B. Na “transfiguração”,
além de moldarem seus
próprios rostos, os
Espíritos podem
manifestar-se e
conversar com as pessoas
presentes?
Sim. O Caso 14
reporta-se a um fenômeno
dessa natureza, em que
foi médium a Sra.
Bullock. Segundo as
testemunhas, muitas
personalidades que se
manifestaram eram
defuntos conhecidos dos
presentes, os quais
conversaram com seus
parentes e amigos.
(A Morte e os seus
Mistérios, Caso 14.)
C. A “transfiguração”
pode estender-se ao
corpo do médium ou fica
limitada a seu rosto?
Pode estender-se, sim,
ao corpo do médium. Em
um dos relatos
pertinentes ao Caso 14,
narrado pelo Rev. Erwood,
a médium se transfigurou
no rosto e no corpo,
personificando uma pobre
paralítica conhecida do
narrador.
(A Morte e os seus
Mistérios, Caso 14.)
Texto para leitura
79. Entre os médiuns
contemporâneos de
"transfiguração" podemos
citar, na França, a Sra.
Picquart e na Inglaterra
a Sra. Bullock, com as
quais se principiou a
experimentar com
critério científico,
fotografando os
fenômenos das
"transfigurações",
realizados à luz do dia
ou com luzes
diversamente coloridas,
mas sempre suficientes.
80. O Caso 13 focaliza
os fatos em que serviu
como médium a Sra.
Picquart. No número de
maio de 1924 da "Revue
Scientifique et Morale
du Spiritisme", o Sr. A.
Barbier expõe os
métodos rigorosamente
científicos com que o
hipnotizador M. Piara e
o Dr. Potheau, de Nice,
experimentaram com a
Sra. Picquart.
81. A Sra. Picquart era
envolta em uma roupa
aderente, sendo uma e
outra previamente
revistadas por
testemunhas sempre
novas, as quais podiam
levar seus aparelhos
fotográficos. Depois de
alguns minutos, a médium
cai em transe, passando
à catalepsia, e durante
toda a sessão fica em
estado de rigidez, sem
que se lhe note o menor
movimento.
Nos casos de
"transfiguração", a Sra.
Picquart muda
radicalmente de
fisionomia, e quando a
efígie é masculina,
aparecem-lhe barba e
bigodes no rosto. Esta,
em resumo, a descrição
genérica das
experiências.
82. Tiro da "Light"
(1927, pág. 508) a
seguinte narrativa de
uma sessão com a Sra.
Picquart, assistida pelo
Sr. Niel Gow, sessão
que, entretanto, não
atingiu o seu pleno
desenvolvimento. Cito-a
porque não disponho de
outra documentação a
respeito e também porque
tal narrativa serve para
ilustrar as modalidades
com que se produzem as
manifestações.
83. Relata o Sr. Niel
Gow: "Foi com um
sentimento de grata
expectativa que entrei
na sala das sessões, em
casa da Sra. Oudot (Rue
du Fauburg Montmartre,
Paris), para assistir às
experiências com a Sra.
Picquart, a respeito de
quem ouvira falar com
admiração. E o meu
interesse fora mais do
que nunca estimulado
pela conspícua coleção
de fotografias obtidas
pela Sra. Oudot, nas
quais se observa a
médium nas variadas
transformações do seu
transe, pois que a Sra.
Picquart é médium de
‘transfiguração’. A Sra.
Oudot tinha-me explicado
que ela entrava em
condições de catalepsia,
durante as quais se
transformava de
fisionomia e, quando a
efígie representava um
homem, apareciam-lhes
pelos no rosto. E, com
efeito, várias das
fotografias por mim
vistas o atestavam,
mostrando-se
extraordinariamente
interessantes”.
84. Eis a conclusão do
relato: “Ao mesmo tempo
que eu, assistiam à
sessão um senhor
norte-americano,
representante de uma
sociedade de
investigações psíquicas
dos Estados Unidos; um
senhor inglês, membro de
bem conhecida sociedade
de investigações
psíquicas de Londres;
uma senhora inglesa, e
três senhoras francesas,
uma das quais era
médium, e uma outra, a
mulher de um artista
dramático. A Sra.
Picquart foi apresentada
a nós todos. É uma
senhora pequena e de
aspecto comum; pertence
à burguesia e
aparentemente é surda.
Após a apresentação,
retirou-se para pôr uma
vestimenta negra muito
aprimorada, com um xale
negro sobre as espáduas
nuas. Em nossa presença,
ela mesma enrolou um
lenço preto em volta da
cabeça e estendeu-se a
comprido sobre o tapete,
apoiando a cabeça em uma
almofada especialmente
preparada. Estava-se em
plena luz do dia e nós
começamos a observá-la
atentamente. A médium
emitiu dois longos
suspiros e logo caiu em
estado de transe. Os
lábios vibravam
fortemente, e os olhos
giravam convulsivamente
nas órbitas. Depois
apareceram sobre a pele
do peito e da espádua
esquerda largas manchas
vermelhas, e seu rosto
se tornou muito pálido.
