Texto para leitura
125. Podemos concluir,
com base nos fatos
observados, que as
personalidades
espirituais dos defuntos
podem bem deixar de
recorrer ao "fantasma
ódico" do médium.
Quando, porém, os
fantasmas materializados
se assemelham ao médium,
isso se esclarece com a
outra hipótese segundo a
qual as personalidades
espirituais se servem
muitas vezes, para esse
fim, do "fantasma ódico"
do médium.
126. Isto estabelecido,
apresso-me a declarar
que a argumentação
exposta tem por único
escopo resolver a
questão levantada por
Aksakof, e de nenhum
modo o de fazê-la valer
em serviço exclusivo da
tese espiritualista,
como se poderia inferir
de determinadas
expressões por mim
usadas, em que eu falo
de entidades espirituais
de defuntos, expressões
a que recorri para
melhor conformar-me ao
quesito enunciado por
Aksakof.
127. Compreende-se, no
entanto, que ao
investigar a gênese dos
fenômenos mediúnicos é
preciso ter sempre
presentes as duas
soluções com que são
suscetíveis de ser
interpretados, segundo
as circunstâncias:
Animismo e Espiritismo.
E isto tanto mais no
nosso caso, em que se
conhecem episódios de
desdobramento e de
materializações de
autênticos "duplos" dos
médiuns, como se
conhecem episódios de
materializações de
retratos, "simulacros
chatos" de defuntos. E
esta última classe de
manifestações se mostra
teoricamente
interessante, porquanto
traz confirmação à bem
conhecida hipótese
segundo a qual o
pensamento e a vontade
subconscientes dos
médiuns, como o
pensamento e a vontade
conscientes dos
defuntos, são "forças
plásticas".
128. Isso, no entanto,
não deve ser confundido
com o outro fato
precedentemente
discutido acerca do
poder que teriam os
"espíritos
desencarnados" de
modificar, à vontade, o
seu "corpo etéreo", de
maneira a conferir ao
mesmo os traços de um
outro espírito, fato
cuja possibilidade deve
ser excluída, de acordo
com as conclusões e que
se chegou anteriormente.
A manifestação do
próprio "corpo etéreo"
sob forma visível e
tangível, bem como
animada e inteligente,
depende de um
automatismo da
misteriosíssima "força
organizadora" imanente
em cada indivíduo e
diferente em cada um,
automatismo que reproduz
mas não cria.
129. Assim, uma vez
demonstrado que a
Vontade dos "espíritos
encarnados e
desencarnados" não tem
poderes dirigentes sobre
o automatismo funcional
da "força organizadora"
que plasma a Vida nos
mundos, disso resulta
que, nas circunstâncias
em discussão, em que não
se trata, direi assim,
de obras de arte em
forma de retratos ou
simulacros chatos de
defuntos, mas sim de
fantasmas organizados,
vivos e inteligentes, é
sempre necessário
admitir a presença, in
loco, do defunto que se
manifesta com identidade
de semblante.
130. Em outros termos:
suponho ter demonstrado,
baseado em provas por
analogia, as três
seguintes proposições
teóricas:
I. Nas circunstâncias em
que o fantasma
materializado, vivo e
inteligente, é criado e
animado pelo pensamento
e pela vontade
subconscientes do
médium, isso é
necessariamente uma obra
de "desdobramento" do
médium, caso em que a
"força organizadora"
imanente no "corpo
etéreo" não poderia
deixar de modelá-lo
automaticamente sobre a
"forma arquétipo"
particular ao médium.
II. Nas circunstâncias
em que o fantasma
materializado, vivo e
inteligente, é criado e
animado pelo pensamento
e pela vontade de um
defunto, então, por
motivo idêntico, não
poderá deixar de
modelar-se, mais ou
menos fielmente, sobre a
"forma arquétipo"
peculiar ao defunto.
III. Nas circunstâncias
em que a vontade
subconsciente do médium
ou a consciente do
defunto se proponham a
modelar a efígie de um
terceiro indivíduo, vivo
ou defunto, que lhes
seja conhecido, elas
conseguirão exteriorizar
um simulacro plástico
inanimado e nada mais,
pois que, para criar o
fantasma integral
organizado, vivo e
inteligente, deveria
animá-lo com o seu
próprio "corpo etéreo",
no qual existe imanente
a "força organizadora"
que o plasmou, a qual
não poderia deixar de
modelá-lo
automaticamente sobre a
própria "forma
arquétipo",
impedindo-lhe a
manifestação com traços
outros que os seus
próprios.
