A Morte e os seus
Mistérios
Ernesto
Bozzano
(Parte
11)
Damos sequência nesta edição
ao
estudo do livro A
Morte e os seus
Mistérios,
de Ernesto Bozzano,
conforme
tradução de Francisco
Klörs Werneck.
Questões preliminares
A. Que fatos compõem o
segundo caso relatado na
monografia?
O caso foi extraído de
uma monografia escrita
pelo Sr. Zingaropoli,
mencionado anteriormente
por Bozzano, e refere-se
a impressões de mãos de
fogo que estão guardadas
até hoje no convento das
religiosas de Santa
Clara, de Todi, na
Úmbria.
(A Morte e os seus Mistérios, 2ª Monografia – Marcas e
impressões supranormais
de mãos de fogo, Caso
II.)
B. Quem foi a
protagonista dos
fenômenos citados?
A protagonista dos
fenômenos foi Clara
Isabel Fornari, abadessa
do convento de Santa
Clara, de Todi, morta em
1744, cujo processo de
beatificação se achava,
segundo Bozzano, em
andamento. Quem atestou
a realidade dos fatos
foi o Padre Isidoro
Gazale, confessor de
Irmã Clara, cujo
relatório é transcrito
neste livro.
(Obra citada, 2ª
Monografia – Caso II.)
C. Além das impressões
de fogo, o Espírito se
manifestou de outras
maneiras?
Sim. De acordo com o
relatório escrito pelo
Padre Isidoro Gazale, o
falecido Padre Panzini,
abade de Mântua, além de
deixar na médium o sinal
de sua mão, apareceu à
Irmã Clara Isabel quando
se celebrava a Missa e
exortou-a a sofrer,
agradecendo-lhe as
promessas generosas que
ela fizera em sua
intenção assegurando-lhe
que lhe guardaria eterno
reconhecimento porque,
graças à sua
intervenção, o Senhor
lhe abreviara as penas
do Purgatório. A
aparição segurou, em
seguida, Irmã Clara
Isabel pelo braço e com
a outra mão uma folha de
papel. Foi assim que a
verdadeira mão do Abade
Panzini ficou impressa
no braço, na camisa, na
túnica e numa folha de
papel. (Obra citada, 2ª Monografia – Caso II.)
Texto para leitura
157. Caso II - Este outro caso, que extraio da monografia do Sr.
Zingaropoli, da qual fiz
alusão anteriormente,
refere-se a impressões
de mãos de fogo que
estão guardadas ainda no
convento das religiosas
de Santa Clara, de Todi,
na Úmbria.
158. Escreve o Sr. Zingaropoli: "O Padre V. Jouet, Missionário
Apostólico, fundou em
Roma (Lungo-Tevere Pratt
12) um museu de coisas
de além-túmulo.
Apresenta aos seus
visitantes preciosos
objetos e documentos
relativos a diferentes
manifestações de mortos.
Possui centenas de
gravuras de épocas
diversas, quadros e
livros antigos. A parte,
porém, mais curiosa da
coleção em questão
consiste nas fotografias
de impressões de mãos de
fogo, coleção que, diz
ele, aumenta cada dia.
Várias dessas figuras,
acompanhadas de artigos
destinados a
ilustrá-las, são
reproduzidas na revista
mensal O purgatório
visitado pela caridade
dos fiéis. O número
de abril de 1908, pág.
114, trata das famosas
impressões de mãos de
fogo que estão guardadas
no convento da Santa
Clara, de Todi. A
protagonista do
memorável fato foi Clara
Isabel Fornari, nascida
em Roma, a 25 de junho
de 1637, abadessa do
convento de Santa Clara,
de Todi, morta em 1744,
com cheiro de santidade.
O processo de
beatificação se acha em
andamento; ela já é
‘venerável’.”
