Ouça, mãezinha
Maria Dolores
Quero lembrar, mamãe, a
vida de criança
quando você me punha de
mãos postas
e ensinava-me a oração:
– “Pai nosso, que estais
no Céu,
santificado seja o vosso
nome…”
Depois da prece, ao
desunir-me as mãos,
você me esclarecia:
– “Todos somos irmãos,
a lei de Deus é praticar
o bem,
perdoar e servir sem
perguntar a quem.”
No entanto, logo após,
se alguém
me molestava, você
perdia o rosto amigo
e protestava
incontinenti:
– “Quem ferir a você há
de se haver comigo!”
Se me entregava à
rebeldia,
quebrando o prato ou
rasgando a lição,
você me recolhia junto
ao peito,
e se os vizinhos nos
aconselhavam
a fugir da superproteção,
você justificava com seu
jeito:
– “Ninguém nasce
perfeito,
eu só sei que sou mãe…”
Se parentes e amigos me
acusavam
pelos erros que fiz,
você me defendia
revoltada,
mostrando-se infeliz…
E depois, a fitar-me
enternecidamente,
você falava assim:
– “Não creia nas
intrigas dessa gente
que nada vale para mim.
Tenho em você um anjo
que não erra,
que apareceu na Terra
para grande missão…
Será você em nossa casa
o nosso apoio e a nossa
salvação!”
Eu tudo ouvia num
deslumbramento…
Depois, mamãe, o tempo,
igual ao vento,
veio e varreu as suas
profecias.
Quando cresci, cheguei a
acreditar
que você fosse
egoísta e antiquada, de
ânimo violento.
E, acalentando estranhas
fantasias,
troquei o nosso lar por
estradas sombrias…
Tudo o que então sofri
não sei contar.
Muitas vezes chorei
meditando em você,
triste sozinha,
nas aflições e mágoas
que lhe dei,
a humilhar-se e lutar
por culpa minha!
Um dia regressei
sobre os meus próprios
passos.
Tive saudade de você…
Você me abriu os braços…
Não quis saber o que eu
fizera,
nem como nem por quê…
E ao relatar meus
grandes infortúnios,
vi pranto nos seus
olhos.
Seu carinho enlaçou-me e
você me falou,
cariciosamente,
no mesmo antigo e doce
tom de voz:
– “Nunca perca a
esperança, meu tesouro!
Deus terá novo rumo para
nós.”
Hoje, passado tanto
tempo,
venho vê-la e beijá-la,
mãe querida!
Não preciso explicar que
não fui anjo,
nem gênio salvador.
Quero apenas dizer que o
seu imenso amor
fortaleceu-me a fé e
iluminou-me a vida!
E se posso pedir algo de
novo,
embora não mereça,
abrace-me e perdoe…
perdoe e esqueça
as lâminas e espinhos
que lhe finquei no peito
em forma de aflição.
E depois da oração
que você me ensinava,
diga, mamãe, enquanto
estamos sós:
– “Nunca perca a
esperança, meu tesouro!
Deus terá novo rumo para
nós.”
Do cap. 18 do livro
Astronautas do Além,
de autoria de Francisco
Cândido Xavier, J.
Herculano Pires e
Espíritos Diversos.
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