A. Nos problemas de
saúde, a quem geralmente
está reservada a parte
mais importante?
Em todo processo
desobsessivo, talvez na
quase totalidade dos
problemas de saúde, a
parte mais importante
está sempre reservada
ao paciente. Sua
obstinação em manter-se
no desequilíbrio,
preferindo inspirar
compaixão a despertar
amizade, constitui óbice
de difícil remoção na
terapia do seu
refazimento.
(Tramas do Destino, cap.
15, págs. 133 e 134.)
B. Quem era Epifânia?
Epifânia era, então, uma
jovem de trinta e cinco
anos que chegara à
Doutrina Espírita em
decorrência de
tormentosa distonia
mediúnica. Ela se fizera
membro atuante na
referida instituição,
entregando-se com afinco
e fervor ao ministério
do socorro espiritista,
a que se ofertava até à
exaustão. Não era bela,
mas sua juventude e
simpatia contagiantes
cativavam quantos dela
se acercavam e jamais a
ouviram queixar-se, pois
sua boca se abria
somente para ajudar e
agradecer ao Senhor.
(Obra citada, cap. 15,
págs. 135 a 137.)
C. O comportamento
mental é importante no
processo da
desencarnação?
Sim. O comportamento
mental é tão importante
para a desencarnação
quanto para a vivência
física. Cada um
desencarna conforme se
encontra reencarnado. Os
conflitos não
equacionados, como os
ódios e os amores,
prosseguem com maior
volúpia. Desarticulado o
corpo e sentindo-se sem
o invólucro em que se
sustentava para
expressar as sensações,
o recém-desencarnado, em
alucinação, experimenta
o impositivo das cargas
magnéticas da matéria e
acompanha-lhe a
desintegração,
experimentando toda a
decomposição do corpo,
como se ela estivesse
ocorrendo nas fibras
mais íntimas da sua
organização espiritual.
Outra, contudo, é a
situação dos Espíritos
felizes, cuja vida se
padronizava nos
sentimentos superiores,
os quais são recebidos
pelos seus afetos, que
os precederam ou os
aguardavam, responsáveis
ou não pelo investimento
reencarnatório então
concluído.
(Obra citada, cap. 15,
págs. 137 e 138.)
Texto para leitura
54. Novo ataque
epiléptico -
Gilberto e os familiares
que ouviam Cândido,
atentos, não ocultavam a
emoção. Aquilo lhes era
um belo mundo novo. Nada
que produzisse choque em
relação à fé
anteriormente abraçada.
Antes, aquelas
informações clareavam os
mistérios das afirmações
nebulosas e elucidavam
os complexos temas que
perturbavam, em face das
incógnitas em que se
ocultavam. Lisandra não
participou da palestra,
que vez por outra
suscitava de Clarice
algum complemento, como
decorrência de sua
experiência no
Espiritismo. A certa
altura, o enfermeiro
perguntou por Lisandra.
A mãe disse que ela
prosseguia indisposta,
em virtude de velho
problema psíquico que a
atormentava, razão por
que não participara da
conversação edificante.
Nesse momento, ouviu-se
um baque surdo,
precedido por um grito.
Artêmis, empalidecendo
de súbito, levantou-se e
foi, apressada, na
direção do quarto da
filha, que se encontrava
caída, em convulsão. A
mãe, procurando
ampará-la, ouviu-a
pronunciar nitidamente
o nome Ermínio, tal como
informara Hermelinda.
Olhar esgazeado, rosto
com manchas arroxeadas,
gemidos e consequente
prostração
sucederam-se, como de
hábito. Cândido ofereceu
seus préstimos, como
enfermeiro que era, e,
como a pulsação da jovem
estivesse normal, pediu
licença para aplicar a
única terapêutica que
lhe parecia útil no
momento: o passe.
Adelaide, sempre
presente, forneceu-lhe o
auxílio necessário à
ministração de recursos
de energias refazentes.
Logo que Lisandra se
aquietou, ele tornou à
sala, onde Clarice e
Gilberto oravam. Cândido
notou os sinais da
hanseníase na jovem, mas
manteve, a respeito,
discreto silêncio.
Artêmis estava
perturbada com o
acontecimento e explicou
que as crises da filha
estavam menos violentas.
Aquela fora uma das mais
graves. Pediu, pois, a
Cândido que nada
revelasse a Rafael, para
poupá-lo de sofrimentos
desnecessários. Cândido
deixou-a tranquila
quanto a isso. Ele
agiria como se nada
houvesse acontecido.
