B. A que modalidades de
produção dos fenômenos
Bozzano se refere?
Bozzano diz que, baseado na análise comparada dos fatos,
dever-se-ia inferir que
os fenômenos de
"transfiguração" e
sobretudo os fenômenos
de "materialização"
podem realizar-se com
duas modalidades de
produção bem diferentes.
A primeira consistiria
no fato de que a
personalidade mediúnica
não retiraria somente
substância ectoplásmica
ao médium, mas
apossar-se-ia do seu
"fantasma ódico" (no
sentido conferido ao
termo pelos ocultistas),
do qual se revestiria,
transformando-o. A
segunda consistiria, ao
contrário, na
circunstância de que a
personalidade mediúnica,
favorecida por condições
propícias, retiraria
unicamente substância
ectoplásmica do médium,
sem apoderar-se do seu
"fantasma ódico", caso
em que estaria em
situação de reproduzir,
de modo perfeito, o
próprio simulacro
materializado.
(A Morte e os seus
Mistérios, Caso 15.)
C. Com o concurso de um
único médium de efeitos
físicos podem
manifestar-se
simultaneamente dois ou
mais Espíritos
materializados?
Sim. Bozzano cita a respeito as experiências do banqueiro F.
Livermore com a médium
Kate Fox, em que se
manifestavam às vezes,
simultaneamente, até
quatro fantasmas
materializados, e,
hodiernamente, as
memoráveis experiências
com o médium polaco
Frank Kluski, nas quais
sucedeu outro tanto. O
mesmo fato ocorreu em
sessão realizada com o
concurso da médium
Eusápia Paladino.
(A Morte e os seus Mistérios, Caso 15.)
Texto para leitura
106. Entre os médiuns contemporâneos com os quais se obtêm
fenômenos de
transfiguração, devem
ser incluídos o médium
alemão Heinrich Melzer,
de Dresden, e o médium
sueco Ana Rasmussen, que
não foram citados na
classificação dos casos
porque Bozzano não
dispunha de relatos
adequados para o fazer.
107. No tocante ao médium Melzer, sabe-se que ele realizou
recentemente uma série
de sessões na sala do "British
College of Psychic
Science", cujo
presidente, o Sr. James
Hewat Mackenzie,
publicou a respeito um
relato na revista "Psychic
Science", em que se lê
este parágrafo: "Em dado
momento achamo-nos em
face da máscara
autêntica de um
personagem chinês,
máscara que veio
sobrepor-se ao rosto do
médium. Ninguém, a não
ser quem se achasse
presente, poderia
apreciar o realismo
impressionante de
semelhante
transfiguração do rosto
de um europeu no de
oriental e isto em
consequência da
substituição das
personalidades
mediúnicas."
108. Por sua vez, o naturalista Professor Tillyard, em uma
conferência realizada no
"National Laboratory of
Psychic Research",
aludiu a um caso análogo
ocorrido com a médium
Ana Rasmussen,
observando a respeito:
"A sessão se realizou em
plena luz do dia e o
médium não caiu em
transe, mas somente em
um estado de estupor...
Seu nariz se transformou
e as características
faciais se tornaram as
de um homem, enquanto o
médium começou a
conversar com timbre
vocal absolutamente
másculo. Todos os
cientistas presentes
discutiram longamente
sobre diversas hipóteses
para de alguma forma
explicar cientificamente
o estranho fenômeno a
que haviam assistido."
109. Passando às induções e deduções que os fenômenos em exame
sugerem, observa-se,
antes de tudo, que a
análise comparada dos
melhores fenômenos leva
logo a notar a
circunstância de que uma
relação indubitável
existe entre os
fenômenos de
"transfiguração" e os
das "materializações
integrais de fantasmas
independentes do médium"
e tal relação se mostra
evidente a ponto de se
dever inferir que os
primeiros são uma fase
de exteriorização
incipiente dos segundos.
110. Alexandre Aksakof já o tinha notado no seu livro "Um caso de
desmaterialização
parcial" (págs.
