ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, MG (Brasil)
Rescaldos carnavalescos
As
alegrias de Momo não são
assim
tão alegres como
parecem
O verbete “carnaval”
foi composto com as
primeiras sílabas das
palavras: “Carne nada
vale”... Suas
origens e raízes
encontram-se firmemente
plantadas nas festas
populares dos povos
antigos que se
entregavam aos
“prazeres”
coletivos...
Nas festas romanas
recebiam o nome de
“saturnália ou
saturnal”, em honra
a Saturno, nas quais
predominavam as
licenciosidades e as
orgias de variegado
matiz. Nessas ocasiões
chegava-se ao cúmulo de
imolar uma vítima humana
previamente escolhida,
em honra aos deuses
pagãos.
Na Grécia, essas
“festas” receberam o
nome de “bacanálias
ou bacanal”, nas
quais se homenageava
Dionísio, o deus grego
da vinha e do vinho e
Baco, o deus romano do
vinho. Constituíam-se
de festins dissolutos,
cheio de devassidões,
bebedeiras e orgias...
E hoje as coisas até
pioraram! Não existem
adjetivos para
qualificar tantas
loucuras e devassidões
nesses alucinantes dias
de Momo.
Um militar encarregado
do patrulhamento nesse
período ficou tão
chocado e escandalizado
com o que viu (cenas de
fazer corar os antigos
gregos, romanos e
habitantes de Sodoma e
Gomorra), que em um
momento de sua folga foi
até à Igreja para fazer
orações por esse povo
ensandecido, perdido em
promiscuidade
alarmante! E olha que
não é raro um militar
testemunhar verdadeiras
escabrosidades no
dia-a-dia de sua
profissão, mas nada que
se comparasse aos
excessos cometidos nos
festejos de Momo, a
ponto de levá-lo à
Igreja para orar.
O nobre mentor Manoel
Philomeno de Miranda,
através da abendiçoada
mediunidade de Divaldo
Franco, oferece-nos
alguns subsídios que
desenham com fidelidade
nua e crua os corolários
dos festejos momescos
que muitas criaturas
ignoram, ou fingem
ignorar:
“(...) Festa dos corpos
e dos sentidos físicos,
as criaturas esquecem-se
dos escrúpulos, do pudor
e do equilíbrio,
confundindo-se numa
linha comum de
alienação.
Expressiva faixa da
humanidade transita
entre as fronteiras do
instinto e os pródromos
da razão, mais sequiosos
de sensações do que
ansiosos pelas emoções
superiores... Portanto,
parece natural que se
permitam nos dias de
Momo os excessos que
reprimem por todo o
ano. É de lamentar,
porém, que muitos se
apresentem nos dias
normais como discípulos
de Jesus!
As consequências
nefastas desses
desbordamentos físicos e
morais não se fazem
esperar: moléstias
graves se instalam,
comportamentos morais se
alteram sob o açodar dos
desmedidos apetites,
surgem distúrbios
afetivos, soçobros
financeiros ficam em
cobranças demoradas,
homicídios tresvariados,
suicídios alucinados,
paradas cardíacas por
excesso de movimentos e
exaustão de forças,
morte por abusos de
drogas...
A televisão, por sua
vez, se rende e leva as
festas carnavalescas
como ponto alto em sua
programação,
influenciando, ainda
mais, as mentes
invigilantes. Até mesmo
as campanhas
bem-intencionadas
contribuem para esta
realidade.
Em nome do turismo e dos
aportes financeiros que
proporcionam, nas
cidades pervertidas e
cansadas de luxúria,
legalizam-se as bacanais
públicas, sob os
holofotes poderosos da
mídia. É certo que
atraem os turistas que
vêm para observar os
estranhos comportamentos
da massa, que têm em
conta de
subdesenvolvidas, de
atrasadas, de
primitivas, permanecendo
em camarotes de luxo,
como os antigos romanos,
contemplando as arenas
festivas, nas quais os
assassinatos legais
misturavam-se às danças,
às lutas de gladiadores
e ao teatro fescenino”.