(Cap. 14, págs. 129 e
130)
55. Acende-se no
lar uma luz diferente
- Artêmis resolveu,
contudo, revelar-lhe a
verdade sobre a doença
da filha, explicando que
desde que foi descoberta
a lepra o Dr. Armando
Passos tratava da jovem
em sua própria casa.
Ela decidira, então,
nada dizer ao pai, para
evitar-lhe ideias
erradas e
injustificáveis
complexos de culpa. O
enfermeiro disse-lhe
compreender
perfeitamente sua
decisão e prometeu unir
as suas preces às preces
da família, com que
esperava que todos
recebessem do Alto a
ajuda necessária para
vencer tantas provações.
Depois, ofereceu a
Artêmis um volume d' O
Evangelho segundo o
Espiritismo, de Kardec,
acrescentando que se
tratava de exemplar
igual ao que Rafael
possuía, e que lhe
estava dando muito
conforto. Antes das
despedidas, ele se
ofereceu para voltar
àquela casa, vez por
outra, a fim de aplicar
passes em Lisandra e
conversar sobre os
tesouros do Mundo Maior.
A esposa de Rafael
aceitou a oferta e lhe
disse que a casa estaria
sempre à sua
disposição. Os novos
amigos despediram-se com
legítima afetividade
espontânea. A ponte da
verdade estava sendo
lançada entre as bordas
que se separavam num
abismo de sombra e dor.
Ao se acenderem as
lâmpadas que superavam
em luz as trevas da
noite, naquele lar, era
como se, a partir de
então, uma diferente
luz, esparzida do Livro
da Vida, clareasse
definitivamente a
teimosa noite que se
agasalhava naquele
recinto. Certo, os
sofrimentos
prosseguiriam, mas ao
lado deles se erigiria
um altar ao amor e à
fidelidade ao Pai, em
holocausto de fé e
resignação, de que
já davam mostras aqueles
corações crucificados
nas traves da expiação
redentora. (Cap. 14,
págs. 131 e 132)
56. Os frutos do
Evangelho no lar
- Cândido passou a
frequentar, com
relativa assiduidade, o
lar dos Fergusons. Cada
visita fazia-se mais
auspiciosa. Sua palavra
simples e fluente sabia
elucidar as
interrogações e aclarava
as questões nebulosas em
torno da fé, com
naturalidade
fascinante. Os passes
aplicados em Lisandra
redundavam em melhora
orgânica perceptível.
Ela, porém, permanecia,
psiquicamente,
refratária às
instruções espirituais,
fechada em si mesma e
aturdida pelas
construções mentais e
evocações infelizes de
que dificilmente se
liberava. Acedendo à
telementalização do
verdugo desencarnado,
que urdiu um plano
nefasto, deu acolhida às
induções de antipatia ao
enfermeiro,
ensimesmando-se em
característico mutismo
com que demonstrava seu
desagrado. Cândido
compreendeu a situação
e dissimulou,
educadamente. Sabe-se
que em todo processo
desobsessivo, quiçá na
quase totalidade dos
problemas de saúde, a
parte mais importante
está sempre reservada
ao paciente. Sua
obstinação em manter-se
no desequilíbrio,
preferindo inspirar
compaixão a despertar
amizade, constitui óbice
de difícil remoção na
terapia do seu
refazimento. A manobra
do obsessor de Lisandra
não atingiu, contudo, os
demais familiares, que,
incluindo Gilberto,
encontraram na Doutrina
Espírita um fulgurante
luzeiro que passaram a
estimar. Cândido
instituiu o culto
Evangelho no lar, lendo
e comentando as
preciosas lições d' O
Evangelho segundo o
Espiritismo, de Kardec,
bem como as demais obras
básicas da Codificação,
e os resultados em forma
de bênçãos espirituais e
recursos morais não se
fizeram esperar, o que
confortava Rafael, feliz
com as aquisições
espirituais dos seus.
(Cap. 15, págs. 133 e
134)
57. Epifânia
- Passados alguns
meses, Cândido sugeriu
que a família passasse
a frequentar uma
Sociedade Espírita
organizada, na qual a
parasitose psíquica de
Lisandra pudesse ser
examinada em
profundidade, com mais
profícua colheita de
resultados. Indicou
então a Casa em que ele
prestava sua cooperação.
