desvendarmos o
significado das
inteligentes
colocações de
Herculano se não
pensarmos nas
mudanças
econômicas que
no final do
Século XX
começaram a se
esboçar.
Muitas empresas
em nosso sistema
capitalista
passaram, além
de pagar os
salários dos
trabalhadores e
os direitos que
possuem, a
torná-los
partícipes,
estabelecendo
“participação
nos lucros”, ou
seja, divisão no
final do
semestre ou do
ano de um
percentual dos
lucros obtidos,
para os
trabalhadores.
Apenas atendem a
lei que
estabelece no
Brasil esse
direito ao
trabalhador.
Conhecemos uma
Escola
particular, onde
os professores
recebiam uma
parte da
mensalidade de
seus alunos, um
percentual que
permitia à
Escola pagar
seus salários
que, no Estado
de São Paulo,
tem um piso de
dois ou três
salários
mínimos,
conforme as
horas de
trabalho, além
de receber esse
percentual. Após
um semestre,
houve uma
reclamação que
as classes mais
adiantadas da
Escola tinham
uma matrícula
menor, portanto,
os professores
das séries mais
avançadas sempre
recebiam menos.
Todos os
professores se
prontificaram em
alterar as
regras
estabelecidas
pela empresa, e
dividir o número
de alunos pelo
número de
professores,
para que o
esforço de todos
fosse igualmente
recompensado.
Outro dia,
tomando uma
deliciosa e
gelada água de
coco, num
quiosque de
minha cidade,
iniciei uma
conversa com o
dono e
empresário desse
pequeno negócio,
que estava
indignado com a
corrupção dos
nossos
políticos. E
acrescentou:
“Precisamos de
leis mais
humanas e mais
severas. Tenho
uma irmã que se
casou com um
empresário
russo. Acredita
que ele não pode
pelas leis do
país nem pagar a
passagem dela
quando vem a
negócios ao
Brasil, e tem
que comprar a
passagem da
esposa de seu
próprio pro
labore, ou
seja, de sua
retirada mensal
da empresa, que
é fixa? E tem
mais... As leis
ali não permitem
a ele que abra
ou feche a
empresa porque
resolveu que a
coisa não vai
bem e a empresa
não vai
sobreviver. Há
uns três anos
atrás, ele
estava tendo
prejuízo. Pelas
leis do país,
ele deve
preservar os
empregos dos
trabalhadores.
Então, foi
obrigado a
reduzir seu
“salário” e os
salários dos
técnicos e
diretores ao
salário mínimo,
e todos se
empenharam em
gerenciar melhor
a empresa, para
que desse
lucros. Apenas
dois anos
depois, o
governo
permitiu, pela
situação da
empresa, que
eles voltassem a
ganhar
diferenciado...
Lá, a função
social da
propriedade dos
meios da
produção de
riqueza é o
mais importante
e é essa função
que é protegida
por severas leis”.
Pensei comigo,
realmente a
propriedade e a
riqueza têm,
acima de tudo,
função social.
Não existem
apenas para
possibilitar aos
mais capazes,
mais diligentes,
mais
inteligentes,
mais
trabalhadores,
um salário
melhor, ou uma
imensa riqueza
pessoal. Existem
para que a
Justiça se faça
e todos possam
usufruir dos
Bens da Terra.
É isso que o
filósofo
espírita,
Herculano Pires,
explica com
beleza literária
até o final do
Capítulo OS
FUNDAMENTOS.
Depois de nos
deliciar com um
relato (claro
que metafórico)
de um encontro
com um angelical
mensageiro do
Reino, que
responde a
perguntas de um
descrente, como:
Por que Deus
deixou que os
homens se “embichassem”
desse
jeito?, Por que
permitiu isso e
agora condena os
ricos?, as suas
respostas nos
encantam, mas
irritam o
descrente.
Encerra
magistralmente:
“A proclamação
de Nazaré
estabelece os
fundamentos do
Reino, sem nada
esquecer. Em
breves linhas,
em poucas
palavras, o
Código de Amor e
Justiça é
oferecido ao
mundo”. Se os
homens não
quiserem
entender, se
continuarem seus
reinozinhos de
ganância e
egoísmo, o
“Reino
continuará a
expandir-se nos
corações e nas
consciências
capazes de
senti-lo e
compreendê-lo”.
“O
espírito
do
Senhor
está
sobre
mim,
pelo que
me ungiu
para
anunciar
a Boa
Nova aos
pobres.
Enviou-me
para
proclamar
a
libertação
dos
cativos
e a
restauração
da vista
aos
cegos,
para pôr
em
liberdade
os
oprimidos
e
apregoar
o Ano
Aceitável
ao
Senhor”
(Lc, 4:
18) (Is,
61,1; 2).