Segundo estudos
psicológicos, eis as
conclusões após carnaval:
“(...) De cada dez
casais que caem juntos
na folia, sete terminam
a noite brigados (cenas
de ciúmes, intrigas
etc.); que desses mesmos
dez casais,
posteriormente, três se
transformam em
adultério; que de dez
pessoas (homens e
mulheres), no carnaval,
pelo menos sete se
submetem a coisas que
abominam no seu
dia-a-dia, como o álcool
e outras drogas...
Concluíram que tudo isto
decorre do êxtase
atingido na grande
festa, quando o símbolo
da liberdade, da
igualdade, mas também da
orgia e da depravação,
estimulado pelo álcool,
leva as pessoas a se
comportarem fora de seus
padrões normais”.
O carnaval é, pois, o
vestígio da barbárie e
do primitivismo ainda
reinante, e que um dia
desaparecerão da Terra,
quando a alegria pura, a
jovialidade, a
satisfação, o júbilo
real substituírem as
paixões do prazer
violento e o homem
houver se despertado
para a beleza, a arte,
sem agressão ou
promiscuidade...
Em uma página chegada
através da notável
mediunidade de Chico
Xavier, Emmanuel
conclui: “(...) Nenhum
Espírito equilibrado, em
face do bom senso, que
deve presidir a
existência das
criaturas, pode fazer
apologia da loucura
generalizada que
adormece as consciências
nas festas
carnavalescas. Há nesses
momentos de indisciplina
sentimental o largo
acesso das forças das
trevas nos corações, e,
às vezes, toda uma
existência não basta
para realizar os reparos
precisos de uma hora de
insânia e de
esquecimento do dever.
Ação altamente meritória
seria a de empregar
todas as verbas
consumidas em
semelhantes festejos na
assistência social aos
necessitados de um pão e
de um carinho”.
Para os seguidores de
Jesus e Kardec,
aconselha André Luiz:
“(...) O espírita
deve afastar-se de
festas lamentáveis, como
aquelas que assinalam a
passagem do carnaval,
inclusive as que se
destaquem pelos excessos
de gula, desregramento
ou manifestações
exteriores
espetaculares”.
Sem embargo, encontramos
o verbo “regozijar”
na Bíblia, desde os
Salmos no Velho
Testamento até as cartas
de Paulo dirigidas aos
colossenses, mostrando
que a alegria, o
contentamento, a estesia
são amplamente
estimulados até mesmo
pelas Antigas Escrituras
e também pelas
Neotestamentárias... Mas
devemos entender que a
alegria legítima é
aquela que não fere a
ninguém. Ela não deve
ser confundida com a
balbúrdia, a gargalhada
desenfreada e tampouco
com o vozerio
descontrolado... Alegria
verdadeira é vitória
sobre as fobias e
triunfo sobre as paixões
e jamais é infeliz a
criatura que se
identifica com as lições
de vida da Boa Nova
trazida até nós por
Jesus, pois Ele veio
trazer à Terra a Boa
Nova de alegria, de
saúde física e
espiritual; uma
verdadeira epopeia de
júbilos!
Os materialistas evitam
a identificação com as
verdades do Evangelho,
ciosos de suas
“alegrias e
compensações”
rasteiras e medíocres,
julgando que os
ensinamentos de Jesus
levados à prática
torná-los-ão
infelizes... Ledo
engano! A missão de
Jesus na Terra foi
construir um jardim
florido de bênçãos da
alegria incorruptível
que Ele faculta a todos
que O cercam. Suas
parábolas e palavras de
engrandecimento moral e
de libertação das
paixões podem ser
consideradas como um
cântico de alegria para
todos nós!
Entendemos assim – como
legítima – tão-somente a
alegria de hoje que não
deixa de ser alegria
também amanhã: sem
ressacas, sem remorsos,
sem arrependimentos, sem
doenças, sem dores, sem
perturbações, tal como
diz o notável poeta
Casimiro Cunha:
“Alegria que não passa,/
E que não fere a
ninguém,/ Nasce forte,
rica e pura,/ Naquele
que faz o bem”.