Como Lisandra não podia
afastar-se de seu
quarto, e a fim de não
ficar sozinha,
organizou-se um programa
de assistência, através
do qual, revezando-se os
familiares, sempre
alguém lhe poderia fazer
companhia. Naquele
Centro espírita
trabalhava como médium
uma jovem de trinta e
cinco anos que chegara à
Doutrina Espírita em
decorrência de
tormentosa distonia
mediúnica. Era Epifânia,
que se fizera membro
atuante na referida
instituição,
entregando-se com afinco
e fervor ao ministério
do socorro espiritista,
a que se ofertava até à
exaustão. Epifânia não
era bela, mas sua
juventude e simpatia
contagiantes cativavam
quantos dela se
acercavam. Jamais a
ouviram queixar-se, pois
sua boca se abria
somente para ajudar e
agradecer ao Senhor.
Artêmis e Gilberto, em
data adredemente
aprazada, dirigiram-se à
Casa Espírita, onde
Cândido os esperava. Era
a primeira vez que eles
iriam participar de uma
tarefa espiritista.
Epifânia foi convidada a
fazer os comentários da
noite, que versariam
sobre o cap. XII d' O
Evangelho segundo o
Espiritismo, "Amai os
vossos inimigos",
particularmente o
tópico: "Os inimigos
desencarnados". Após
tecer comentários em
torno da imortalidade,
foi visível a
transfiguração que se
operou na palestrante.
Sem perder a
mansuetude, o metal de
voz modificou-se, a
expressão da face
aureolou-se de diáfana
beleza e os olhos
tornaram-se luminosos. E
Epifânia prosseguiu sua
fala, aludindo, sob
inspiração de uma
Entidade superior, à
importância do
conhecimento espiritual
para a ascensão do
indivíduo. (Cap. 15,
págs. 135 a 137)
58. Para
desencarnar bem é
preciso viver bem
- Em sua palestra, a
Entidade, por via
mediúnica, lembrou que a
desencarnação não anula,
nem simplifica as
dificuldades. Os
sentimentos cultivados,
as aspirações não
realizadas, as fixações,
os resíduos morais
transferem-se de uma
para a outra posição da
realidade espiritual. "A
morte apenas realiza o
processo cirúrgico de
longo curso", asseverou
a palestrante,
"libertando a ave cativa
que é o espírito, ou
segurando, em tormentoso
constrangimento, a alma
que se deseja
evadir..." O
comportamento mental é
tão importante para a
desencarnação quanto
para a vivência física.
"Cada um desencarna
conforme se encontra
reencarnado. Os
conflitos não
equacionados, como os
ódios e os amores,
prosseguem com maior
volúpia", explicou a
oradora. E ela
continuou:
"Desarticulado o corpo e
sentindo-se sem o
invólucro em que se
sustentava para
expressar as sensações,
o recém-desencarnado,
em alucinação,
experimenta o impositivo
das cargas magnéticas
da matéria e
acompanha-lhe a
desintegração,
experimentando toda a
decomposição do corpo,
como se ela estivesse
ocorrendo nas fibras
mais íntimas da sua
organização espiritual.
Alguns seres
recém-libertos, em tal
estado, convidados
insistentemente pelos
pensamentos do afeto
desequilibrado, da
mágoa ou do ódio
injustificáveis que
ficaram na retaguarda,
são arrancados da
sepultura e se imantam
às mentes que os
seviciam, mesmo não
intencionalmente,
produzindo infinito
mal-estar, e, porque
ignorem o que ocorre,
passam a sofrer
indescritível turbação
espiritual..." A
Entidade que se valia de
Epifânia afirmou, no
entanto, que outra é a
situação dos Espíritos
felizes, cuja vida se
padronizava nos
sentimentos superiores,
os quais são recebidos
pelos seus afetos, que
os precederam ou os
aguardavam, responsáveis
ou não pelo investimento
reencarnatório, então
concluído. "Não
bastassem as ocorrências
da leviandade que ligam
os trêfegos e
irresponsáveis entre si,
formando grupos e
colônias de parasitas,
de viciosos e
perniciosos a se
locupletarem na insânia
e nas obsessões simples
com tendência a
agravamento, em
decorrência da sintonia
que lhes facultem os
cômpares encarnados,
exigindo vigilância e
cuidados, especial
atenção merecem os
inimigos desencarnados",
asseverou a palestrante.
(Cap. 15, págs. 137 e
138)
(Continua no próximo
número.)