210-211), observando que
os fenômenos de
"transfiguração" eram
importantes, porquanto
representavam a fase
inicial dos fenômenos de
"materialização". A
propósito da
exteriorização de um
fantasma materializado
com a médium Sra.
Compton, observa ele:
"Quando a forma
materializada nada mais
apresenta de comum com o
aspecto do médium,
encontramo-nos em face
de uma completa
transformação. Por quem
ou por que foi produzido
o fenômeno? É nisto que
reside a tão formidável
quão espinhosa questão a
resolver. É certamente
inverossímil que tão
radical transformação
seja devida às
faculdades supranormais
da subconsciência do
médium e quando a forma
materializada responder
a todas as exigências
por mim formuladas para
o reconhecimento
legítimo de uma
individualidade,
obter-se-ia com isso uma
prova eficacíssima em
demonstração de que uma
outra personalidade
transcendental,
independente do médium,
se apoderara unicamente
da substância orgânica
deste último, para
servir aos próprios
fins. Mas, se assim for,
não seria talvez mais
simples para a
personalidade
transcendental em
questão utilizar-se para
tais fins do próprio
corpo do médium, ou
somente do seu rosto,
transformando-o segundo
seus desejos, sem
recorrer à produção
maravilhosa, mas muito
mais difícil, de um
corpo distinto e
absolutamente diferente
do corpo do médium? Se
existissem fatos de tal
natureza, então,
entrar-se-ia na posse de
uma prova admirável,
tangível, visível, em
demonstração de que as
materializações se
reduzem a um fenômeno de
transmutação. Pois bem.
Estes fatos existem, mas
são raros e se acham
dispersos na massa
enorme de material
grosseiro existente na
literatura espírita."
111. Em seguida, Aksakof procedeu à citação de dois casos de
"transfiguração", com
aparecimento de barba e
cabelos grisalhos no
rosto e na cabeça do
médium, observando a
respeito: "Se bem que a
Sra. Killingbury
denomine os casos
relatados de ‘fenômenos
de transfiguração’,
notam-se neles
circunstâncias de
produção tais como barba
e cabelos grisalhos, bem
como aumento de peso do
corpo, os quais indicam,
de maneira manifesta, o
desenvolvimento
incipiente de um
processo de
transformação
ectoplásmica."
112. Nota-se que ele estabelece uma justa distinção entre os casos
de "transfiguração" em
que o fenômeno se reduz
a um simples jogo mais
ou menos maravilhoso de
contração e adaptação
dos músculos faciais, e
aqueles nos quais se
encontra um princípio de
adição ectoplásmica sob
forma de características
faciais inexistentes no
médium. São estes os
casos que ele tem em
grande conta, porquanto
representam o processo
inicial dos fenômenos de
materialização integral
de fantasmas
independentes do
organismo do médium.
113. Eis a que ponto se apresenta a formidável perplexidade a
resolver, a que Aksakof
se refere, perplexidade
que não existiria se as
materializações de
fantasmas fossem sempre
radicalmente diferentes
dos médiuns e outro
tanto sucedesse com os
rostos transfigurados,
casos em que não se
poderiam contrapor
objeções sérias à
interpretação espírita
dos fatos, porém a
produção dos fenômenos
em apreço não é tão
simples e nos casos das
materializações, como
nos das
"transfigurações", se
verifica muitas vezes
que o rosto
transfigurado ou o
fantasma materializado é
em parte diferente e em
parte semelhante ao
médium e, em
determinados casos
clássicos de fantasmas
materializados, as
semelhanças sobrepujam
as diferenças, mas, ao
contrário, em ambas as
classes dos fenômenos,
notam-se casos em que
nos achamos em presença
de duas personalidades
radicalmente diferentes.
Como explicar essas
circunstâncias tendentes
a sugerir interpretações
opostas?