A Sra. Oudot levantou um
braço da médium, o qual
caiu pesadamente sobre o
tapete, produzindo um
ruído surdo. A
expectativa se fazia
sempre mais ansiosa. De
repente a Sra. Oudot
exclamou: ‘Pronto! Neste
momento, o Espírito
entra no corpo do
médium.’ Observamos uma
mudança. As bochechas da
médium tornaram-se
flácidas, caídas, as
narinas se dilataram, os
lábios se projetaram
para a frente. Foi logo
tomada uma fotografia da
manifestação. Poucos
minutos depois a médium
despertou. Parecia
esgotada e abatida, e
foi preciso ajudá-la a
levantar-se. Urgentes
negócios a liquidar
impediram-me de ficar
ainda e, com pesar, fui
obrigado a ir-me embora.
A experiência revelou-se
interessante, mas devo
confessar que permaneci
um tanto desapontado por
não ter logrado observar
o fenômeno no seu
completo
desenvolvimento.”
85. Foi realmente muito
rudimentar o fenômeno de
transfiguração, que foi
dado ao relator
assistir, fenômeno
privado de qualquer
forma de superposição
ectoplásmica sobre o
rosto do médium. Assim
como se deu, a
manifestação aparece
como um exemplo assaz
modesto de
transfiguração por
contração dos músculos
faciais. Entretanto, são
de notar-se as placas
vermelhas que apareceram
sobre a epiderme do
médium, as quais
indicariam uma
emergência incipiente de
transformação
ectoplasmática, que por
uma causa qualquer não
chegou a progredir.
Assim sendo, é claro
que, se não houvesse o
precedente de numerosas
fotografias,
superposições
ectoplásmicas, obtidas
pela Sra. Oudot, e
sobretudo pelo Dr.
Potheau, teria sido
preferível não citar a
experiência.
86. O Caso 14 refere-se
aos fenômenos de
"transfiguração" que se
obtêm com a Sra. Bullock,
notáveis e
interessantes. Como se
trata, porém, de uma
mediunidade muito
recente, publicaram-se
poucas relações de suas
experiências e, ademais,
só foi possível a
Bozzano referi-las pelos
resumos das relações
publicadas na revista
Light.
87. No número de 12 de
junho de 1931 da Light
(pág. 283) encontra-se
uma relação resumida da
seguinte forma: "O Rev.
Will J. Erwood publica
na revista ‘The National
Spiritualist’, de
Chicago, a relação de
uma sessão feita por ele
em Hale, Manchester, com
a médium de
transfiguração Sra.
Bullock, durante a qual
se obtiveram
manifestações por demais
notáveis. A Sra. Bullock
se achava sentada em
plena luz, de maneira
que se faziam visíveis
os mais minuciosos
detalhes das
manifestações e, no
espaço de uma hora e
meia, apareceram nada
menos de 50 rostos
diferentes, sobrepostos
ao rosto do médium. O
Rev. Erwood observa:
‘Era como se o resto do
médium fosse uma massa
elástica moldável à
vontade e modelada,
ademais, com assombrosa
perícia e rapidez, por
um exímio mestre na
arte, o qual, com fervor
inesgotável, passara de
uma a outra efígie. No
decurso dessa admirável
sessão apareceram todas
as espécies de rostos e,
entre eles, fisionomias
de orientais e hindus,
calmos, graves e
espirituais. Um dos
episódios mais
impressionantes foi a
personificação de uma
menina paralítica,
conhecida por mim nos
Estados Unidos da
América. Todo o corpo da
médium, juntamente com
seu rosto, se havia
contraído e transformado
em forma radicalmente
distinta do aspecto
normal da mesma,
representando, com toda
a exatidão, as
lamentáveis condições em
que se encontrara aquela
pobre vítima da
paralisia."
88. Em outro número da
mesma revista, lê-se o
seguinte resumo: "Os
estudiosos das
investigações psíquicas
de Belfast se
interessaram muito,
ainda há pouco, pelas
experiências da Sra.
