JANE MARTINS
VILELA
jane.m.v.imortal@gmail.com
Cambé, PR
(Brasil)
Escolha de uma
mãe
Uma senhora de
58 anos,que veio
até nós
chamou-nos a
atenção pela
linguagem muito
correta e pelo
porte distinto.
Estava
simplesmente
vestida, mas, ao
mesmo tempo,
elegantemente
vestida.
Isso não é
comum, na
periferia onde
trabalhamos.
Pensamos até
tratar-se de uma
senhora de
classe social
mais elevada.
Enquanto
conversávamos,
ela mencionou
uma dor nas
costas que a
estava
incomodando
muito,
provavelmente
fruto dos anos
em que ela, para
ajudar a
família,
trabalhou duro
como faxineira.
Nunca imaginara
no passado que
aqueles esforços
na faxina iriam
prejudicá-la
tanto, a ponto
de não poder
mais carregar
peso, tamanha a
dor que
sente.
Surpreendida,
dissemos que,
sem desmerecer a
profissão, que
achamos muito
digna, jamais
imaginaríamos,
pela sua
linguagem
impecável e
incomum, que ela
tivesse sido
faxineira.
Pensamos que
fosse
professora.
“Esse era meu
sonho, estudar
geografia e dar
aulas”,
disse-nos ela.
“Tive, no
entanto, de
optar. Tive
quatro filhos,
todos homens.
Meu marido
precisava de
ajuda e meus
filhos também.
Escolhi ser
faxineira para
comandar meus
horários,
escolher quais
horários eu
podia trabalhar,
para dar atenção
aos meus filhos
e educá-los. Não
me arrependi.
Meus quatro
filhos são
homens
excelentes,
educados,
gentis, honestos
e carinhosos. Os
três mais velhos
são casados e já
têm filhos. O
mais novo, de 24
anos , trabalha,
mas ainda mora
comigo. É meu
amigo,
respeita-me
muito. Com a
idade que tem,
como mora em
minha casa até
hoje, quando vai
sair, me
pergunta se pode
ir, se não me
incomodo, enfim,
se eu deixo. Se
deseja levar
alguém em casa
pergunta se eu
permito. Outro
dia, saindo, eu
disse a ele num
tom mais alto:
Volte até as
onze da noite,
está bem? Ele
falou: oh! Mãe!
Voltou, me
beijou e abraçou
dando risada e
disse: Não fale
tão alto! Quer
que os vizinhos
todos escutem? E
saiu. Voltou às
onze da noite.
Não me arrependo
de ter desistido
de uma carreira
com que sonhava,
pelos meus
filhos. Posso
dizer que valeu
a pena, sou
feliz, vendo os
homens que meus
filhos se
tornaram. Eu
tinha o sonho de
fazer
geografia.”
Agora a senhora
pode. Nunca é
tarde demais,
dissemos a ela.
“Sabe que sua
conversa está me
tentando? Vou
pensar
seriamente no
caso. Agora eu
posso!”
Ficamos pensando
nessa mãe, que
renunciou aos
seus desejos por
amor a seus
filhos, que hoje
são homens de
bem. Poderia ter
escolhido uma
profissão que
fizesse jus à
sua capacidade,
mas fez a melhor
escolha: seus
filhos. Hoje ela
é feliz.
Temos falado
bastante com as
mães sobre a
melhor escolha.
Muitas estão
escolhendo ter
coisas , dar
coisas. Querem
dar tudo o que
nunca tiveram e
se esquecem de
que hoje são o
que são porque
tiveram o
principal: suas
mães.
Temos tido
muitas mães
chorando,
descobrindo
tarde que o que
seus filhos
queriam eram
elas, sua
presença, seu
amor, sua
educação. Uma
dessas chorou
contando o que
sucedeu com a
filha. Sempre
sozinha a
menina, sem
afeto, sem
carinho, ela
trabalhando
demais para
comprar coisas
para a filha. A
menina se
desequilibrou
tanto, ainda aos
8 anos de idade,
que tivemos de
encaminhá-la
para socorro
espiritual,
homeopatia e
psiquiatria
infantil, para
tentar ajudá-la,
pois seu
comportamento
está assustando
a escola toda e
também à própria
mãe, que, diante
do fato, percebe
que o dinheiro
agora é o menos
importante. O
importante é a
criança ficar
bem. Pelo quadro
que está
apresentando,
será difícil.
Ficamos nos
perguntando se
isso teria
acontecido caso
a menina tivesse
a couraça do
amor para
protegê-la.
Talvez o fato
não ocorresse,
pois não existe
poder maior que
o amor.
Trabalhar é
bendita oficina
de aprendizado e
socorro. A
oportunidade de
trabalhar é
abençoada e
ajuda o ser no
processo de
crescimento
espiritual. O
que lamentamos é
o excesso, o
abandono. Como
um Espírito
encarnado
aprenderá a amar
se aqueles aos
quais Deus o
confiou estão
esquecendo
disso?
O comportamento
de muitas
crianças desta
geração está
mostrando, como
num grito de
socorro, que os
pais despertem,
que as mães
vejam a grandeza
do seu papel e
cuidem, amem,
eduquem. Que
trabalhem fora,
mas não só isso.
Enxerguem a
criança ao lado,
ensinem-lhe o
amor ao próximo,
a piedade. Quem
tem compaixão
não faz mal a
ninguém, ao
contrário,
torna-se foco de
luz por onde
passa, o que
consola a dor e
acende nas almas
tristes a
esperança.
A escolha dessa
mãe faxineira
foi uma renúncia
aos seus desejos
pessoais por
amor aos filhos.
Preferiu um
trabalho mais
humilde, mas que
lhe permitiu
tempo para
educá-los.
Quando os filhos
estão
esquecidos, o
egoísmo grassa e
a dor aumenta
pelas ações de
desequilíbrio.
Dizem os
Espíritos, na
questão 915 de
O Livro dos
Espíritos:
“É certo que o
egoísmo é o
vosso mal maior,
mas ele se liga
à inferioridade
do Espíritos
encarnados na
Terra e não à
humanidade em si
mesma. Ora, os
espíritos se
purificam nas
encarnações
sucessivas,
perdendo o
egoísmo, assim
como perdem as
outras
impurezas. Não
tendes na Terra
algum homem
destituído do
egoísmo e
praticante da
caridade?
Existem em maior
número do que
julgais, mas
conheceis poucos
porque a virtude
não se procura
fazer notar. E
se há um, por
que não haverá
dez? Se há dez
por que não
haverá mil, e
assim por
diante?”
Como essa mãe
faxineira, há
dez, há mil, há
milhares que
estão zelando
por seus filhos,
ensinando-os a
amar, a serem
homens de bem no
futuro, aqueles
que farão a
diferença para
um amanhã
melhor.
Mantenhamos,
pois, nossas
esperanças num
mundo melhor
amanhã. Jesus
está no leme e a
Terra sob seu
comando. Às
mães, força,
coragem, para
fazerem de seus
filhos os
cristãos do
presente, os que
honram Jesus, os
que o amam,
amando os
homens, seus
irmãos.