A. Qual é a função da fé
religiosa?
Eis como o enfermeiro
Cândido respondeu a esta
questão: "A função da fé
religiosa não é retirar
o fardo das provações
que cada um elege para
refazer-se perante a
própria e a Divina
Consciência, porém,
oferecer resistências
para que se possa
conduzi-lo com nobreza.
Senão, onde a justiça?
Seria lícito retirar os
débitos do crente e
esquecer os incréus? A
Paternidade Celeste
agiria acertadamente,
beneficiando apenas os
que creem, em detrimento
daqueles que não querem
ou não conseguem, por
enquanto, modificar as
íntimas paisagens da
fé? Como julgar-se,
posteriormente,
capacidades e méritos,
se os métodos de
liberação foram
diferentes?"
(Tramas do Destino, cap.
18, págs. 167 e 168.)
B. Apesar de tentar o
suicídio, Lisandra foi
auxiliada pelos
Benfeitores Espirituais?
Sim. A propósito, a
tentativa de suicídio
não obteve êxito graças
à intercessão superior
do Espírito de Adelaide,
que logrou atenuar as
consequências da
insânia.
(Obra citada, cap. 19,
págs. 171 e 172.)
C. A sintonia exerce
algum papel importante
na ação dos chamados
obsessores?
Evidentemente. Os lances
exitosos colimados por
esses Espíritos
infelizes decorrem da
sintonia que conseguem
manter com suas vítimas,
que os preferem, pela
acomodação às suas
sugestões, ao acatamento
da inspiração superior,
expressa nos mil
convites da vida.
(Obra citada, cap. 19,
págs. 173 e 174.)
Texto para leitura
72. A
hora do testemunho
- Gilberto, em
lamentável estado de
desespero, acompanhou a
irmã e Cândido, enquanto
a esposa do enfermeiro
ficara no lar com as
duas senhoras. Como
outra coisa não pudessem
fazer senão esperar,
Clarice sugeriu que se
procedesse ao estudo
evangélico e às orações,
mais do que nunca
imprescindíveis em
momentos como aquele. O
bálsamo da prece e o
socorro do Alto
lentamente apaziguaram
os espíritos colhidos
pela dura provação. As
horas transcorreram,
longas, até que Gilberto
e Cândido voltaram com
notícias alvissareiras.
"Graças a Deus",
informou o enfermeiro,
"sua vida está salva".
Embora debilitada com a
hemorragia, Lisandra
fora submetida à
cirurgia e repousava
agora, enquanto recebia
transfusão de sangue e
tratamento médico
adequado. Cândido
acrescentou que o Dr.
Armando Passos,
cientificado do fato,
acorrera imediatamente
ao Hospital, assumindo
junto aos colegas de
plantão a
responsabilidade do
caso. Artêmis estava
desolada, mas Cândido
disse-lhe que confiasse.
O perigo havia passado.
Lisandra voltaria bem
melhor, porquanto a
saída do ambiente
doméstico far-lhe-ia
bem. Depois, ele orou e
todos acompanharam sua
prece inspirada.
Seguiu-se um ligeiro
lanche, preparado
previamente por
Hermelinda, e as
palavras de reconforto e
de esperança, que então
foram ouvidas, coloriram
o ambiente triste,
mudando-lhe a
psicosfera carregada e
diminuindo a tristeza
geral. "Aos que confiam
em Deus – lembrou
Cândido – muitos
testemunhos são
solicitados.
Recordam-se de quanto
sofreu o Apóstolo Paulo?
Perguntar-se-á: onde o
auxílio divino, que não
interditou o sucesso
lamentável desta tarde?