131. Tais deduções
parecem claras,
precisas, irrefutáveis,
pelo fato anteriormente
discutido e demonstrado,
isto é, que a criação de
um fantasma
materializado, vivo e
inteligente, ou de um
rosto obtido por
transfiguração, são obra
de um automatismo da
"força organizadora"
imanente nos seres vivos
e diferente em cada um
deles.
132. No que diz respeito
aos fenômenos da
produção materializada
de "simulacros
inanimados" ou "retratos
supranormais", observo
que estes tanto podem
ser anímicos quanto
espíritas, segundo as
circunstâncias. Assim,
por exemplo, no caso das
magistrais e sugestivas
experiências do Dr.
Wolfe com o médium Sra.
Hollis, nota-se que,
quando escasseavam os
"fluidos", obtinham-se
simulacros
materializados chatos do
rosto e do busto do
defunto presidente dos
Estados Unidos, James
Buchanan, amigo do Dr.
Wolfe; mas, quando os
"fluidos" eram
abundantes, então o
mesmo Buchanan conseguia
materializar-se
integralmente,
mostrando-se capaz de se
fazer ver em plena luz,
de tomar uma carta que
lhe apresentava o Dr.
Wolfe, de folheá-la, de
lê-la e de responder com
relação ao seu conteúdo.
133. Assim sendo,
dever-se-ia deduzir que,
nas circunstâncias
indicadas, também os
simulacros chatos do
amigo do Dr. Wolfe eram
de origem espírita, isto
é, plasmados pelo
pensamento e pela
vontade do defunto
Buchanan, visto que, em
circunstâncias
propícias, este era
capaz de mostrar-se sob
a forma de fantasma
materializado vivo,
inteligente e falante.
134. Ao contrário, no
caso das materializações
de simulacros chatos
obtidos com o médium Eva
Carrière, nas
experiências da Sra.
Bisson e do Prof.
Schrenck-Notzing, em que
tais simulacros
representavam
reproduções de caras
observadas pelo médium
em jornais ilustrados, e
no outro caso do médium
Linda Gazzera, que,
depois de ter
contemplado com vivo
interesse a cabeça de
São João em uma pintura
de Rubens, materializou
um simulacro da mesma,
na sessão seguinte,
dever-se-ia inferir que
se tratava de simulacros
criados pelo pensamento
e pela vontade
subconscientes dos
médiuns.
135. Isto estabelecido,
não me resta senão
repetir o que outras
vezes já declarei a
propósito do valor
reciprocamente
complementar que assumem
as hipóteses do Animismo
e do Espiritismo, ambas
necessárias para
explicar a totalidade
das manifestações
metapsíquicas, e é de
que, se se admite a
sobrevivência, não se
pode deixar de
reconhecer que o homem é
um "espírito", ainda que
"encarnado", pelo que
deveremos esperar que,
nas crises de
enfraquecimento vital
que subjugam esses
indivíduos (sono
fisiológico, sono
mediúnico e hipnótico,
êxtase, narcose, coma),
brotem, por lampejos
fugazes, aos recessos da
subconsciência,
faculdades de sentidos
supranormais lá
existentes em estado
latente (fato este
último fora de
discussão, porque por
todos reconhecido),
dando lugar à produção
de fenômenos análogos
aos espíritas, conquanto
quase sempre
rudimentares e
fugacíssimos (o que os
torna facilmente
separáveis dos outros),
circunstâncias estas
todas que demonstrem -
note-se bem - que o
Animismo é o complemento
necessário do
Espiritismo e que sem o
Animismo ao Espiritismo
faltaria base.
136. Entretanto, do
ponto de vista da
pesquisa das causas, é
fato que a existência do
Animismo impõe aos
investigadores a adoção
de métodos de
investigação destinados
a separar os casos
anímicos dos espíritas
e, conquanto seja
verdade que existem
categorias inteiras de
manifestações mediúnicas
que excluem, de modo
absoluto, a hipótese
anímica (tais, por
exemplo, os casos de
xenoglossia em línguas
ignoradas por todos
presentes), não é menos
verdade que uma parte
das mesmas manifestações
não é de fácil
interpretação, e o único
critério de pesquisa
utilizável é o de
submeter a um exame
analítico, esmeradíssimo,
cada caso isolado, para
em seguida
pronunciar-se, caso por
caso, com ponderado
conhecimento de causa,
em favor de uma ou outra
das causas em ação.(Continua na próxima
edição.)