159. O Padre V. Jouet expôs assim as impressões de sua visita a
esse convento: "Sexta
feira, 17 de julho de
1901, tivemos a
consolação de parar em
Todi, província de
Perúgia, no convento das
irmãs clarissas, onde se
santificou, há cerca de
dois séculos, a
venerável Clara Isabel
Fornari, cujos numerosos
milagres lhe valeram
processo de beatificação
e canonização junto à
Santa Congregação de
Roma. Com uma carta de
recomendação de Sua
Eminência, o Cardeal
José Vives y Tuto, ao
Monsenhor Rudolfi Bispo
de Todi, pudemos ver com
nossos próprios olhos e
segurar com nossas
próprias mãos, entre
outras relíquias e
outras lembranças
preciosas, os traços
ainda distintos e
intactos que deixaram,
em objetos e roupas da
venerável Clara Isabel
Fornari, as mãos de fogo
do falecido Reverendo
Padre Panzini, abade
clivetano de Mântua,
alguns minutos antes de
ser liberto do
Purgatório. A reverenda
Madre Clara Isabel
Patrizi, atual abadessa
do convento, depois de
ter admirado algumas
fotografias reproduzidas
em nossa revista,
permitiu-nos amavelmente
fotografar, pela
primeira vez, depois de
170 anos de existência,
esses documentos de tão
alto interesse para o
nosso ‘Museu de
além-túmulo’ e para
nossa associação pia.”
160. Segundo o Padre Jouet, a tábua de madeira, na qual o defunto
deixou a marca de fogo
de sua mão esquerda e
traçou, com o polegar da
mão direita, uma cruz de
fogo, servia à venerável
irmã Clara Isabel para a
preparação das imagens
em cera do Menino Jesus.
A folha de papel, com a
impressão de fogo da mão
esquerda do morto, está
encerrada entre duas
placas de cristal. O
relatório escrito pelo
confessor Padre Isidoro
Gazale, abade do
Santíssimo Crucifixo,
bem no dia do próprio
acontecimento, foi
transcrito das duas
páginas do registro em
que são narrados os
"milagres" da venerável.
161. Eis o teor do relatório escrito pelo Padre Gazale: “A Irmã
Clara Isabel Fornari
recebera de mim, Padre
Isidoro Gazale, abade do
Santíssimo Crucifixo,
seu confessor ordinário,
ordem de se oferecer
pela alma do falecido
Padre Panzini, abade de
Mântua. Tinha ela,
nestes últimos dias,
suportado grandes
abandonos e outros
grandes sofrimentos que
o Senhor lhe enviara
para aliviar e libertar
essa alma que sofria
atrozmente no
Purgatório. Nessa mesma
manhã, quando essa mesma
irmã padecia outros
sofrimentos, obteve do
Senhor enviar essa alma
ao Paraíso, no momento
justo em que se
celebrava para ela a
Santa Missa. Disse à
Irmã Clara Isabel que
desejaria que alguns dos
meus amigos falecidos,
que ela havia visto
subir para o Céu, me
dessem um sinal, assim
como acontecera ao Padre
Pio Crivello, seu antigo
diretor de consciência.
Com efeito, o irmão
desse eclesiástico
deixara na Irmã Clara
Isabel o sinal de sua
mão ao ir para o
Paraíso. Desejava que
algo de semelhante se
produzisse comigo para
melhor autenticar os
fatos. E Deus permitiu
que a alma do meu amigo
me trouxesse o consolo
almejado porque ele
apareceu à Irmã Clara
Isabel quando eu
celebrava a Missa e
muito exortou-a a
sofrer, agradecendo-lhe
as promessas generosas
que ela fizera em sua
intenção e a mim mesmo
pela celebração dos
Santos Sacrifícios. Essa
alma assegurou à Irmã
Clara Isabel que lhe
guardaria eterno
reconhecimento porque,
graças à sua
intervenção, o Senhor
lhe abreviara as penas
do Purgatório. Isto
dizendo, colocou a mão
sobre a mesinha que a
Irmã Clara Isabel tinha
diante de si, para
confecção das imagens do
Menino Jesus em cera e
imprimiu nessa mesinha o
sinal da Cruz, assim
como as almas do
Purgatório têm o costume
de fazer, ao passo que
as almas condenadas não
o fazem nunca. De
qualquer modo, a cruz e
a mão ficaram gravadas
na mesinha. A aparição
segurou, em seguida,
Irmã Clara Isabel pelo
braço e com a outra mão
uma folha de papel. Foi
assim que a verdadeira
mão do Abade Panzini
ficou impressa no braço,
na camisa, na túnica e
numa folha de papel. A
mão me parece bem a do
abade; aqueles que o
conheceram como eu são
da mesma opinião. Não se
poderia desejá-la mais
semelhante, pois é
evidente que essa
impressão só poderia ter
sido produzida por ele
próprio. Jamais se viu
uma reprodução tão
semelhante ao original.