Não se preparavam para
orar? Por que os
Espíritos não impediram
o lance infeliz?" O
próprio Cândido
respondeu: "A função da
fé religiosa não é
retirar o fardo das
provações que cada um
elege para refazer-se
perante a própria e a
Divina Consciência,
porém, oferecer
resistências para que se
possa conduzi-lo com
nobreza. Senão, onde a
justiça? Seria lícito
retirar os débitos do
crente e esquecer os
incréus? A Paternidade
Celeste agiria
acertadamente,
beneficiando apenas os
que creem, em detrimento
daqueles que não querem
ou não conseguem, por
enquanto, modificar as
íntimas paisagens da
fé? Como julgar-se,
posteriormente,
capacidades e méritos,
se os métodos de
liberação foram
diferentes?" (Cap. 18,
págs. 167 e 168)
73. Reflexões
sobre o ocorrido
- Cândido aproveitou o
ensejo para reiterar
lições que todos
conhecemos muito bem,
como a que o Mestre
propôs dizendo ser "leve
o seu fardo e suave o
seu jugo", porquanto o
homem resignado e
confiante carrega melhor
os seus problemas e
suporta mais facilmente
suas dores. "O cristão,
particularmente o
espírita, que conhece a
procedência dos
sofrimentos, que se
conscientiza das
responsabilidades que
lhe dizem respeito em
relação à dor" – aduziu
o enfermeiro –,
"certamente sofre melhor
e tem diminuídos os
lances de agonia, porque
não os aumenta com o
desespero, a rebeldia, o
desequilíbrio, que
constituem sobrecarga
por demais pesada". "A
presença psíquica de
Jesus entre aqueles que
O buscam pela oração dá
resistência contra o mal
e paz, a fim de se agir
no bem." O enfermeiro
considerou então que
Lisandra poderia ter
tentado o autocídio no
silêncio da noite, em
horas avançadas, quando
o socorro seria mais
difícil de ser
ministrado. Por outro
lado, o corte no pulso
direito não fora
profundo, não havendo
decepado a artéria,
talvez pelo
desequilíbrio nervoso,
ou graças à ajuda que
não lhes era permitido
distinguir. Outro ponto
importante fora a
coincidência de Cândido
chegar no momento exato
da necessidade e o
automóvel haver sido
detido, evitando-se, com
isso, maior perda de
tempo, que dificultaria
os socorros de urgência.
Tudo aquilo, então,
mostrava que tinham sido
tomadas providências
benéficas, por parte dos
Benfeitores Espirituais,
evitando-se a consumação
de um mal irreparável,
instilado e conduzido
pela mente odienta do
perseguidor ou
perseguidores
desencarnados.
Convictos de que a
ajuda divina se fizera
naquele lar, aragens de
paz perpassaram entre
todos, que ouviam,
atentos, a explanação
inspirada de Cândido, e
foi nesse clima que os
visitantes se
despediram, enquanto os
Fergusons resgatavam com
elevação parte dos
pesados débitos que os
oneravam, liberando-se
para cometimentos
felizes no futuro com
Jesus. (Cap. 18, págs.
168 a 170)
74. Arrependimento
e pranto - No
dia seguinte, Artêmis e
Hermelinda foram ao
Pronto-Socorro, a fim de
visitar Lisandra. Dr.
Armando, que por uma
feliz coincidência ali
se encontrava,
introduziu-as no quarto
ensolarado em que ele
havia determinado fosse
Lisandra colocada. O
delito não fora
consumado graças à
intercessão superior do
Espírito de Adelaide,
que logrou atenuar as
consequências da
insânia. A moça estava
muito abatida, porém
lúcida, e recebeu as
visitas com
compreensível emoção. O
reencontro foi
comovedor. Sem os dramas
ou artifícios que as
pessoas preferem
apresentar, havia
nobreza e resignação nas
recém-chegadas e sincero
arrependimento na
enferma. A mãe
acercou-se do leito e
segurou a mão da filha,
que prorrompeu, então,
em pranto de dor e
vergonha. "Perdoe-me,
mamãe querida,
perdoe-me" – explodiu,
debilitada –, "não sei
o que me aconteceu... Eu
enlouqueci por dentro...
Sabia o que estava
fazendo... e não
sabia... Desejava
livrar-me de todos e de
tudo... do homem, que eu
continuava a matar com
papai sem o destruir, de
quem já lhe falei...