114. Em minha opinião, e baseado na análise comparada dos fatos,
dever-se-ia inferir que
a perplexidade em apreço
deriva do fato de que os
fenômenos de
"transfiguração", mas
sobretudo os fenômenos
de "materialização",
podem realizar-se com
duas modalidades de
produção notavelmente
diferentes, a primeira
das quais consistiria no
fato de que a
personalidade mediúnica
não retiraria somente
substância ectoplásmica
ao médium, mas
apossar-se-ia do seu
"fantasma ódico" (no
sentido conferido ao
termo pelos ocultistas),
do qual se revestiria,
transformando-o, mas
conseguindo dificilmente
dominar com a vontade a
resistência passiva
oposta pela "força
organizadora" latente no
próprio "fantasma ódico",
com a consequência de
que a transfiguração
ficaria sempre
imperfeita, quando a
segunda de tais
modalidades consistiria,
ao contrário, na
circunstância de que a
personalidade mediúnica,
favorecida por condições
propícias, retiraria
unicamente substância
ectoplásmica do médium,
sem apoderar-se do seu
"fantasma ódico", caso
em que estaria em
situação de reproduzir,
de modo perfeito, o
próprio simulacro
materializado e isto
porque a vontade da
personalidade mediúnica
não teria que vencer a
resistência passiva da
"força organizadora"
inerente ao "fantasma
ódico" do médium.
115. Lembro-me de ter lido nos relatórios de Florence Marryat que
ela perguntou um dia ao
fantasma de "Katie King"
por que motivo se
assemelhava algumas
vezes ao médium e "Katie
King" lhe respondeu: "Eu
não posso impedi-lo,
pois a resistência
passiva que me opõe o
corpo fluídico do médium
é mais forte do que a
minha vontade." Resposta
preciosa que confirma as
presunções expostas e
que ao mesmo tempo
demonstra que o fantasma
de "Katie King" se
servia do "corpo
fluídico" ou "fantasma
ódico" do médium para
materializar-se. Isto é
confirmado pela resposta
obtida da médium Eusápia
Paladino, em condições
de hipnose, pelo Cel.
Albert De Rochas.
116. O Sr. De Rochas relata: "Um dia Eusápia Paladino permitiu que
eu a adormecesse em
presença da minha esposa
(ela foi tantas vezes
torturada pelos homens
de ciência, que se
tornou medrosa).
Consegui rapidamente
levá-la aos estados
profundos da hipnose e
então, com grande
espanto seu, viu
aparecer à sua direita
um fantasma de cor azul.
Perguntei-lhe se esse
fantasma seria "John". -
"Não, respondeu ela, mas
é desta substância de
que se serve John. -
Dito isto tomou-se de um
sentimento de medo e
pediu insistentemente
para ser despertada, o
que diz, deplorando não
ter podido prosseguir
ulteriormente nas minhas
pesquisas." (A. de
Rochas: "A
exteriorização da
motricidade", pág. 17).
117. Assim se pronunciou De Rochas. Observo, antes de tudo, que o
experimentador dirigira
à Eusápia uma pergunta
formulada de maneira a
sugerir de preferência
uma resposta em sentido
afirmativo, ao passo que
Eusápia respondeu
negativamente, e o fez
em termos inesperados
para o experimentador, o
que serve para excluir a
hipótese de uma
presumível sugestão por
parte deste último. Isto
posto, observo que a
explicação fornecida por
Eusápia a respeito de
"John", o qual se
serviria do seu
"fantasma ódico" para
produzir os fenômenos
físicos, se acha em
perfeito acordo com a
resposta de "Katie
King".
118. Não obstante, se quisermos ser precisos no uso dos termos, em
vez de falar de "corpo
fluídico" e do "corpo
etéreo" (expressões que
correspondem ao termo
"perispírito" ou
"invólucro do
espírito"), deveríamos
falar de "fantasma ódico"
no sentido conferido a
tal expressão por De
Rochas e por todos os
ocultistas, sentido que
corresponde ao que a
"Vidente de Prevorst"
(no ano de 1820) chamou
de "espírito de nervos",
ou "princípio de
vitalidade nervosa".