Depois disto haver
feito, deixando esses
sinais, essa alma
evolou-se para enviar a
essa religiosa mil
bênçãos do belo Paraíso.
Depois que a Irmã Clara
Isabel tudo relatou,
ordenei-a destacar a
manga da sua túnica,
assim como a manga da
sua camisa e de mas
entregar, bem como a
folha de papel e a
mesinha. Isto ela fez,
não guardando senão para
si a ferida que lhe
ficou no braço em
consequência da
queimadura produzida
pela mão do espírito e
sua cicatriz só
desapareceu quando a
religiosa terminou os
padecimentos, aos quais
se sujeitaria para
livrar essa alma do
Purgatório. Guardei os
objetos em referência
como atestado da
veracidade dos fatos e
das sublimes graças
concedidas e agradeço
cada vez mais ao Senhor
a misericórdia que teve
por nós, graças a essa
criatura que lhe foi
agradável. Atesto por
este documento, escrito
do próprio punho, que
tudo isto é verdade, do
que dou fé. Todi, 1º de
novembro de 1732.
Assinado: Padre Isidoro
Gazale Confessor.”
162. Nota-se que este caso, cuja narração acabo de transcrever,
deve ser considerado
como documento de modo
satisfatório,
considerando-se que o
relatório foi redigido
pelo próprio padre
confessor da venerável
Madre Abadessa, que foi
a percipiente
protagonista.
Acrescentemos que ele
escreveu seu relatório
no próprio dia em que se
produziram os fenômenos.
Outra circunstância que
se faz mister
considerar: as
personalidades da
percipiente e do
narrador são,
moralmente,
insuspeitáveis, o que
leva racionalmente a
admitir sua boa fé
absoluta. Enfim, a
existência das
impressões, ainda
guardadas no convento
onde foram obtidas,
atesta, de modo
decisivo, que não se
trata de um caso de
alucinação coletiva.
163. Nesse relatório encontram-se frases que demonstram que a
venerável Clara Isabel
Fornari era realmente
dotada de faculdades
mediúnicas. O redator
escreve, com efeito, que
a Madre Abadessa "tinha
nestes últimos dias
padecido grandes
abandonos e outros
grandes sofrimentos que
o Senhor lhe ordenara
suportar para aliviar e
livrar essa alma que
sofria atrozmente no
Purgatório”.
164. Pouco mais adiante, ele ajunta que "submetendo-se a outros
sofrimentos, ela obteve
do Senhor enviar a alma
ao Paraíso". Ora,
compreende-se facilmente
que os abandonos que o
narrador menciona
correspondem a uma
sucessão de estado de
"transe" e que os
grandes sofrimentos eram
crises de gemidos, esses
acessos convulsivos que
precedem e seguem de
ordinário o sono
mediúnico. Todas estas
circunstâncias servem
para confirmar a
autenticidade
supranormal dos fatos.
165. Quanto às impressões de fogo que se obtiveram, foram, nesse
caso, excepcionalmente
numerosas.
Registraram-se, com
efeito, as impressões de
uma mão esquerda e uma
cruz numa mesinha de
madeira, a impressão de
uma outra mão esquerda
numa folha de papel, a
impressão de uma mão
direita numa das mangas
da túnica e da camisa da
venerável Madre
Abadessa, enfim, a
impressão ou mais
precisamente a bolha que
ficou gravada no braço
da religiosa, em
consequência do contato
da mão do fantasma.
166. Este último incidente é inteiramente análogo ao de que tratei
no caso anterior, no
qual o Espírito do
defunto, tendo tocado
com o dedo o braço da
percipiente, uma bolha
aí apareceu logo, como
se fosse uma queimadura,
e a percipiente
sentiu-lhe a dor, uma
espécie de cozedura de
carne, como se se
tratasse realmente de um
contato de coisa
ardente.
(Continua na próxima
edição.)