Não consegui deter-me...
Oh! Senhor Deus,
perdoai-me". Artêmis
não conseguiu falar, mas
Dr. Armando, que se
encontrava próximo,
disse-lhe: "Ora, filha,
sua mãe perdoa e
compreende. Não se
atormente, porquanto o
arrependimento não
resolve o que já foi
feito. Restabeleça-se
por dentro e,
revigorada, jamais volte
a repetir o grave
engano". Artêmis
refez-se logo e
acrescentou que não
seria ela quem a
perdoaria, mas, sim, o
Pai Celeste, que nos
perdoa as fraquezas e a
desconsideração ao Seu
amor. Em seguida,
perguntou-lhe se ela
agora pensava em Deus, e
Lisandra respondeu
afirmativamente, após o
que, dirigindo-se à tia,
cumprimentou-a
afavelmente, indagando
por seu irmão Gilberto.
(Cap. 19, págs. 171 e
172)
75. Um raro
momento de lucidez
mental - A tia
informou que Gilberto
estava no trabalho, mas
lhe enviara abraços e
recomendações. "Claro
que ninguém está
magoado com você. O amor
que se magoa é puro
interesse e não
verdadeira afeição.
Tranquilize-se,
portanto", concluiu
Hermelinda, com acento
conciliador. A jovem
pediu, depois, que a mãe
agradecesse ao Sr.
Cândido por tudo o que
ele fizera e pedisse
desculpas pelo cansaço
que lhe havia
proporcionado. Artêmis,
que conhecia a antipatia
da filha pelo
enfermeiro, disse que
ela mesma poderia
agradecer-lhe, quando
ele viesse vê-la no
hospital, ou em casa. O
diálogo mostrava que
Lisandra se encontrava
num feliz momento de
equilíbrio e lucidez
mental. Com o desmaio
que se seguiu ao
atentado, a jovem, ao
ser expulsa parcialmente
do corpo, deparou o
antigo adversário a
aguardá-la, feroz e
vitorioso, certo de que
a arrastaria às regiões
ingratas, como resultado
do suicídio que supunha
irreversível. Ele
receava que o
Espiritismo lhe abrisse
as portas da libertação
e, por isso, resolveu
vitimá-la e conduzi-la
após o trânsito do
túmulo, como se o
equilíbrio das vidas
pudesse permanecer nas
mãos da odiosidade e nas
rédeas da alucinação. Na
verdade, os lances
exitosos colimados por
esses Espíritos
infelizes decorrem da
sintonia que conseguem
manter com as suas
teimosas vítimas, que os
preferem, pela
acomodação às suas
sugestões, ao acatamento
da inspiração superior,
expressa nos mil
convites da vida. Assim,
logo que se afrouxaram
os laços do corpo, em
exaurimento pela
hemorragia, Lisandra
defrontou a
vítima-algoz, que,
transfigurada pelo ódio,
agrediu-a moral e
vigorosamente. "Por
que, infeliz, me
abandonaste?", inquiriu
com voz metálica. "Já
te esqueceste de mim?
Sou Ermínio, o teu
mancebo espanhol,
miseravelmente
assassinado pela tua
desonra e pela
selvageria do teu
infame companheiro...
Olha-me bem, vê em que
me transformei".
Lisandra pôde ver,
então, a transformação
que se operava no ser
que a acusava acremente.
Viu-o decair a pouco e
pouco, num sombrio
espaço muito exíguo,
asfixiado, inquieto,
agitando-se roufenho e,
logo depois, decompor-se
num fardo de matéria
pútrida, vencida pela
vérmina.(1)
Simultaneamente,
recordou-se. Estava
sentada... Nesse ponto,
porém, não pôde mais
concatenar lembranças,
porque sentiu
irresistível atração,
uma força incoercível
que a arrastava, e
perdeu a consciência
espiritual. (Cap. 19,
págs. 173 e 174) (Continua no próximo
número.)
(1)
Vérmina significa
verminose.