119. Observo que estas revelações da famosa "Vidente" têm grande
importância, pois foram,
igualmente, fornecidas
em termos equivalentes
per uma sonâmbula do
Rev. Werner, que afirmou
que "o organismo humano
é vitalizado por um
fluido nervoso, que é o
intermediário
indispensável para que a
alma entre em relação
com o mundo exterior", e
que, por sua vez,
acrescentara que "depois
da morte as almas não
podiam libertar-se
imediatamente do fluido
nervoso..., que as almas
muito terrenas se
saturavam dele com
júbilo, porque o fluido
nervoso lhes conferia o
poder de retomar a forma
humana e tornar-se
visíveis aos vivos ou
fazer-se notar por eles
ou ainda entrar em
contato com os mesmos,
ou, enfim, produzir
ruídos e sons na
atmosfera terrena...".
120. À vista do que vem sendo exposto, chega-se à conclusão de que
a questão formulada por
Aksakof se mostra
elucidável, desde que se
concorde em que, nos
casos de materializações
de fantasmas com rostos
em parte semelhantes ao
do médium, se deva
inferir que tal se dá
porque o Espírito se
serve unicamente da
substância ectoplásmica
subtraída ao médium,
evitando apoderar-se do
seu "fantasma ódico",
sempre ressalvados os
casos em que a vontade
da entidade espiritual
operante se revela a tal
ponto poderosa que
sobrepuje a resistência
passiva oposta pela
"força organizadora"
imanente no "fantasma
ódico". Já ao contrário,
nos casos dos fenômenos
de "transfiguração", em
que dificilmente a
entidade operante
poderia evitar achar-se
em contraste com a
"força organizadora"
inerente no organismo do
médium, dever-se-ia
inferir quase sempre
que, quando não existem
semelhanças entre o
rosto do médium e o
rosto que aparece por
transfiguração, isso
sucede por ter sido a
vontade da entidade
espiritual operante
bastante poderosa para
sobrepujar a resistência
passiva que se lhe
opunha.
121. Na referida dupla solução da perplexidade enunciada por
Aksakof se contém,
presumivelmente, uma
grande parte de verdade,
pois que os fatos
contribuem para
demonstrar ser tão
necessária a segunda
interpretação quanto a
primeira. E como
confirmação ulterior de
que as personalidades
mediúnicas não se servem
sempre do "fantasma
ódico" do médium,
observo que se conhecem
exemplos de
materializações
simultâneas de dois ou
mais fantasmas, o que
não poderia ser
explicado com a
transformação do
"fantasma ódico" do
médium.
122. Recordo a respeito as clássicas experiências do banqueiro F.
Livermore com a médium
Kate Fox, em que se
manifestavam às vezes,
simultaneamente, até
quatro fantasmas
materializados, visíveis
à luz suficiente, e,
hodiernamente, recordo
as memoráveis
experiências com o
médium polaco Frank
Kluski, nas quais
sucedeu outro tanto.
123. Acrescento finalmente que estou em situação de confirmar o que
digo por experiência
pessoal, pois que nas
nessas trienais
investigações
experimentais com a
médium Eusápia Paladino,
no "Círculo Científico
Minerva", de Gênova,
investigações em que
tomaram parte com o
signatário o Professor
Enrico Morselli e o Dr.
Giuseppe Venzano,
materializou-se uma
noite, no gabinete
mediúnico, para depois
abrir as cortinas e
apresentar-se, em
ambiente iluminado por
um bico de gás, uma
forma de mulher
carregando nos braços um
menino que mantinha bem
alto, quase em atitude
de atirá-lo.
124. Observo que o fantasma feminino apresentava particularidades
de identificação pessoal
e que o menino, a um
dado momento, se
inclinara, e,
aproximando o rostinho
do da forma de mulher,
dera-lhe dois beijos na
fronte, beijos ouvidos
por todos. Ao mesmo
tempo, através do
intervalo das cortinas,
era visível o corpo do
médium estendido sobre
uma maca de campanha e
de quem o Prof. Morselli
ligara mãos e pés. (Para
melhores informações,
reporto-me ao meu livro
"Hipótese Espírita e
Teorias Científicas",
bem como ao livro do
Prof. Morselli
"Psicologia e
Espiritismo"; volume II,
págs. 214-268.)(Continua na próxima
edição.)