Bullock, que se
realizaram na sede da
‘Sociedade de Pesquisas
Psíquicas’. Essas
manifestações foram de
um caráter incomum. A
referida médium
sentou-se defronte de
uma lâmpada vermelha, de
uma luz algo tênue, e,
depois que se manifestou
seu "Espírito-guia",
começaram a produzir-se
as assombrosas
transfigurações de seu
rosto, que ia tomando os
semblantes dos Espíritos
que, sucessivamente, se
comunicavam. Por detrás
da médium fora estendido
um largo pedaço quadrado
de veludo preto, e, como
a médium se vestira
igualmente de preto, as
caras, que apareciam, se
destacavam de forma
notável. O mais
extraordinário
verificado na produção
das transfigurações
consistiu na
circunstância de que
essas cresciam e se
desenvolviam
internamente e, como se
manifestaram também
rostos de orientais
muito velhos, era muito
interessante e
prodigioso observar-se
como o rosto da médium
se tornava, de repente,
enrugado, ao mesmo tempo
que as sobrancelhas se
alargavam obliquamente e
se desenhava sobre o
lábio a sombra de
bigodes virados para
baixo. Desnecessário é
dizer que se
manifestaram muitas
personalidades de
defuntos conhecidos dos
presentes, que
conversaram, assim, com
parentes e amigos. Devo
acrescentar que a Sra.
Bullock é uma pessoa
muito simpática, cuja
modéstia iguala sua
sinceridade. O seu
aparecimento entre nós,
com sua mediunidade rara
e prodigiosa, foi um
acontecimento que
despertou o maior
interesse.” (Light,
1932, pág. 141.)
89. Como se verifica por
estes sucintos relatos,
a mediunidade da Sra.
Bullock é realmente
notável e promissora e,
posto que se trate de
uma médium muito nova,
dado é esperar ulterior
e próximo
desenvolvimento de suas
faculdades supranormais,
desde que a estudem
experimentadores que se
proponham a observar os
fenômenos de um ponto de
vista rigorosamente
científico.
90. Teoricamente
falando, mostra-se
importante a observação
feita pelo relator
quando diz que as
transfigurações
"cresciam e se
dissolviam
interiormente", o que
induz a presumir que, em
tais fenômenos, se
verifiquem uma produção
e conformação interior
da substância
ectoplásmica que
constitui os tecidos do
rosto do médium, caso em
que os tecidos se
dissolveriam em uma
substância amorfa muito
maleável, com a qual as
distintas personalidades
espirituais comunicantes
plasmariam suas efígies
em virtude de um ato
volitivo, devido ao qual
entrariam em função suas
próprias "forças
organizadoras"
individuais. A este
respeito quero recordar
que anteriormente citei
um caso sucedido com o
médium Home (Caso 4) em
que houve uma
circunstância que vem
confirmar tal
interpretação dos fatos.
Disse, na ocasião, que
nos processos da
diminuição do rosto
daquele, notava-se a
curiosa circunstância da
pele que se tornava
profundamente enrugada e
flácida, indício
evidente de que o
fenômeno de
transfiguração se
produzia com a ajuda de
processos de "dissolução
interior", isto é, de
subtração de substância
ectoplásmica dos tecidos
do rosto do médium, pelo
qual se subentende que
os processos opostos de
retoque com adição de
massa ectoplásmica ao
rosto do médium se
deviam realizar
igualmente por
"integrações e
manipulações internas".
91. Mostra-se assombroso
o fato de que, no
intervalo de hora e
meia, se tenham podido
sobrepor, materializar e
dissolver 50 rostos
sobre o da médium.
Contudo e apesar da
nossa incapacidade para
compreender o fenômeno,
é ele raro nas
experiências de
transfiguração, mas já
foi citado antes um caso
análogo.
92. Com o intuito de
atenuar, de certo modo,
o espanto justificado do
leitor, quero recordar
que sucede o mesmo nos
fenômenos das
materializações de
fantasmas independentes
do médium. Valem por
todas as experiências
relativamente recentes
de Varsóvia com o médium
Frank Kluski, em que os
fantasmas se
manifestavam em sucessão
ininterrupta,
dissolvendo-se
instantaneamente ante os
espectadores, da mesma
forma instantânea com a
qual se haviam
materializado.
93. Quero recordar,
também, que nas
clássicas experiências
de William Crookes o
fantasma materializado
de "Katie King" aparecia
e desaparecia com
fulminante
instantaneidade, se bem
se tratasse de um
fantasma solidamente
conformado e
perfeitamente
organizado. Infere-se
que esse segundo
mistério, mais
imperscrutável ainda que
o primeiro, serve,
quando menos, para
tornar mais aceitável a
particularidade da
sucessão rapidíssima com
que se concretizam e se
dissolvem os rostos
supranormais nas
experiências de
transfiguração.
94. Noto, enfim, que
ambos os narradores
falam de manifestações
de defuntos conhecidos
dos experimentadores,
com provas de
identificação pessoal,
entre as quais se mostra
muito notável a referida
pelo Rev. Erwood, em que
a médium se transfigura
no rosto e no corpo,
personificando uma pobre
paralítica conhecida do
narrador.
(Continua na próxima
edição.)